Knight Of Chaos - Capítulo 203
Tanto Fernando, quanto Karol, ficaram sem palavras ao testemunhar a cena de um homem idoso, segurando uma garotinha adormecida, enquanto pairava a metros do chão. Esse homem idoso era Papi.
“Mas o que…”
Quando Fernando estava prestes a dizer algo, o velho levantou a mão, em sinal de pausa.
“Garoto, antes de conversarmos, é melhor vestirem algo.” Papi disse, apontando para baixo.
Só então Fernando e Karol se deram conta que estavam semi-nus, apressadamente cobrindo suas partes importantes.
…
Alguns minutos depois, Fernando e Karol haviam se vestido, apesar disso, um certo rubor cobriu seus rostos.
Ao descerem, o velho os esperava na sala, sentado no sofá, com Alaine dormindo ao seu lado. Vendo seus rostos vermelhos, o velho sorriu.
“Não precisam se envergonhar, é normal na idade de vocês. Aliás, garoto, você tem muita sorte.”
Essas palavras só fizeram Karol ficar mais envergonhada ainda, cobrindo parte do rosto com a blusa que vestia.
Apesar de também estar sem jeito, Fernando tentou se controlar. A situação atual era muito estranha, só o fato de um velho levitando bater na janela do seu quarto no meio da noite já era estranho o suficiente, mas a questão é que o velho Papi nunca havia o procurado antes.
“Senhor Papi, poderia me explicar o que está acontecendo?” perguntou, sentando-se na poltrona à frente.
O velho homem o olhou com certo receio, seus olhos tinham olheiras escuras, indicando que não dormia a algum tempo.
“Garoto, serei franco, preciso da sua ajuda.”
Fernando manteve-se em silêncio, sem entender como alguém como ele poderia ajudá-lo.
“Sabe Fernando, eu estive vivendo em Vento Amarelo pelos últimos 12 anos, você sabe o por quê?”
“Não senhor.” respondeu, sem hesitar.
“Tudo por causa da minha neta, Alaine. Verdade seja dita, não existe nenhum lugar nesse mundo que seja totalmente seguro, mas alguns podem ser mais ou menos perigosos que outros.”
Tanto Fernando quanto Karol mantiveram-se em silêncio, aguardando onde o idoso queria chegar.
“Nesse mundo, em Avalon, existem inúmeros perigos, monstros, bestas, raças inimigas e inúmeras outras coisas impossíveis de explicar, mas às vezes, o maior perigo pode vir de outras pessoas.”
Falando até ai, Papi fez uma pausa, como se recordasse de algo ruim.
“Desde que os pais de Alaine se foram, eu abandonei tudo que tinha e me isolei nessa pequena cidade, não porque eu temesse por minha própria vida, mas… Por ela.” disse, acariciando o rosto da garotinha ruiva adormecida.
Fernando ficou um pouco surpreso com as palavras do velho homem, pela forma que falou ele não deveria ser alguém simples, mesmo fora de Vento Amarelo.
“Como você bem sabe, Alaine não é uma menina normal devido a sua característica especial.”
Ao pensar na situação que ocorreu no passado, Fernando franziu a testa. Ele jamais havia sentido algo como aquilo, ter seu mana drenado foi uma das situações mais angustiantes que passou. Era como ver alguém tirando seu sangue na sua frente com uma seringa, enquanto tem medo de ver seu próprio sangue. A sensação de tontura e fraqueza eram agonizantes.
Karol fez uma expressão de curiosidade, tentando entender que tipo de anormalidade a pequena tinha.
“Ela precisa ocasionalmente absorver mana de outras pessoas para se manter saudável, quando não o faz, acaba ficando fraquinha e adoecendo. Normalmente, eu, como seu avô, assumo essa tarefa, mas existe um problema. Sempre que a deixo absorver uma pequena parte do meu mana, eu fico num estado debilitado.”
Ouvindo isso, Fernando ficou surpreso, ele não imaginava que Papi tinha que passar por algo assim para cuidar de sua neta. Apesar de sentir pena da sua situação, começou a entender onde o velho queria chegar e isso não o agradou nem um pouco.
“Senhor Papi, acho que já entendi porque veio aqui, mas sinto muito, não posso ajudá-lo. Em duas semanas estarei partindo para as linhas de frente com os Orcs, não posso me arriscar com algo assim.” respondeu com uma expressão calma, mesmo que gostasse do velho e sua neta, sua vida era mais importante.
