O Mistério das Realidades Alternativas - Capítulo 25
Realidade Virtual, Terra-02, (ainda no terceiro dia).
Primeiro edifício, 5º andar, enfermaria do colégio.
Ainda na tarde ensolarada daquele dia, Magnólia e Otávio estavam no quarto de Keelser, para saber como estava a sua condição física. Por sorte, ele estava se recuperando bem, logo mais voltaria a estudar com os seus colegas. Depois das notícias, eles resolveram se conhecer melhor, contando as respectivas histórias, até antes de entrarem no colégio de treinamento virtual.
— Como eu devo começar?… Bom, meu nome é Magnólia, como vocês já sabem, já concluí o ensino médio e optei a estudar aqui nessa escola em vez da faculdade — iniciou a sua fala, dando uma breve pausa.
— Mas por qual razão você optou por esse colégio em vez na faculdade? — Otávio indagou para a garota, que olhou fixamente para ele sem uma resposta clara, mas depois de muito pensar, conseguiu desembolar as palavras:
— Eu ainda não sabia o que eu queria estudar na faculdade, e as minhas notas eram medianas, nada para me orgulhar. Como eu manifestei meus poderes assim que nasci, vi uma oportunidade de me tornar uma heroína, então, entrei nesse colégio exatamente por isso. Quero me tornar uma heroína que seja bem aceita e salve todos que precisar — respondeu em um ritmo acelerado para Otávio, que o mesmo ficou perplexo pela resposta rápida e longa da garota.
— Você já feriu alguém com o seu poder? — Keelser ponderou em seguida, fazendo todos ficarem em silêncio, como se não entendessem a pergunta logo de cara.
— Acredito que não, pelo menos eu não me lembro. Também se isso já aconteceu alguma vez, eu devia estar dormindo ou algo assim, pois os meus pais nunca discutiram nada relacionado aos meus poderes. Na verdade, eles o temem por algum motivo, e levando em consideração que são divorciados, fica pior ainda a comunicação.
— Entendi… então você não sabe…
— Por que você perguntou isso, Keelser? — retrucou para o garoto, abatido mentalmente por não descobrir o que desejava.
— Para a infelicidade de vocês, eu não sou nenhum santo, muito menos um herói. Conseguem ver essas mãos? Ela está suja de sangue, um que não é meu — disse levantando as mesmas olhando-as fixamente, com grande repudia.
— Você está dizendo que… já matou alguém? — Magnólia indagou com um frio na barriga, receosa da resposta que iria receber.
— Sim, eu já matei, uma vez, há alguns anos atrás.
— Quem foi… que você matou? — Otávio questionou, com o objetivo de fazer o garoto desabafar de algo que pesava sobre seus ombros.
— Há mais de dois anos, eu estava treinando o meu poder. Nunca tive nem a oportunidade de ativá-lo, pois meus pais também temiam. O poder é a manipulação de sangue, como ja sabem. Eu assisti muitos desenhos e filmes dos personagens meditando e usando a manipulação sanguínea para curar as pessoas. Nisso eu me motivei e comecei a treinar — pausou sua fala uns instantes.
Otávio, ouvindo aquelas palavras, começou a ficar surpreso por aquele começo, olhando para o garoto como se já fosse alguém importante para ele. Porém, mal sabia o que viria a seguir — Também já assisti muitos filmes e desenhos desse tipo, sempre ficava empolgado. Mas não sabia que dava para usar as mesmas técnicas na vida real. O que aconteceu depois? — Indagou perplexo com o andar da história.
— Logo na primeira tentativa, eu estava com o meu avô, ele tinha mais de cem anos, já doente e de cama. Eu havia memorizado alguns movimentos que um personagem usava para curar as pessoas, então eu refiz a mesma coisa, porém nisso, eu fiz todo o sangue deve ser expurgado do corpo, fazendo-o morrer na hora. Quando meus pais chegaram perguntando por mim e viram todo o chão coberto de sangue com as minhas mãos sujas, logo associaram o acontecimento. Somente não fui expulso pois ainda era de menor, agora eu fugi de casa e consegui entrar nessa escola. Mas tenho certeza de quando eu sair daqui, serei preso.
— O senhor Freizen tem conhecimento disso? — disse Otávio sondando a situação, de cabeça baixa sem expressão no rosto.
