Knight Of Chaos - Capítulo 453
O semblante dos três Generais era sombrio ao ver a figura Élfica no topo do céu.
“Um Campeão Élfico?!” Ramon perguntou, cheio de medo.
Desde o início da guerra com os Orcs, os Altos Elfos não haviam se envolvido nem uma única vez, então ver um deles ali, ainda por cima nesse momento crítico, não era um bom sinal, ainda mais sendo um Arandur!
Os olhos de Wayne rapidamente mudaram de direção, voltando-se para o horizonte, ao redor das Divisões. Somente ao perceber que não havia outros inimigos é que seu coração acalmou-se. Se um segundo exército os atingisse desprevenidos neste momento, provavelmente todos eles seriam aniquilados ali.
A presença do Alto Elfo também foi notada pelos exércitos abaixo, principalmente com a chegada da chuva e de seu anúncio nada discreto.
No campo Dobat, a expressão de Augak era feia ao ver um Elfo. Depois dos Humanos, eles eram um dos principais inimigos da raça Orc.
“Mande as tropas recuarem!” Wayne declarou, enquanto indicava que seus Majores, bem como Zado e Wayne, ficassem a postos.
Atualmente suas chances de vencer um Lorde Soberano já eram baixas, com a presença de um Campeão Élfico, o General Comandante decidiu que não valia o risco. Na primeira oportunidade ele iria ordenar que todas as Divisões batessem em retirada.
Mesmo sabendo das consequências dessa derrota, seu bom senso ainda não havia lhe fugido e sabia que essa era a melhor decisão a ser tomada.
Um Lorde Soberano Dobat era realmente uma criatura assustadora, mas em questão de ameaça real numa guerra, um Campeão Élfico era muito mais aterrorizante. Em termos de poder e magia, eles eram comparáveis aos Grande Magos Humanos, suas magias de larga escala poderiam danificar severamente um exército.
Devido a isso, contanto que ele não atacasse primeiro, Wayne não tinha a menor intenção de provocar esse poderoso ser.
Vendo as tropas Humanas recuando lentamente, os Orcs não perseguiram, tanto por causa da Cavalaria inimiga, que os flanqueariam se o fizessem, quanto devido à presença de novas ameaças no campo de batalha, obrigando-os a recuar cautelosamente. Em poucos instantes, todo o campo de batalha, outrora caótico, ficou silencioso, até mesmo os disparos dos Ogros cessou, fazendo com que apenas o som de chuva soasse.
No topo do céu, Calima observou tudo com um olhar satisfeito, ele sabia que a mera revelação de sua presença havia mudado todo panorama do conflito, isso era o que significava ser um Campeão e acima disso tudo, ele era um Arandur.
Abaixo da grande rainha Élfica estava o Conselho Arandur, composto pelos vinte e três líderes de Enclaves, sendo cada um destes um Arandur, um Campeão Élfico de enorme poder que estava no topo de seu Enclave, governando um vasto território.
A presença de uma figura como está era extremamente notória e alarmante, fazendo com que mesmo Wayne, alguém extremamente vivido, ficasse amedrontado. Afinal, a força de alguns dos Enclaves Élficos era comparável às Legiões que compunham o Conselho Superior.
Mesmo sendo inimigos declarados, poucas Legiões se atreviam a ofender publicamente e de forma deliberada os Altos Elfos. Diferente dos Orcs, que eram pouco inteligentes, desajeitados e se moviam em Hordas, os Elfos eram muito mais perspicazes e poderiam se infiltrar com certa facilidade nos territórios Humanos.
Se um Arandur quisesse visar uma específica Legião Humana, ele não precisaria eliminá-la diretamente, contanto que atacassem alguns de seus territórios mais lucrativos e enfraquecesse-a economicamente, as outras Legiões rapidamente a devorariam, como piranhas atacando um boi ferido.
Quando ambos os exércitos se afastaram, o Campeão Élfico começou lentamente a descer do céu, pousando entre o exército Humano e Orc.
