Knight Of Chaos - Capítulo 331
Fernando e Karol tinham expressões chocadas com a declaração de Ferman, enquanto Theodora se mostrava levemente confusa.
Matar a si próprio? O que ele quer dizer com isso? Fernando perguntou-se, curioso.
A única que não parecia tão interessada era Theodora. Como uma nativa de Avalon, não entendia muito sobre coisas ligadas à Terra. Já havia ouvido muitas histórias das pessoas e sempre imaginou como seria esse lugar.
Normalmente descreviam a Terra como um lugar relativamente calmo, onde poucas guerras aconteciam e a maioria das pessoas viviam em paz, com algum conforto.
Theodora, que estava acostumada a matança desde pequena, não conseguia imaginar esse tipo de mundo.
“O que você quer dizer com isso?” Fernando perguntou.
Karol, ao lado, também parecia preocupada e interessada com o assunto.
Quando chegaram à Avalon, o General Kalfas havia contado a eles que eram cópias de seus ‘eu’ originais que viviam na Terra normalmente, inconscientes de tudo que acontecia aqui. Além disso, suas vidas estavam conectadas, como se fossem duas partes de um mesmo conjunto, se um morresse, o outro também morreria.
No inicio, Fernando suspeitou que se tratava de uma mentira para evitar que muitos tentassem se matar ao saberem que precisavam viver nesse mundo horripilante, banhado a sangue e guerras. No entanto, com o passar do tempo, descartou essa possibilidade.
Ele sabia que de fato uma conexão entre seu ‘eu’ da Terra e ele próprio era real, afinal, por algumas vezes, quando estava perto da morte, viu e ouviu a si mesmo do outro lado.
Além disso, apesar de ocorrer com pouca frequência, era normal que houvessem óbitos repentinos entre as tropas. Ele próprio havia investigado isso algumas vezes.
Alguém que estava treinando normalmente e repentinamente caiu morto, era algo assustador de presenciar. Ninguém sabia quando e se eles seriam os próximos.
Felizmente, a morte na Terra não era tão comum como em Avalon. Mortes por assassinato, guerras e afins eram atipicas, principalmente em países mais desenvolvidos.
No entanto, como um brasileiro, Fernando sempre se preocupava com isso, já que a violência no Brasil sempre foi algo recorrente. Ele não se surpreenderia se seu outro “eu” fosse morto numa tentativa de assalto.
Apesar de ter aprendido a não temer a morte, não queria morrer sem motivo. Haviam muitas responsabilidades em seus ombros, se ele perecesse, muitas pessoas sofreriam com isso, então estava interessado nas palavras do velho homem.
Vendo os rostos confusos e pensativos dos jovens, Ferman sorriu.
“Bem, isso é algo que vocês iriam descobrir mais cedo ou mais tarde, então acho que não tem problema falar a respeito.” disse, com sua expressão ficando mais séria.
Fernando e Karol se entreolharam, enquanto Theodora, apesar de não ter relação direta com isso, ainda estava ouvindo de forma atenta. Afinal, se seu mestre morresse sem motivos algum dia, o que seria dela? Uma Medusa renegada que traiu os Elfos Negros não seria aceita em nenhum dos lados.
“Para explicar isso, primeiro preciso falar sobre as Matrizes do Mundo, vocês já devem ter ouvido falar delas.” Ferman disse, sentando-se na cadeira e se apoiando na mesa, como se fosse um idoso comum.
Fernando, que viu isso, levantou uma sobrancelha, irritado. Como alguém que tem tanta força e poder ainda se atreve a fingir fraqueza?
“Ninguem entende exatamente como funciona ou qual o propósito das Matrizes do Mundo ao criar cópias de pessoas de outro mundo em Avalon. O que sabemos é que existem muitas delas, espalhadas por todo esse mundo. Há muito tempo atrás, quando os humanos conseguiram se estabelecer, ergueram cidades nas proximidades das matrizes, para que pudessem proteger as próximas gerações que chegariam.”
Então é isso… O jovem Tenente que ouviu isso, lembrou-se de quando acordou nesse mundo. O lugar próximo a Vento Amarelo, com um chão cheio de incrições, deveria ser o que Ferman chamava de ‘Matriz do Mundo’. Mas logo ficou em dúvida.
“Se o objetivo das cidades é proteger as Matrizes do Mundo, por que não criam a cidade ao seu redor?” disse, em dúvida, lembrando que o lugar em que acordou era um pouco afastado de Vento Amarelo.
Balançando a cabeça, Ferman sorriu ao ver a ignorância do jovem rapaz.
“Líder, até uma criança sabe disso. Matrizes do Mundo precisam de um mana estável. Se uma cidade for criada muito próxima, a matriz não será ativada.” Theodora falou. Apesar de não entender muito sobre o outro mundo, como uma meio Elfa Negra, sabia algumas coisas sobre as matrizes.
No passado, por muitas vezes, os Elfos Negros tentaram destruir as matrizes, em busca de interromper a chegada de mais humanos. No entanto, não importava quanto poder o agressor tivesse, as Matrizes do Mundo provaram-se ser indestrutíveis. Devido a isso, o máximo que podiam fazer era tentar tomá-las e eliminar os humanos que chegavam.
Mas as Legiões obviamente não permitiriam isso, criando extensas operações de guerra para protegê-las.
“Ho, ho, a jovem tem razão. Uma Matriz do Mundo precisa de um mana estável, sem interferência ao redor para ser ativada. Por isso, muitas vezes as cidades são criadas nos entornos delas, para que as protejam, ao mesmo tempo que não interferem em sua ativação. Além disso, há variações no poder das matrizes, quanto maior e mais poderosa uma matriz, mais curto é seu ciclo de ativação, bem como a quantidade de pessoas que ela traz de cada vez.”
