O Mistério das Realidades Alternativas - Capítulo 31
CAPÍTULO 31 – Elementos Primordiais
Realidade Média, Terra-03 – Labirinto de Treinamento, Final da Última Fase
Após a transformação de Jack, sua armadura reluzia com uma luz intensa, quase tão ofuscante quanto o próprio sol, enquanto rajadas de vento violentas se espalhavam, atraindo a atenção de todos no labirinto, incluindo as criaturas que ainda vagavam por ali. À sua frente, o monstro gigantesco que ele enfrentava era o último obstáculo. A última batalha antes de finalmente sair daquele lugar infernal e voltar à sua vida, que nunca mais seria a mesma.
— O que está acontecendo…? — murmurou Jhenefer, despertando de seu sono profundo. Ainda grogue, ela esfregou os olhos e, ao focar sua visão, congelou. O que via era inacreditável. Seus olhos se arregalaram, e um arrepio percorreu seu corpo. — M-Mas… o que é aquilo?
Logo depois, Michel também acordou, espreguiçando-se com preguiça, mas ao perceber a expressão assustada de Jhenefer, seguiu seu olhar. Ele viu o mesmo que ela e reagiu da mesma forma.
— Quem será aquele? E esse monstro… é o último que deveríamos enfrentar? — questionou, confuso.
— Parece que sim. Mas já tem alguém lutando contra ele. Aquele guerreiro… ele está usando uma armadura de fogo e metal… São os elementos de Jack? — perguntou, hesitante, sem querer acreditar no que seus olhos mostravam.
— Não pode ser ele. Olha o tamanho desse guerreiro! É o dobro de Jack! E… onde ele está? Não deveria estar aqui, dormindo conosco? — Michel demonstrou preocupação, buscando alguma explicação para o paradeiro do amigo.
— Espero que ele esteja seguro… e vivo. Não podemos sair daqui agora. Vamos esperar a luta acabar, depois procuramos por ele — sugeriu, tentando manter a calma, embora as lágrimas já escorressem por seu rosto.
Enquanto assistiam à batalha de longe, o coração de ambos apertava, cada vez mais temerosos pela segurança do amigo. Tudo o que podiam fazer naquele momento era observar e torcer por sua sobrevivência.
No campo de batalha, o corpo de Jack pulsava em sincronia com os batimentos acelerados de seu coração. Seus olhos, ofuscantes, lançavam uma luz tão intensa que o monstro precisou cobrir o rosto. A criatura rugiu com fúria, incomodada pela energia avassaladora que emanava do guerreiro à sua frente. A força do rugido foi tão violenta que causou novos desmoronamentos nas paredes do labirinto e jogou ao chão várias pessoas que estavam próximas.
— Parece que ele não gostou nada de ver o garoto se levantando — comentou a fênix de fogo, observando o comportamento do monstro — Não podemos deixar esse garoto morrer por causa de uma mera criatura — disse o lobo de metal, em tom sério. — Lembro-me de que isso era brincadeira de criança para Wisdom. Precisamos fazer deste garoto, e de seus amigos, magos elementares ainda mais poderosos que seus antepassados. E desta vez, não nos separaremos deles — concluiu, preocupado com o destino do trio.
O monstro se aproximava rapidamente, seus passos pesados afundando ainda mais o solo a cada movimento. Pressentindo o perigo, os elementais começaram a agir. O primeiro ataque foi defensivo: um cubo perfeito de metal líquido foi gerado, envolvendo a criatura, solidificando-se rapidamente na tentativa de prendê-la. No entanto, o monstro se libertou com facilidade.
— Parece que uma simples gaiola não será suficiente para te parar… Vamos ver até onde isso vai — murmuraram as vozes dos elementais, unidas no corpo de Jack.
Após se libertar, a criatura rugiu novamente. Jack, ou melhor, o corpo controlado pelos elementais, avançou com um soco certeiro, que acertou o monstro no tronco, fazendo-o voar e se espatifar no chão com um tremor que abalou toda a área.
— Se os elementos não forem suficientes… as mãos serão — disseram, determinados.
