Knight Of Chaos - Capítulo 500
E se ele usasse a Magia de Gravidade não apenas em uma arma ou armadura, mas em todo seu corpo?
Normalmente seria uma ideia estúpida, já que qualquer um que dominava apenas a forma básica da Magia de Gravidade, mesmo usando todo seu mana, não conseguiria alterar mais do que alguns quilos por uma fração de segundos. Todavia, Fernando não era como as outras pessoas, afinal ele tinha a Pedra de Mana!
Eu deveria tentar? pensou, com algum receio.
Mesmo se preenchesse todas suas Veias Expandidas e Canais de Mana completamente, não seria suficiente para alterar o peso de todo seu corpo. O que significava que para uma alteração de todo seu peso e uma significativa, ele precisaria causar um enorme turbilhão de mana, canalizando quantidades avassaladoras do mana da Pedra diretamente em seu corpo mais rápido do que seria gasto.
Apenas pensar nessa possibilidade, o fez tremer, tanto de medo, por quão louca e mortalmente perigosa era essa ideia, quanto de excitação, já que isso resolveria um dos seus grandes problemas.
Se ele tivesse um meio de gastar enormes quantidades de mana sem chamar a atenção, o que definitivamente não poderia ser feito com Magias de Fogo, poderia melhorar seu Nível de Magia numa velocidade assustadora!
Olhando para sua mão trêmula, decidiu-se.
“Vamos tentar!”
…
Nos subúrbios de Garância, uma figura encapuzada estava sentada em um bar recém aberto, desfrutando calmamente de uma bebida em uma mesa isolada. O lugar estava relativamente vazio, com poucos clientes nesse horário.
De repente, um homem alto e barbudo entrou no estabelecimento, lançando seu olhar ao redor, até que avistou a pessoa de capuz no canto. Sem titubear, caminhou até ela. Puxando uma cadeira e sentando-se, enquanto a encarava fixamente.
“Está falando sério sobre aquela proposta? É melhor não estar tentando me enganar, ou isso não vai acabar bem para você.” ameaçou, com uma certa ferocidade em sua voz.
A pessoa encapuzada não parecia afetada pela ameaça, pelo contrário, sorriu de forma desdenhosa, então puxou o capuz, revelando seu rosto. Uma linda mulher, com cabelos negros e um olhar afiado, assim como um nariz fino e bem destacado, essa era Theodora.
“Você está muito nervoso, não acha Samuel?” falou, de forma brincalhona, mas então seus olhos o observaram com um olhar gelado. “Se eu quisesse roubá-lo, por que teria me dado ao trabalho de me reunir com você em um local público? Um beco escuro seria muito melhor para me desfazer do seu corpo.” Após dizer isso, ela deu uma leve risadinha.
Ouvindo isso, a expressão do sujeito escureceu, mesmo que soasse como se fosse apenas uma piada, sentiu que a mulher estava realmente falando sério.
O homem, chamado Samuel, era, na verdade, o Subtenente do Quinto Batalhão da Segunda Brigada subordinada ao General Ramon e tinha conhecido Theodora pouco tempo depois da tomada de Garância.
Desde o fim da batalha, algumas reuniões e confraternizações entre as tropas haviam sido realizadas e geralmente os Subtenentes eram os enviados para esse tipo de tarefa, com algumas poucas vezes o próprio Tenente comparecendo.
Como uma tropa relativamente famosa, tanto por ser nomeada, quanto devido a seus atos na batalha contra os Orcs em Garância e Belai, o Batalhão Zero obviamente chamou muita atenção e muitos queriam conhecer o jovem Talento que tinha se tornado um Comandante Provisório na Quinta Divisão durante aquela batalha, mesmo que por um curto período, era um feito tremendo. Infelizmente, seu Tenente nunca havia vindo a uma única reunião sequer e o único integrante do Batalhão Zero que a maioria dos participantes dos eventos conheciam pessoalmente era sua Subtenente, Theodora.
“Deixe a bobagem de lado, vamos tratar de negócios. A oferta que você fez, é real? Está mesmo disposta a comprar todos os nossos Cristais?” Samuel perguntou, com um rosto sério. Mesmo que seu semblante e maneirismos fossem firmes, seus olhos revelaram sua ansiedade.
Atualmente, muitas tropas em Garância, principalmente as de médio porte, estavam com dificuldades, devido ao conluio dos comerciantes para manter um preço de compra baixo sobre os materiais obtidos, enquanto as menores já haviam cedido há muito tempo a eles.
Infelizmente o Salão da Recepção da cidade não tinha condições de comprar tantos Cristais por si só e os Leões Dourados, que estavam enfrentando uma crise econômica muito antes da guerra, também não poderiam enviar dinheiro já que haviam investido muito na guerra. Isso significava que os recursos eram escassos e só poderiam se dar ao luxo de comprar das tropas mais fortes e influentes, que acabaram não sendo afetadas por essa ‘crise’.
