Knight Of Chaos - Capítulo 456
Enquanto as pessoas comentavam sobre a situação, Dimitri olhou para Jack, que também estava com vários ferimentos. Ver que ele realmente não havia fugido foi uma surpresa agradável, então suas sobrancelhas se uniram, num misto de surpresa e confusão ao ver o Major Silvester.
Devido à ocasião, ele não havia notado, mas o homem estava ali completamente recuperado! O General lembrava-se bem que o Major estava à beira da morte antes, com um enorme buraco na barriga.
“O que diabos… Como você se recuperou tão rápido?”
Ao ouvir isso, Silvester ficou levemente pálido, seu olhar pousando brevemente em Fernando, que parecia encará-lo fixamente. Mesmo sem dizer nada, os olhos do jovem pálido pareciam falar com ele, dizendo para que não contasse nada.
O Major sabia o quão cara era uma Poção de Cura Avançada, ele imaginou que se o General Dimitri soubesse que Fernando havia lhe dado algo assim, provavelmente seria severamente punido.
“I-isso, acabei usando uma Poção de Cura Avançada que guardei por alguns anos…” O homem disse, com algum nervosismo em sua voz.
Ao ouvir isso, tanto Dimitri, quanto Delmond, pareciam insatisfeitos. Tendo o mesmo pensamento que Jack havia tido anteriormente. Se alguém tivesse um recurso tão valioso, por que demoraria tanto para usar?
Silvester sabia que talvez fosse repreendido e até punido, já que entendia perfeitamente seus pensamentos. Mais um Major teria sido essencial na luta contra o Lorde Dobat Intermediário.
“Agora não é o momento ideal, resolvemos isso depois.” Dimitri disse, com severidade em sua voz.
Jack entendia o que estava acontecendo, ele mesmo queria xingar Silvester, mas não se atreveu, afinal ele talvez tivesse feito algo ainda pior, então seria o sujo falando do mal lavado.
“General, é um prazer revê-lo.” O Capitão da Brigada Salazar, Alonso, disse, levando o punho ao peito em saudação.
Ao ver o homem, o General assentiu. Ele havia recebido um resumo no caminho sobre o que aconteceu de Fernando, então estava ciente de seu suporte a Quinta Divisão e de que era graças a isso que conseguiram resistir.
“Eu soube de suas ações, irei conversar diretamente com o General Wayne sobre como o recompensar.” Dimitri garantiu, num tom nem muito superior, mas que também não o colocasse como igual.
A Brigada Salazar e o Mago Punhos de Ferro era algo que mesmo ele, um General novato, precisava lidar com cautela. Atualmente o homem era apenas um Capitão, mas ele ouviu boatos de que Alonso Allen cultivou forças e feitos suficientes para em breve ser promovido a Major, e quando o fosse já havia preparativos feitos para que ele criasse uma Divisão Independente. Quando isso ocorresse, seu poder e influência provavelmente o superariam com o tempo.
“Eu agradeço, General.” Alonso respondeu, com cortesia.
“Heh, as coisas aqui estão melhores do que imaginei!” Uma voz poderosa soou do céu, fazendo todos olharem em sua direção, foi só então que Fernando, Dimitri e os outros notaram Zado, descendo lentamente. “Pensei que a maioria de vocês estariam mortos, mas vejo três Majores, o General e têm tantos Capitães.”
Ao notar Zado, Dimitri aproximou-se, seguido de perto por Jack, Silvester e Delmond. Todos sabiam que depois de Wayne, esse homem poderia ser considerado o principal cabeça da facção, além de ser o General mais poderoso nesse campo de batalha.
“General Zado!” Dimitri cumprimentou. “Pensei que já estavam preparando-se para tomar Garância.”
“O Comandante Wayne queria que eu verificasse pessoalmente seu estado.” O homem disse, observando-o de baixo pra cima com seus olhos arregalados. “Para você ter sobrevivido a toda essa merda, até que você é alguma coisa.”
As palavras de Zado poderiam parecer grosseiras e mal-educadas, mas, na verdade, ele estava o elogiando, e ser exaltado por alguém como esse homem não era algo simples.