O combate se intensificou. O garoto começou a golpear a criatura repetidamente, alternando socos de direita e esquerda, atingindo o monstro no queixo e na lateral da cabeça. Cada impacto enfraquecia o adversário, até que um golpe final no estômago o fez cair, imóvel.
— Eu o derrubei mais uma vez. Não tente se levantar… ou vai se arrepender.
Enfurecido, o monstro começou a disparar rajadas de água em direção a Jack, que desviava de todos os ataques. A frustração da criatura aumentava à medida que seus golpes falhavam. De repente, vinhas emergiram do solo, prendendo os braços, pernas e cabeça do guerreiro.
Com um grunhido, o monstro transformou seu braço em uma lança d’água e avançou para desferir o golpe final. Porém, antes que pudesse alcançá-lo, o corpo de Jack começou a arder em chamas, gerando uma onda de calor tão intensa que tudo ao redor foi consumido pelo fogo. O cenário se transformou em um verdadeiro campo de guerra, com chamas douradas por toda parte.
O monstro hesitou, sentindo o calor crescente. A atração pela luz e calor era quase irresistível, mas ao perceber que estava se aproximando de sua própria destruição, a criatura começou a esmurrar a si mesma, tomada por um nojo profundo de ser atraída por aquela luz mortal.
— Isso precisa acabar agora. O corpo dele não vai aguentar por muito mais tempo — alertou o lobo de metal, ciente dos limites do garoto.
— Vamos terminar isso de uma vez. Prepare-se para morrer! — anunciaram os elementais, com as vozes sincronizadas.
Jack avançou novamente, trocando golpes poderosos com a criatura. Cada soco fazia o chão tremer, como se o próprio labirinto estivesse ruindo. As pessoas ao redor, mesmo distantes, sentiam a força dos impactos. O combate era tão violento que poderia ser sentido a quilômetros de distância.
Com um movimento decisivo, Jack criou uma enorme esfera de fogo, como se estivesse gerando seu próprio sol. O monstro, atônito, observava enquanto a esfera crescia, ciente de que seus ataques de água eram inúteis. A esfera incandescente continuava a se expandir, envolvendo tudo ao redor, queimando até o chão.
— Espero que este ataque te evapore de uma vez por todas — disseram as vozes dos elementais.
Sem mais opções, o monstro tentou bloquear a esfera com seus braços, mas ao tocá-la, começou a evaporar lentamente. Seus membros se desfaziam, e as vinhas que o envolviam queimavam até desaparecerem. Em segundos, a criatura foi consumida pelo fogo, deixando apenas uma explosão colossal em seu lugar.
A explosão foi tão intensa que pôde ser vista de longe, inclusive na cidade onde ficava a guilda. Frenizet, sentado em sua mansão, observava o céu iluminado pelo impacto.
— Parece que começaram a usar seus elementos com força… — comentou, com um leve sorriso, apoiando o queixo sobre a mão.
O estrondo da explosão fez Jhenefer e Michel serem arremessados para trás, desmaiando no impacto. Quando tudo se acalmou, uma enorme cratera, maior que a própria esfera de fogo, marcava o local da batalha.
Algumas horas se passaram, e o sol finalmente nasceu, iluminando o labirinto e revelando a destruição deixada para trás. Jhenefer e Michel acordaram juntos, sentindo as consequências do impacto.
— Minha cabeça está explodindo… — murmurou a garota, sentindo a dor pulsante.
— O que aconteceu…? Não era noite? — Michel perguntou, ainda confuso.
— Acho que desmaiamos com o último impacto. É tudo o que lembro — respondeu, tentando se concentrar nas últimas cenas que presenciara. — Mas o mais importante agora… Onde está Jack? Precisamos encontrá-lo!
Ainda tontos, os dois se levantaram e começaram a procurar pelo amigo em meio ao deserto de pedras e poeira. O labirinto, agora em ruínas, não facilitava a busca.
Após alguns minutos, encontraram Jack debaixo de duas grandes rochas, os restos das paredes que sobraram. Desesperados, correram até ele.
— Jack… JACK, ACORDE! — gritou Jhenefer, implorando por uma resposta.