Essa situação era a mesma da maioria das Legiões que tinham cidades no fronte, com exceção das Grandes e algumas poucas de médio porte.
O preço mínimo para um Cristal de Dobat, na Zona Divergente, era de pelo menos 30 moedas de prata, mas o valor de compra ofertado por essas pessoas, mesmo o mais generoso deles, era de menos de 50% desse valor, ficando entre 10 a 12 moedas, o que era algo absurdo.
Se eles fossem levados para além das muralhas de Meridai, poderiam facilmente ser vendidos a pelo menos 50 moedas de prata, ou seja, estavam tentando chantageá-los e obter um lucro real de mais de 400%!
Mesmo que atualmente o mercado estivesse inundado de Cristais de Orcs devido à guerra em andamento e por um momento o preço tivesse caído subitamente, era apenas uma queda momentânea, já que a demanda estava começando a aumentar gradualmente.
Cristais eram a principal fonte de energia para a Humanidade, servia para manter os núcleos energéticos que sustentavam as Matrizes das cidades, para a fabricação de Poções e outros itens essenciais, alimentação de Matrizes menores variadas e atualmente, um dos usos que estava gradualmente se tornando mais regular, era a produção de Armas de Guerra.
Muitas Legiões estavam começando a armazená-los, já que não sabiam quanto tempo essa guerra demoraria e seria um grande problema se não tivessem o suficiente para alimentar suas cidades e defesas. Como o mercado estava atualmente inundado, não houve nenhum aumento significativo nos preços, mas para aqueles que tinham um bom faro e entendimento da situação, sabia que em breve iriam explodir.
Era por isso que alguns comerciantes, não só em Garância, mas em toda Zona Divergente, estavam começando a tentar comprar o máximo que pudessem, porém, se fossem adquiri-los a um preço justo, a quantidade obtida seria muito pequena, então muitos tiveram a ideia de forçar uma baixa momentânea no preço para arrancar o máximo de Cristais possível das tropas comuns no fronte com um mínimo de gastos.
Era, obviamente, uma ação extremamente egoísta, mas era justamente esse tipo de ganância que mantinha os comerciantes nos frontes de guerra. Mesmo com todos os riscos envolvidos, os lucros poderiam ser enormes!
Até esse ponto, muitas Legiões já haviam notado esses movimentos suspeitos, mas fingiram não perceber, até mesmo para as Dez Grandes Legiões era insensato criar problemas com os grandes grupos comerciais, já que eles eram os principais responsáveis por movimentar a economia de Avalon. Contanto que a outra parte não cruzasse uma certa linha, eles continuariam a fingir ignorância a suas ações, enquanto secretamente continuavam a reunir grandes somas de Cristais antes dos aumentos, para reduzir seus gastos.
Era uma batalha dissimulada, que ambos os lados sabiam o que o outro estava pensando e planejando, mas continuavam a manter sorrisos amarelos, já que dependiam um do outro.
“É claro que sim, se eu não estivesse, não teria feito a proposta.” Theodora afirmou, rindo.
“E quanto exatamente planeja oferecer? Se for o mesmo que aqueles malditos, apenas esqueça.” Samuel declarou.
Assim como o Batalhão Zero, muitas tropas estavam se recusando a vender seus materiais, aguardando ofertas melhores. No entanto, muitos estavam começando a chegar em seus limites, tanto pela pressão de seus Oficiais e tropas, em busca de benefícios da batalha, quanto pelos gastos de manutenção.
O Batalhão de Samuel estava passando por esse mesmo tipo de problema e em breve teriam que ceder caso não achassem novos compradores, então quando Theodora entrou em contato alegando que tinha uma boa oferta, ele não pensou duas vezes antes de se apressar até ali.
Em resposta a pergunta do homem, a Subtenente sorriu sarcasticamente.
“Quinze moedas, essa é minha oferta.”
Ao ouvir isso, o homem ficou surpreso, isso era três moedas a mais do que a melhor das ofertas dos comerciantes, valia definitivamente a pena! Contudo, mesmo sendo um valor superior, ainda estava muito abaixo do preço justo.
“Isso é muito pouco. Diferente de vocês que lutaram na Quinta Divisão, para nós que lutamos na Quarta, não houve um repasse de uma grande quantia de Cristais. Se vendermos a esse preço, não vamos ganhar praticamente nada!” reclamou, descontente e com uma pitada de inveja.
Era sabido que o Batalhão Zero tinha recebido uma soma avassaladora de materiais da batalha, assim como todos que lutaram na Quinta Divisão. Entretanto, devido à Segunda, Terceira e Quarta Divisões lutarem juntas, com a Segunda, da Cavalaria, recebendo grande parte dos saques devido a ter encabeçado o ataque inicial, o que restou para a Terceira e Quarta havia sido um valor irrisório, que foi abocanhado na maior parte pelas tropas nomeadas, bem como os Generais. O que teria restado para Batalhões comuns como o de Samuel era um valor insignificante que sequer pagaria seus gastos.
