Knight Of Chaos - Capítulo 333
Com as duas mãos sobre a mesa, Fernando inclinou-se para trás, recostando-se na cadeira.
“Então vocês vieram até mim para pedir para levar a Emily com vocês?” disse, então sua expressão rapidamente ficou fria. “Eu tenho cara de ser dono dela?”
O velho Wedsnagauer e Alfie se entreolharam, constrangidos.
“Na realidade… Nós já a convidamos, mas ela se recusa a vir conosco. Já que você atacou a Guilda Fúria para libertá-la, concluímos que vocês dois são grandes amantes e você é o principal motivo pela recusa dela.” O homem falou.
Ouvindo isso, Fernando arregalou os olhos, se arrumando na cadeira.
Mas que merda esses caras estão falando?! gritou mentalmente. Felizmente Karol não estava mais na sala, caso contrário, essa situação seria muito mais embaraçosa.
Ferman, que estava ao lado, não conseguiu evitar de rir ao ver a expressão do jovem rapaz.
“Não tenho esse tipo de relação com ela!” declarou o jovem, inquieto.
Alfie ficou surpreso ao ouvir isso.
“Então isso significa…” disse, com alguma felicidade, mas foi rapidamente interrompido.
“Mas isso não significa que vou permitir dois estranhos tentando recrutar meu pessoal debaixo do meu nariz. Ainda mais para fazer parte de uma ‘guilda destruída’.” As palavras de Fernando foram como flechas, atingindo o coração dos dois homens.
O velho Mestre, em particular, tinha olhos vidrados no jovem, irritado pela primeira vez desde que entrou na sala.
“Vamos, Caiman! Falar com esse pentelho catarrento é idiotice.” esbravejou, batendo na mesa e se levantando.
“Eu acho que não.” Ferman falou. Então um mana pesado emergiu de seu corpo, deixando toda a sala com uma sensação sufocante.
Wedsnagauer olhou inquieto para o homem, enquanto Alfie tinha um rosto sério.
“Você está planejando ir embora e raptar a garota durante a noite, não é?” disse, com uma expressão calma, olhando nos olhos do velho Doutor.
Fernando, que ouviu isso, tinha um rosto franzido.
“O-o quê? Que tipo de abobrinha está falando?!” O velho semi-senil exclamou, surpreso. No entanto, sentiu que o Cavaleiro Branco estava lendo sua mente.
Ferman sorriu amplamente ao ver a reação do sujeito. Ele sabia o que o mesmo estava pensando, já que pensou a mesma coisa quando tentou recrutar Fernando.
“Esqueça essa ideia tola, eu não vou permitir.” falou, num tom calmo. “Pelo contrário, tenho uma proposta melhor.”
Os dois velhos ficaram se encarando em silêncio. A loucura e confusão no rosto de Wedsnagauer havia sumido, enquanto Ferman mantinha um sorriso gentil.
“O que você quer dizer com isso?” O velho desgrenhado perguntou, inquieto e nervoso.
Ferman sorriu mais amplamente ao ver a cautela do homem.
“Você pode treinar a garota como sua aprendiz, contanto que… Se junte ao Batalhão Zero.”
As palavras do Cavaleiro Branco soaram como um trovão. Alfie e o Doutor tinham expressões incrédulas com a proposta, enquanto o próprio Fernando olhava para o Velho com uma sobrancelha levantada, em sinal de dúvidas.
“Que monte de baboseira você está falando? Eu, um membro da Guilda Solus, jamais me juntaria a uma maldita legião! Legiões são um bando de traidores, ingratos e serpentes em corpos de homens!” Wedsnagauer gritou histericamente.
“Doutor, acalme-se.” Alfie disse, tentando contê-lo.
Ferman manteve um rosto calmo, mesmo vendo a cena diante dele.