Com muito esforço, o garoto abriu os olhos lentamente. Sua visão estava turva, mas aos poucos foi ganhando foco.
— Eu… morri? — murmurou, com a voz fraca.
Ao ver que seu amigo estava vivo, Jhenefer gritou seu nome, e sem querer, ativou seu elemento de água, fazendo chover intensamente sobre o labirinto.
Michel, perplexo, observou a cena. “Parece que ela está chorando pelos céus…”, pensou, impressionado.
Minutos depois, Jack já estava sentado no chão, ainda confuso com tudo ao seu redor. A destruição ao seu redor não fazia sentido para ele.
— M-Mas, o que aconteceu aqui? Que destruição é essa? — indagou, a mente ainda turva.
Jhenefer, ao perceber a confusão do amigo, rapidamente tentou explicar a situação.
— Houve uma batalha enorme durante a noite. Um guerreiro surgiu do nada, enfrentando um monstro gigantesco, com mais de cinco metros de altura. Foi uma luta impressionante… e, ao mesmo tempo, aterrorizante. Mesmo à distância, podíamos sentir a força de cada golpe. O guerreiro conseguiu vencer, ou pelo menos, parece que sim. Tanto ele quanto o monstro desapareceram na explosão. — Ela fez uma pausa, refletindo. — Jack… Era você? O sol escaldante que quase nos transformou em pó… O poder do guerreiro era exatamente igual ao seu, e você desapareceu durante a batalha.
Ainda atordoado, ele respondeu, confuso.
— Que sol? Eu só lembro de ter acordado à noite para ficar de vigia. Um monstro apareceu e me atacou… Depois disso, desmaiei. Não lembro de mais nada.
Michel, perplexo, interveio.
— Você acordou antes de nós? Quando isso aconteceu?
— Sim, foi de madrugada. Vocês estavam dormindo profundamente, então decidi não incomodá-los. Fiquei de vigia até que senti a terra tremer. Fui verificar e vi um monstro enorme se aproximando. Tentei atacá-lo com minhas manoplas de metal e fogo, mas ele me atingiu por trás. Pensei que fosse morrer. Não conseguia mover nada, nem falar… Lembro-me apenas disso.
Jhenefer, pensativa, tentava juntar as peças.
— Se ele não lembra de nada e foi atacado tão gravemente… Então, não pode ter sido ele.
Michel ainda estava intrigado.
— Mas se você sofreu um ataque tão crítico, como não tem nenhum arranhão?
— Os elementais me regeneram… ou melhor, eu me regenero com o poder deles. Mas, no estado em que estava, não consegui fazer isso sozinho. Acho que eles me salvaram antes que eu morresse de vez. Isso já aconteceu quando enfrentamos o último monstro da segunda fase. Sofri um dano grave, mas consegui me curar por conta própria naquela ocasião.
Michel, ainda surpreso, advertiu o amigo.
— Certo… Mas vamos ficar de olho em você daqui para frente. Não pode sair se arriscando assim.
— Não se preocupem. A batalha acabou, e não temos mais monstros para enfrentar. Vamos sair logo daqui. Não aguento mais este lugar — respondeu Jack, enquanto se levantava, limpando a poeira do corpo e direcionando seu olhar para o que restava do labirinto, ou melhor, para o que já nem existia mais após a explosão.
Com esse plano, o trio partiu rapidamente em direção ao início do labirinto, onde a carroça os aguardava. O velho que cuidava da carroça avistou as três figuras cobertas de sujeira e cicatrizes.
— O quê…? Vocês sobreviveram? Seus moleques! — reclamou, incrédulo.
— Não viemos aqui para morrer, velhote! — retrucou Michel, com um sorriso de triunfo, enquanto Jhenefer e Jack esboçavam sorrisos tímidos.
— O que importa é que saímos vivos, e ainda mais fortes — afirmou Jack, sério, mas confiante.
Mesmo contrariado, o velho reconheceu o feito.
— Bom, parabéns por terem cruzado o inferno deste labirinto. Nem tão sãos, mas ao menos salvos.
— Agradecemos pela hospitalidade, mesmo que não tenha sido das melhores! — provocou Michel, rindo, o que fez o velho se irritar ainda mais.
