Knight Of Chaos - Capítulo 290
Depois de lutar com Lenny, Fernando se sentiu muito melhor. Há algum tempo vinha sentido que algo não estava certo, só agora entendeu o que era. Não adiantava treinar seu corpo, se sua mente não estivesse no lugar.
“Err, senhor, quanto aos seus ferimentos…” Lenny falou, olhando para as mãos e braços de Fernando, que estavam ensanguentados. Certamente haviam vários ossos quebrados.
O jovem Tenente levantou as mãos, olhando para o sangue, com um rosto calmo.
Tanto Lenny, quanto Trayan se entreolharam, assustados com a calma do jovem. Mesmo que Lenny fosse um usuário de habilidade, sua tolerância à dor não era nem de perto tão alta a ponto de tratar machucados como esse como se não fossem nada. Se fosse ele, provavelmente aguentaria a dor, mas estaria xingando aos quatro ventos.
Inicialmente Fernando pensou em deixar sua habilidade de Auto Regeração cuidar disso, mas vendo os olhares de Lenny e Trayan, pensou que talvez não fosse o ideal.
Movendo o mana até sua palma, uma luz branca e quente iluminou-se. Os ferimentos nas palmas começaram a fechar numa velocidade visível a olho nú.
“I-isso… Magia de Cura!!” Trayan exclamou, com os olhos arregalados.
A verdade é que usar Magia de Cura não era algo surpreendente, o próprio Trayan conseguia usá-la, já que seu foco era em magia. Mas a questão é que Fernando era um usuário do Sistema de Habilidades, pessoas assim não deveriam chegar num nivel onde poderiam usar uma magia como essa.
“Vamos, me mostrem o restante do lugar.” Fernando falou, de forma calma.
Trayan e Lenny se entreolharam, assustados. Pensaram que já tinham entendido a extensão da força do jovem Tenente a quem iriam servir, mas agora perceberam que não sabiam de nada.
Enquanto andavam pela residência de guilda, ambos iam explicando sobre o local. Algo logo se tornou evidente, tanto Lenny quanto Trayan passaram a tratar Fernando de forma mais respeitosa.
Depois de passarem por um longo corredor, descendo para o subterrâneo, entraram num quarto, com uma grande porta metálica.
“E esse é o Tesouro da guilda. Somente os Vice-Líderes e o Líder tinham acesso.” Trayan falou, colocando a mão num círculo no centro da porta. Logo linhas, como se fossem feitas de energia espalharam-se e simbolos semelhantes a letras acenderam.
“Runas?” Fernando falou, surpreso.
“Isso mesmo, o antigo líder da guilda, preocupado que fôssemos invadidos por rivais, contratou um Mestre de Matrizes que estava passando pela cidade. Custou uma verdadeira fortuna, mas valeu a pena, nenhum ladrão consegue entrar aqui facilmente.” Lenny falou, cheio de orgulho.
“A menos que o ladrão seja o Líder da Guilda.” Fernando comentou, com um rosto calmo.
Lenny e Trayan tinham rostos complicados ao ouvirem isso, um gosto amargo em suas bocas.
A verdade é que mesmo que alguém fosse o Líder da Guilda, não era dono dos recursos da mesma, afinal, eram coisas obtidas de forma coletiva por todos. Por isso, sempre que algo precisava ser retirado do tesouro, deveria haver a presença de pelo menos três Vice Líderes.
Tac! Tac!
Logo a grande porta metálica abriu, rangendo, conforme movia-se.
“Vamos.” Trayan falou, entrando dentro do Tesouro.
Ao entrar, Fernando ficou surpreso. Dentro estava uma grande sala, com uns 10 metros de largura, por uns 20 de comprimento. Lá havia uma série de coisas espalhadas pelo chão, armas, escudos, armaduras, poções e diversos itens que Fernando não fazia ideia do que eram.
“Como pode ver, as coisas de valor foram levadas. Pra falar a verdade, se não estivessem com pressa, provavelmente teriam levado tudo.” Trayan falou, com uma voz decepcionada.
“Se não tivéssemos nos juntado ao seu batalhão, iríamos começar a vender tudo que sobrou e dividir o dinheiro entre todos.” Lenny disse, ao lado.
“Por que não guardam essas coisas em Pulseiras de Armazenamento?” Fernando perguntou, ao ver tudo pelo chão.
“Porque dentro de uma pulseira é mais facilmente rouba-” Trayan falou, parando na metade da fala, logo percebeu quão redundante era, já que foram roubados de qualquer forma.
Fernando assentiu, então falou.
“Reúnam tudo, vamos distribuir os equipamentos e poções entre os novos membros. O que não for útil, vendam e convertam em recursos que precisamos.”
Trayan assentiu em resposta, logo começaram a coletar tudo.
Depois de terminar a vistoria na Residência da Guilda, Fernando ficou extremamente satisfeito. A quantidade de quartos era insuficiente para todos, mas havia muito espaço livre que poderia ser aproveitado e reformado.
Naquele mesmo dia, Fernando entregou as instalações que estavam ocupando de volta às tropas de Belai. Ao mesmo tempo, preencheu um ofício de compra da Residência da antiga Guilda Valorosos.
Isso causou algum alvoroço na cidade, já que era um espaço ‘nobre’ que muitos comerciantes estavam cobiçando desde que a guilda se desfez. Com Belai se tornando uma grande base de avanço da humanidade, comerciantes e pessoas chegavam aos montes todos os dias. Então o valor de imóveis e terrenos estava aumentando numa velocidade vertiginosa.
