Knight Of Chaos - Capítulo 390
Bam! Bam! Bam!
Ao longe, o som de tambores e cornetas ecoaram pela floresta, anunciando a chegada do grande exército. Os homens das Tropas de Exploração, que estavam acampados na região, se posicionaram rapidamente, aliviados.
Finalmente, o reforço havia chegado.
Naquele mesmo dia, à noite, o restante das tropas chegaram, acompanhados de Wayne, Dimitri e as Legiões menores.
Assim que chegaram, os diversos Majores e Capitães espalharam suas Brigadas por toda a região, em preparação para a grande batalha que estava prestes a acontecer. Seu objetivo era retomar Garância, independentemente do custo.
“Onde ele está?” A poderosa e imponente voz de Wayne soou, quando ele avançou pelo acampamento, seguido de perto por Dimitri e alguns Majores.
“Por aqui, senhor.” Amanda, a Capitã da Segunda Tropa de Exploração, disse, trêmula, ao ver a expressão do General e sua comitiva.
Por mais que a mulher fosse atrevida e irritadiça, não ousava demonstrar qualquer falta de cortesia perante essas pessoas.
Mesmo que Wayne fosse conhecido como um homem justo e de boa índole, isso era apenas na superfície. Todos os Generais e pessoas do alto escalão tinham uma história sangrenta em sua escalada ao topo.
Swish!
A grande tenda foi aberta, quando o General, comandante principal do exército, e Dimitri entraram.
“Vocês esperam aqui, essa é uma reunião de Generais.” Wayne disse para a comitiva que o acompanhava, fechando a tenda.
“Tsk! Aquele Dimitri pelo menos pode ser considerado um General?” Um Major balbuciou descontente.
Apesar dos outros Majores, em sua maioria velhos, não comentarem nada, suas expressões mostravam que concordavam com essa afirmação. Alguns deles até tinham uma grande confiança de que conseguiriam derrotar o ‘falso General’ em uma luta de um contra um.
Dentro da grande tenda que havia se tornado o QG, Herin e Ramon se levantaram, apenas um homem permanecendo sentado à mesa.
“Vocês finalmente chegaram, pensei que ia morrer de tédio.” A voz de Zado soou, de forma despretensiosa.
“O que… aconteceu com você?!” Wayne exclamou, seus olhos demonstrando surpresa e desconforto ao ver a situação de seu velho amigo.
Zado, apesar de não estar em estado crítico, parecia pálido, mas o mais chocante era a falta do braço direito do homem, que não estava em lugar algum. Apenas a parte superior, acima do cotovelo, restava, enrolada por uma espécie de bandagem.
“O quê? Nunca viram um aleijado na vida?” O velho homem disse, com seus olhos arregalados e indiferentes, olhando para a dupla que entrou. Movendo o pulso, tirou uma jarra de bebida alcoólica. “Venham, acomodem-se, vou contar tudo enquanto bebemos.”
Wayne tinha uma expressão incomodada, mas não disse nada, então aproximou-se, sentando-se à mesa. Os outros três rapidamente fizeram o mesmo.
Herin, que até então estava orgulhoso e confiante desde a última vitória, parecia muito mais contido. Já Ramon, não demonstrou suas emoções, mas o medo poderia ser visto sutilmente em seus olhos.
Dentre todos, Dimitri era o que mais parecia afetado pelo clima. Olhando para o estado amargo de Zado, um dos Generais da velha guarda, um dos mais temidos sob o comando de Wayne, não poderia deixar de temer pelo futuro e questionar-se o porquê de ele estar ali.
Mesmo que não demonstrasse, a pressão sobre ele nos últimos dias vinha sendo avassaladora. Não só os outros Generais não o viam como um igual, como vozes dissonantes entre os Majores questionavam sua posição.
Se não fosse pela intervenção de Wayne, alegando que uma ordem do General Supremo Dimas não poderia ser contestada, Dimitri sabia que teria sido forçadamente deposto de seu cargo.
As contribuições do Batalhão Zero dentro das Tropas de Exploração e seu comando sob alguns milhares de homens também ajudou a estabilizar sua situação, mas não sua autoridade.
“Comece a falar, sem rodeios.” Wayne disse, olhando para o seu companheiro ferido. “Para você terminar nesse estado, as coisas não devem ter sido simples.”
Todos ficaram em silêncio com essas palavras. Entre os Generais presentes, além de Wayne, ninguém ousava falar de forma superior com Zado, que era conhecido por sua selvageria.
Com base apenas em sua força e experiência, mesmo se houvesse dois ou três Orcs Lords Intermediário estacionados em Garância, eles acreditavam que o homem, mesmo que não pudesse enfrentá-los, poderia conseguir escapar sem ferimentos tão graves.
“Realmente não são.” O sujeito, usuário de Magia de Gravidade, disse, virando um copo de bebida. “Na verdade, é bem pior do que você imagina.”
Herin, Dimitri e Ramon franziram as sobrancelhas. Atualmente o objetivo da Facção de Wayne era retomar uma cidade grande antes do General Supremo. Se o fizessem, poderiam escancarar para toda a Legião sobre o quão incompetente o sujeito era.
Entretanto, caso falhassem devido a algum obstáculo ou imprevisto e voltassem derrotados, o poder de Dimas seria definitivamente consolidado dentro dos Leões Dourados. Então dentre aqueles Generais na grande tenda, mesmo que alguns sobrevivessem, não teriam um destino muito agradável.
Suspira!
O velho homem, usuário de Magia Magnética, com um rosto enfadonho, pegou um dos copos e encheu de bebida.
