Knight Of Chaos - Capítulo 285
Os dois homens estavam ajoelhados na frente de Fernando, ambos suavam frio, principalmente depois de serem neutralizados tão facilmente.
Trayan olhou para Lenny, mesmo sem dizer nada o baixinho sabia o que ele queria dizer.
Tomar o Batalhão Zero? Você só pode estar de brincadeira!
Nesse momento, o homem de cavanhaque falou.
“Estimado Tenente, não queriamos ofendê-lo… Meu amigo, Lenny, ele caiu da cama quando era mais novo, então não bate bem da cabeça. Peço que não leve seus insultos e agressões ao coração. Na verdade, viemos aqui humildemente para fazer uma proposta.”
Fernando tinha um rosto inexpressivo, mesmo ao ouvir o apelo do homem.
“E você, quem seria?” perguntou.
“Meu nome é Trayan, um dos vice-líderes da Guilda Valorosos.” respondeu o homem, de forma cortês.
Nesse momento, Archie entrou apressado na sala.
“Líder, temos um problema. Tem cerca de cem pessoas lá fora, que se dizem seguidores desses dois, estão causando problemas e ameaçando um conflito.” Archie disse, um pouco ansioso.
Ouvindo isso, tanto Lenny quanto Trayan levantaram seus rostos, cheio de expectativas e alguma confiança.
“Você vê, Tenente Fernando, essas pessoas são nossos membros de Guilda, se não voltarmos você terá um conflito armado em mãos. Peço que poupe nossas vidas e ouça nossa proposta.” Trayan insistiu.
Vendo isso, Fernando levantou uma sobrancelha. Apesar de serem palavras educadas e sem arrogância, carregavam uma sutil ameaça.
Ilgner deu um passo à frente.
“Se quiser que acabemos com esses causadores de problemas, não será difícil. Podemos eliminar eles em menos de 10 minutos.”
Inicialmente, apesar da maioria dos membros que sobrarem não serem tão fortes, eram experientes e bem organizados, então estavam confiantes em seus homens, entretanto, as palavras do homem loiro de cabelos compridos e nariz grande causaram um certo tremor no corpo dos dois homens.
Seu modo de falar e agir diziam que ele não estava blefando, se Fernando desse a ordem, o Batalhão Zero iria massacrar os remanescentes da Guilda Valorosos.
Nesse momento, Fernando colocou a mão no queixo, pensativo, então respondeu.
“Isso não é necessário, vamos ouvir o que eles têm a dizer primeiro.”
Apesar de não ser alguém bonzinho e saber disso, Fernando também não era alguém vil que mataria pessoas a bel prazer. Se algo pudesse ser resolvido de forma pacífica e sem derramamento de sangue, ele preferia optar por essa rota.
Tanto Lenny, quanto Trayan soltaram suspiros de alívio ao ouvirem as palavras do jovem Tenente.
Lenny estava prestes a tomar a iniciativa de falar, mas Trayan o fulminou com os olhos, como se dissesse ‘É melhor você ficar calado.’
“Nós éramos membros da Guilda Valorosos, de Belai, mas pouco antes do cerco dos Orcs, nossos líderes receberam informações privilegiadas e fugiram, levando a maior parte dos bens preciosos do tesouro da guilda. Apesar dessa traição, quando a Legião dos Leões Dourados nos convocou pelo contrato de mercenários que firmamos no passado, nós lutamos. Perdemos muitos de nossos homens e por fim, quando a batalha acabou, nos disseram que nosso contrato perdeu a validade devido a fuga de nossos líderes e não nos pagaram nada. Muitos foram embora depois do ocorrido, cheios de raiva, mas alguns, mesmo com tudo isso, permaneceram conosco, como vice-líderes, é nossa obrigação encontrar meios de ganhar nosso pão. Por isso viemos fazer uma proposta a você, Tenente Fernando.” Trayan disse, com um rosto convicto.
“Hah, um bando de falidos que nem tem onde cair mortos e ainda sim ousam invadir a sala de comando de um batalhão e exigir sua autoridade. Em suma, o que vocês querem é se juntar ao Batalhão Zero. Por que aceitaremos vocês depois dessa afronta?” Noah disse, com desprezo.
Trayan e Lenny se entreolharam. Apesar de ser ideia na maior parte de Lenny, de desafiar o Tenente em comando, Fernando, Trayan havia tacitamente concordado com a ideia.
“Vocês precisam de mão de obra, nós temos pessoas.” Lenny falou, secamente.
“Temos candidatos mais que suficientes lá fora e mais estão aplicando a cada momento. Não precisamos de vocês.” Noah respondeu.
“Um bando de novatos e civis, acham mesmo que podem construir um batalhão de respeito com pessoas aleatórias? Nossos membros são experientes, organizados e disciplinados.” Lenny retrucou. “Tenente Fernando, eu peço perdão pelo que fiz e falei antes, mas nossos membros de guilda tem muito a oferecer. Se o problema for minhas ações, aceite Trayan e meus membros de guilda, eu não preciso estar incluso nesse acordo.”
“Lenny!” Trayan exclamou.
Todos ficaram em silêncio com a declaração do jovem de olhos verdes. Abrir mão de adentrar junto às tropas da Guilda Valorosos seria abrir mão de autoridade e ter de se virar por conta própria.