— Peguem logo a carroça e sumam daqui, pirralhos insolentes! — disse, devolvendo a carroça ao grupo.
Depois de uma semana de viagem, avistaram a cidade grande. Mercadores, turistas e guerreiros da guilda enchiam as ruas. O trio se sentiu aliviado.
— Finalmente, chegamos! — gritou Jhenefer, aliviada, pensando em como seria bom finalmente tomar um banho após dias sem qualquer conforto.
— Vamos direto à guilda. Precisamos reportar o fim do treinamento e completar nosso alistamento — declarou Jack, com determinação.
À medida que a carroça passava pelas ruas da cidade, os olhares curiosos e surpresos dos cidadãos acompanhavam o trio. Embora o odor deixasse claro o tempo que passaram sem um banho, nada parecia impedir as expressões de admiração daquelas pessoas.
Na guilda, a cena era ainda mais intensa. A sala estava lotada, e o público esperava ansioso.
— Parabéns por retornarem com vida! — gritaram todos, em uníssono.
A atendente da guilda se aproximou.
— Meus parabéns! Vocês três passaram por um lugar perigoso e saíram vitoriosos. Só precisam de um banho — disse, com uma careta, tapando o nariz.
Sentindo-se extremamente envergonhados, o trio deixou a guilda o mais rápido possível e se dirigiu à casa de Frenizet, que já os esperava na porta.
— Bem-vindos de volta! Não estou surpreso que tenham sobrevivido.
Jack, com expressão fechada, respondeu.
— Que boas-vindas calorosas, senhor Frenizet…
— Não fiquem assim, achei que estariam mais alegres por terem usado seus elementos pela primeira vez — respondeu ele, com um sorriso irônico.
— Viemos apenas tomar um banho e nos arrumar. Depois, voltamos à guilda para finalizar o alistamento.
Frenizet abriu um sorriso largo.
— Claro, a casa é de vocês. Não mordo… “Eu dilacero” — disse, em tom brincalhão.
Após se limparem e se arrumarem, voltaram à guilda, onde foram novamente recebidos com aplausos, abraços e até pedidos de autógrafos.
— Todo o planeta já sabe que os três Magos Elementais Místicos reencarnaram em três jovens fortes e vigorosos — explicou a atendente, com entusiasmo. — As pessoas estão emocionadas porque foi graças aos magos que, há milênios, as terras foram defendidas dos maiores perigos. Todos esperam que vocês superem os feitos dos seus antepassados!
Jack, cauteloso, respondeu.
— É uma história fascinante, mas não criem tantas expectativas em nós agora. Estamos apenas começando.
Enquanto a conversa continuava, Michel, lembrando-se das memórias de Heated, começou a sentir um calor no peito. Olhou para a atendente e, com o rosto corado, perguntou.
— Sua família… alguma mulher da sua linhagem já se apaixonou por Heated, certo?
Surpresa, ela respondeu.
— Sim, uma antepassada minha se apaixonou por ele. Namoraram, tiveram filhos… mas ele morreu na batalha dos universos. Desde então, só nasceram mulheres na minha família, e todas herdaram a paixão pelo mago. Nenhuma de nós se apaixonou por outros homens, esperando pela reencarnação dele.
Michel, tomado pela emoção, puxou-a para perto e a beijou, deixando todos ao redor em silêncio, impressionados.
— O amor de gerações foi finalmente libertado — disse Jhenefer, observando a cena.
Após toda a comoção, o alistamento foi concluído com sucesso. Os três agora eram aventureiros oficiais e a nova reencarnação dos magos elementais.
— E agora, o que farão? — perguntou a atendente, curiosa.
— Faremos missões, desenvolveremos nossos poderes e nos estabeleceremos aqui. Em dois anos, procuraremos uma garota que foi a proteção de Wisdom. Ela será importante para nossa jornada — explicou Jack, com um plano claro em mente.
— Estamos ansiosos para ver até onde vocês chegarão! — disse a atendente, animada.
Assim, o trio partiu para uma nova fase de suas vidas, prontos para enfrentar novos desafios e com um destino grandioso à espera.
Continua… no Volume 3.