Invoker - Capítulo 1
A brisa acariciava seus cabelos, exuberantes como uma floresta em plena vida, dançando ao sabor do vento que anunciava a chegada da primavera. Nos campos, a atmosfera se enchia de celebração, marcando não apenas o início do ano letivo, mas também um novo capítulo na vida de Allister. Seus cabelos, uma promessa verdejante, embalavam o compromisso de buscar justiça para aqueles que dizimaram seu vilarejo, incluindo o tirano rei mago e toda a cidadela.
Imbuído pela ardente sede de vingança, Allister estava decidido a confrontar o governante daquelas terras, motivado pela tragédia que havia ceifado a vida de seus irmãos e irmãs durante o brutal massacre em sua vila, liderado pelo rei mago de Endy, no continente Laka.
A paisagem ao redor era um espetáculo inspirador, com campos floridos estendendo-se até onde a vista alcançava, e morros adornando o horizonte sob um céu azul e radiante. Ao longe, camponeses diligentes cuidavam de suas hortas, aproveitando a tranquilidade do momento para refrescar-se com a suave brisa e um pouco de água.
Endy, o reino da magia, representava uma civilização que elevou o uso da magia a uma fonte de energia, impulsionando a tecnologia ao extremo, embora não sem sacrifícios, como a alvenaria, o espiritismo e o estudo da alma.
A necessidade de Allister retornar à cidade o guiou, e, com um gesto gracioso de sua mão e um estalar de dedos, um portal se materializou. Ao atravessá-lo, encontrou-se diante da recepção da academia, onde a atmosfera peculiar se desenrolava. Poltronas e cadeiras de estilo medieval decoravam o ambiente, adornadas com brasões e espadas nas paredes, enquanto um balcão robusto de pedra dominava o centro. À medida que se aproximava das recepcionistas, telas começaram a flutuar diante dele, uma expressão tangível do domínio dos alquimistas sobre a magia.
Allister retirou seu calculário, um pequeno dispositivo quadrado com uma tela que exibia uma variedade de informações. Utilizou-o para realizar o cadastro na recepção. A recepcionista começou a recitar uma melodia, harmonizando-se com o brilho dos círculos que pareciam dançar conforme o timbre. Apesar de ser uma inteligência artificial, tudo naquela sala transmitia uma sensação de naturalidade.
— Pronto, está registrado; pode entrar — disse a recepcionista, enquanto Allister ficava atônito com o que acabara de experimentar.
Subitamente, outro andróide se aproximou e falou:
— Bom dia, senhor. Em que posso ajudar?
Allister, com sua percepção aguçada, deu um pulo, fazendo seu calculário girar no ar antes de cair no chão.
— Sala 315-D, por favor?
A androide pegou o dispositivo enquanto ele caía, recitou uma nova melodia, e uma linha azul começou a se formar diante de seus olhos. Apesar de sua simplicidade, aquela magia surpreendia os olhos de Allister, que se levantou, pegou o objeto da mão da bela andróide e, admirado pelo que acabara de ocorrer, seguiu a linha de tons azuis.
Ao chegar à sala, a linha desapareceu, e Allister levantou a cabeça. Seu coração palpitava um pouco; já havia alguns alunos por lá, criando um ambiente movimentado que lembrava uma feira matinal. No entanto, algo no meio da agitação capturou sua atenção. Uma garota de cabelos prateados estava sentada no centro da sala, concentrada em um livro, escapando dos olhares populares, mas recebendo o olhar surpreso e doce de Allister. Sua boca ficou aberta por alguns segundos, e um mosquito curioso aproveitou a oportunidade para entrar, buscando sangue.
De repente, Allister sentiu um empurrão; sua boca se fechou, e ele tossiu, afastando o mosquito. Isso o tirou daquela breve hipnose. Allister iniciou o trajeto em direção à última mesa, com a forte sensação de estar sendo observado.
“Parece que não há motivo para ela me notar agora.” — Pensou enquanto se acomodava.
Ao se sentar, Allister dirigiu seu olhar pela janela, contemplando as nuvens azuis que se moviam tranquilamente no horizonte. No entanto, a sensação de serenidade começou a transformar-se em desconforto. Ao virar lentamente o pescoço, avistou uma garota na outra ponta da sala, de cabelos azuis, olhos púrpuras densos e quase sem vida, e orelhas pontiagudas. Allister resgatou de sua memória informações dos livros que indicavam que elfos eram sinais de vitalidade e emoções felizes, mas aquela figura diante dele representava o total oposto.
De maneira abrupta, sem dar qualquer sinal prévio, o professor entrou na sala falando:
— Bom dia, alunos. Não tenho tempo para explicações; quero que todos me acompanhem até nossa sala de testes.
