Lumen Saga - Capítulo 7
Os cinco alunos se reuniram ao ar livre no campus, sentados em uma mesa. Pegaram seus cartões de aluno e leram atentamente as informações, começando as apresentações:
— Eu sou Antony Windsor, segundo filho da família Windsor, uma das famílias reais dos Três Grandes Reinos do Grã-Empire — tentou se destacar, mas ficou feliz ao ver que ninguém se importou. — Minha energia é mana, meu atributo é o metal, e minha habilidade especial é o “corpo perfeito”.
— Meu nome é Aryna Sabbac, natural do Grã-Empire. Minha energia é mana, meu atributo é a água, e tenho uma reserva de energia ilimitada como habilidade especial.
— Sou Ivan, vindo de Snegriya. Tenho energia do tipo mana, meu atributo é o gelo, e minha habilidade especial me permite suportar temperaturas extremas, tanto baixas quanto altas.
— Rebecca, também do Grã-Empire. Minha energia é a psicoenergia, minha habilidade é criar barreiras psíquicas, e minha habilidade especial é a capacidade de absorver ataques.
— Meu nome é Theo Augustus de Lawrence, e venho de Romerian. Minha energia é o Éter, e minha habilidade especial é conhecida como “genium”.
— De que estado de Romerian você vem? — Aryna perguntou.
— Nethuns.
— Legal! O Estado do deus da água…
— Ouvi dizer que as praias de lá são tropicais e lindas — comentou Aryna.
Antony se aproximou de Ivan, subindo na mesa de madeira e apoiando os pés no banco.
— Como é em Snegriya? Realmente é tudo congelado? As pessoas lá são mais reservadas mesmo?
— Sim. — Ivan interrompeu. — Diariamente, a temperatura chega a −18 °C, esse é o mais próximo do calor. E sim, as pessoas são mais reservadas. Você mora em Nethuns, né? Já visitou a floresta das ninfas? — indagou a Theo, ignorando completamente Antony.
— Sim, a floresta rodeia minha casa e as cidades próximas, então basicamente cresci lá.
Floresta das Ninfas é conhecida como o lugar mais perigoso do continente, composta por três regiões distintas. A primeira delas é a zona habitável, onde os humanos ainda conseguem sobreviver. A segunda é a zona morta, habitada por criaturas tão medonhas e sobrenaturais que nenhum humano ousa pisar nela. Por último, temos o coração da floresta, uma área mítica e ainda envolta em mistério. Até agora, nenhum humano conseguiu ultrapassar a segunda zona, tornando o coração da floresta nada mais do que uma lenda inexplorada.
— Como é? Realmente é tão perigoso? — Rebecca indagou.
— Sim. Eu dei apenas um passo para dentro da névoa, mas me arrependi tanto que só desejei morrer.
Rebecca engoliu em seco, olhando ao redor. Ivan continuava interessado.
— O que você viu? — Aryna perguntou. No mesmo instante, Antony cutucou o bíceps de Theo, percebendo que era um assunto sensível para ele.
— A morte — retrucou, e logo um silêncio tenso tomou conta do ambiente. Theo manteve um olhar vago após responder. — Rebecca, quão poderosas são suas barreiras?
— Depende apenas da minha capacidade de absorção. Todo dano que minha barreira sofre, eu absorvo, reduzindo em 50%.
— Espera, você cria uma barreira para se proteger e ainda sofre dano? Como assim? — brincou Antony.
— Basicamente. Eu não sinto dor, mas ainda sofro o dano. Costumo considerar isso uma maldição.
— É mais útil do que uma garota que só atira água. — Aryna retrucou, tirando a atenção de Rebecca.
— Na verdade, não — argumentou Theo. — A água, cientificamente falando, pode ser uma das mais destrutivas. Por exemplo: um jato d’água com alta pressão pode quebrar um diamante como se fosse papel. Pensando bem… se um desses jatos fossem grandes o suficiente, poderiam partir uma montanha…
— Está falando nossa língua? — indagou Aryna.
— Como o Paul disse: você pensa demais. Mas talvez essa seja sua vantagem. — Ivan comentou, sentando em um dos bancos. — Parece ser experiente com o vento, quem lhe treinou?
— Meu pai. Ele é um híbrido de classes, então fez questão de que eu aprendesse a manipular o vento. Minha mentalidade ajuda às vezes.
— Ele é militar?
— Tenente.