Fernando ficou em silêncio enquanto ouvia tantas informações. Ele já havia ouvido falar sobre as Matrizes do Mundo, principalmente quando estava em Vento Amarelo. Sempre que a matriz era ativada, significava a chegada de novos recrutas. No entanto, nunca buscou se aprofundar no assunto e só agora percebeu quão importante eram.
“Tudo bem, mas o que isso tem a ver com nossos “eu” na Terra e sobre você continuar a viver?” perguntou, intrigado.
Ferman, que estava sorrindo até agora, como se fosse um educador ensinando crianças, teve uma leve mudança de expressão.
“Meu “eu” original vivia em um país conturbado na Terra, em uma época cheia de conflitos. Quando cheguei a esse mundo, não haviam legiões, apenas pequenas cidades e guildas medianas. Todos os dias eram difíceis, ninguém sabia quando outras raças atacariam e se viveríamos mais um dia. Somando ao fato de saber que poderia morrer tanto aqui, quanto do outro lado, fiquei paranóico por anos.” Ferman falou, com uma expressão de melancolia. “Anos depois, baseando-se em conceitos criados pelos Altos Elfos do leste, após os Humanos capturarem alguns dessa Raça Élfica, os primeiros Mestres de Runas surgiram. Foi aí que tudo mudou…”
Todos ouviram em silêncio. Apesar de acharem difícil viver nesse mundo, pelas palavras do velho homem, as coisas eram bem piores nos tempos antigos.
“Devido às guerras na Terra, muitas vezes perdemos pessoas importantes. Não era incomum que cidades protegidas por uma única pessoa, a perdessem subitamente, levando a sua ruína. Então os Mestres de Runas passaram a estudar as Matrizes do mundo, em busca de soluções. Foi aí que descobriram formas de cortar a conexão entre os ‘Humanos Errantes’ e seus ‘eu’ na Terra.” Ferman contou, como se estivesse narrando uma história.
Fernando ouviu isso com atenção, extremamente interessado. Durante sua viagem do Norte para o Sul, tentou aprender sobre as Runas com funcionários dos vagões de transporte, mas tudo que aprendeu foram coisas superficiais e pouco relevantes.
“No fim, descobriram uma forma de fazer isso, criando uma reação na ligação com a Terra para encerrar a conexão e com isso havia dois caminhos a se seguir. O primeiro era que os efeitos da reação fossem amortizados pela Cópia de Avalon, no entanto, isso faria com que o indivíduo fosse seriamente prejudicado, tendo uma queda temporária de sua força ou até mesmo morrendo. Já a segunda…” Ferman falou hesitante, então suspirou. “Era que a reação fosse enviada para o ‘eu’ original na Terra, o que resultaria…”
Todos ficaram em silêncio ao entenderem o que Ferman quis dizer com ‘teve que matar a si próprio’. Se alguém optasse por romper a ligação da Matriz do Mundo e enviasse a reação ao seu ‘eu’ da Terra, isso só poderia terminar com um único resultado possível. Se essa reação era forte o suficiente para talvez matar alguém que se fortaleceu em Avalon, alcançando uma força e poder sobre humano, o resultado para um humano comum na Terra era apenas um, a morte.
Clap! Clap! Clap!
Nesse momento, palmas foram ouvidas vindas da porta de entrada do local. Todos imediatamente voltaram sua atenção nessa direção.
“O esperado do Cavaleiro Branco, Ferman. Seu conhecimento e experiência não são coisas que pessoas comuns possuem.” Um homem velho, com cabelo desgrenhado e barba suja, falou.
Vendo essa pessoa desconhecida em sua Residência de Guilda, a expressão de Fernando ficou imediatamente fria. Ele havia sentido a aproximação de duas pessoas, mas imaginou que fossem do seu batalhão. Se alguém ousava invadir esse local, certamente não era com boas intenções.
Com um movimento de pulso, sacou sua espada Formek, pronto para atacar, mas dessa vez foi Theodora quem interviu.
“Ele é um convidado, líder.” disse, com um rosto complicado. Mesmo ela não sabia como lidar com isso.
“Convidado?” Fernando perguntou, franzindo a testa.
Nesse momento, um homem, com óculos e cabelos grandes, contendo uma aparência mais respeitável que o velho homem, entrou apressadamente.
“Me perdoem pela falta de educação do doutor, apesar de ser rude às vezes, ele não tem más intenções.”
Fernando continuou com um rosto irritado. Não gostava quando coisas que não sabia sobre aconteciam ao seu redor.
“Esses dois estavam juntos a Emily quando a resgatei, eles a ajudaram. Mesmo depois de libertá-los, se recusaram a partir antes de falarem com você, líder.” Theodora disse, com um rosto calmo. Apesar disso, também não gostava da situação.
Ao ouvir que essas pessoas ajudaram Emily, a expressão de Fernando suavizou. Se alguém ajudou um dos seus, por hora, não precisaria considerá-los inimigos.
O homem de óculos avançou, fazendo uma saudação.
“É um prazer conhecê-lo, Tenente Fernando, meu nome é Alfie Caiman e este é…”
Quando o homem estava prestes a falar, foi interrompido. Ferman, repentinamente, se levantou e deu alguns passos à frente.
“Você.” disse, olhando para o velho que tinha aparência de louco, parecendo reconhecê-lo. “Wedsnagauer?”