Apenas graças a isso, a posição de Dimitri, como General novato, estaria ainda mais consolidada quando todos soubessem que ele recebeu a aprovação de um sujeito monstruoso como esse.
“Eu sou um General dos Leões Dourados, não morro tão fácil.” O velho homem de cabelos espetados devolveu o elogio com uma brincadeira.
“Humph, apenas ser um General não significa muita coisa numa guerra como essa. Se isso fosse realmente relevante, o General da Salamandra não teria morrido e o desgraçado da Aurora não teria fugido com o rabo entre as pernas. Graças a isso tivemos que mandar Herin para lá, isso fodeu com todos nossos planos.”
Quando Zado disse isso, todos no local ficaram paralisados, em perplexidade.
Um General havia caído e outro fugido? O que havia acontecido na Primeira Divisão para isso ocorrer? Todos pensaram que a Quinta Divisão era a maior isca, então, por que a Primeira parecia estar pior do que eles?
Dimitri era o mais abalado, em relação a Kamal ou Lauren, que já eram Generais veteranos, ele era apenas um iniciante. Então como isso poderia ter acontecido com eles?
De repente lembrou-se de algo, seu olhar pousando em Fernando, então ele percebeu que se não fosse esse jovem, seu destino teria sido o mesmo de Kamal, sendo morto nas mãos do inimigo.
Não só o jovem Tenente havia usado as Balistas para finalizar o Xamã que quase escapou, como ele também ajudou a ferir gravemente o Lorde Dobat Intermediário.
Nesse ponto, ele entendeu que Fernando já havia deixado de ser seu amuleto da sorte e se tornado uma joia incomparável, capaz de repelir os desastres que encontravam.
Notando o olhar de Dimitri em direção a Fernando, Zado também focou-se nele, com seus olhos arregalados.
Ele havia ouvido a partir de Wayne que o rapaz havia se tornado o Comandante Provisório na Quinta Divisão, o que, a seu ver, parecia algo absurdo, mas era difícil negar os resultados. Então seu olhar varreu ao redor, procurando aquele velho homem, o Mestre de Runas.
Se aquele sujeito tiver o aconselhado, não deve ser estranho que ele tenha sido capaz de comandar a Quinta Divisão.
Zado estava curioso sobre o porquê de um Mestre de Runas acompanhar esse rapaz, devido ao seu interesse, não havia intervido, mas quem imaginaria que isso ajudaria a salvar a Quinta Divisão?
“Bem, estão prontos? Precisamos partir agora mesmo.” disse, lembrando-se de que eles deveriam se apressar, já que os Orcs poderiam retornar a qualquer momento.
“Sim, é claro.” Dimitri assentiu, então olhou para Fernando. “As tropas já estão prontas?”
O jovem Tenente confirmou.
“Temos cerca de 800 soldados à disposição, senhor, prontos para partir. Além da Brigada Salazar.”
Ao ouvir isso, Zado franziu a sobrancelha.
“Por que apenas 800? Claramente tem mais gente capaz aqui. Reúna mais homens, se conseguirem andar, eles vão participar!” falou, num tom irritado.
A expressão de Fernando não mudou ao ouvir a ordem, mas internamente se encheu de raiva. Eles haviam sido usados como iscas, descartados pelo QG e agora eles até queriam arrastar os sobreviventes exaustos por aí?
“Com todo respeito, General, nossa Quinta Divisão sofreu muitas baixas. Fomos a Divisão mais focada pelo inimigo, com dois Lordes nos atacando e 15.000 Dobats, só de termos sobrevivido já é um milagre, mas ainda querem exigir mais de nós?” O jovem Tenente questionou, com uma voz gelada.
Ao ver isso, Dimitri e os outros ficaram pálidos. Generais jamais deveriam ser afrontados, essa era uma regra muito clara nos exércitos, em especial, Zado não era o tipo de pessoa que se deveria ofender.
Até mesmo Alonso ficou sem palavras, mesmo ele, um Capitão de uma Brigada Nomeada, jamais ousaria fazer algo tão maluco como contrariar um General abertamente como ele estava fazendo.
Ouvindo aquelas palavras, os olhos de Zado caíram sobre o jovem pálido, fazendo todo o ambiente ficar imediatamente pesado.