O susto tomou conta de todos; ninguém havia percebido aquela figura entrar na sala, nem mesmo quem estava do lado de fora percebera seu trajeto pelos corredores. A confusão se instalou, e, de repente, os calculários de todos começaram a brilhar, projetando um caminho. Allister deduziu que aquelas luzes só poderiam levá-los à sala de testes e começou a seguir o caminho novamente. Durante o trajeto, percebeu que a garota de cabelos prateados estava ao seu lado. Ela virou os olhos para ele e sorriu, depois apertou o passo e seguiu em frente, deixando Allister um pouco sem jeito.
“Que sorriso encantador. Será que, depois de tudo isso, conseguirei sobreviver para vê-la novamente?”
Ao chegarem ao final do caminho, depararam-se com um salão gigantesco, repleto de outros alunos, portas nas laterais e um palco ao fundo, onde algumas pessoas observavam a multidão com certo desdém. Allister sentia-se completamente desconfortável com aquele ambiente. Quando o salão ficou lotado, uma daquelas pessoas levantou-se, dirigiu-se ao centro e começou a falar:
— Bem-vindos à nossa academia, caros novos alunos. Não temos muito tempo para apresentações. Por favor, formem trios e entrem nas portas. Teremos um teste final para saber quem realmente merece estar aqui. Vocês têm trinta minutos para se preparar.
Foi um choque total; muitos ficaram sem entender nada. Parecia ser mais um teste de entrada. Allister começou a ter um turbilhão de pensamentos.
“Estou perdido. Como vou passar assim? Deveria ter ouvido minha mãe e feito amizades. Mas agora não sei nem por onde começar, e isso é eliminatório? Não há regra alguma.”
De repente, ele ouviu um riso no meio de tantas falas; era a garota de cabelos prateados, que estava próxima dele. Um aroma doce começou a se espalhar pelo ar, de uma maneira meio nostálgica para Allister. Ele respirou fundo e foi em sua direção.
— Vem comigo.
— Mas…. AHHH!
Allister foi andando sem direção, sentindo novamente o incômodo de ser observado. Procurou a garota de cabelos azuis e dirigiu-se até ela, pegando em sua mão e indo até um dos cantos do salão, onde o movimento era menor.
— Desculpe agir assim do nada, mas vocês duas foram as primeiras pessoas com quem tive alguma interação. Podemos formar um trio? O que vocês são? Magas? Alquimistas?
Allister estava extremamente nervoso; nem mesmo o aroma doce e nostálgico o acalmava. Tudo o que queria era garantir a passagem no teste e seguir com seus planos. Uma falha agora significaria o fim de toda a sua trama.
— Você parece assustado. Só pelo fato de ter pego na mão de uma garota sendo introvertido assim, acho que vale a pena estar no seu grupo – respondeu a primeira.
— Okay – respondeu a segunda, com um certo brilho nos olhos, mas incapaz de expressar emoções em seu rosto.
Allister sentiu alívio. Então percebeu que ainda estava de mãos dadas com as duas. Rapidamente, ele soltou as mãos, fazendo a garota de cabelos prateados rir novamente.
— Não sei seu nome ainda; prazer, me chamo Selena. – Disse com um sorriso alegre em seu rosto.
— Linea. – Disse a segunda ainda com aquele brilho nos olhos.
Allister voltou a ficar inseguro. Imaginou milhões de maneiras de se apresentar e, no final, após uns cinco segundos, simplesmente disse:
— Oi, eu me chamo Allister. Espero ajudá-las a passar nisso!
Selena sorriu para Allister, e Linea manteve o mesmo padrão. Ele entendeu que tinha sido aceito por elas, ficando mais aliviado e continuando a falar:
— Bom, vamos preparar nossas coisas. Precisamos bolar uma estratégia. Qual classe vocês são?
— Eu sou uma alquimista – Respondeu Selena, exibindo um anel.
— Bruxa – Respondeu Linea, trocando a roupa social por vestes de alguém versado em artes marciais.
Em Endy, existiam diversas classes. Todos despertavam a magia até os 10 anos, e cada um podia escolher qual caminho seguir. Algumas famílias eram conhecidas por todos serem da mesma classe; outras destacavam-se pelo controle mágico. Entretanto, a academia em questão destinava-se apenas à formação militar. O foco era em magos, indivíduos com excepcional controle mágico e conhecimento das diversas formas de causar dano ao inimigo; alquimistas, que sempre se esforçavam para melhorar os atributos dos aliados e prejudicar os inimigos; e bruxos, especialistas em poções que podiam concentrar doses muito maiores do que um humano normalmente conseguiria. As poções eram usadas principalmente para causar grandes danos, embora geralmente fossem demoradas para serem feitas, e, portanto, os bruxos não costumavam entrar no campo de batalha.
