Knight Of Chaos - Capítulo 430
O pedido do jovem Tenente fez os pêlos do corpo do Capitão se arrepiarem, enquanto sua boca se encheu de saliva, de tanto nervosismo.
“Do que você está falando… Isso é algum tipo de brincadeira?”
“Absolutamente não, Capitão Johnathan, estou falando muito sério aqui. Quero que deixe as tropas Orcs passarem, abra um caminho para eles.” Fernando falou, com uma voz calma.
“De jeito nenhum! Você está louco?! Se elas passarem por mim, vão flanquear e destruir as formações por dentro. Além disso, elas poderiam ir direto para as Balistas…” Ao falar isso, o Capitão pausou sua fala por um momento, ao notar o posicionamento das tropas do Batalhão Zero e de Bemir, na retaguarda da sua posição. “Você não pode estar falando sério…”
Como um Capitão Comandante, ele entendeu rapidamente o que o jovem Tenente estava planejando.
Ao perceber a pausa na fala do homem, Fernando imediatamente soube que ele havia notado seus planos. Isso o fez ficar contente, lidar com um Capitão Comandante era muito mais fácil do que um Combatente.
“Pode parecer loucura, mas peço que confie em mim, Capitão. Prepare seus homens, faça-os levantar uma parede de escudos ao abrir o caminho, garanta que as laterais estejam sólidas e bem defendidas.”
Não tem jeito, ele é louco, não bate bem da cabeça…
Vendo que o jovem Tenente estava falando sério, Johnathan respirou fundo, num misto de desespero e choque. Apesar de seu estado emocional, sabia que nesse ponto não havia o que fazer ou a quem recorrer, a única salvação para ele e suas tropas era confiar nesse lunático. Então resolveu tentar convencê-lo do contrário.
“Isso não vai dar certo. Não tem como conseguir fazer o que você está me pedindo, pela quantidade de feridos e mortos que temos, se eu mover o pessoal apto da linha de frente, eles vão derrubar nossa linha de defesa e empurrar o fronte, e se eu usar apenas os feridos para erguer um caminho, a defesa vai ser fraca demais. Além disso, mesmo supondo que tudo dê certo, os Orcs vão seguir pelo corredor criado direto para suas tropas. Eles não vão conseguir resistir a tantos inimigos…”
“Não se preocupe, meu Batalhão Zero vai cuidar de tudo. Quanto a suas tropas… Vou enviar o Batalhão do Tenente Bemir para reforçá-lo, com isso você acredita que consiga montar uma defesa apropriada?”
Ouvindo isso, o homem ficou em silêncio, independente de suas palavras de oposição, o sujeito não desistiria de seus planos. Tendo entendido isso, resolveu optar pela melhor opção.
“Envie-o para o lado da Sétima Brigada, eu darei um jeito desse lado.”
Quando um caminho fosse aberto, as Sexta e Sétima Brigadas seriam divididas, sendo obrigadas a agir de forma independente. Nesse ponto, cada uma teria que continuar a suportar os ataques vindos do Leste, ao mesmo tempo, em que precisariam impedir que os inimigos que entrassem pelo caminho criado não invadissem suas fileiras, seria um verdadeiro desafio!
De alguma forma, Johnathan estava confiante na Sexta Brigada, mas a Sétima, que estava sem um Comandante apropriado, estava muito fragmentada e instável. Mesmo que ele tivesse enviado parte de seu pessoal para apoiá-la, a situação ainda não estava boa.
“Mas você tem certeza disso? Manter um único Batalhão para pará-los? Suas tropas, elas provavelmente vão ser dizimadas… Quando isso acontecer, eles não vão parar até chegar ao Quartel, até chegar em você.” O Capitão afirmou.
Fernando sabia que o sujeito estava usando esse tom para tentar dissuadi-lo, mas não se importou.
“Apenas garanta que sua Sexta Brigada não caia, eu cuidarei do resto.”
Após dizer isso, Fernando encerrou a comunicação com o Capitão, então enviou uma mensagem a Bemir.
“Mova-se para a Sétima Brigada, reforce sua defesa. Coordene com o Capitão Johnathan na montagem da linha.”
Quando Bemir, que estava posicionado ao lado do Batalhão Zero na intersecção entre as duas Brigadas, recebeu a ordem, ficou perplexo.
“Algo não está certo, seu Tenente me mandou para a Sétima Brigada.” disse, em direção a Theodora e Ilgner, que estavam parados ao lado.
Ambos se entreolharam, também surpresos, já que era algo que estava fora dos planos.
“Se ele ordenou, deve ter seus motivos.” O bárbaro loiro respondeu, sem se importar muito, enquanto coçava a bochecha. A notícia não pareceu afetá-lo muito.
“Mas… apenas vocês vão ficar aqui? Isso…” Bemir retrucou, incerto.
“Tenente, apenas faça como foi ordenado. Nosso líder sabe o que está fazendo.” Theodora falou, olhando para o homem com um leve sorriso confiante. “Além disso, nosso Batalhão não é um Batalhão qualquer.”