“Huh!” O velho homem bufou friamente, enquanto encarava o jovem Tenente.
A verdade é que além da questão com o Mestre de Runas, havia mais algo nesse jovem que o intrigava. Desde que o rapaz o curou quando foi emboscado pelos Orcs, sua recuperação havia sido muito rápida, fazendo-o se perguntar se havia algo mais nesse garoto.
“Muito bem, não temos tempo a perder, vamos levar os homens que já estão prontos.”
Quando todos ouviram isso, soltaram suspiros de alívio, o General realmente não havia se importado!
Porra, esse moleque realmente não bate bem da cabeça! Jack pensou, assustado com a loucura do rapaz. Ter o desafiado antes já era algo bizarro, mas ele se atrevia a até mesmo desafiar um monstro como Zado!
Dimitri também estava suando frio, pensando que essa sua jóia da sorte poderia se transformar num amuleto do desastre a qualquer momento.
Ao lembrar-se de quando conheceu o rapaz, que havia confrontado Kalfas em Vento Amarelo em prol de ajudar a Tenente Gallia, pensou que o garoto parecia superficialmente mais maduro do que antes, mas ainda tinha uma mentalidade complicada, o que o fez sorrir internamente.
Com tudo decidido, a Quinta Divisão enviou 800 homens, que eram principalmente das tropas do Batalhão Zero e Bemir, que entraram na batalha muito depois, então estavam mais dispostas e descansadas.
Devido à distância e por Zado estar tão apressado, Dimitri decidiu não esperar pela Oitava Brigada e Oliver, que estavam a caminho. Além disso, mesmo que chegassem, as condições em que eles estavam não eram muito melhores que as da Sexta ou Sétima, então não seriam de grande ajuda.
Pouco tempo depois, a Brigada Salazar e as tropas da Quinta Divisão se juntaram ao exército central.
Fernando observou com olhos surpresos o campo de batalha. Mesmo que tivessem lutado por muito menos tempo que eles, o combate na área central não havia sido menos intenso. Havia corpos de montarias, Soldados, Orcs e enormes crateras por todos os lados, demonstrando o quão brutal havia sido.
Nesse ponto ele percebeu que muito provavelmente os Ogros haviam focado a maior parte de seu poder de fogo ali, o que deveria ter tornado aquele lugar um verdadeiro inferno.
As milhares de tropas se alinharam, com as três Divisões centrais, assim como tropas enviadas da Primeira Divisão.
Os Generais se reuniram a frente, com Wayne, Zado, Ramon, Dimitri e Herin, felizmente, com exceção dos Generais estrangeiros, nenhum dos Leões Dourados havia caído em batalha, o que fez o moral das tropas aumentar muito.
“Não imaginei que você realmente sobreviveria, Dimitri. É bom ver que conseguiu.” Herin cumprimentou, com alguma altivez.
“Vivo e bem, mas não graças a você, General Herin. Soube do ‘favor’ que você fez a Quinta Divisão.” O velho homem de cabelos espetados respondeu, encarando-o com olhos de águia.
Nesse ponto já não era mais segredo o fato do sujeito ter impedido o envio de reforços à Quinta Divisão e até mesmo ter cortado as comunicações. Do ponto de vista de Dimitri, isso não era diferente de uma sabotagem.
“O quê? Você vai ficar chateado apenas por algo assim? Estamos em guerra, não há espaço para atos sentimentais, precisamos tomar decisões lógicas, mesmo que algumas vidas sejam perdidas.” Herin falou, como se fosse óbvio.
A Capitã Lerona, que não estava tão longe, tinha uma expressão escura ao ouvir as palavras do homem. Não só seu Major havia perdido a vida, como grande parte de seus homens. Então ouvir um dos Generais falar isso a atingiu fortemente.
“Eu vou me lembrar bem disso, General.” Dimitri respondeu, encarando-o.
Inicialmente, por ser um novo General, ele evitava conflitos com o sujeito, mesmo quando ele dizia coisas desagradáveis, mas depois daquele dia não havia mais motivos para fazer isso. A seu ver, ter um aliado que poderia esfaqueá-lo pelas costas a qualquer momento era muito pior do que ter um inimigo poderoso, então estava decidido a traçar uma linha entre si e o homem.