“E se eu te dissesse que a garota não é o único talento aqui? Ou melhor, pode ter talentos muito mais surpreendentes que ela no Batalhão Zero.” disse, com seu olhar voltando-se para Fernando.
“O quê?” Tanto Alfie quanto o doutor pararam por um momento.
Emily havia se provado ser um talento extremamente incomum. Conseguir usar seu mana enquanto usa uma algema de Evral era algo difícil até para pessoas talentosas. Seria necessário ter um controle refinado do mana, bem como canais de mana poderosos que permitissem uma circulação forte e estável. Pouquíssimas pessoas tinham ambas as qualidades, no entanto, Ferman estava afirmando que havia outros talentos como ela.
“Absurdo! Você acha que eu sou louco? Eu não sou louco, porra! Talentos como esse não brotam em árvores!” O velho gritou, irritado.
Fernando franziu a testa, questionando a fala sobre ele ser louco ou não. Então olhou para Ferman, suspirando internamente, pois sabia exatamente o que o Cavaleiro Branco estava planejando, mas não sabia se deveria ficar feliz ou preocupado.
“Se não acredita em mim, pode testar por si mesmo, com o jovem Fernando, por exemplo.” disse, olhando para o rapaz.
O doutor tinha uma expressão sombria, enquanto Alfie ficou em silêncio.
Apesar de irritado, o velho homem moveu o pulso retirando uma esfera cristalina do tamanho de sua palma, após isso, jogou-a em direção ao jovem Tenente.
“Veremos se o que diz é verdade ou mais uma mentira de um maldito legionário.”
Fernando pegou a esfera no ar, então olhou para Ferman, com dúvida em seu rosto.
“Apenas tente inserir seu mana na esfera.” falou o velho Cavaleiro, de forma calma.
Os dois homens observaram com impaciência, enquanto Ferman apenas sorriu.
Fernando estava levemente irritado. Sabia que o Cavaleiro Branco estava tentando ajudar recrutando essas pessoas, no entanto, não o havia consultado primeiro.
Trazer pessoas desconhecidas para seu lado sem conhecê-las de forma devida, a seu ver era algo perigoso. Mas sabia que o velho Mestre não faria algo que fosse prejudicial a ele com o Ferman intercedendo a seu favor, caso contrário, o próprio Cavaleiro não seria tão descuidado.
Então, sem pensar muito a respeito, moveu o mana em suas Veias de Mana em direção a sua palma. Com facilidade seu mana penetrou na esfera, fazendo com que a mesma se iluminasse, como se fosse uma lâmpada.
Bang!
Com olhos arregalados e a boca aberta, Wedsnagauer bateu com as duas mãos na mesa. Seus olhos estavam fixos na cena diante dele.
“I-impossivel…” disse, num estado quase catatônico.
Ao seu lado, Alfie Caiman tinha olhos arregalados e um rosto sem cor, como se tivesse visto um fantasma.
Fernando, que viu suas expressões e atitudes, ficou surpreso.
“O quê?” perguntou.
“Ho! Ho! Ho!” Ferman riu alto, olhando para a cena à sua frente. “O que você está segurando chama-se Esfera Rúnica, ela serve para medir a qualidade e controle do mana de alguém. Dentro existem cinco barreiras para impedir o mana de entrar, cada uma mais difícil que a outra, a cada runa que se acende significa que você avançou de barreira e mostra seu nível de talento no campo das Runas, mas você acendeu todas…”
Ouvindo isso, Fernando ficou cético.
“Barreiras? Eu não senti nada. Apenas coloquei o mana la e ela acendeu.” disse, olhando para velho Cavaleiro com um rosto confuso.
Quando o velho ouviu o jovem dizer isso com tanta facilidade, sentiu suas pernas enfraquecerem e sua visão ficar turva.
Ploft!
Fernando olhou para o outro lado e se levantou, vendo o velho doutor no chão, inconsciente. Seu rosto cheio de espanto mostrava que havia sofrido um grande choque mental.
