O Conquistador de Torres - Capítulo 2
Nós estávamos andando por uma trilha na floresta. Enquanto todos estavam sérios, eu estava mais preocupado com as árvores que nos cercavam.
Ao contrário de mim, Mei, que estava um pouco mais à frente, parecia estar tranquila, até porque ela estava me encarando com um sorriso aparentemente despretensioso.
Ela diminuiu o passo, até que ficou ao meu lado. — Sabe… tem algo que estou curiosa…
— Hmm… o que seria?
— De onde é que você veio? A sua cara não passa a ideia de quem desafiaria a torre. Sem ofensa, claro.
De onde eu vim?
Aquela pergunta nunca havia passado pela minha cabeça. Eu tinha uma resposta em mente, mas sabia que aquele lugar não poderia ser meu lar, mesmo assim, foi lá onde nasci. Separei meus lábios e respondi: — Sou de Horik.
A sua expressão se contorceu no momento em que falei. Mas antes que ela pudesse ao menos dar uma resposta, um forte odor invadiu nossas narinas, o que me causou náusea.
— Mas que droga é essa? Como que algo pode feder tanto? — Mei perguntou ao tampar seu nariz.
Automaticamente todos nós olhamos para os arredores, mas a resposta estava na nossa frente: quatro corpos rasgados, dilacerados e com marcas de mordida estavam no chão.
Jack, sem pensar duas vezes, se agachou perto da poça de sangue e a tocou. Seu olhar mostrava que analisava o sangue.
— Ainda está quente, parece que foram mortos há pouco tempo. — Ele se virou para nós. — Meu palpite é que esses são os que vieram antes de nós.
Qualquer pessoa normal ficaria, no mínimo, relutante ao pegar em sangue alheio, mas Jack estava estranhamente calmo.
Evan chegou perto dos corpos. — Então a coisa que fez isso deve estar perto. — Ele cerrou suas sobrancelhas. — Isso com certeza não foi obra de um humano.
— Vamos, fiquem alertas e me sigam. Independente do que for, não é algo que uma pessoa possa lidar sozinha — falou Jack, continuando a andar.
Quatro pessoas armadas, mesmo assim aquela coisa conseguiu matá-las como se não fossem nada. Tínhamos que ficar em alerta máximo.
Em apenas alguns segundos depois, um rugido altíssimo pôde ser escutado por todos. As folhas das árvores se agitaram e o chão estremeceu.
Um vulto passou por nós.
— Ei! O que é isso? — falou Mei, tirando o arco das costas e tentando acompanhar a criatura misteriosa.
Rapidamente, todos os membros do grupo sacaram suas armas e se prepararam para lutar. E, antes que pudesse perceber, eu já estava cara a cara com o assassino.
『Barbros Nvl. 3 está mostrando hostilidade contra você.』
A criatura se parecia com um macaco. seu pelo era cinza, mas possuía uma juba branca que cobria todo o seu pescoço. Apesar do seu tamanho pequeno quando comparado a um adulto, seus músculos eram o dobro dos meus.
No momento em que os olhos amarelos se fixaram em nós, um rugido ensurdecedor ecoou em nossos ouvidos.
Ele parecia estar chamando alguém.
Minhas pernas tremiam. Droga, eu não sabia que haveria monstros tão assustadores quanto esses logo aqui.
A besta rapidamente avançou para cima de Jack, em resposta, ele estendeu sua espada e bloqueou o ataque.
— Se espalhem! Rápido!
Por causa da ordem dada por ele, criei forças e segurei minha adaga com as mãos firmes.
— Abaixem-se! — Mei falou para Jack com o arco apontado para a criatura. Logo em seguida, ela atirou sua flecha no barbros, que gritou de dor.
Como se estivesse esperando a oportunidade perfeita, Evan avançou e atingiu as costas do monstro.
Kuah!
Mesmo com todos esses ataques, o barbros não levou nenhum dano significativo, então ele continuou atacando. Sua velocidade era superior à de todos nós, o que tornava a luta ainda mais difícil.
— Uuhh!… Jack, bem que você poderia me ajudar, não é?! — A cada segundo que passava, Evan era cada vez mais pressionado pela besta.
— Calma! Eu tenho um plano!
Jack virou seus olhos para mim, ele parecia querer falar algo. Até chegou a abrir sua boca, mas desistiu de falar algo assim que mais dois Barbros apareceram.
『Barbros Nvl. 2 está mostrando hostilidade contra você.』
『Barbros Nvl. 2 está mostrando hostilidade contra você.』
Conforme as bestas lutavam e causavam danos, eles conseguiam perceber os movimentos e a força de cada um. E então, ao notar o óbvio, correram em direção ao mais fraco.
Isso só poderia significar uma coisa: que eu seria o alvo.
— Droga…
Comecei a olhar ao meu redor para procurar alguém que pudesse me ajudar, mas todos estavam concentrados em suas próprias batalhas. Merda, eu não tive outra escolha e tive que bloquear o ataque.
— Urrgh…
Eu fui arrastado um pouco para trás, mas continuei firme. Meus músculos pareciam estar se rasgando e meu corpo doía como nunca antes.
Mal deu tempo de respirar e um ataque veio por trás.
Tentei desviar, mas as garras rasgaram as minhas costas e um pouco do meu braço. Para minha surpresa, mesmo a minha armadura que poderia ser considerada como lixo, conseguiu absorver uma pequena parte do dano. Ainda assim, a dor quase me fez desmaiar.
