Knight Of Chaos - Capítulo 384
Parado, com uma postura levemente curvada para frente, um homem magro, alto, com olheiras e um cabelo espetado estava encarando um jovem pálido, vestido em armadura negra. Atrás de cada um deles, um grande grupo de pessoas parecia estar de prontidão, como se uma luta estivesse prestes a estourar.
“E então, Tenente Fernando, tem algo a declarar a respeito?” O homem chamado Banjo disse, olhando o rapaz de forma ameaçadora.
“Por que eu teria?” O jovem respondeu, dando de ombros.
Ouvindo isso, as pessoas atrás de Banjo tinham rostos furiosos.
“Você ainda ousa dizer isso?” Um dos homens esbravejou.“ Sua Subtenente espancou cinco de nossos homens, alguns estavam tão feridos que precisamos do nosso Mago especializado em Cura para ajudá-los.” Completou, enquanto apontava para os feridos, que estavam sendo tratados não muito longe.
Theodora, que estava logo atrás de Fernando, olhou na direção do homem que estava gritando, então sorriu e acenou para ele. Se fosse em outra situação, o sujeito certamente se sentiria atraído por ter uma bela mulher o cumprimentando, mas após saber do que ela era capaz, sentiu uma pontada de medo.
“Quem atacou primeiro foram os seus homens. Um dos meus soldados teve a perna acertada por uma flecha, logo os culpados pelo que aconteceu foram eles próprios. Meu pessoal apenas se defendeu.” Fernando respondeu, de forma calma e indiferente.
“É isso que você acha?” Banjo perguntou, encarando o jovem. “Mas até onde eu sei, vocês não deveriam ter vindo dessa direção, você deve saber porque estávamos em alerta. Me diga, por que não seguiu a rota indicada a você?”
Ouvindo isso, o rapaz pálido franziu a testa. Ele sabia do que o homem estava falando, sobre estar em alerta.
Era no Oeste que o exército do General Dimas estava. Se o conflito entre as duas Facções estourasse, era de lá que as tropas do mesmo viriam e era também por esse motivo que nenhuma das outras Tropas de Exploração queria ficar naquela posição.
“Capitão Banjo, mesmo com seu cargo acima do meu, o senhor não é meu superior direto, não tenho obrigação de fornecer qualquer explicação a respeito do meu Batalhão, que inclusive é Nomeado e tem o direito de agir de forma independente.”
As palavras incisivas do jovem fizeram com que muitos dos homens do Primeiro Batalhão das Tropas de Exploração ficassem irritados. Mesmo que em teoria ele estivesse certo, por cortesia o correto era respeitar a hierarquia e responder.
O Capitão magro tinha um rosto calmo, enquanto parecia analisar o rapaz à sua frente.
Suspira.
“Bem, que seja, vamos deixar isso de lado. Acho que você tem sorte de lidar comigo e não com a Amanda. Se você dissesse algo assim para ela, estaria com seus ossos sendo quebrados agora.” O homem falou, não parecendo apresentar qualquer hostilidade.
Isso fez com que Fernando sentisse que o sujeito não era tão ruim afinal. No entanto, suas próximas palavras fizeram com que ele sentisse vontade de sacar sua espada naquele mesmo instante.
“Eu soube que você é casado e tem uma linda e jovem esposa. Que tal me apresentar? Eu adoraria conhecê-la. Sabe, para todos nós nos entendermos melhor.”
Ouvindo isso, somado ao que Heitor disse, que o homem gostava de se deitar com a esposa dos outros, fez com que suas veias saltassem de sua testa de tão irritado que estava, agitando seu mana de forma violenta pelo seu corpo.
“O quê? Ela é tímida?” Banjo disse ao ver os olhos frios do rapaz o observando, como se estivesse olhando para um homem morto. “Hahaha, vamos deixar para uma próxima então…” falou, tentando mudar de assunto.
Mesmo sendo tão novo e fraco, por que me sinto tão ameaçado? O Capitão pensou, enquanto começava a falar sobre outras coisas.
Naquela manhã, as tropas do Primeiro Batalhão e do Batalhão Zero se reuniram, montando um enorme perímetro no ponto de encontro.
A verdade é que Fernando não esperava que outro Batalhão chegasse antes deles. Mesmo com os desvios, tinham sido distribuídas poções e tônicos dos mais variados tipos, sendo inclusos os que davam resistência e energia. Estes itens foram obtidos após saquearem a Guilda Fúria.
Usando menos horas para dormir e ficando menos cansados, pensou que conseguiria facilmente chegar primeiro. Mesmo sendo um Capitão, ele duvidava que Banjo conseguiria dispor de tantos recursos quanto ele.
Enquanto Fernando estava surpreso em relação ao Primeiro Batalhão, o oposto também era verdade.