Apesar de hesitante, o homem assentiu.
“Vamos nos mover!” Rapidamente ordenou, levando suas tropas para a direita, marchando para a Sétima Brigada.
Vendo que os aliados que haviam parado finalmente se moveram novamente, as tropas no fronte se animaram, mas notaram que um dos Batalhões permaneceu imóvel, no exato ponto de antes.
“Escudeiros na retaguarda, a postos! Prepararem-se! Aqueles feridos que puderem levantar um escudo estejam prontos!” A voz de Johnathan soou no comando da Sexta e Sétima Brigadas, fazendo as tropas ficarem surpresas.
Apesar disso, como tropas bem treinadas, os soldados rapidamente começaram a se organizar. Mesmo aqueles feridos, que não estavam em estado grave, se dispuseram.
Quando um Comandante chega ao ponto de convocar os feridos, significa que a situação está em um ponto crítico, ou que algo grande está para acontecer. Sabendo disso, nenhum dos soldados fez corpo mole, afinal, sua sobrevivência e a de todos ali dependiam disso.
“Formação! Quero duas linhas, frente a frente, dispostas entre a Sexta e Sétima Brigadas, pelo menos duas fileiras de escudeiros, uma fila de lanceiros entre cada um deles. Cabos e Oficiais, façam essas linhas o mais rápido que puderem!!” Logo Johnathan começou a dispersar uma série de comandos para as altas patentes ainda vivas, bem como distribuir um esboço do plano de batalha.
Assim que os Cabos, Subtenentes e Tenentes receberam as instruções, ficaram boquiabertos.
“Vamos mesmo fazer isso? É loucura!”
“É a ordem do Capitão, apenas sigam!”
Mesmo com a pressão dos Orcs no fronte, que ficou ainda mais intensa depois que as chamas das Balistas se dispersaram, as tropas estavam resistindo. Entretanto, com a realocação de parte das forças da retaguarda para as linhas laterais, que antes rotacionavam entre descanso e ofensiva, o fronte começou a enfraquecer, permitindo que alguns Dobats conseguissem saltar e invadir as fileiras.
“Morra!”
“Maldito pele verde!”
Os Soldados ao redor rapidamente atacaram os Orcs que quebraram as linhas da frente, alguns chegaram até a segunda linha de defesa, mesmo que eles tenham sido rapidamente mortos sem causar grandes danos, essas pequenas invasões fizeram o rosto de Johnathan escurecer.
Seja lá o que ele estiver planejando, é melhor funcionar, ou então…
Como aquele responsável pela Sexta e Sétima Brigadas, estava mais do que claro em sua visão que esse tipo de formação bizarra não resistiria por muito tempo.
Em poucos minutos, duas fileiras de Soldados, com mais de cem metros de comprimento, estavam formadas, encarando-se em silêncio e aguardando ordens. Ambos os lados eram compostos de Soldados com escudos pesados a frente e outra fileira com lanceiros logo atrás.
Essa era uma formação defensiva padrão, os escudos afastariam os inimigos, enquanto os lanceiros perfurariam qualquer um que tentasse invadir.
Vendo que tudo estava em ordem, Johnathan enviou uma mensagem a Fernando, solicitando sua ordem.
“Comecem.” O jovem Tenente disse, com um rosto frio.
Ele sabia que dependendo do resultado de seu plano, não só seu Batalhão Zero, mas a Sexta, Sétima Brigada e mesmo toda a Quinta Divisão poderia acabar sendo destruída.
O peso da decisão estava em suas costas, mas mesmo sabendo disso, não havia tempo para hesitação. Independente de sua estratégia funcionar ou não, não havia mais como voltar atrás.
“Afastam-se, recuem, um passo de cada vez, soem os tambores!” Johnathan gritou na comunicação dos oficiais.
Tum! Tum! Tum!
De repente, as centenas de Soldados começaram a dar um passo para trás, seguindo ritmicamente o gongar dos tambores. A fileira da Sexta Divisão recuando para o Norte, enquanto a Sétima afastava-se para o Sul.
No fronte, na mesma hora, as tropas da primeira linha de defesa começaram a recuar, logo atrás, as linhas da segunda e terceira recuaram juntas, formando um semicírculo na borda com as tropas que estavam se afastando. Logo um caminho começou a ser aberto no mar de Soldados.
Ao ver isso, um Orc Líder Dobat, que estava almejando lançar um ataque na área de comando do inimigo, franziu a testa, desconfiado. Olhando para ambos os lados que se afastaram, criando uma passagem aberta, sentiu que algo não estava certo nisso.
Apesar disso, quando viu que todo o caminho cruzava o exército Humano, indo direto para o alvo que lhe foi ordenado destruir, as ‘armas humanas’, não teve escolha senão testar.
“Rum ord!” (Avancem!) gritou, incitando as tropas rasas a atacarem.