Ivan assentiu, se impressionando.
— Quem é esse Amiah? — Aryna olhou para seu cartão de estudante.
— Amiah… esse nome é familiar. — Theo murmurou.
— Hum… o que vocês irão fazer agora? — indagou Antony, olhando para o céu. — Estou pensando em assistir a uma aula sobre magia, não sei nada do sistema. Alguém mais vai?
— Estou fora. — Ivan retrucou, de braços cruzados e olhos fechados. — Em Snegriya, as crianças são obrigadas a aprender sobre o sistema científico desde que aprendem a ler, então essa será a última matéria que assistirei.
— Os camponeses também leem em Snegriya? — Antony ficou surpreso, no continente Gênesis, camponeses sabem sequer o significado de palavras formais.
— Sim.
— Também estou fora. Eu e a Becca vamos assistir a uma aula sobre potencialização de feitiços — disse Aryna. Todos os quatro olharam de lado para Theo, que entendeu a mensagem e respondeu rapidamente:
— Ok, eu vou. Preciso entender um pouco do Eter também, então vai ser útil.
— Valeu, cara! — agradeceu, levantando a mão.
Theo olhou para a mão de Antony, estendida e aberta, esperando apenas uma resposta. Ao levantar-se do banco, Theo bateu na mão de Antony e acenou para os outros, despedindo-se.
☽✪☾
As aulas em Wispells não são obrigatórias. Cada aluno entende unicamente sua necessidade de aprendizado, então deve buscar aquilo que necessita. Os professores sempre estarão em suas salas nos horários designados; se houver alunos para ensinar, eles o farão, caso contrário, permanecerão lá, esperando. Isso raramente acontece, já que em Wispells há mais de cinco mil alunos.
Theo e Antony foram uns dos primeiros a chegarem na aula sobre o sistema de magia, ministrada pela professora Beatrice. Sentaram-se na cadeira mais próxima do palco. Cerca de cem alunos chegaram nos últimos vinte minutos.
Beatrice engoliu em seco, sendo uma professora novata. No passado, ela nunca havia dado aula para mais de vinte alunos; agora, estava diante de cem adolescentes. Ela se mostrou nervosa desde que entrou na sala, verificando quem estava presente e estalando os dedos.
“Ok…” ela se encorajou mentalmente, inspirando e expirando.
— Quais são os tipos de energia? — Theo indagou antes que ela dissesse qualquer coisa, tentando encorajar Beatrice e fazê-la esquecer o nervosismo.
Conhecendo a mulher que o ensinou por mais de dez anos, ele sabia o que ela estava sentindo naquele momento.
— Ótimo. Alguém pode me dizer os cinco tipos de energia que um núcleo pode ter? — perguntou Beatrice para os alunos.
— Mana! — um deles respondeu, seguido por outros.
— Eter.
— Ki.
— Psicoenergia.
— Energia quântica!
— Sem contar com seus estágios, chamados ciclos energéticos ou então, Chakra — complementou Beatrice. — Os núcleos, nada mais são do que um órgão formado próximo ao plexo solar. Para os desviantes, nada mais são do que a capacidade de manipular essas energias com facilidade. Para nós, são nossa fonte de vida. Alguém sabe dizer por quê?
— Porque quanto mais energia armazenada em um núcleo, mais tempo de vida teremos.
— Parcialmente. Se gastarmos muita energia do nosso núcleo, morremos. Mas se deixarmos acumular demais, o núcleo entra em colapso e também morremos. Qual é a solução?
— Gastar uma quantidade razoável de energia a partir dos feitiços — retrucou Theo, após os alunos se encararem com perguntas.
— Exatamente. Para realizar os feitiços, realizamos uma espécie de “troca equivalente” com nosso núcleo: aplicamos a quantidade de energia que queremos despejar, e ele devolve isso em forma de um elemento. Exemplos de núcleos assim são os de Mana e Eter. Diferente do Ki, por exemplo, que até mesmo humanos comuns conseguem utilizar essa energia. Porém, os desviantes têm vantagem. Geralmente, os artistas marciais usam essa energia.
Beatrice virou-se para o quadro negro e escreveu “Psychoenergy”.
— Já a Psicoenergia serve para aqueles que usam bestas mágicas. Essa energia psíquica pode manipular os sentimentos e a maneira de pensar dos seres vivos. Geralmente, os domadores usam dessa energia para ter suas feras sob controle.