Se não fosse o fato de terem conseguido algum saque durante o percurso, ao enfrentar algumas hordas dispersas, batedores perdidos do inimigo e monstros, definitivamente estariam no vermelho agora!
Mesmo que o salário dos soldados fosse pago pela Legião, se não houvesse incentivos a mais, dos saques e missões feitos, muitos ficariam insatisfeitos.
Ouvindo a declaração do sujeito, a expressão de Theodora diminuiu.
“Conseguimos mais porque lutamos e nos arriscamos mais. Se está tão desesperado por dinheiro assim, posso conversar com meu Tenente, para que ele entre em contato com o General Dimitri. Seria ótimo ter você e seus homens lutando ao nosso lado da próxima vez.”
A expressão do homem escureceu ao ouvir isso, ele sabia o quão pesadas foram as perdas da Quinta Divisão, mesmo que tivessem lucrado muito, que valor isso teria se você fosse um dos muitos mortos que havia caído na batalha?
“Ahem! Eu não lutaria por outro que não fosse o General Ramon.” respondeu, desconversando.
A Medusa sorriu ao ouvir isso, enquanto o encarava diretamente nos olhos.
“Dezesseis moedas de prata e nenhuma a mais.” ofertou novamente.
“Isso…”
No fim, mesmo que a contragosto, o Subtenente cedeu, concordando com o preço oferecido. Mesmo que ainda fosse uma quantia muito abaixo do valor de mercado, era de longe a melhor oferta que haviam recebido até agora.
Theodora acabou comprando cerca de 100 Cristais de Dobats comuns por 1600 moedas de prata, o equivalente a 1,6 moedas de ouro, assim como mais alguns poucos Cristais de outras criaturas diversas.
Após a transação, o homem concordou em não revelar qualquer informação sobre essa negociação para ninguém, saindo apressadamente.
Por mais que não houvesse qualquer impedimento nas Tropas negociarem entre si, muitos comerciantes poderiam ver isso com maus olhos, marcando-os em uma lista negra como alvos e se recusando a fazerem negócios com eles no futuro, então era de interesse para ambos os lados, que isso não se tornasse algo publico.
Guardando uma bolsa cheia de Cristais, Theodora olhou para o conteúdo interno da Pulseira de Armazenamento, enquanto seus olhos brilhavam, mesmo para ela, que era alguém que não se importava tanto com dinheiro, era uma visão simplesmente incrível. Fernando havia deixado 100 moedas de ouro em seu quarto da última vez, era um valor simplesmente assustador!
A Medusa simplesmente não conseguia entender como seu Líder havia conseguido tanto. Mesmo que no sistema antigo ele ficasse com todo o dinheiro, duvidava que o Batalhão Zero tivesse produzido tanto lucro, ainda mais com o tanto que ele investia nas tropas.
Inicialmente Theodora, ao ver a bolsa de moedas, não conseguiu entender o que Fernando queria que ela fizesse com aquele valor absurdo, mas após receber a mensagem com as explicações e instruções, mesmo sem ele dizer diretamente, conseguiu entender seus pensamentos.
Você é sempre tão problemático, líder… pensou, com um sorriso travesso.
Fernando ordenou que ela começasse a comprar secretamente os Cristais de outras Tropas, oferecendo um preço máximo de compra de 20 moedas de prata, o que era bem acima do que ela tinha vendido a Samuel. Ela havia oferecido apenas 16 moedas por unidade e o homem prontamente aceitou, economizando 4 moedas do orçamento estipulado, a Medusa sentiu que se pudesse economizar o dinheiro de seu líder, assim o faria.
Mas o que ela achou realmente problemático, era o fato de que Fernando estava, indiretamente, desafiando os comerciantes presentes em toda a Garância. Se eles descobrissem que o Batalhão Zero estava comprando materiais que eles estavam tentando obter por um preço baixo, ficariam extremamente furiosos.
O conhecendo tão bem, não se sentiu surpresa ao vê-lo causando tanta confusão, pelo contrário, ela acharia estranho se seu jovem líder ficasse em silêncio por muito tempo. O que achou realmente surpreendente foi que ele realmente havia lhe confiado 100 moedas de ouro de forma tão casual!
Deve-se saber, que essa era uma quantia que causaria cobiça até mesmo entre Generais, muito menos para uma mera Subtenente. Sabendo o quanto ele confiava nela, somado ao que havia acontecido naquela manhã, as bochechas brancas da mulher se avermelharam, enquanto ela sorria.
Eu não vou decepcioná-lo!