Essa ação poderia parecer extremamente arriscada e até arrogante, levando-se em conta que o Elfo estava entre dois exércitos inimigos da sua raça, mas isso mostrava o quanto ele era confiante em sua própria força.
Após pisar no chão molhado de chuva e sangue, o Alto Elfo cruzou os braços, ficando parado de forma calma, sob o olhar atento de milhares de tropas de ambos os lados, como se aguardasse algo. Wayne, Zado e Ramon se entreolharam ao perceber isso.
“Isso parece ser um convite.” Ramon comentou, receoso.
“Humph!” Ao ouvir isso, Zado bufou friamente, com raiva em seus olhos. “Convite? Parece mais que está nos ordenando.”
“Eu vou lidar com isso.” Wayne declarou, movendo o pulso e fazendo as várias armas que voavam no céu ao seu redor desaparecerem.
Ao ouvir isso, tanto os dois Generais, como os Majores no entorno, contestaram.
“General Comandante, é perigoso!”
“Senhor, você não pode fazer isso!”
“Silêncio!” O velho homem disse, com uma expressão pesada. “Se o pior acontecer, Zado, você sabe o que fazer.”
Ouvindo isso, o General Zado tinha um rosto sombrio, mas não retrucou.
A verdade é que assim como um Orc Lorde Soberano, Campeões Élficos não eram imbatíveis, contanto que certas condições fossem atendidas e tivessem poder, assim como números suficientes, poderiam derrotá-los. Mas no atual momento, com a força militar disponível e logo após uma longa batalha contra os Dobats, suas forças estavam desgastadas e eram insuficientes.
“Está claro que o Elfo quer algo de nós. Se ele pretendesse nos atacar, não teria vindo sozinho e muito menos esperaria até agora, teria feito desde o princípio.” Wayne disse, com assertividade, para confortar todos.
Ouvindo isso, todos sentiram que havia sentido nisso.
Após dizer essas palavras, o General Comandante avançou sozinho, voando em direção ao centro de ambos os exércitos, lentamente desceu ao solo, parando a poucos passos do Alto Elfo, que rapidamente notou a inquietude e apreensão do homem, fazendo-o sorrir com desdém.
“Mesmo sendo vis e repugnantes, vocês Humanos ao menos parecem entender os conceitos básicos de civilidade e submissão.” disse, com uma voz altiva, fazendo Wayne franzir a testa, mas não ousando retrucar. “Ao contrário daquela besta.” complementou.
Ao dizer isso, seus olhos azuis voltaram-se em direção ao exército Orc, mais precisamente, focando-se no Lorde Soberano Augak.
“Izg nar us Gokut bajrak sha ob dobats!” (Não imaginei que o Clã Gokut estivesse cheio de covardes!) O Elfo disse, espalhando sua voz, enfatizando a palavra ‘dobat’, que dependendo da forma como era pronunciada poderia significar fraco ou covarde.
Inicialmente a criatura não tinha intenção de fazer a vontade do Alto Elfo, mas ao ouvir essa declaração, seus olhos ficaram vermelhos, enquanto as Hordas ficaram furiosas com o insulto ao seu Clã.
Bam! Bam! Bam! Swish!
Logo começou a correr dando passos pesados, arrastando o fio da enorme espada no chão, enquanto os Orcs abriam um caminho, Augak pegou algum impulso e depois deu um salto, jogando-se para o ar.
BOOM!
Logo seu corpo pousou pesadamente numa área próxima, todo o chão ao redor rachou numa enorme cratera, fazendo lama, terra e sangue dos corpos ao redor, caídos no chão e esmagados por seus pés, voarem para todo lado. Tanto Calima, quanto Wayne, ergueram barreiras, protegendo-se de toda a sujeira.
Augak observou ambos em silêncio com olhos vermelhos, enquanto sua barba grisalha esvoaçava ao vento, então ergueu sua enorme espada, apontando para o Elfo.