Ramon e Zado não intervieram, pois sabiam que se fossem eles que estivessem no lugar de Dimitri, as coisas não acabariam com uma simples discussão, mas com sangue. Mesmo que os planos fossem de usar a Quinta Divisão como isca desde o princípio, negar reforços e até mesmo impedir as comunicações era ultrapassar todos os limites aceitáveis.
“Isso é suficiente!” Wayne declarou, fazendo todos ficarem em silêncio. “Resolveremos o que tiver para resolver no devido momento, mas agora…” Após dizer isso, seus olhos voltaram-se para as enormes muralhas da cidade. “Temos um trabalho a terminar.”
Ouvindo isso, todos os Generais focaram seus olhos em Garância. Essa era a missão dada a eles, o prestígio que receberiam por essa conquista faria com que todos os seus esforços valessem a pena.
“Avançar!” Wayne ordenou, fazendo Herin e Zado saírem para a esquerda, assumindo o comando das tropas da Primeira e Segunda Divisões. Enquanto Ramon e Dimitri foram pela direita, assumindo o comando das tropas da Quarta e Quinta, e, por fim, Wayne se manteve, avançando em meio a Terceira Divisão.
Os três grupos formaram um triângulo invertido, o grupo de Herin e Zado se dirigiu para o portão Leste, enquanto Dimitri e Ramon ficaram com o portão Oeste e Wayne com o Norte.
Ao que tudo indicava, pela sondagem dos batedores, os Orcs na cidade haviam evacuado pelo portão Sul, então não deveria ter mais inimigos. Mas por garantia, eles fariam um cerco e consequentemente, um pente fino em toda a cidade, em busca de sobreviventes e inimigos.
Como as Matrizes Defensivas foram destruídas e os portões derrubados, as tropas conseguiram entrar com facilidade.
Fernando, que estava em meio às tropas da Quarta e Quinta Divisões, ficou a frente dos Soldados do Batalhão Zero que haviam o acompanhado.
Todo o grupo marchou ordenadamente, adentrando no portão, logo atrás de outros Batalhões. Tudo parecia bem e não havia sinais de ataques inimigos nas tropas à frente, mas algum tipo de comoção chamou a atenção do jovem Tenente.
“Merda! Que porra é essa!”
“Não, eu não quero ver isso!”
O que está acontecendo? O jovem pálido questionou-se, sem entender. Porém, suas dúvidas duraram pouco tempo, assim que colocou os pés dentro da cidade, um cheiro extremamente forte inundou suas narinas, assim como uma visão terrível.
Bem na entrada da cidade, enormes pilhas de cadáveres Humanos estavam amontoadas por todos os lados, o chão estava grudento, devido ao sangue envelhecido espalhado, misturado-se às poças formadas pela chuva. Mas isso não era o pior, nas paredes internas da muralha, gigantescas correntes com ganchos estavam fixadas, indo do topo até próximo ao solo e nelas incontáveis civis estavam pendurados, com seus corpos atravessados.
Havia cadáveres de homens, mulheres, pessoas de todas as idades, suas expressões estavam distorcidas, mostrando que haviam sido presas ali ainda vivas, agonizando até a morte em meio a dor.
“L-líder…” Thom disse, quase caindo de joelhos, ao ver tamanha crueldade.
Mesmo Theodora, que estava acostumada à violência, não pôde deixar de se sentir enojada ao ver tal grau de barbárie.
Crack! Crack!
Os punhos de Fernando apertaram-se firmemente, fazendo seus ossos estalarem. Ao mesmo tempo, sua expressão estava fria como o gelo.
Emily, que estava logo atrás, quase vomitou.
“E-eu não consigo, eu preciso…” A ruivinha disse, olhando para o outro lado e tapando o rosto, mas nesse momento um grito a fez voltar a seus sentidos.
“Não desviem o olhar! Continuem olhando!” Fernando gritou, em plenos pulmões. “Guardem a imagem do que estão vendo agora em suas mentes, para jamais esquecerem! Porque quando encontrarmos esses malditos novamente, vamos fazê-los sentir uma dor pior que a morte!”