Knight Of Chaos - Capítulo 308
Enquanto os Cabos reuniam seus esquadrões, Fernando chamou algumas pessoas em particular. Sendo elas: Karol, Argos, Leo, Lance, Ugo, Lina e Cintia.
Reunidos na sala, estavam eles, além de Fernando, Theodora e Ilgner.
“Temos que organizar nossos homens, qual o sentido de pedir para esperarmos?” Cintia questionou, um pouco irritada.
“As coisas podem ficar um pouco complicadas, então decidi adiantar um pouco isso.” Fernando disse. Entao, ele olhou para Theodora, que assentiu.
“Alguns de vocês já sabem, mas há motivos para alguns membros do nosso batalhão ficarem fortes tão rapidamente. Além do treino duro, são os esforços do líder.” disse, movendo o pulso e tirando uma caixa. Ao abri-lá, havia vários frascos de poções dentro. “Essas são Poções Fauser Ivrat, uma versão melhorada das Incrementadoras, com elas vocês podem atingir até quinze pontos de Agilidade e Físico.”
Quando Theodora terminou de falar, os olhos de Leo, Ugo, Lina e Cintia ficaram arregalados. Eles sabiam que havia algum motivo para alguns ficarem absurdamente fortes e que Fernando deveria ter seus meios, mas não imaginavam que se tratava de poções mais poderosas!
Ao contrário dos outros, Argos e Karol não pareciam surpresos com isso, afinal, ambos já tiveram contato com esse tipo de poção anteriormente.
“Então quer dizer que Kelly, Ronald, Noah e os outros…” Leo perguntou, hesitante.
“Isso mesmo, eles receberam poções de acordo com suas contribuições, bem como por necessidades estratégicas.” Fernando falou, calmamente.
Ao contrário do que se esperava, Leo não parecia feliz ou satisfeito com a resposta, mas irritado e furioso.
“Se você tinha algo assim, por que não distribuiu igualmente para todos?! Se você tivesse feito isso, a Natália, Hannah, Simon, Remir e todos os outros… Eles não teriam morrido tão facilmente, porra!” Leo gritou, chutando a mesa e derrubando tudo em sua superfície.
Theodora franziu a testa, enquanto Ilgner não parecia surpreso com a reação do homem.
Os outros, apesar de não dizerem nada, também tinham dúvidas em seus rostos. Ugo principalmente, afinal, ele havia perdido seu irmão Kel, há muito tempo atrás.
Do início ao fim, a expressão de Fernando manteve-se a mesma.
“Quantas vezes eu já falei pra você falar direito com o líder?!” Theodora disse, preparando-se para surrar Leo, mas foi impedida pelo jovem Tenente.
“Você quer saber por quê eu não dividi as poções de forma proporcional? Por que não partilhei com todos o fato de possuir algo assim em mãos? É bem simples, é porque eu escolhi assim.” Fernando falou, com calma.
“O que…” Leo respondeu, incrédulo.
Até mesmo Theodora e Ilgner ficaram surpresos com a resposta, pensando que o jovem falaria algo para acalmar Leo.
“Seu…” Quando Leo estava prestes a avançar, um som alto soou.
Boom!
Com exceção de Ilgner e Theodora, ninguém conseguiu entender o que havia acontecido. Quando se deram conta, Fernando estava segurando Leo pelo braço, subjugando-o. Então o derrubou no chão, ainda o segurando.
“Eu sei das minhas responsabilidades e dos meus erros melhor do que ninguém. Lembro dos que se foram todas as noites, mas não me arrependo de nenhuma escolha que tomei. Fiz o meu melhor para manter todos vivos e é o que continuarei fazendo!” Fernando falou, com uma rara expressão de raiva.
Naquele momento ele estava furioso, as glórias das vitórias eram suas, assim como o amargor das derrotas. Mesmo ele perdeu pessoas que valorizava, como Simon. Apesar das divergências quando se conheceram, o sujeito se provou ser não só um subordinado, mas um amigo.