“Ghashn urzku za, urk golog!” (Fale isso de novo, maldito Elfo!) Ao dizer isso, um mana denso e vermelho transbordava de sua pele.
Nesse ponto, o Soberano já havia se recuperado da maioria dos ferimentos que havia recebido quando foi atingindo pelo primeiro bombardeio das Balistas. Vendo isso, Wayne ficou perplexo, fazendo-o perceber que seria difícil, senão impossível, vencer a criatura com os homens que tinha no momento, afinal, ele estava contando que o Lorde Dobat não estivesse mais em seu ápice.
Parece que não tínhamos chance desde o início. O General Comandante pensou, resignado. Nesse ponto ele entendeu que mesmo sem a intervenção do Alto Elfo, suas chances de vencer eram quase nulas.
Em resposta às ações agressivas de Augak, Calima também começou a circular o mana dentro do seu corpo, fazendo todo o local ficar com uma aura de mana pesada.
Ao ver ambos os monstros, da raça Élfica e Orc quase começando uma luta, Wayne sentiu-se ansioso, como um simples General representando os Humanos, seu lado era claramente o mais fraco.
“O que está acontecendo? Por que tem um Alto Elfo aqui?” Um Soldado indagou, com medo em seus olhos.
“Eu não sei, mas os Generais devem ter um plano.”
Heitor, que estava completamente suado e cheio de sangue em sua armadura, tinha uma expressão preocupada ao ver Wayne indo de encontro aos dois poderosos inimigos.
Sua preocupação não era proveniente apenas de questões emocionais, mas também de seu interesse pessoal. O homem era seu apoiador e também líder da facção, com grande influência dentro da Legião. Se o sujeito fosse morto, todos seus planos futuros iriam por água abaixo.
Perto do Alto Elfo e o Orc, a presença de Wayne era baixa e de pouca significância, mas apesar disso o homem não se intimidou em frente a esses dois monstros.
“Por qual razão um prestigiado Arandur está intervindo em um conflito entre Humanos e Orcs, acredito que vocês não tenham motivo para isso.”
As palavras do Humano fizeram ambos, Campeão Élfico e Lorde Soberano olharem em sua direção. Na visão de ambos, esse sujeito era insignificante, mas ainda era o Comandante das tropas Humanas.
Com a intervenção de Wayne, Calima sorriu, diminuindo a pressão de seu mana em direção ao Orc.
“Estou aqui como um mero mensageiro em nome da Rainha Elena, representando a aliança entre Elfos e Anões. Eu, Arandur, Calima, declaro que os conflitos nas Terras Divergentes devem cessar.”
A voz do Elfo soou, de forma difusa, enquanto algum tipo de matriz parecia estar convertendo sua fala em direção ao Orc, fazendo-o entendê-lo, ao mesmo tempo, retirou uma espécie de brasão cristalino, com um martelo e um arco cravados. Este objeto mostrava que o portador tinha a autoridade necessária para representar ambas as raças.
As expressões do General Comandante e do Mestre do Clã Gokut, eram feias quando ouviram essas palavras e viram o brasão. Isso significava que não só havia um Arandur ali, ele estava até mesmo representando toda a raça Élfica e até mesmo Anã.
Nenhum dos lados desconfiou que era um item falso, pois o mana do Brasão era singular e era de conhecimento comum que Altos Elfos não mentiam, sendo essa inabilidade em tramas e falta de ardilosidade que os fizeram perder as Terras Divergentes no passado.
Se fosse apenas em relação aos Elfos, sejam os Humanos ou os Orcs, nenhum dos lados tinham boas relações em direção a eles para começo de conversa, então não poderiam se importar menos, mas a situação mudava completamente quando se tratava dos Anões.
Isso era especialmente verdadeiro para os Orcs, afinal a raça Anã era uma das únicas que tinham relações comerciais com as Tribos no Deserto de Gash Karn, sendo responsável por armas, armaduras e outros itens cujos quais eles jamais teriam acesso se não fosse por essas negociações.
