Knight Of Chaos - Capítulo 237
Na manhã seguinte, as tropas desmontaram acampamento, um clima estranho permeou em meio ao Pelotão Zero, principalmente quando os soldados viram os rostos abatidos e cansados dos Cabos.
“O Oficial Fernando é realmente assustador…” Um dos homens comentou, ao ver o rosto abatido de Noah.
“Cala a boca! Quer ser o próximo?” Outro soldado repreendeu.
Fernando que estava terminando de desmontar sua tenda, estava inconsciente sobre mais um rumor estranho a seu respeito, mas mesmo que soubesse, simplesmente não se importaria. Nesse ponto a quantidade de rumores que se espalharam a seu respeito eram mais do que ele podia contar.
Na verdade, com o bom humor que ele estava nesse momento, nada afetaria sua tranquilidade. Na noite anterior o uso das Poções Fauser Ivrat havia sido um sucesso, o que o deixou muito satisfeito.
Com isso, além dele, Theodora e Ilgner, agora o Pelotão Zero tinha mais seis pessoas qualificadas, Noah, Tom, Gabriel, Kelly, Archie e Ronald. Todos haviam atingido 15 pontos de Agilidade e Físico, não só isso, alguns deles tinham por conta própria ultrapassado 10 pontos de Agilidade e Físico antes de tomar as poções, o que fez com que houvesse três poções excedentes.
Isso foi completamente contra suas expectativas, todavia o deixou muito satisfeito, já que significava que muitos estavam treinando a sério para se superar.
Em relação às três poções restantes, Fernando não hesitou a respeito do uso, na mesma noite convocou Karol para seus aposentos. Junto aos outros ele a fez tomar as três Fauser Ivrat, mesmo sabendo que era algo tendencioso de sua parte, não se importava, sentiu que já havia feito o suficiente pelo pelotão e ser um pouco egoísta agora era seu direito.
Após tomar as poções, Karol ficou com 13 pontos de Físico e Agilidade, a tornando muito mais forte que soldados comuns. Isso deixou o coração de Fernando mais a vontade. Porém criou um certo problema, atualmente o Esquadrão Zero 1 de Theodora tinha três pessoas com atributos reforçados, Theodora, Kelly e Karol, isso os fez ser o esquadrão mais forte sob seu comando.
Apesar de não parecer nada demais, poderia criar algum atrito interno no futuro, já que pareceria que ele, como Oficial, estava beneficiando mais o Zero 1 em relação aos demais. Mesmo que os outros não dissessem nada a respeito, ele poderia dizer que não estavam satisfeitos.
Noah por exemplo, era o que deixou isso mais evidente, já que ficou inquieto ao saber que as poções restantes iriam para Karol. Fernando sabia exatamente o que ele estava pensando, afinal, o Zero 3 de Noah e Zero 4 de Tom eram os únicos que tinham apenas seus Cabos com atributos reforçados, tornando-os os mais fracos.
Mesmo sabendo de tudo isso, Fernando não hesitou em seu uso, ele sabia que a única forma de resolver essa questão era conseguir mais dinheiro e no futuro reforçar os esquadrões que estivessem desfalcados. É por isso que ordenou que seus Cabos ficassem de olho nos talentos de seus homens, se viessem alguém promissor, deveriam nutrir essas pessoas a todo custo.
Naquela mesma manhã, Dimitri ordenou que todos os Batalhões se movessem em direção a estação ferroviária de Aquilones. Chegando lá, viram um mar de pessoas embarcando em gigantescas locomotivas, haviam tantos homens e mulheres aguardando nos arredores sua vez de embarcar, que mal era possível ver o chão sob seus pés, apenas infinitas cabeças. Eram exércitos das mais diversas legiões.
Fernando ficou pasmo ao ver o tamanho colossal das locomotivas, cada vagão poderia facilmente acomodar centenas de pessoas e cada locomotiva tinha pelo menos 20 vagões. Mesmo tendo uma noção depois de ver os desenhos do projeto da Linha Negra, ver uma pessoalmente ainda era surpreendente. Ele não conseguiu deixar de pensar sobre o quanto o pai de Lian, o Ferreiro Negro, havia se dedicado para desenvolver seu próprio projeto de locomotiva, afinal, era o ápice da tecnologia nesse mundo, uma mistura entre engenharia moderna e magia.
Vendo isso, Fernando se recordou de Vento Amarelo, um certo peso estava em seu coração ao imaginar como as coisas estavam indo por lá. Sua professora, Papi, Lian e vários do seu povo estavam lá, aguardando o inicio de um possivel conflito militar com os Elfos Negros. Isso o encheu de preocupações, mas não havia nada que pudesse fazer, ele deveria cumprir sua missão antes de retornar.
O exército de Vento Amarelo seguiu em frente, passando pelas estações ferroviárias onde havia milhares de pessoas, seguindo para as ferrovias de carga e descarga de mercadorias. Vendo isso, muitos Majors e Generais que aguardavam o embarque com seus exércitos ficaram surpresos, então não puderam deixar de lançar um olhar de desdém.
Apenas alguém desesperado iria recorrer a vagões de carga para transportar seus homens, eles prefeririam esperar em Aquilones por mais alguns dias do que se submeter a isso. O que não sabiam é que de fato, Dimitri estava desesperado.
