Isekai Corrupt - Capítulo 15
— Quantas batalhas até a morte você já venceu, parceiro? Sua força agora só confirma o quanto você é impressionante — comento, admirando o urso caído diante de mim.
Ouço uma risada rouca vindo do urso, pensei que estivesse inconsciente.
— Salvar o seu inimigo depois de derrotá-lo em um combate até a morte é uma atitude ultrajante, sabia? Filhote de homem — diz o urso, ainda no chão, a cura já quase completa, fechando a ferida em seu peito.
— Você sabe muito bem que isso não foi uma derrota sua e muito menos uma vitória minha.
— Blasfêmia! Não há espaço para isso em um combate até a morte! Ou você vence e vive, ou perde e morre. É assim que funciona, mas você ainda não percebeu isso — repreende-me.
Suspiro e me afasto, encostando-me em uma árvore.
— Não acha que está muito calmo para quem está ao lado de uma fera mortal? — pergunta o urso, seu tom um tanto ameaçador.
— Você não vai me matar — retruco, firme.
— Por que acha isso?
— Porque você não é esse tipo de criatura. Você não me mataria depois de ser salvo por mim. É orgulhoso demais para isso, não é?
Ele ri novamente, embora pareça estar sofrendo com a dor.
— Você é o primeiro ser humano que me derrotou em um combate um contra um, e a segunda criatura viva a me derrotar assim — ele revela.
— Sério? Quantos humanos você já enfrentou até agora?
— Você foi o sexto. Os outros sempre morriam com um único golpe.
“Basicamente o que teria acontecido comigo se tivesse levado um golpe em cheio dele na nossa primeira luta… não tem como eu ficar feliz ao saber disso”, penso, e Md concorda.
— E essa outra criatura que te derrotou? — pergunto, curioso.
— A cobra maligna. A criatura mais forte desta floresta — ele responde, olhando na direção de onde sentimos aquela aura sinistra mais cedo.
Ele enfrentou aquela criatura sozinho. Isso me deixa chocado, as chances de eu, por espontânea vontade, fazer isso são praticamente nulas.
— Não consigo imaginar o quão poderosa ela deve ser — comento.
— O ferimento na minha pata direita, consegue ver? — ele pergunta, e eu confirmo. — Ela que causou. E não só isso, mas também me jogou um veneno que me tirou boa parte da minha visão; hoje em dia, só consigo ver sombras e há vezes que não vejo nada.
— O que?! — exclamo, perplexo.
“Quer dizer que ele me deu todo esse trabalho com uma ferida de uma batalha anterior e ainda por cima uma cegueira extremamente alta?! Que porra de urso é esse?! Não consigo acreditar. Se ele estivesse no 100% dele, eu teria sido derrotado completamente.”
Agora algumas coisas faziam sentido.
“Vou confiar na minha percepção de presença”, foi o que o urso havia dito durante o combate. Ele não me enxergava durante a luta, apenas seguia meus movimentos por meio de sua audição e olfato.
O golpe que acertou nele não foi sorte; ele não podia desviar porque não conseguia enxergar direito. Por isso, ao invés de tentar esquivar, ele se arriscou a levar o golpe e proteger a área acertada usando mana.
Essa criatura o tempo todo estava lutando contra mim e suas próprias fraquezas, se adaptando e superando-as para me vencer durante o combate.
— Incrível! Você é incrível! Cara, qual é o seu nome? — pergunto, animado, quase esquecendo da dor por um momento, até que lembro e me encosto novamente na árvore.
— Me chamo Kroug, mas não uso este nome nessas terras — ele responde, orgulhoso.
Assim que termina de se curar totalmente, ele se levanta e se vira para mim.
— Agradeço pela luta e por ter salvo a minha vida. Mas luta é luta, você me salvou, então agora a minha vida é sua — diz, olhando seriamente para mim.
— Ah… calma aí, eu não quero sua vida ou algo assim. Para mim, se você continuar ficando mais forte e a gente puder continuar lutando de vez em quando, já seria muito bom — falo. Estou sozinho em um mundo desconhecido, e em breve farei inimigos. É importante fazer amizades também, e devo dizer que meu respeito por Kroug aumentava a cada segundo.
— Bom, se é o que você deseja, então estou de acordo. Caso precise de algo em que eu possa ajudar, você pode me falar. Agora, gostaria de me nomear?
Levanto a sobrancelha, sem entender muito bem o que isso significava.
— Te nomear? — indago.
— Na meu povo, quando se é derrotado por alguém e essa criatura poupa sua vida, você deve receber de bom grado o nome dado por essa mesma criatura. Esse nome pode servir tanto como uma humilhação para me lembrar desse fato de que minha vida ficou em suas mãos, ou então uma forma de firmar um acordo entre nós dois.
— Que tipo de acordo…?
— De agora em diante, eu sirvo a você, pois teve minha vida em suas mãos. Irei servi-lo até que eu fique forte o suficiente para desafiá-lo e matá-lo.
Engulo em seco nessa parte, mas acho interessante a ideia de ele me servir.
“Seria de grande ajuda contra o Joe. Espera! Dá pra usar ele contra o Joe! Um dos meus maiores problemas era a possível diferença de força entre eu e ele, mas agora, junto com Kroug, a chance de vitória aumentou significativamente”, penso, animado para contar a Erick sobre as mudanças no plano que havia pensado.
— Tudo bem então! Aceito esse acordo por enquanto — falo.
— Certo. E qual será meu nome?
— Será Douglas!
O mesmo nome do meu pai, a pessoa que me ensinou tantas coisas desde o dia
em que pisei no meu mundo natal. Agora, nesse mundo fora esse urso. Por isso, quero nomeá-lo com o nome de meu pai.
— De agora em diante, até matar você, serei Douglas.