Tendo isso em mente, Augak ficou cauteloso, afinal, se ele comprometesse essa relação comercial, não só o Clã Gokut sofreria, como poderia virar alvo dos outros Clãs e até mesmo das outras Tribos, pois poderia enfraquecer toda a raça Orc.
Já para os Humanos, a relação com os Anões não era próxima, mas também não era hostil, estando entre algo neutro-amigável, então muitas Legiões costumavam negociar com eles, trocando itens, conhecimento e uma série de mercadorias. Além disso, a neutralidade dos Anões era o motivo dos Humanos conseguirem dominar a Região Central, bem como a Zona Divergente. Se por algum motivo essa raça tomasse o lado dos Altos Elfos nas guerras, era difícil dizer se os Humanos conseguiriam se manter como governantes de tanto território.
“Enviados já foram mandados para falar com os maiores Clãs Orcs, assim como para as Dez Grandes Legiões Humanas. Negociações serão feitas em breve com representantes das quatro raças, sendo assim, o conflito aqui deve cessar.”
Tanto Wayne, quanto Augak, não pareciam satisfeitos ao ouvir isso. Para o General Humano, não recuperar Garância seria a ruína de seus planos, já para o Orc, seria uma humilhação não exterminar os Humanos que causaram tantos problemas para seu Clã.
“Ghung izg narkramp?” (E se eu me recusar?) Augak declarou, apertando firmemente o cabo de sua enorme e pesada espada larga, pronto para atacar o Elfo a qualquer momento.
Vendo isso, Calima lançou um olhar enojado em direção à criatura e sua barbaridade.
“Aquele que se recusar será inimigo dos Altos Elfos, assim como dos Anões. Nesse caso, não me importo em intervir.” declarou, seus olhos azuis brilhando num tom cristalino.
Ao ouvir isso, Augak rosnou, encarando-o em silêncio. Ele estava completamente confiante em derrotar os exércitos Humanos, mas se um Campeão Élfico interviesse em favor de seu inimigo, o resultado seria incerto.
Apesar de não entender as palavras de Augak, pela resposta de Calima, Wayne entendeu mais ou menos o que a criatura estava dizendo. Logo optou por manter-se em silêncio, não se atrevendo a dizer nada, mesmo sem a presença do Elfo, eles já estavam em uma grande desvantagem, se a criatura resolvesse atacá-los, ele não gostaria de sequer imaginar o resultado.
Além disso, ganhar a inimizade dos Anões era um feito que nem os Orcs, nem os Humanos, estavam dispostos a carregar.
Apesar das palavras de Calima, Augak não parecia disposto a ouvi-lo, não apenas por causa de sua honra, mas porque a criatura estava preocupada com as consequências que seu Clã sofreria.
“Eu soube que um novo Imperador Orc surgiu e que ele governa com punhos de ferro. Se está com tanto medo por seu Clã, apenas recue e leve minhas palavras até ele, ou melhor, as palavras da Rainha Elena.” O Campeão Élfico falou, observando o enorme Dobat de barba grisalha.
A expressão de Wayne mudou ao ouvir isso.
Imperador Orc? Do que diabos ele está falando?
O General estava em Avalon há décadas e sempre soube da má relação entre as três tribos, Urukkan, Marauder e Dobat, sendo assim, por mais que cooperassem em determinadas situações como tréguas para enfrentar outras raças, ainda se viam como inimigas, competindo entre si.
Entretanto, quando pensou no fato dessa batalha ter sido tão estranha, onde membros das três tribos estavam envolvidos, um calafrio atingiu sua espinha.
A raça Orc, mesmo desorganizada e lutando entre si, ainda era uma enorme ameaça para a Humanidade. Então o que aconteceria se todas as tribos fossem unificadas sob um único governante? O pensamento disso fez Wayne, que pensava estar acostumado a lidar com qualquer coisa, sentir suas pernas enfraquecerem.