Minha Colega de Quarto é Uma Súcubo - Capítulo 2 - Segundo Dia Escolar
Estava amarrando o meu tênis. Tinha muitas coisas com o que me preocupar… Uma garota que se autoproclamou uma súcubo invadiu a minha casa essa madrugada e tentou abusar do meu frágil corpinho.
Porém, não era com isso que eu estava preocupado, já que aquela garota parecia ser tão tapada quanto uma pedra. Como iria olhar para a Yamazaki depois de ter me declarado e ter sido rejeitado? Pior, humilhado… Certamente, constrangedor. E estávamos na mesma sala, o que seria bem desconfortável. Parando para pensar, talvez se fingisse que ela não existia, ao menos, na sala, eu ficaria menos nervoso.
Enfim, esperava que essa história ficasse somente entre mim, ela e meus amigos. Não achava que aqueles idiotas iam falar alguma coisa, e pareciam que desaprovaram a atitude que ela tomou ontem, no caso, da humilhação… Mas e a Yamazaki…? Será que espalharia para escola inteira sobre o que aconteceu? Provavelmente não, isso mancharia sua imagem… A não ser que distorcesse a história para fazer eu parecer um louco apaixonado.
Ela não faria isso, né? Não seria uma pessoa que faria essa babaquice, né? Talvez estivesse pensando nisso demais.
Aquela cosplayer de súcubo maldita me cansou ontem. A deixei trancada no quarto até voltar da escola, tirando Origami de lá antes disso, prioridade. Hoje, a expulsarei do meu quarto, e da minha casa.
— …É mesmo.
No momento, acabaria tendo que comprar uma bateria nova pro meu celular, aquela maldita fez o favor de sumir com a minha bateria. Bem, melhor passar numa loja depois da aula.
Não precisava me preocupar com a “súcubo”, já que ninguém poderia entrar no meu…
“Ah, é mesmo.”
Qualquer pessoa poderia pegar a chave para destrancar o meu quarto e entrar nele. Eu teria que levar a chave comigo hoje e inventar uma boa desculpa para minha mãe caso pergunte. O problema é que, se tentassem entrar no meu quarto, e aquela invasora pervertida perceber isso, provavelmente ela tentaria pedir para abrirem a porta. Eu teria que contornar isso de alguma forma…
— Bom dia, idiota.
Ouço uma voz familiar chamando minha atenção. Logo, espero as encheções de saco vindo. A “criatura”, mais conhecida como minha irmã, foi quem me chamou atrás. Me virei para ela, e respondi:
— Bom dia.
Seu nome era Aiko Kobayashi. Sendo um ano mais nova do que eu e também muito inteligente, sempre tirando as melhores notas na escola. Parecia que ela me admirava quando mais nova, ou só queria minha atenção, sempre me chamando para brincar e essas coisas que crianças pequenas aprontam. Mas com o passar do tempo, isso foi passando a ser uma realidade. Ela passou a ser uma pessoa bem rude comigo, credo…
“Será que ela está na tal famosa “rebeldia”?, achava que isso não acontecia de verdade com as pessoas. Preocupante…”
Parando pra pensar, a Aiko seria de boa ajuda para ninguém tentar entrar no meu quarto até eu resolver essa situação. Ela mesma não tentará, já que em sua cabecinha perturbada, o quarto dos garotos são sujos, nojentos e fedidos, onde só se encontrará papéis descartáveis que foram umedecidos por um certo líquido branco.
Sinceramente, eu deveria conversar com os nossos pais sobre monitorar o que ela está vendo na internet. E se ela não adquiriu essa visão conturbada por causa de lá, eu queria ter uma conversinha séria com o ciclo de amizades dela.
Bem, tanto faz isso. Tenho 100% de certeza que essa garota não pensaria duas vezes antes de entrar no quarto de um garoto que gosta.
— Ei, Aiko. Posso te pedir um favor?