“Garoto, é justamente por isso que vim até você, por causa dessa situação.” As palavras de Papi o deixaram confuso.
“O que quer dizer com isso?”
“Rapaz, serei direito com você. Quando as tropas forem enviadas para o sul, é quase certo que Vento Amarelo vai ser sitiada.”
Ao ouvir isso, Fernando estremeceu, sua professora havia dito algo nesse sentido, mesmo agora não se atrevia a pensar nessa possibilidade.
“Mesmo que não sejamos muito próximos, também não somos estranhos, afinal você é aluno da pequena Gallia, então peço que me ajude desta vez. Em troca… Posso garantir que sua professora estará viva e saudável quando voltar.”
Ao ouvir isso, os olhos de Fernando se abriram, como se estivesse assustado. Ele não conseguia entender o que o velho queria dizer com isso.
Percebendo o jovem à sua frente ficando ansioso, Papi sorriu levemente.
“É como você imagina, se nada acontecer, Vento Amarelo caira perante a investida dos Elfos Negros e todos aqui morrerão, Gallia esta inclusa nisso, é claro.”
Swish!
Com olhos frios, Fernando sacou sua espada Formek, apontando para o velho homem.
“Diga de uma vez, onde quer chegar!”
Os olhos de Papi se estreitaram, não imaginando que o jovem tivesse uma reação tão forte com suas palavras.
“Fernando, acalme-se!” Karol disse, segurando seu pulso, só então ele se deu conta de que tinha exagerado.
“Me desculpe.”
“Eu não esperava que você fosse tão esquentado rapaz. Como você quer, serei direito então. O Salão da Recepção e suas guarnições não são capazes de defender Vento Amarelo até o fim dessa campanha, não sou apenas eu que estou ciente disso, é algo que todos sabem, por isso muitas pessoas poderosas e influentes têm secretamente deixado a cidade.”
“Isso…” Fernando ficou espantado ao ouvir isso, não imaginava que algo assim estivesse ocorrendo.
“Minha afirmação de antes não foi um blefe, existe um motivo para Vento Amarelo estar certa de sucumbir. Isso é devido a presença do Campeão Élfico Valeres, o regente de MortHar, líder do Vale das Orquídeas, um individu ilustre entre os Elfos Negros. Se ele agir, mesmo Kalfas não será capaz de detê-lo.”
Os olhos de Fernando se arregalaram ao ouvir esse nome, Valeres, o Campeão Élfico. Durante sua missão na Vila Lunar, ele havia tido o infortúnio de encontrá-lo. Se não fosse pelo fato de ter usado seu filho, Helian, como refém, não estaria vivo para contar a história. Apesar de não saber quão forte Kalfas era, de uma coisa ele sabia, Valeres era muito mais forte!
Mesmo Karol ficou sem fôlego ao ouvir a menção desse nome, foi devido a fuga desesperada dos Elfos Negros que eles haviam acabado trombando com um Obscuro. Não importa quem fosse, todos do Esquadrão Zero que participaram daquela missão não esqueceriam aqueles dias sombrios.
“Vendo seus rostos, vejo que já ouviram falar do mesmo, então serei breve. Fernando, se me ajudar, enquanto eu, Papi, estiver em Vento Amarelo, garanto que a cidade não será tomada.”
Tanto Fernando quanto Karol ficaram sem palavras ao ouvir essa afirmação, pois isso era o mesmo que alegar que ele próprio era mais poderoso que Kalfas.
“Senhor, o que você diz, é verdade?” Fernando perguntou com algum receio, se o que o homem disse for verdade, isso não significava que ele estava de frente para alguém de nível general?
“No lugar de tentar convencê-lo, que tal experienciar por si mesmo?” Tendo dito isso, Papi fechou os olhos.
Shaaa! Tzzzz!
Ao abrir suas pálpebras, ambas pupilas do velho homem estavam tão brilhantes quanto os flashes de um relâmpago, não só isso, eletricidade crepitava por toda a sala, como se eles estivessem em meio a uma tempestade. Tanto Karol quanto Fernando ficaram completamente estarrecidos ao verem uma cena como aquela, eles eram como duas chamas de vela em meio a um tornado.
Tzan!
Antes que conseguissem reagir a toda aquela situação, tudo sumiu tão rápido quanto surgiu.
“Que tal, convencidos?”
Karol e Fernando se entreolharam, sem saber como responder a isso.