Muitas Guildas pequenas e médias, viam no campo de batalha uma oportunidade de ganharem nome e fortuna, então estavam migrando em massa para as cidades do fronte. Uma residência de Guilda como essa, era extremamente atrativa para essas guildas. Muitas estavam até planejando absorver os restantes dos membros da antiga Guilda Valorosos, só para obterem essa residência, mesmo que tivessem que usar meios truculentos para isso.
Entretanto, com o Batalhão Zero ‘comprando’ a residência, nenhuma dessas guildas ousou mover-se de forma imprudente. Elas não temiam a força de um mero batalhão recém formado, mas a legião por trás dele.
Quando às tropas do Batalhão Zero chegaram à residência, Fernando e os outros membros distribuíram as acomodações de acordo com seu tempo de serviço. Os membros de ‘alto escalão’ ficaram com quarto próprios, já os membros mais antigos, como as tropas dos antigos Pelotão Zero e Lazuli, dividiram seus quartos com apenas uma ou duas pessoas, ja os novos membros, tanto os remanescentes da Guilda Valorosos, quanto os novo admitidos, tiveram que dividir os quartos com até cinco pessoas.
Muitos dos membros da antiga Guilda Valorosos ficaram descontentes com isso, afinal, ali era sua casa. Entretanto, com Lenny e Trayan intervindo, os ânimos logo foram acalmados.
Por fim, os membros da Força de Reserva ficaram provisoriamente no Salão da Guilda. Mesmo que não houvesse quartos, pelo menos havia um teto acima de suas cabeças.
Naquela mesma noite Lina, Cintia e alguns outros Cabos, fizeram um levantamento sobre a situação dos equipamentos de seus soldados. Grande parte tinha sua própria armadura e espada, aqueles que não tinham na Força Principal eram apenas cerca de cinquenta pessoas, já na Força de Reserva, esse número chegava a quase sua totalidade.
Fernando não ficou surpreso com isso, como a maior parte das Forças de Reserva eram compostas de avalonianos, que geralmente não conseguiam ganhar muito dinheiro, era normal que não pudessem comprar seus próprios equipamentos.
Usando os equipamentos que haviam no Tesouro da Guilda, distribuiu entre aqueles que não tinham. Mesmo assim, ainda foi insuficiente para que todos ficassem armados, então Fernando autorizou a compra de mais equipamentos.
Normalmente essas coisas seriam fornecidas pela Legião, mas com o bloqueio comercial em Belai, era impossível solicitar suporte desse tipo.
Reunindo os Cabos, Oficiais e todo o alto comando do Batalhão, discutiram assuntos importantes.
“Líder, negociamos com o Aldric e ele nos vendeu alguns equipamentos de segunda por um valor razoavelmente bom.” Argos disse, com confiança.
Fernando assentiu ao saber disso.
“Líder, recebemos relatórios da inteligência de Belai. Os Orcs Dobats tem recuado nos últimos dias, mas há indícios que estão reunindo uma grande força para um novo ataque a toda região, Belai incluso nisso.” Theodora falou, com algumas folhas em mãos.
Fernando franziu a testa ao ouvir isso. Todos na sala também tinham expressões complicadas.
“O Salão de Belai nos entregou uma intimação essa manhã, eles querem que comecemos a patrulhar a região, tendo em vista que já concluímos nosso recrutamento.” Tom falou.
“Como devemos lutar? Precisamos treinar as novas tropas, lutar com um bando de novatos é loucura!” Noah disse, com raiva.
“Isso é guerra, eles não vão nos dar tempo para descansar.” Ilgner falou, ao lado.
Com a nomeação de Dimitri para General, assim como várias outras nomeações, as tropas sob Dimitri ficaram provisoriamente estacionadas em Belai para uma reestruturação. Entretanto, essa situação não continuaria por muito tempo. Enquanto Dimitri não ordenasse que partissem, deveriam ajudar a cidade, seja com patrulhamento, ou com escoltas para manter as linhas de abastecimento.
“Quanto tempo nós temos?” Fernando perguntou, com um rosto calmo.
“Eles nos deram cinco dias para terminar nossos arranjos, depois disso apresentarão queixas junto a legião e ao General Dimitri.” Tom falou, com um rosto tenso.
“Bando de ingratos, nós ajudamos a salvar esse lugar! Perdemos tantas pessoas e nem nos deixam descansar por alguns dias!” Léo gritou, cheio de raiva.
Muitos pensavam o mesmo, a batalha para salvar Belai foi extremamente brutal, muitos ali, mesmo que estivessem mais acostumados à luta, ainda tinham pesadelos com aquele dia.
Fernando tinha um rosto calmo, mesmo após ouvir isso.
“Eles não tem escolha, provavelmente isso são ordens de cima. Apenas usem os próximos dias para preparar nosso pessoal o máximo possível. Nós pegaremos algumas missões de patrulha e escolta no último dia.”
Depois da reunião, Fernando foi até seu quarto, sua cabeça estava doendo de lidar com tantos assuntos. Se não fosse Theodora, Ilgner e alguns outros que o ajudavam tanto, já teria tido um surto nervoso.
Toc! Toc!
Ouvindo as batidas na porta, Fernando suspirou consigo mesmo, o cargo de Tenente era algo mais estressante do que havia imaginado.
Ao abrir a porta, seus olhos se arregalaram, um par de braços o agarrou com força.