“Quando soube que você estava ferido, pensei que os Orcs haviam iniciado um ataque de larga escala, então fiz os homens marcharem com suas vidas em jogo. Mas ao chegar aqui, encontro você ferido e um acampamento completamente pacífico montado pelas Tropas de Exploração. Afinal, o que está acontecendo? O que você viu em Garância?”
Todos olharam para sujeito ferido, com dúvidas.
Mesmo Herin e Ramon, que haviam chegado horas antes, não conseguiram arrancar informações importantes do velho, o que era incomum, já que não era um hábito dele.
“Bem, chega de suspense, vou contar tudo.” Zado falou, arrumando-se na cadeira. “A verdade é… que eu sequer consegui chegar a Garância…”
“…”
Quando todos ouviram isso, seus corações bateram com força.
“O que você quer dizer com isso?” Herin perguntou, assustado.
“Inicialmente eu pretendia me esgueirar até a cidade para entender quantas forças eles possuíam, mas antes de sequer chegar até lá, fui emboscado. Eram dois Orcs Lords.”
“Você terminou nesse estado devido a dois Orcs Lords? Não me diga que eram Soberanos?” Ramon questionou.
“Humph, se fossem Soberanos eu nem sequer estaria aqui.” O General, com olhos arregalados, disse, com alguma reminiscência.
“Então o q-” O homem ia dizer algo, confuso, mas foi interrompido por Zado.
“Um Marauder e um Urukkan, eles trabalharam juntos para me ferrar.”
“O quê?!” Todos na tenda exclamaram em choque.
Era de conhecimento comum, que apesar de agirem como uma raça só, os Orcs de diferentes Clãs não costumavam se ajudar, mesmo que fossem da mesma Tribo. Pelo contrário, os fortes rotineiramente atacavam os mais fracos para escravizá-los e tomar suas fêmeas e posses.
A situação era ainda pior quando eram de Tribos diferentes.
Em tempos de guerra contra outras raças, as três costumavam fazer um armistício, mas isso não significava que se aliariam ou trabalhariam juntas. Então ouvir que dois Lords de duas diferentes Tribos trabalharam juntos para uma emboscada, definitivamente não era um bom sinal.
“Isso não faz o menor sentido!” Herin exclamou. “Tenho certeza que esse campo de batalha pertence aos Dobats, por que as outras Tribos iriam interferir? Além disso, se unirem dessa forma… Algo não está certo!”
Todos os Generais tinham expressões complexas. A verdade é que os Leões Dourados só estavam tendo menos dificuldade na guerra, pois, com pequenas exceções como La Rosa, grande parte de suas cidades havia sido tomada pelos Clãs dos Dobats.
Se por um eventual acaso as outras Tribos começassem a se envolver em seu território, isso culminaria numa guerra muito mais sangrenta e pesada para a Legião.
“Você já havia avisado que as tropas inimigas estavam recuando de uma forma estranha nos últimos dias. Somado a esse acontecimento, certamente tem algo ocorrendo.” Wayne disse, apoiando ambos os cotovelos na mesa e entrelaçando os dedos das mãos. “Mas isso não muda o nosso trabalho. Amanhã retomaremos Garância, custe o que custar.”
Ouvindo isso, todos os outros Generais tinham expressões diferentes. Eles sabiam que agora que haviam adentrado no barco, não poderiam mais saltar. Afinal, sua ligação com Wayne era muito próxima para serem poupados quando a disputa acabasse.
Havia dezenas de Generais espalhados, tanto na Cidade Dourada quanto estacionados nas cidades pertencentes aos Leões Dourados. Atualmente, entre eles, havia alguns partidários e simpatizantes da Facção de Wayne e, igualmente, da Facção de Dimas, assim como outros que eram neutros. Devido às circunstâncias e a pressão do Conselho Dourado, que tentava pacificar a situação temendo uma guerra civil, muitos optaram por não se envolver abertamente no conflito.
Entretanto, a situação poderia mudar dependendo dos resultados no campo de batalha. Os olhos das dezenas de Generais estavam voltados para a campanha militar na Zona Divergente. Se uma das duas Facções se destacasse, essa provavelmente poderia ganhar o apoio tanto daqueles que se mantinham neutros, como até mesmo de alguns opositores.
Vendo todos em silêncio, Wayne continuou.
“General Zado, Herin, Ramon e Dimitri, posso contar com suas forças na batalha de amanhã?”
Herin e Ramon se entreolharam, então suspiraram, erguendo suas mãos direitas com punho fechado. Nelas, estava sua luva dourada, que representava seu cargo.
“Seguiremos o General Comandante Wayne até o fim.” disseram, em uníssono.
Dimitri tinha uma expressão complexa. Inicialmente ele não tinha intenção de se envolver tanto nessa disputa, mas com Dimas o empurrando para o outro lado, ele sabia que não tinha escolha, então ergueu sua própria luva dourada.
“Eu, Dimitri, o seguirei!”
No fim, restou apenas Zado, que estava em silêncio, sob o olhar atento de todos.
“Que merda vocês estão olhando? Eu já perdi a porra do meu braço, é lógico que não vou deixar aqueles animais escaparem!” bufou, irritado.
Diferente dos outros, que haviam se unido a Wayne por diversos motivos, principalmente por terem Dimas como inimigo, Zado era um fiel seguidor do homem por anos e não se preocupou em jurar qualquer coisa, suas intenções já eram claras.
Wayne riu, assentindo. Mesmo ferido, Zado mantinha sua atitude espinhosa.
“Muito bem, amanhã lançaremos um ataque, estejam prontos.”
Naquela noite, sob o comando dos Generais, todo o exército se organizou em preparação para a batalha.