Franziu as sobrancelhas e fez um olhar desconfiado. Acho que não esperava por algo tão repentino, pelo menos, não logo de manhã.
— Depende… se for pra te arrumar uma namorada de novo, não vou aceitar.
— Ô, sua arromba… Nunca te pedi isso! —Isso me pegou tão desprevenido que minha primeira reação foi gritar, socar meu joelho, enquanto me segurava para não xingá-la, e se levantar.
— Sim, sim — disse, como se tivesse ignorado o que acabei de dizer.
“De onde ela tirou isso? Sinceramente…”
Ignorando isso, decidi ser mais direto.
— Pode fazer ninguém da casa tentar entrar no meu quarto?
— Ah? Só isso? Bem, não se preocupe. Eu e nossos pais sairemos para as compras depois da aula. Então a casa estará vazia. Mas até lá, posso prevenir isso sim. Porém…
Ótimo, sabia que isso ia acontecer… Bem, fazer o quê? Nada é de graça nessa vida, nem quando, acidentalmente, afundei o pacote de absorvente na tela da televisão quando mais novo, o conserto foi de graça. Meus pais ficaram bravos… Aquele dia… não foi legal. Não lembro porque ou como fiz aquilo. Crianças eram uns capetas mesmo.
Enfim, pelo menos já estava preparado para isso, e sorte que tinha dinheiro em minha carteira, para seja lá o que essa garota esteja disposta a me pedir. Na verdade, eu até tinha uma ideia do que era.
— Eu quero uma caixa de chocolates da marca fonfon.
— “Eu quero uma caixa de chocolates da marca fonfon”.
A imitei, fazendo uma réplica perfeita de sua fala, acertando até no tom de voz. Simplesmente a imitação perfeita. É interessante o poder que as pessoas tinham quando conheciam bem uma pessoa, apesar desse poder ser inútil.
— Você tá muito engraçadinho, né, arrombadinho?
Woooh! Quê que era isso? Que gratuito! Que desnecessário!
— Você fala com os nossos pais com essa boca?
— Diz o cara que quase me xingou há pouco tempo.
Em minha defesa, não xinguei.
— Enfim, vou comprar a sua caixa de chocolates cara e idiota se for me ajudar.
— Então hoje comerei chocolate.
Então, resolvido! Apesar de eu ter sido extorquido… novamente, ninguém devia se aproximar o bastante para chamar a atenção da louca lá dentro.
— Deixarei um bilhetinho na porta do seu quarto. A pessoa que ver vai achar tão absurdo que nem vai se aproximar.
— Quê? Bilhete escrito o quê?
— Você vai descobrir.
Isso me preocupou. O que essa garota iria colocar na porta do meu quarto? Que medo…
Depois disso, comecei minha caminhada até a escola. Pensando em tudo o que ocorreu em uma única madrugada.
Uma garota burra invadiu meu quarto. Eu defendi a mim e minha casa. Agora essa mesma garota estava trancada em meu quarto… Não era algo que acontecia todo dia.
“Parando pra pensar, deixar ela trancada no quarto pode ser considerado como cárcere privado?”
Minha atenção a essa questão foi direcionada a uma pessoa familiar, que estava em pé, encostado na parede.
— Bom dia, Takashi.
Era Takafumi. Isso era algo incomum. A gente costumava se encontrar na escola, e sim, na saída, íamos embora juntos, conversando com os outros dois pelo caminho, enquanto, gradualmente, cada um de nós seguíamos para nossos respectivos lares. Me perguntei o motivo de estar me esperando ali.
Como uma pessoa educada, o cumprimento de volta.
— Bom dia.
Segui em caminhada, e ele veio logo ao lado.
— Então, como você tá depois de ontem?
— Nervoso com o dia de hoje.
— Você parece cansado.
— É… aconteceu… muitas coisas ontem a noite.
— É mesmo?
Não sabia se era uma boa contar…
— Mas, ei, hoje vamos eu, você, e os outros dois para o cinema, pode ser? Eu pago pra geral!