Já Magnólia, ficou assustada com tudo aquilo, começando a chorar em um baixo volume sem ser muito percebida, porém, sem entender se sentia pensa ou repulsa com o garoto.
— Sim, ele já sabe de toda a história, por essa razão que me ofereceu uma vaga aqui. Eu poderia treinar meus poderes até conseguir dominá-los com perfeição para não machucar mais ninguém, mas a prisão foi algo que ele julgou indevida, pelo menos na época que ocorreu. Mas a polícia não tem esses pensamentos iguais aos dele.
— Nós vamos ficar dois anos aqui e voltar para a realidade, o que você vai fazer? — Magnólia interrogou logo após a explicação de Keelser.
— Eu não irei para a realidade, ficarei aqui até me ‘formar’, se é que posso usar esse termo.
— E como você acha que conseguiria sobreviver seis anos seguidos aqui? Temos que sair, pois nosso corpo pode ficar dependente desse lugar! — Magnólia seguiu com outra pergunta. Otávio, ainda de cabeça baixa, só ouvia toda a conversa, mas raciocinando tudo para conseguir chegar em uma solução cabível.
— Freizen disse que daria um jeito, mas não me explicou muita coisa. Posso dizer que estou aqui só esperando para ser julgado, então irei aproveitar cada momento, até esse no qual estou numa cama de hospital — afirmou com um sorriso improvisado e lágrimas escorrendo pelo rosto, sinalizando toda a tristeza que no futuro, tudo aquilo não seria mais possível.
— Bom, vamos esquecer isso por um tempo, muita coisa ainda vai acontecer até lá. Otávio, você está de cabeça baixa, não quer contar a sua história?
— Desculpe, me perdi nos pensamentos — disse levantando a cabeça como se já estivesse bem com tudo aquilo — Por onde eu começo…. Meu nome é Otávio, tenho um sobrenome também, mas ainda desconheço, nunca me falaram ele e também não achei, o porquê, não tenho a mínima ideia. Fui criado até que normal, sempre ia em casas de jogos na minha Terra, foi em uma delas que conheci a minha esposa.
— Estamos juntos há anos, mas ela sempre foi temperamental. Nisso, veio nosso único filho, Jack Park. Porém, uma ameaça nos impediu de ficarmos com ele, daí fugimos para outro país e moramos lá por mais de dezesseis anos. Só o vimos nascer, mas quando voltamos para visitá-lo, eu e a minha esposa fomos invocados para este planeta.
— Coitado do garoto, ficou a vida toda sem nem conhecer os pais, nem consigo imaginar os sentimentos dele — disse Magnólia triste pela a história, e pior ainda pelo garoto, que mal conhecia, mas já sentia pena.
— Pois é, nem ele conhece os nossos rostos e nem nós o dele. Até hoje, somos completos estranhos um ao outro.
— O que aconteceu depois que você veio para essa Terra? — indagou Keelser interessado na história confusa do cara a frente.
— Quando chegamos aqui, ativamos nossos poderes na flor da pele, sem nem perceber como. Depois viemos até essa cidade procurando quem havia nos trazido até aqui, foi então que achamos Freizen, que se disse ser o Líder do universo e a pessoa que nos invocou até aqui. Minha esposa com raiva estapeou ele, mas não aconteceu nada.
— Ela é bem temperamental mesmo, mas eu faria a mesma coisa no lugar dela, sem sombra de dúvidas — Magnólia afirmou dando pequenas risadas, mas levando tudo a sério.
— Enquanto isso, ele nos explicou que éramos do mesmo sangue, mas não falou muita coisa sobre isso, pois alguns segundos depois, a mesma pessoa que nos atormentou anos atrás, raptou ela e a levou até outro universo, mas nem eu ou Freizen conseguimos reagir. Por conta disso, ele me colocou aqui nessa escola, para treinar e conseguir ir salvar a minha esposa, mas sinceramente… estou sem pressa. Ela meio que merecia, depois de tudo que nos fez passar.
— Nossa você é frio em! Nem parece aquele homem leve de agora há pouco.
— Pois é minha jovem, nem todos aparentam o que são de verdade para os outros à volta.
— Vamos nos juntar para treinar o máximo que pudermos até atingir os nossos objetivos — disse Keelser positivamente, com a esperança de animar Otávio e Tereza.