“Terminou?” Banjo disse, enquanto fumava seu cigarro, olhando para as tropas que se movimentavam de um lado ao outro, montando o acampamento.
“Sim, senhor. Nossos homens deram uma olhada nas tropas do Batalhão Zero. Pelo que contabilizamos, eles perderam pouco mais de vinte homens desde a última vez que nos vimos.”
“O quê?” O sujeito magro e com olheiras gritou, sem acreditar. “Você tem certeza disso?”
“Absoluta, já contamos três vezes.” O homem afirmou, também incrédulo.
A verdade é que a quantia de baixas estimadas para as Tropas de Exploração sempre eram muito altas, ficando em média entre pelo menos 15 a 40% do efetivo, ainda mais numa campanha altamente mortal como essa.
Entretanto, ao contrário das expectativas, as baixas do Batalhão Zero mal chegavam a sequer 5%, e isso sem contar as tropas ‘não-oficiais’ como a Unidade de Logística.
“E quanto aos nossos números?” perguntou, com uma expressão séria.
O homem pareceu hesitar, mas respondeu após pensar um pouco.
“O número de óbitos chegou a 85, senhor.” falou, de forma constrangida.
Enquanto um Batalhão liderado por um Capitão havia tido 17% de baixas, que era considerado um valor muito bom, o Batalhão Zero, que era liderado por um mero Tenente, havia tido menos de um terço disso. Não importa do ponto de vista em que olhassem isso, algo não estava certo!
“Coloque homens para sondar as tropas do Batalhão Zero, quero entender exatamente como eles conseguiram fazer isso.” Banjo ordenou, seus olhos com olheiras mostrando algum desconforto.
Aquele garoto poderia ser algum espião da facção do General Supremo? Talvez eles tenham tido alguma ajuda… É a única explicação. pensou.
A verdade é que Banjo sabia que devido ao fato dele conhecer a região, havia conseguido usar alguns caminhos muito mais seguros e evitar boa parte dos inimigos. Graças a isso, ele chegou muito antes do previsto e com muito menos baixas. Mas mesmo assim, outro Batalhão, que sequer tinha um Capitão à sua frente, conseguiu um resultado muito melhor!
Além disso, ele havia ouvido sobre a batalha contra o acampamento Orc dias antes. Foi graças a informação dada pelo Batalhão Zero que eles conseguiram localizar e praticamente destruir aquele acampamento, até mesmo eliminando um Orc Lord no processo.
Conseguir trazer suas tropas quase intactas até a linha de frente e também localizar um acampamento inimigo cercado de inúmeras patrulhas. Quanto mais Banjo pensava a respeito, mais suspeito soava.
Mesmo que fosse considerado alguém ‘problemático’ por seus superiores e por isso havia sido colocado nas Tropas de Exploração, na realidade, Banjo era alguém muito dedicado. Não importa quais punições sofresse, sua lealdade em relação a Wayne e sua Facção era inabalável.
Esse também era o motivo de ter sido deixado vivo apenas com uma punição, mesmo após ofender um Major.
“É melhor eu estar errado, Tenente Fernando, caso contrário…” disse, consigo mesmo, seus olhos cheios de olheiras mostrando uma pitada de crueldade, enquanto apagava o cigarro em seu próprio pulso.
…
“É mesmo? Não imaginava que fosse assim. Hahahaha.” Um homem riu, enquanto bebia um gole de alguma espécie de bebida alcoólica numa pequena garrafa de metal.
“É verdade, eu estou dizendo. O Tenente é meio assustador com aquela cara dele, mas a maioria dos caras o respeita muito, ele raramente sai da linha de frente.” Um Soldado disse, de forma animada.
O homem ao seu lado parecia interessado. Sempre que o sujeito abria a boca para falar, não parava de elogiar o tal Tenente.
“Aqui, bebe um pouco, vai aliviar esse frio.” disse, oferecendo a garrafa de metal.
Devido ao ambiente estranho da Zona Divergente, o clima costumava mudar bruscamente. Enquanto estava ensolarado e úmido pela manhã, já estava frio e nublado à tarde.
“Nah, é melhor não, estamos vigiando. Se um Cabo me pegar eu com certeza vou sofrer…” O soldado falou, nervosamente, mas seus olhos não desviaram da garrafa.
“Vamos, não seja careta. Caras como a gente que pegam os piores serviços tem que aproveitar às vezes.” O homem insistiu, empurrando a garrafa.
“É, você tá certo. Amanhã vamos para Garância, nem sei se vou estar vivo para beber outra vez. Hahaha.” Após dizer isso, o homem pegou a garrafa e deu um gole sem hesitar.
O homem do Primeiro Batalhão das Tropas de Exploração sorriu levemente ao ver isso.
“Então, me fala mais sobre seu Batalhão…”