O Belo e a Medonha - Capítulo 2
Mais uma vez o leão dourado reinava ao meio dia, Tsezar havia trafegado pelas últimas horas a todo vapor, ele queria chegar o mais rápido possível; querendo pelo menos 1 dia de descanso, já que 2 dias já haviam se passado.
Ele havia apreciado, muito, a intromissão do outro dia, mas agora o que ele queria era uma cama quente e um descanso.
Tudo seguia nos conformes nas primeiras horas, porém o destino reservava uma pequena surpresa para o nosso cavaleiro.
Ao marcar do meio-dia, um poderoso rugido se fez ao longe, caso houvessem animais próximos, eles teriam fugido. Tsezar mesmo, sentiu seu corpo tremer.
— É óbvio! É ÓBVIO! Eu não tenho um único dia de descanso!
O loiro pensou seriamente em ignorar aquele barulho, mas ele sabia que “a coisa” que rugiu acabaria vindo atrás dele de qualquer forma. Seguindo em frente, ele acabou se deparando com uma clareira um pouco afastada da estrada.
No centro dela havia uma besta enorme. O loiro não reconheceu a fera, mas de uma coisa ele sabia, aquilo não era amigo.
A criatura abriu seus braços e espragejou outro rugido.
— RUAR!
Agora o corpo da besta se fazia visível; uma fera alta, com pelo negro, orelhas apontadas para cima, garras grossas como galhos de arvore e um focinho largo.
Cobrindo seu corpo, havia uma manta suja e esfarrapada, indo dos ombros até a pélvis.
“Um Homem-Fera, Lobisomem”, pensou Tsezar.
A criatura olhou o cavaleiro nos olhos, o encarando enquanto contorcia de dor.
— Fuja…! — rosnou a fera em tom melancólico.
— Eu pretendia, mas não acho que você esteja bem — disse Tsezar em tom sarcástico.
O rapaz não se importava com a pessoa que podia estar embaixo daquela besta, porém ele certamente se arrependeria de ter deixado uma boa história a ser contada para trás.
Confiante de sua força, ele foi se aproximando descuidadamente.
A criatura perdeu o controle e disparou em direção ao homem; ela era rápida, ao ponto do cavaleiro perder-la de vista.
Tentando desviar, Tsezar se lançou para trás, mas dessa vez deu errado. A fera com suas grandes garras acertou o lado esquerdo do tronco do oficial.
Seu uniforme se rasgou e o sangue começou a cair, rapidamente ele colocou a mão no ferimento, manchando sua mão como resultado.
—Tchi! Esse era meu uniforme novo!
— FOGE…! — A criatura se debatia enquanto gritava.
— Ah, nem pensar, eu não volto pro batalhão com uma cicatriz sem história!
A fera sem pestanejar avançou, correndo em suas 4 patas. Rapidamente, Tsezar jogou sua capa em cima da fera, cegando-a por poucos segundos, antes que ela a estraçalha-se.
Aproveitando a brecha, o rapaz concedeu à criatura um belo banquete de socos no estômago. Contrariando a força aplicada pelo jovem, a besta nem se moveu.
Sorrindo sarcasticamente, o cavaleiro olhou uma última vez à criatura, antes dela o jogar contra uma árvore atrás de si.
Com dificuldade ele se levantou e gritou: — Chega de brincadeira!
Apontando a palma à frente, o sangue que antes a manchava começou a tomar forma de um estranho símbolo circular. Uma grossa fumaça começou a exalar e cobrir Tsezar por inteiro.
Ao dissipar da névoa, o cavaleiro reapareceu com uma grossa e longa corrente nas mãos.
A arma possuía duas pontas, um gancho — que se enroscava no braço direito dele — e um pequeno peso.
— Isso agora é sério!
A criatura avançou a toda velocidade, agora em 2 patas. Prontamente, o rapaz saltou por cima dela.
Agora sobre a fera, ele lançou o peso da corrente em direção a cabeça da besta.
O choque entre o ferro e o crânio da besta gerou um estrondoso barulho. Ela tombou dada a força aplicada; uma pequena cratera se criou abaixo dela.
Acreditando que isso seria suficiente para nocautear a besta, Tsezar pousou e se pôs a encarar ela.
Poucos segundos depois, ele foi surpreendido por um chute na altura dos olhos, ela havia se levantado mais rápido do que ele esperava.
Bloqueando com os antebraços, ele é empurrado dado a força, arrastando seus pés na dura terra.
Após recuar, ele se prepara para atacar, lançando o peso mais uma vez; mesmo de uma longa distância a corrente se estendia quase que sem fim em direção a criatura.
Dessa vez a besta colocou seu grosso braço a frente, a corrente se chocou e enroscou no mesmo. Aproveitando a situação, a fera usou sua força descomunal para puxar Tsezar.
Ela começou a girar o rapaz em meio às árvores, colidindo ele nos troncos.
Uma, duas, três, quatro, perto de atingir a quinta vez, ele girou seu corpo colocando seus pés em direção ao próximo choque.
Compensando a força da fera, ele ricocheteou no tronco da árvore, se ejetando em direção a besta.