“Fernando, não é hora de brigarmos entre nós!” Karol gritou, preocupada.
Vendo o rosto de Karol, assim como o de Cintia, Lina e todos os outros, percebeu que havia se deixado exaltar. Suspirando, soltou Leo.
Toda a sala ficou em silêncio com isso, mesmo Leo, aquele que foi agredido, não disse nada.
Estava claro para todos, que seu jovem líder não era uma pedra de gelo como parecia ser. Assim como eles, também tinha dificuldades em lidar com as perdas.
De costas para todos, Fernando começou a falar.
“Todas as decisões que tomei até hoje, foi visando o melhor caminho para nos manter vivos e aumentar nossa força. Pode ser que eu tenha errado por diversas vezes e provavelmente errarei novamente no futuro, mas não vou abandonar minhas convicções. Se algum de vocês não concorda com isso, podem sair agora.”
A sala tornou a ficar silenciosa, como se estivesse vazia.
“Eu não concordo com todas as suas decisões, mas tenho que admitir, se não fosse por você, tanto eu quanto Lina estaríamos mortas. Então eu continuarei te seguindo, Fernando, não nos decepcione.” Cintia disse, ajoelhando-se.
Lina, sem hesitar, fez o mesmo. Apesar de não ser tão próxima de seu líder quanto gostaria, parecia entendê-lo bem.
Lance tinha uma expressão complicada, ele entendia o ponto de vista de Leo, mas ainda sim, achava que Fernando estava certo no que disse, então ajoelhou-se, prestando suas continências.
Ugo, apesar do enorme tamanho, tinha lágrimas nos olhos, lembrando-se de seu irmão.
“Eu e meu irmão confiamos em você naquele dia e continuarei confiando, líder.”
Por fim, Argos, Karol, Theodora e Ilgner também se ajoelharam, restando apenas Leo, de pé.
A expressão de Leo era confusa e cheia de hesitação. Ele estava furioso pela morte de Hannah, Natália e dos outros, mas sabia que a verdade é que estava apenas descontando na pessoa errada. Comparado a outros Batalhões, Fernando agia de uma forma completamente diferente, mesmo quando eram apenas um esquadrão, isso se mostrou claro. Ele fazia o possível para ajudá-los a ficar mais fortes e a sobreviverem a todas as adversidades.
Ajoelhando-se, Leo colocou a mão no peito.
“Eu continuarei te seguindo, Fernando.”
Ainda de costas, Fernando mantinha um rosto inexpressivo, enquanto olhava para a parede vazia, mas sua mente borbulhava com pensamentos.
Leo não era o único que o culpava, ele próprio se culpava pela morte de cada pessoa que esteve com eles. Mesmo os soldados com quem teve poucas conversas não eram exceções.
Era exatamente por isso que não pretendia deixar que Emily se tornasse só mais um que se foi, ele não pretendia perder ninguém.
No fim, Theodora distribuiu poções para os sete membros naquela sala, após meia hora de um longo processo de dor e angústia devido ao pós efeito das poções, os status de todos atingiram o nível 15.
Tanto Karol, quanto Argos, já tinham status relativamente altos, então ambos juntos só precisaram de três poções. O restante dos membros usaram cerca de doze.
No fim, das vinte poções, sobraram cinco. Foi um resultado melhor do que esperavam. Devido ao fato de todos estarem treinando desesperadamente, aumentando seus atributos, conseguiram salvar alguns frascos.
Karol e os outros saíram, deixando apenas Theodora e Ilgner.
“O que pretende fazer com as últimas?” Ilgner perguntou, olhando para o jovem Tenente que ainda parecia distante.
Depois de um curto silêncio, Fernando respondeu.
“Vamos guardar algumas para Emily, ela merece.”
Tanto Ilgner quanto Theodora sorriram levemente, saindo da sala para fazer as devidas preparações.
—-
Depois de cerca de meia hora, os Cabos lideraram as tropas para o salão da guerra, que antes estava sendo usado como alojamento temporário.