Aquela provavelmente era a forma do Takafumi de me consolar da humilhação que sofri ontem. Fiquei comovido com essa atitude, e seria uma boa esfriar a cabeça com tudo o que aconteceu. Não faria mal assistir um filmezinho depois da escola, ninguém estaria em casa mesmo, mas uma garantia que ninguém tentasse entrar no meu quarto.
— Aaah, como é bom ter amigos! — disse, muito animado para mais tarde.
De repente, senti a minha mochila sendo aberta.
— O que você tá fazendo?
Tentei ver o que estava acontecendo, mas não deu tempo de ver com clareza. Vi apenas Takafumi colocando algo lá dentro e fechando a mochila.
— Você não pediu, mas estarei te emprestando. A história é muito boa. Só abra quando tiver privacidade. Me devolva quando acabar de ler.
Esse “só abra quando tiver privacidade”, sinceramente, me preocupou um pouco. Mas, como ele disse que “a história é muito boa”, acho que não vou me arrepender.
Chegamos a escola, encontrando Miyako e Ryotaro na entrada. Para nossa felicidade, eles viriam junto de nós para assistir um filme.
Estávamos no corredor a caminho da sala de aula, até que…
— Ei! Tome mais cuidado, veterano!
Esbarrei em uma baixa garota de cabelos encaracolados.
Essa era a Ichika Suzuki, minha caloura aqui no colégio. Acabamos nos conhecendo ontem, fazendo amizade na mesma hora. Aparentemente, tínhamos gostos parecidos relacionados ao entretenimento. Gostávamos de animes e jogos. Então, por que não fazer uma amizade? Bem, foi ela que deu o primeiro passo, de forma bem tímida, por sinal.
— Foi mal, aí, Suzuki.
Na verdade, foi ela que esbarrou em mim, andando de forma tão apressada. Vi que estava bastante agitada.
— Tem um assunto importante?
— Sim, com o banheiro!
— Ah, entendo…
Ela tentou passar, porém, entrei em sua frente, abrindo bem os braços. A Suzuki olhou para mim, com um rosto já irritado.
— O que você faria se eu não deixasse prosseguir agora? — falei, curiosamente, esperando sua reação pela minha brincadeira.
— Eu te encho de porrada!
— Entendo.
Essa resposta era convincente o suficiente para liberar a passagem, não que eu não fosse fazer isso antes, obviamente.
Com um rosto aliviado, ela continuou a andar apressadamente até o banheiro. Por isso era sempre bom usar o banheiro antes de sair de casa.
— Essa é aquela menina que você fez amizade ontem, não é, Takashi? — Miyako disse.
Levantei meu polegar para um “joinha”, confirmando sua pergunta.
— Se conheceram ontem, mas parece que são amigos há muito tempo.
— Bem, aprendi com você… eu acho.
Miyako sempre foi um cara fácil de se fazer amizade. Sabia criar uma conversa muito boa, além de ser um cara muito legal de se ter por perto. Talvez, com anos de amizade, essa sua personalidade tenha refletido em mim, de alguma forma, apesar de não ser tão bom quanto ele nesse departamento.
Em terra de fazer amizades, Miyako era rei e eu, apenas um plebeu… passando fome, provavelmente.
Após esse pequeno acontecimento, chegamos em frente à porta da nossa classe. Quando estava prestes a abrir, alguém de dentro foi mais rápido.
“Ha!”
Que conveniente, até um pouco clichê, não? De todas as pessoas que poderia ficar cara-a-cara logo cedo, justamente, essa pessoa era Yamazaki.
Ela apenas olhou para mim, sem expressar nenhuma reação. Se eu já estava ansioso mais cedo, agora fiquei paralisado.
Porém, para minha sorte ou azar, ela apenas seguiu em frente, para seja qual lugar estivesse indo. E não só isso, como três garotas a seguiram atrás.
Virei meu olhar, podendo apenas ver suas costas cada vez se afastando.