Escrevendo os nomes “Mana, Eter e Quantum”, ela continuou:
— A mana é a partícula de energia natural e a mais abundante em nosso mundo. Já o Eter e Quantum são tabus… não sabemos exatamente o que são. Sabemos apenas que o Eter vem do espaço, enquanto o Quantum é uma partícula que vem de dentro dos núcleos atômicos.
— Não está faltando algo? — Antony cochichou para Theo.
— Os discos de energia — respondeu Theo.
— E os discos de energia? — Antony indagou.
— Bom, eles são como pequenos núcleos espalhados pelo corpo. Servem como armazéns secundários de energia. Alguns desviantes não conseguem usar a energia nos núcleos, então eles ficam presos ao Chakra. Já que um dos discos de Chakra pode aprimorar a visão, a mente e a capacidade de processamento. Geralmente chamamos essas pessoas de cientistas ou alquimistas. E também — suspirou de nervosismo. — Alguns discos carregam códigos elementais. Ou seja, onde ficam os nossos atributos. A energia compactada para manipular os elementos.
Beatrice escreveu no quadro, desenhando um símbolo de adição seguido por um sinal de subtração e finalizando com um círculo perfeito.
— Positivo, negativo e neutro. Nossos núcleos respondem a essas três partículas, independentemente de qual energia eles sejam formados. Nós utilizamos uma tabela de cores para simbolizar a energia de um núcleo, onde quanto mais distante do verde for, mais energia ele terá. Os núcleos carregados por prótons têm três tonalidades: amarelo, laranja e vermelho.
Beatrice caminhou pelo pequeno palco após explicar as tonalidades, citando do que menos possui energia ao que mais possui energia, respectivamente.
— Os núcleos carregados para os elétrons têm como suas tonalidades, o azul, lilás e o roxo. Para finalizar, o núcleo carregado apenas por nêutrons tem apenas o verde. São os núcleos mais raros e ao mesmo tempo os mais fortes. Embora chamados de “núcleo de nêutrons”, dão a impressão de não possuírem energia, mas é o oposto disso. Os núcleos verdes são neutros porque conseguem controlar tanto os elétrons quanto prótons numa harmonia, mantendo tudo em equilíbrio.
— No fim, é igual a um átomo — sussurrou um aluno, rindo.
— Correto — respondeu Beatrice, deixando o aluno um pouco constrangido.
Ele havia feito a comparação para menosprezar os desviantes neutros, comparando-os ao tamanho de um átomo. Para muitos com um núcleo vermelho ou roxo, aqueles que portam o núcleo verde são aberrações que tentam imitá-los, mas não se aproximam de seu poder.
— Desviantes neutros são como um átomo. O núcleo no plexo solar enquanto os discos de chakra podem ser considerados a eletrosfera. É por isso que devemos agradecê-los. Graças a esses desviantes, noventa e cinco por cento das técnicas de manipulação de energia existem. Graças às pessoas que lutaram pelo próprio direito de viver. Então agradeça, pois, assim como um átomo, é graças a eles que você ainda tem energia em seu núcleo e continua vivo para ser assim.
“Otário”, pensou Theo, sorrindo de canto.
O soar de uma trombeta ecoou pelo campus.
— Acabou logo quando eu estava me empolgando… enfim! — ela exclamou, chamando a atenção daqueles que já estavam saindo. — Lembrem-se: desviantes são humanos que não se prenderam à violência primitiva e selvagem da nossa natureza, por isso somos superiores. E por sermos superiores, temos que proteger aqueles que não evoluíram.
— Uma ótima filosofia… Mas já está na hora de voltar para os quartos. Até amanhã, então? — Antony perguntou para Theo,
mas este estava perdido em seus pensamentos.
“Se o éter vem do espaço, então como eu poderia conseguir uma reserva considerável dessa energia?” refletiu consigo mesmo. “Alguma dessas técnicas que a Beatrice mencionou será o suficiente?”
— Theo? — Chamou novamente.
— Claro, até amanhã. — Theo se despediu de Antony.
— Até!
Theo se levantou da cadeira, olhando para o sol que entrava na sala pela janela de vidro. Sugou uma imensa quantidade de ar, fechou os olhos e refletiu mais um pouco. Nestes momentos, ele sentia falta da facilidade que tinha em sua vida passada. A facilidade de não precisar aprender, apenas executar. Agora, nessa vida e nesse corpo, estudar e executar eram a única saída.