“Tudo o que pedimos é que nossos membros recebam um salário justo e que todas as nossas tropas sejam aceitas integralmente.” Lenny continuou, ignorando Trayan.
Em tempos de paz já era extremamente difícil reerguer uma guilda caída, em tempos de guerra a dificuldade seria triplicada. Lenny e Trayan sabiam muito bem disso. Se não achassem um local para estabelecer seu povo teriam problemas.
Fernando ficou em silêncio, mesmo após as palavras emocionadas do jovem.
Quanto a Theodora, mesmo sendo atualmente uma Subtenente, não estava interessada em se envolver nesse tipo de decisões.
Ja Ilgner, parecia levemente interessado após saber dos fatos. Como ex-membro de uma guilda, conhecia bem as dificuldades de manter a organização unida após a perda de um líder e de irmãos de espada. Sabia muito bem, pois ele próprio passou por essa situação e no fim, falhou miseravelmente. A Guilda Guarda-Chuvas, a qual tentou o seu melhor para manter unida, acabou por se desfazer, com seus membros seguindo passos separados.
“Podemos analisar a proposta, líder.” Ilgner disse, com os braços cruzados.
“O que?! Eles invadiram a sala de comando do nosso batalhão, desafiaram o Fernando e até me atacaram, que tipo de imagem vamos passar ao aceitar gente assim?” Noah disse, de forma exaltada.
Ilgner lançou um olhar sob Noah, não havia raiva ou felicidade em sua face.
“Eles invadiram o lugar e desafiaram nosso líder. Mesmo assim você foi incapaz de vencê-los e foi derrotado, obrigando nosso Tenente a lidar com o problema com as próprias mãos. Você não tem o direito de falar a respeito.” disse, de forma apática.
Noah parou por um momento, sua face pálida, queria dizer algo, mas no fim, calou-se. Assim como Ilgner disse, ele havia falhado em sua tarefa.
Nesse momento Fernando suspirou, vendo o desenrolar da situação.
“Líder, podemos usá-los. Membros de guildas, apesar de não serem tão bem treinados quanto de legiões, são mais experientes e tem uma força razoavelmente acima de soldados comuns.” Ilgner adicionou.
Vendo até mesmo o grandalhão loiro, que normalmente não se envolvia em assuntos administrativos tomando um lado, Fernando ficou pensativo.
Trayan, sendo um ex vice-líder experiente e perspicaz percebeu isso.
“Apesar da maior parte dos nossos fundos terem sido levados, podemos oferecer nossa Residência de Guilda como parte do acordo. Não temos muito, mas ainda restaram algumas armaduras velhas, armas, livros de magias básicas e outras coisas em nosso depósito.”
Após ouvir isso, os olhos de Fernando acenderam-se, demonstrando interesse pela primeira vez.
“Quantas pessoas essa residência comporta?” perguntou, num tom calmo.
Uma das maiores dores de cabeça de Fernando no momento, era montar um QG adequado para seu batalhão. Apesar de estarem ocupando um alojamento de uma guarnição, cedido pela cidade de Belai, não poderiam continuar assim por muito tempo.
Mesmo sabendo que sua estadia na cidade não era permanente, queria um local para se organizar melhor.
“Isso… Acredito que 600 pessoas, talvez um pouco mais.” Trayan disse, cheio de nervosismo.
Nesse momento Fernando levantou-se, surpreendendo a todos.
“Soltem eles, temos um acordo então. A partir de agora vocês dois e seus homens trabalham para mim. Vamos esquecer o que aconteceu mais cedo, mas quero deixar algo bem claro… Se um dia apontarem suas armas contra mim ou meu pessoal, eu não terei piedade.” disse, com um rosto frio.
Os dois homens ficaram num misto, entre medo e felicidade.
Lenny principalmente, afinal o jovem Tenente havia dito ‘vocês dois’ o que incluia ele próprio, é claro.
Após Lina desamarrar ambos, Lenny e Trayan se ajoelharam.
“Prometemos nossa lealdade ao senhor, Tenente Fernando.” disseram, em uníssono.
Fernando assentiu com a cabeça. Apesar de não gostar dessas formalidades, sabia que como Tenente não poderia fazer as coisas como fazia anteriormente.
Depois do acordo feito, ambos os lados acertaram os detalhes. As tropas de Lenny e Trayan seriam remuneradas de acordo com o padrão da Legião dos Leões Dourados. Soldados receberiam 20 moedas de prata, Cabos 60 moedas, Oficiais 120 moedas e Sargentos 250 moedas e Subtenentes 600 moedas de prata.
Obviamente, nada disso sairia do bolso de Fernando, já que viria do subsídio da legião. Entretanto a quantidade de cargos de liderança subsidiados era limitada. Por exemplo, para Subtenentes, o máximo de cargos possível era de dois, se um Tenente quisesse adicionar mais um Subtenente em suas fileiras, teria que arcar com os custos por conta própria.
Atualmente tanto Theodora quanto Ilgner ocupavam os dois cargos subsidiados e Fernando não tinha intenção em pagar de seu próprio bolso para nomear esses dois que ele mal conhecia, afinal 600 moedas era uma grande soma. No fim, foi acordado que um dos dois seria nomeado Oficial de um dos Pelotões.
Tanto Trayan, quanto Lenny, ficaram descontentes por assumirem posições inferiores à sua força, mas no fim aceitaram.