Apesar de não serem muito inteligentes, mesmo os Dobats comuns não adentraram na abertura criada imediatamente. Após anos e anos de conflitos com os Humanos, a maioria dos Orcs veteranos sempre ficariam desconfiados quando uma oportunidade chamativa aparecia.
Apenas alguns poucos Orcs jovens e impetuosos correram enfurecidos, adentrando sem medo no estreito caminho criado, que ia ampliando conforme as tropas Humanas se afastaram. Somente quando o Orc Líder ordenou, que as demais tropas avançaram juntas.
Bam! Ting! Swish!
Enquanto corriam enlouquecidos, batendo nos dois lados das fileiras de escudos, tentando adentrar nas formações inimigas, os Orcs logo criaram um fluxo. Centenas de Dobats começaram a inundar o corredor, vindos do meio da Horda.
“Aguentem firme! Não deixem eles entrarem, ou estamos acabados!” Os Cabos e Oficiais gritavam de um lado ao outro.
Os escudeiros estavam suando frio, enquanto a cada golpe seus corpos balançavam com força, pela poderosa força dos Orcs. Se não fosse a formação, onde cada escudeiro se apoiava no seu companheiro ao lado, ao mesmo tempo que os lanceiros atrás os empurravam, para manter uma posição firme, uma abertura já teria surgido.
“Ah!” Um dos escudeiros gritou, quando um braço verde musculoso agarrou seu ombro, tendo entrado pelo pequeno vão entre os escudos.
Swish! Perfura!
Rapidamente os lanceiros perfuraram o braço, obrigando-o a recuar, enquanto ouviam um grito de dor de uma das criaturas do outro lado da parede de escudos.
Muitas tentativas similares aconteciam em vários pontos, com alguns poucos Orcs, mais ensandecidos, até saltando sobre as fileiras, apenas para serem empalados.
“Parem! Mantenham posição!” Johnathan gritou, quando o corredor atingiu cerca de trinta metros de largura.
Por hora, os Orcs Dobats estavam em um fluxo constante, entrando sem parar, com aqueles atrás empurrando os da frente. Devido a isso e ao fato do corredor ser extremamente estreito, não conseguiam espaço suficiente para tentar quebrar as fileiras, mas se continuassem se afastando, dariam flexibilidade suficiente para as criaturas se movimentarem mais livremente, por isso o Capitão decidiu firmar sua posição naquele ponto.
No Quartel, em frente às Balistas Explosivas, o Assistente, Rafael Rodrigues, tinha uma expressão em branco, quando olhou ao longe, para a poeira de fumaça que se levantou vindo da Sexta e Sétima Brigadas, bem como do longo caminho aberto, que vinha diretamente até eles.
“I-isso, devemos disparar?” perguntou, receoso, em direção ao jovem pálido, que observava todo o desenrolar do confronto com um rosto calmo, com o Capitão Mendes ao seu lado.
Logo atrás do Assistente, um Soldado, do Batalhão Zero, observava seus movimentos com cuidado.
Desde que o homem havia tentado atrapalhar Fernando, ele o fez ficar sob vigilância constante, já que mesmo que desgostasse do mesmo, suas habilidades e experiência com o manuseio das Balistas não poderiam ser dispensadas.
Apesar disso, não era algo realmente necessário. Depois da ameaça de Thom, o sujeito estava cooperando sem resistência alguma, ainda mais após o próprio Dimitri ter dado o comando de toda a Divisão ao jovem Tenente. Naquele ponto o Assistente Rafael começou a se arrepender de colocar obstáculos para o rapaz e passou a cooperar com total obediência.
“Ainda não.” Fernando respondeu, com um rosto calmo. “Você já levantou as informações que pedi?”
“S-sim, já temos todas as posições. Pelos relatos dos Capitães que protegem o espaço aéreo, identificamos os Ogros que mais bombardeiam essa região.” O homem disse, assentindo, cheio de nervosismo.
Nesse momento, o Capitão Johnathan fez um pedido de comunicação, que rapidamente foi aceito por Fernando.
“Tenente Fernando, eles não param de entrar no corredor, se você for usar as Balistas, precisa fazer isso agora! Acabe com esses Orcs desgraçados!”
Na visão do homem, ao mover um dos Batalhões que fechariam o corredor para a Sétima Brigada, o plano do jovem era ‘trancar’ parte das tropas lá dentro e ‘sufocá-las’ de todos os lados. Mas com apenas o Batalhão Zero sendo responsável por ‘fechar’ a saída, eles não poderiam deixar mais Dobats entrarem, ou o fluxo da Horda que estava se formando seria imparável!
“Capitão Johnathan, é claro que vou usar as Balistas, não se preocupe. Mas acho que você entendeu algo errado, eu nunca disse que usaria elas contra os Orcs.”
Ao ouvir isso, o rosto do homem, que estava atrás das fileiras do corredor na Sexta Brigada, ficou pálido.
“O-o que diabos… você quer dizer com isso?”
No Quartel, em frente as Balistas, Fernando tinha um rosto gelado, enquanto olhava para o horizonte.
“Meu alvo são os Ogros.”