— Mei, me dê cobertura — falou Jack, avançando na direção da criatura que o atacou pela primeira vez.
Com a combinação dos ataques de Jack e Mei, a criatura não conseguiu resistir e acabou caindo sem a cabeça, que voou silenciosamente.
Os dois que me atacaram pararam para ver seu colega morto, o que me deu tempo para correr desesperadamente na direção de Evan.
— Ei, você está bem? — Ele perguntou, mas não parecia nada sincero.
— Uhum — respondi, ofegante e caído no chão.
No momento em que ouviu a minha resposta, ele rapidamente se juntou a Jack e atacou um dos Barbros, que saiu gravemente ferido.
O meu orgulho estava bem ferido naquele momento. Não conseguia aceitar que um homem com metade da minha altura faria coisas que eu jamais sonharia. Mas antes que pudesse me sentir mal por isso, Mei deu seu tiro final.
O último barbros, vendo todos os seus parceiros mortos, resolveu fugir, o que me fez soltar um suspiro de alivio. Porém, as próximas palavras de Mei me fizeram voltar à realidade.
— Estranho… foi muito fácil, bem mais fácil do que pensei.
— Como assim? Isso não é bom? — perguntei, confuso.
— Um grupo fraco desses não faria o que fez àqueles aventureiros lá atrás. Nós temos que ficar atentos…
Parando para pensar, pelo estado dos corpos, aquilo havia sido um massacre. Se fossem as mesmas bestas, seria impossível que eles tivessem acabado daquela forma.
Antes de sairmos, Jack ficou ao meu lado e falou: — Bom trabalho nos protegendo.
Quando ouvi aquilo pela primeira vez, não consegui distinguir se era um sentimento verdadeiro ou se não passava de sarcasmo, mas, de qualquer forma, sorri em resposta.
— Ehh… maninho? Você está terrível, ainda consegue andar mesmo com esses ferimentos?
Levantei do chão ofegante. — É… acho que consigo me virar.
Ele rasgou um pedaço de sua roupa e me passou. — Bom, eu não tenho nada para o seu ferimento nas costas, mas amarre isso no braço, vai ajudar.
Quando amarrei o pano no braço, senti uma melhora até que significativa, então agradeci à ele e continuamos a caminhada.
A cidade parecia não estar muito longe, logo isso finalmente acabaria.
Groarr…
Todos pararam imediatamente. Um som de rugido ecoou pelas nossas costas. Contudo, era diferente de antes. Minhas pupilas tremeram, não eram apenas um ou dois, eram vários.
Mei tomou a iniciativa e começou correr. — Vamos! A gente não vai conseguir bater de frente com eles!
Mesmo ferido, continuei correndo o máximo que pude. Desmaiar ou desistir não era uma opção. Eu só poderia escolher entre correr ou correr.
Evan estava na frente de todos, seu braço aparentava estar ferido. Logo em seguida, era Jack, seguido por Mei e por mim. Era notório o medo e o desespero naquele momento.
Tudo o que se passava na minha cabeça era a pergunta: Por que havia aqueles monstros em uma área de iniciantes?
Aquilo não fazia sentido.
— Droga! Não vai dar tempo! — exclamou Evan ao olhar para trás.
『Barbros Nvl. 6 está furioso.』
『Barbros Nvl. 5 está enfurecido.』
『Barbros Nvl. 8 sente uma raiva profunda contra você.』
— Continuem correndo! Se nós não pararmos, vamos conseguir chegar antes que…
— Não! — O grito de Jack fez todos se calarem. — Tem um lugar mais perto!
Mei rapidamente olhou para mim. Ela parecia ter percebido algo, porque soltou um pequeno sorriso. — Então vamos fazer aquilo?
Jack concordou.
Diferente do plano original, nós tomamos outro rumo, até que chegamos em uma ponte, que ligava até a cidade. Minha alegria estava estampada, faltavam menos de 5 minutos para estarmos à salvo.
De repente, todos pararam de correr sem nenhum aviso prévio, o que me fez esbarrar neles e cair no chão.
— O que foi isso? Por que vocês para…
O olhar de Jack me fez ter um arrepio na espinha, assim como o de todos ali. Eles sorriam na minha direção, aparentemente, sem motivo algum.
Ele parou de sorrir e falou: — Bom… você fez bem até aqui.
— Não me digam que…
— Pfttt! Você achava mesmo que nós ajudaríamos um iniciante só por pena? Nós tínhamos que trazer alguém pra situações como essa.
— Desculpa, não é nada pessoal, garoto — falou Evan ao se aproximar.
Antes que eu pudesse perceber, Evan começou a tirar todos os equipamentos de mim. Eu até tentei resistir, mas estava fraco demais para isso, então só fiquei parado enquanto via tudo que possuía ser levado.
Foi tudo completamente calculado. Até mesmo o pano que ele me deu estava coberto com o sangue dos barbros. Infelizmente só notei quando já estava sendo levantado por ele.
Tentei gritar, mas as suas mãos apertavam fortemente contra meu pescoço. De repente, a força que me segurava sumiu, e eu só conseguia ver o abismo logo abaixo de mim.
Os monstros, que antes os seguiam, sentiram o cheiro do pano em meu braço e pularam em minha direção, em busca de vingar aqueles que morreram.
Merda.
Eu só pude fechar meus olhos e esperar pelo impacto.