Fernando estava de pé no palco. Abaixo, cerca de 600 pessoas o olhavam com atenção. Haviam pouco mais de 500 pessoas na Força Principal e em torno de 120 nas Forças de Reserva. Mesmo com alguns poucos gatos pingados se demitindo ou pedindo transferência, os números se mantiveram praticamente os mesmos.
Com Theodora e Ilgner ao seu lado, bem como os Sargentos e Oficiais a reboque, Fernando começou a falar.
“Todos devem querer saber o motivo da convocação, então serei breve. Hoje, um dos nossos, a Cabo Emily Woods, foi atacada e levada em cativeiro pela Guilda Fúria.”
Ao ouvirem isso, um grande clamor espalhou-se entre todos. Apesar de muitas pessoas brincarem apelidando Emily, nessas poucas semanas ela havia se tornado uma das Cabos mais queridas do batalhão. Mesmo que parecesse se irritar facilmente e ser chamada de rigorosa, ela costumava até mesmo treinar arqueiros de outros esquadrões, dando dicas e os ajudando a melhorar. Mesmo magos iniciantes às vezes a procuravam em buscas de orientação.
Emily era apelidada como Cabo Pimenta, Pimentinha, Vermelhinha e diversos outros apelidos engraçados que os soldados costumavam usar. Apesar de chamá-la assim, por sempre parecer irritada durante os treinos, a jovem ruiva costumava brincar e se divertir com todos nos momentos livres. Então saberem que alguém assim foi atacada, deixou muitos surpresos e preocupados.
“Nosso Batalhão Zero foi formado a poucos dias, então muitos de vocês não devem sentir qualquer relação de lealdade ou pertencimento, eu acho isso normal, Afinal, são coisas que são ganhas com o tempo, muito esforço, confiança e união. No entanto, quero que saibam de algo, todo e qualquer membro do meu Batalhão é importante para mim e jamais irei permitir que sejamos atacados, feridos ou oprimidos sem dar uma resposta a altura!”
Ouvindo isso, todos sentiram um leve arrepio subir por suas costas. Se fosse qualquer outra pessoa dizendo isso, muitos teriam desacreditado, mas nos últimos dias, servindo ao Batalhão Zero, viram em primeira mão a forma como o alto escalão do batalhão trabalhava.
Não importava se você era um avaloniano, uma pessoa da Terra ou o que quer que fosse, todos eram tratados igualmente. Mesmo a distinção entre Força Principal e Forças de Reserva era quase nula.
Normalmente a Força de Reserva receberia pouco ou nenhum equipamento. O alto escalão de qualquer unidade militar focaria em armar apenas as Forças Principais, mas Fernando não havia feito isso. Mesmo as tropas de reserva haviam recebido armas, poções e armaduras.
Mesmo que o jovem Tenente não se mostrasse com frequência, apenas seus atos eram suficientes para ganhar o coração de muitos.
“Hoje, o Batalhão Zero mostrará o que acontece com quem ataca um dos nossos!” Fernando gritou, em plenos pulmões.
“Hoah!” Os soldados gritaram, levantando suas armas e escudos.
“Unidade!” Alguém gritou na multidão.
“Unidade!!” Outros gritaram junto.
“UNIDADE!” Todos gritaram em uníssono.
Fernando ficou um pouco surpreso com os gritos dos soldados. Foi então que se lembrou do seu primeiro discurso quando formou o batalhão, quando ele falou sobre confiança e unidade. Ver como as pessoas lembravam de suas palavras, que as levavam a sério e sabiam sobre seu comprometimento, o fez ficar contente.
Mesmo que às vezes tivesse dúvidas sobre si mesmo, sabia que deveria confiar em si próprio. Se ele, o líder, fraquejasse, quem seria o alicerce de todos? Fernando sabia que deveria se manter firme e forte, independente do que acontecesse.
“Marchem!! Sigam seus líderes de esquadrões!” Ilgner gritou, sua voz soando como o rugido de um leão.
Todo o salão da guerra tremeu, com os passos e gritos fervorosos.