“Senhor, outra mensagem chegou do Conselho da Cidade Dourada, perdemos mais uma região na fronteira essa manhã. Eles disseram que aqueles vassalos que não tiverem suas tropas no fronte em doze dias, serão considerados rebeldes.”
Ouvindo o relatório, a expressão de Dimitri encheu-se de fúria.
“Aqueles malditos! Eles acham que vou pegar nove mil homens e sair voando até lá? Pro inferno com isso, se não fosse pelo general…” Dimitri disse, num tom irritado.
O Tenente que deu o relatório ficou em silêncio, como um membro fiel do Salão da Recepção ele sabia que Dimitri odiava receber ordens da Cidade Dourada, a capital dos Leões Dourados. Como Vento Amarelo e o Salão da Recepção eram vassalos da legião, não gozavam de todos os direitos e benefícios, por outro lado tinham todos os encargos e precisavam sempre estar se provando leais.
Dimitri sempre odiou o fato dos Leões Dourados terem tomado Vento Amarelo, bem como outras pequenas cidades no norte. O objetivo para isso era claro, uma tentativa de aumentar a influência da legião no continente humano. Porém isso foi feito a seu ver de forma despreparada, afinal a base de operações ficava no sul, tornando a comunicação, bem como formas de apoio e troca de bens extremamente difíceis. Se não fosse pelo fato da Matriz do Mundo na região de Vento Amarelo ser extremamente ativa, levando apenas de um a três meses para um ciclo, ele não duvidava que a Cidade-Fortaleza já teria sido abandonada às traças.
Logo as tropas chegaram a ferrovia de carga, gigantescos vagões abertos estavam enfileirados. Quando os soldados viram que deveriam embarcar ali, muitos franziram a testa. Afinal, era como se eles estivessem sendo tratados como mercadorias, enquanto os outros exércitos estavam pegando trens confortáveis, com acentos e um teto.
Apesar de uma leve insatisfação generalizada, logo os Oficiais e outras patentes conseguiram acalmar os ânimos. Vendo isso, Dimitri assentiu satisfeito, pensando que fazer aquela ‘reunião estratégica’ havia sido uma boa ideia.
Um a um, os batalhões começaram a embarcar nos vagões. Como não tinham assentos, todos os soldados se amontoaram no chão dos vagões, acomodando-se onde podiam. Seria uma longa viagem de três dias e noites, então todos tomaram cuidado para não encher demais alguns vagões, já que tornaria a jornada desgastante. No fim, o exército de mais de nove mil foi dividido em 25 vagões de carga.
O Pelotão Zero foi um dos últimos a embarcar, ficando num vagão junto ao Pelotão Lazuli de Argos e ao Pelotão Leopardo de Nina.
Tchaca! Tum! Tchaca! Tum!
Logo a grande locomotiva começou a lentamente se mover, muitos ficaram inquietos, afinal depois de passar tanto tempo vivendo em Avalon, entrar dentro de um maquinário novamente era algo estranho.
Apesar da estranheza inicial, logo todos se acostumaram, relaxando seus corpos e mentes com o balançar pouco suave do trem. Apesar de não ser o transporte mais confortável, era muito melhor do que marchar a pé.
Devido a pressão que o Major exerceu sobre a velocidade de locomoção das tropas, os soldados que recém haviam sido promovidos de Recrutas mal suportam o fardo e estresse em seus corpos, então para eles, estar ali era como estar no céu. Contanto que não tivessem que dar mais um passo, eles não se importavam com mais nada.
Fernando estava no canto do vagão, apoiado com a cabeça no colo de Karol. Inicialmente ele não queria ficar assim, já que estavam em meio às tropas. Mas depois de muita insistência dela, acabou desistindo. Além disso, com todos amontoados naquela lata de sardinha, não havia muito como manter algum tipo de postura distante dos demais.
Apesar de sentir os olhares dos soldados ocasionalmente em sua direção, Fernando não se importava. Tudo que ele queria era ficar ali, no colo de sua amada.
Sentindo os dedos de Karol vagarosamente entrelaçando-se em seus cabelos, enquanto acariciava-lhe, sentiu um arrepio terno em seu corpo. Ele percebeu que Karol amava fazer isso, sempre que estavam juntos ela gostava de colocar sua cabeça em seu peito ou colo, enquanto tocava seus cabelos.
“Ei, Fernando, você acha que está mesmo tudo bem?” Karol perguntou, num tom meio triste.
“Sobre as poções? Já falamos sobre isso, eu disse que esta tudo bem.” Fernando respondeu, calmamente.
“Mas tem tantas pessoas mais qualificadas… Além disso, Noah não parecia muito feliz.”
“Eu não me importo, essa decisão cabe somente a mim.”
Ouvindo o tom calmo e indiferente de Fernando, Karol suspirou. Pensando em quando o conheceu, um jovem garoto que mal conseguia se expressar corretamente, ele parecia ter se tornado uma pessoa completamente diferente. Apesar disso, ela não odiava essa transformação, sentiu que ele havia amadurecido muito, tornando-se um homem confiável e admirável.
Naquele momento Karol sorriu com ternura, pensando que gostaria de eternizar aquele momento. Ter seu amor em seus braços era a melhor sensação do mundo.