Dali em diante, os laços foram sendo construídos de pouco em pouco, até se fortalecendo ainda mais. Após isso, uma semana se passou. Keelser já havia saído do hospital e estava estudando tudo sobre corrente sanguínea e seus caminhos no corpo humano. Magnólia estava buscando ativar mais rapidamente seu poder e Otávio, falhando em tudo, pois não conseguia achar nenhum meio de como ativar seu poder.
Como ninguém anteriormente possuía o mesmo poder, não havia nada nos livros na biblioteca, então ele teve que ralar para descobrir por conta própria, falhando miseravelmente. Porém, seus pensamentos eram neutros, nenhuma emoção era manifestada, más nem ele desconfiava disso, pelo menos não até aquele momento.
Uma semana depois…. Segundo edifício, turma 1-A.
De volta à escola, Otávio, Keelser e Magnólia retornaram novamente para a sala de aula, cheia de alunos igual ao primeiro dia. Logo de cara, já se percebia alguma evolução em todos os rostos, como se algo grandioso já estivesse acontecido dentro de só uma semana. O trio, surpreso, olharam um para o outro, como se quisessem entender e andaram até a carteira, na qual sentaram e esperaram Kibitor, seu professor.
— Bom dia turma, como foram os estudos, aprenderam bastante?
Alguns alunos acenaram com a cabeça positivamente, mas outros nem se mexiam de vergonha. Kibitor olhando para aquilo, deu um leve sorriso, bateu três palmas em alto som para chamar a atenção de todos.
— Quem não conseguiu nada, não se preocupem. Tive tempo de analisar alguns de seus poderes, então irei ajudá-los hoje. Primeiramente, senhor Otávio, pode vir à frente da sala?
Ele olhou de um lado para o outro, todos olhavam para ele, percebendo que iria se dar mal logo de cara. Otávio, muito respeitoso e angustiado, se levantou da carteira e foi em direção ao quadro, do lado de Kibitor.
— Analisei o seu poder com o senhor Freizen. Ele disse que você o ativou sem querer assim que chegou na nossa Terra. Ele teorizou que isso pode ter acontecido pela a sua emoção extasiada, a flor da pele ou mais simples, assustado. O que eu quero dizer é, que seu poder só vai ativar se os seus sentimentos estiverem fortes, dor, medo, determinação, felicidade, ódio… precisa elevar qualquer um desses para conseguir usar o poder.
— Mas como eu vou ativar assim do nada? Não é tão simples como parece — disse Otávio preocupado pelas as informações que recebeu.
— Não se preocupe, eu tenho uma solução. Turma, vamos para o terraço, nossa aula hoje será lá em cima.
Os alunos ficaram sem entender nada, mas se levantaram e seguiram Kibitor até o terraço, que era mais de vinte metros do chão abaixo. A visão era bem ampla, até se conseguia ver outros prédios bem mais longe daquele da escola, mas em contrapartida a visão do chão não era nada agradável, estava mais para assustador.
— Hoje vamos testar seus poderes literalmente praticando. Otávio, segure esse travesseiro. Irei te jogar daqui de cima, então na caída, terá que transformar esse travesseiro em algo que amorteça a sua queda e não te mate, vai depender do seu rápido pensamento e imaginação.
— O senhor quer que eu caia dessa altura? Ficou louco? — indagou aterrorizado para o professor. Todos da turma também ficaram surpresos e com medo pelo o que o professor faria com cada um deles.
— Como você precisa de uma carga de emoção muito forte, nada melhor que o medo ou o desespero de morrer, não é mesmo? Com essa prática, você pode sempre se lembrar dela para ativar seu poder.
— E eu vou assim, sem equipamento nenhum? — indagou ainda mais preocupado com o seu bem-estar.
— Claro que não, olha o seu travesseiro aí, é só transformá-lo em algo com o seu poder!
— E você fala como se fosse a coisa mais fácil do mundo.
— Se tudo isso fosse tão fácil, essa escola não existiria para início de conversa. Então deixe de ser um frango e caia logo!
Todos estavam aflitos com tudo aquilo, mas sem pensar duas vezes, Kibitor jogou Otávio sem aviso do prédio. Ele, desesperado, não sabia o que iria fazer com o travesseiro, o vento em seu rosto não o deixava pensar em nada naquele instante. A morte era certa, porém, com o medo da morte iminente, algo veio à sua cabeça e se formou do travesseiro. Entretanto, não era certeza se o objeto formado iria salvar, ou garantir a sua morte mais rápido.
Continua…