“Será que isso é aquela coisa das garotas de irem todas juntas ao banheiro por motivo x e y que nunca sei?”
Bem, de qualquer forma, isso não era de meu interesse e nem da minha conta.
Virei para meus amigos, que me olharam sem nenhuma expressão no rosto. Provavelmente, estavam pensando mais do que agindo com expressões ou falas. Na verdade, o único que expressou algo foi Takafumi, que levantou o dedo do meio em direção a elas rapidamente, abaixando em poucos segundos.
Não sabia o que dizer sobre isso… Apenas… que susto?
POV de Ichika Suzuki.
Ichika Suzuki era meu nome, e eu não passava nada mais, nada menos, do que uma colegial normal, tendo sua vida normal.
Esbarrei há poucos minutos com o veterano Kobayashi, que era de um ano superior ao meu. Achava ele um cara legal e bastante divertido, alguém com quem podia conversar. Ainda bem que criei coragem para iniciar uma conversa, assim, poderia ter alguém com quem me divertir em tempos sombrios.
Não tinha amigas ou amigos na minha turma. Não era muito popular, mas, sinceramente, isso não me incomodava. Gostava bastante de ler, e na maioria das vezes ficava na biblioteca da escola, lendo. Também curtia bastante jogos de videogame, tanto que trouxe esse nintendo switch para jogar enquanto matava um tempinho no banheiro. Não gostava muito de casa, preferia ficar o máximo de tempo na escola, se possível.
Se possível, eu gostaria de me mudar de casa mais cedo, mas meus pais não iriam permitir, não tenho tanta certeza. Todo dia tenho que me preocupar em não incomodar meu pai ou a minha mãe, se não, iria doer…
Enfim, estava prestes a salvar meu jogo e desligar o console, quando acabei ouvindo passos e algumas vozes.
Não me importei com isso, afinal, por que deveria?
— Nossa, que nojo! Esse garoto não tem noção.
O som de uma voz feminina ressou pelo local. Bem, não era da minha conta, muito menos do meu interesse.
— Qual é o nome dele mesmo, Hinata?
— Hã… acho que Kobayashi.
— Takashi Kobayashi?
— Sim. Quem aquele nerdzinho escroto e super esquecível pensa quem é?
Isso me deixou em choque, pálida, paralisada e com o desejo de saber o que o meu veterano tinha a ver com elas. Sei que não era da minha conta, mas era sobre um amigo, então, queria saber dos detalhes.
Pausei o jogo e comecei a prestar mais atenção.
“Como aquela garota chamou a outra mesmo? ‘Hinata’? Será que é a tal da Hinata Yamazaki? Ela é bem conhecida na escola.”
— Vocês acreditam que ele ficou tremendo enquanto se declarou? Hmph! Estúpido. — Após esse comentário desnecessário, ela e suas amigas deram risadas.
Isso me deixou curiosa… Ela falou isso com um tom de prazer na voz, como se divertisse com isso.
“Espera, o quê? Ele se declarou?”, demorei um pouco para me tocar sobre o tema do assunto.
Estranho, por que ela estava sendo tão cruel em suas palavras? Isso é bem contraditório considerando que se tratava de uma pessoa muito gostada.
Por que ela estava falando mal dele? É por que ele se declarou? Qual era lógica por trás disso?
— Takashi Kobayashi é nojento.
Após isso, ouvi mais passos, e seus sons, aos poucos, se afastaram. Elas saíram. Não pude acreditar naquilo. Pior, nenhuma delas usou o banheiro, já que não teve nenhum som de cabine sendo aberta. Vieram aqui exclusivamente para falar mal.
“Veterano Kobayashi…”, ouvindo tudo aquilo, comecei a ver aquela garota com outros olhos. Não era uma pessoa na qual gostaria de ficar próxima. Não gostei nada daquilo e fiz uma cara emburrada.
“Mas que situação você foi se envolver, hein, veterano?”