A velocidade era imensa, a criatura mal viu quando um chute com os dois pés acertou seu estômago.
Ela cambaleou para trás não antes de Tsezar pousar e receber a criatura com um chute alto no queixo.
Um pouco desnorteada a besta novamente cambaleou, o rapaz aproveitou o momento e desencadeou uma série de socos no estômago e peito da besta, fechando com poderoso soco na boca do estômago. Ele usava a corrente em volta dos dedos semelhante a um soco-inglês.
A besta recebeu todos os golpes, porém após o último, ela recuperou a consciência e retomou seus ataques, usando sua grande mandíbula para abocanhar Tsezar.
Com os grandes dentes à sua frente, o loiro usou sua corrente para segurar o maxilar da criatura. Uma disputa de força se iniciou, Tsezar sabia que era mais fraco que a fera e perderia a disputa com o tempo.
“DROGA! Não dá pra usar minha especialidade nessa coisa, enforcamento está fora de cogitação; terei que imobilizar ela de algum jeito”, pensou.
Uma ideia surgiu na mente de Tsezar antes que ele fosse esmagado pela poderosa besta. Ele utilizou a mandíbula da fera como apoio, mais uma vez dando cambalhota.
Passando por cima da cabeça da criatura e pousando sobre as costas dela.
Rapidamente a besta percebe e começa a se debater, o rapaz usava sua corrente como um “bride” na mandíbula dela. Ele enrolou sua arma no pescoço da fera e fechou com o gancho, tornando-se em uma coleira.
Saltando das costas da fera e pousando no chão, o oficial debocha de sua vitória com um sorriso de satisfação no rosto. A fera tentava de todo jeito arrancar aquela coleira, porém a corrente nem se movia.
— Desista, apenas o mestre — disse Tsezar apontado para si mesmo — pode soltar a coleira.
A criatura se debatia, em vão para soltar a coleira, a pele próxima da corrente sangrava de tanto que a fera tentava.
Ao fazer um pequeno movimento com a corrente, o rapaz jogou a criatura no chão. Simultaneamente, um outro grupo de correntes prendeu os braços e pernas da fera, surgindo da palma de Tsezar.
A besta, agora estava presa ao chão com todos os membros presos.
— Melhor parar carinha — falou, olhando o monstro de cima —, tu já perdeu.
As correntes começaram a se mover em torno das árvores atrás da acorrentada, puxando-a e colocando-a em uma verdadeira teia de aranha.
Com os braços e pernas puxados nas 4 direções, a criatura rosnava e se debatia, em vão. Seu gás acabou pouco tempo depois.
Após a adrenalina ser consumida, Tsezar sentiu todas as dores da batalha de uma vez — o ferimento no torso e os prováveis ossos quebrados —, para conter a dor crescente, ele apertou o rasgo em seu peito.
— Certo carinha, eu vou precisar fazer meu curativo já que você tem garras maiores do que eu imaginei, só não se move, tá.
Tsezar era cabeça dura, mas ele tinha respeito por seus rivais. Ele tirou a parte de cima do seu uniforme e aproveitou algumas das partes de sua antiga capa para amarrar em torno de seu ferimento. A criatura não se movia mais, parecia ser uma estátua.
— Vai ficar calado? Pensei que você fosse do tipo falador.
Após amarrar seu curativo, Tsezar colocou seu uniforme de novo e pôs seus olhos na criatura.
— Não vai dizer nada? Fazer seu discurso? Eu já li histórias o suficiente para saber que esse é o momento que a fera vira um cientista louco e conta sua história triste.
Ele se aproximava calmamente, a lição já havia cravado em seu cérebro. Começando com alguns toques na barriga da criatura; ela não reagia a nada, parecia realmente morta.
— Você não tá morto, né? A coleira nem tá tão apertada assim. Eu não vou tentar conferir sua respiração e você me morder, não caio nesses truques.
“Deixar essa coisa pra trás podia ser uma boa, mas o comitê me daria uma bronca se eu abandonasse mais uma corrente, essas coisas são caras”
Tsezar estava pensativo, nem olhava mais a fera, até que ele sentiu as correntes mais leves. A besta sumiu, simplesmente sumiu, segundos que ele se virou e ela desapareceu.
Decepção. Era como ver algo que você lutou tanto para conseguir se esvair diante seus dedos; ele estava cansado demais para reclamar e apenas seguiu seu caminho.
— Pelo menos ela deixou a corrente pra trás…
Com os dedos ele fez um pequeno sinal e todas as correntes desapareceram, encerrando o contrato de invocação.
Não estando em seu 100%, Tsezar foi forçado a fazer o restante do caminho em marcha lenta.
Até que ele avista uma placa, nela diz:
“Vilarejo Damuzzu a frente”
Ver aquela placa foi uma das maiores satisfações da vida do jovem, ele não se sentiria ansioso assim até conhecer sua esposa.
Ele não exatamente correu, já que seu estado não deixava, contudo ele andou o mais rápido que conseguia, até ver uma pequena casa a frente de um portão de madeira com “Damuzzu” cravado no topo.
Chorar seria um exagero, mas felicidade genuína é pouco para descrever o que o homem sentiu ao ver aquele portão.