“D-doutor!!” Alfie gritou, desesperado.
Fernando e Ferman se entreolharam, surpresos.
“Ele morreu?” Fernando perguntou, com um rosto calmo.
“Talvez.” Ferman respondeu, igualmente calmo.
…
Momentos depois o velho homem acordou, mas ainda estava muito abalado e não conseguia conversar de forma apropriada, balbuciando coisas aleatórias como ‘monstro’ quando olhava para Fernando, obrigando Alfie Caiman a assumir a discussão.
No fim, o Alfie, apesar de chocado com o talento surreal do jovem Tenente, conseguiu chegar a um acordo.
O par de homens se juntariam ao Batalhão Zero como ‘pesquisadores’ e durante seu período de estadia eles poderiam lecionar sobre runas para Emily. Não era incomum que pessoas externas fossem convidadas ou contratadas por um determinado período por exércitos, Guildas e Legiões.
Quanto ao próprio Fernando, como o velho estava num estado confuso, nada ficou decidido.
Com isso acertado, Alfie saiu, levando Wedsnagauer com ele.
Vendo os dois homens saindo, Fernando olhou para Ferman, com uma expressão de questionamento.
“Não se preocupe, ter aquele velho ao seu lado será bom para seu batalhão. Mesmo que não pareça, ele é um verdadeiro Mestre de Runas.” disse, num tom de voz calmo.
“Quão forte é um Mestre de Runas?” Fernando perguntou, curioso. Ele já tinha um conhecimento básico a respeito da área de runas devido a algumas informações que recebeu, mas as informações em si não eram tão detalhadas para ele se aprofundar no assunto.
Ferman balançou a cabeça com a ingenuidade do jovem.
“O valor de um Mestre de Runas não está em sua força, apesar de alguns serem bons em combate, a maioria se dedica aos estudos. Você entenderá com o tempo.”
Fernando não estava convencido com toda a situação, mas no fim aceitou. Ter mais um par ou dois de pessoas no batalhão não faria mal algum, ainda mais considerando o que aqueles dois eram.
Levantando-se, o velho Cavaleiro Branco olhou para o jovem rapaz.
“É hora de nos despedirmos.”
O jovem Tenente ficou surpreso, mas logo lembrou-se que a caravana da Legião Condor deveria partir naquela noite.
Com o fim dos ataques dos Orcs a Belai, bem como diversas forças de vários locais se estabelecendo no fronte, as tropas da Legião Condor deveriam partir, levando consigo o Cavaleiro Branco em segurança para a cidade-capital de Condor.
Isso imediatamente fez com que Fernando ficasse com um humor estranho. Mesmo que tivessem se conhecido por um curto período de tempo, sentiu que o velho homem era uma boa pessoa e alguém que poderia confiar, algo raro no mundo de Avalon.
Vendo a expressão franzida do jovem Tenente, Ferman sorriu de forma gentil.
“Não se preocupe, tenho certeza que nos veremos novamente um dia.” disse, aproximando-se e tocando seu ombro.
Ao lado do velho extremamente alto, Fernando era como uma criança.
O velho deu alguns passos, então pareceu lembrar-se de algo.
“Oh, quase esqueço. Não posso sair sem dar-lhe algum presente pelo que fez por mim. Aqui, pegue.” disse, jogando uma Pulseira de Armazenamento.
Fernando instintivamente pegou, mas queria se negar a receber. Não havia sido apenas ele quem ajudou o velho, mas o mesmo também o ajudou de uma forma tremenda. Mas antes que pudesse, Ferman havia desaparecido da sala, deixando o jovem chocado.
“Quando estiver pronto, venha me encontrar. Estarei te esperando na Cidadela de Condor.” A voz do velho soou em seus ouvidos.
No fim, apenas o jovem Tenente ficou na sala, olhando para o céu vazio a partir da janela.
“Obrigado por tudo, Sir.”