— Você usa um anel? E você, por que está vestida assim? — Indagou Allister, expressando sua curiosidade.
— Eu acho este anel lindinho, não acha? Olha que fofinho. — Disse Selena, mostrando o anel para todos. — Ele foi um presente do amor da minha vida.
Allister ficou preocupado; para ele, todos que usavam magia deveriam ter um cajado ou livro como canalizador. O reino não conhecia outras formas de canalizar energia; era um assunto pouco explorado naquele continente.
Linea se levantou e mostrou algumas pílulas para Allister.
— São minhas poções, demoram muito menos e são mais fortes.
Allister só viu um punhado de bolinhas coloridas, como se fossem doces infantis.
“Elas não vão durar; uma acha que o anel dá poder e outra acha que bala é poção. Eu tô ferrado aqui.”
Allister voltou a ficar preocupado, pois o que aquelas duas diziam a ele não fazia muito sentido, o que o fez pensar que elas não seriam úteis ou teriam condições de gerar alguma vantagem estratégica. Selena, um pouco ranzinza naquele momento, perguntou:
— E você vai usar o quê para combate?
— Este aqui serve? — Disse Allister tirando um cajado com uma aparência antiga e uma pedra branca no topo. Linea ficou olhando o cajado com uma certa dúvida em seu olhar, e Selena riu um pouco:
— Que coisa antiquada, como ele canaliza energia?
— Um ferreiro que a fez pra mim.
— Um ferreiro? Achava que os ferreiros só fizessem espadas. Como ele fez? — Retrucou Selena em tom de curiosidade.
Allister começou a ficar sem respostas quando os professores começaram a clamar por atenção; o desafio estava prestes a começar:
— O teste vai funcionar assim: As equipes vão se enfrentar, cada ato vai gerar pontos ao trio, distribuídos pelo trio de professores. Ganha o trio que, em 5 minutos, fizer a maior quantidade de pontos. Os trios que não passarem serão expulsos.
“Agora sim, estou lascado.” – Pensou Allister ao ver Selena mexendo em um pote de maquiagem, como se fosse retocar, e Linea fechando as luvas e guardando seus “doces” num compartimento com alguns botões.
— Para entrar no portal, vocês devem dar as mãos e entrar juntos; caso alguém solte a mão, o trio será eliminado. Lá terá um juiz para realizar as sinalizações, e quando acabarem, os vencedores retornarão para este salão, enquanto os perdedores serão transportados direto para o setor financeiro.
Selena havia terminado a maquiagem e estava colocando as coisas de volta em sua mochila. Linea, com o mesmo semblante de sempre, apenas levantou a mão para Allister. Ele pegou na mão dela e, em seguida, pegou na mão de Selena novamente. Nervoso sobre o teste a seguir, ele começou a respirar fundo.
— Vamos conseguir, moço. Fique tranquilo. — Disse a maquiada Selena, puxando o trio em direção a uma porta.
Os portais começaram a se abrir, e no teto do salão, um contador apareceu. Todos tinham três minutos para entrar em uma porta e começar aquele teste. Allister, Selena, e Linea foram até o mais próximo, pararam na frente, apertaram muito bem as mãos um do outro, e, juntos, deram o primeiro passo.
Era uma sensação de calor, o suor era sentido por todo o corpo, e a garganta sedenta implorava por um pouco de água.
— Ai, Selena? Linea? — Disse Allister, deitado e sem entender nada do que estava ocorrendo.
— Estou aqui. — Respondeu Selena, apertando a mão de Allister, que já havia acordado há um tempo.
— Eu. — Respondeu Linea.
Allister abriu os olhos e viu as duas olhando para ele; um sentimento de nostalgia pairou sobre ele naquele momento.
“Ela lembra um pouco minha mãe e minha irmã.”
Porém, Allister começou a esfriar repentinamente.
— Vocês estão sentindo?
— Só sua mão suando. — Respondeu Linea, olhando fixamente para minha mão.
“Ah, se eu pudesse retrucar.”
Selena se levantou e colocou dois dedos na testa; rapidamente, ela apontou para a direita. Linea se levantou, apertou um botão daquele aparato e comeu a bala. Uma aura começou a envolvê-la e, num piscar de olhos, seu corpo se moveu na direção onde Selena apontou, projetando um soco.
— O que foi isso?
Um corpo foi jogado para frente de Selena. Ela então acariciou o seu anel com o dedão e o inimigo começou a levitar em sua frente. Ela repetiu a ação mais três vezes, fazendo a pessoa na minha frente urrar de dor.
— Cuidado, senão uma mosca vai entrar na sua boca, viu? — Disse, se virando e me vendo de boca aberta.
Alister começou a ouvir mais gritos; eram os outros dois que Linea havia achado. Eles vieram correndo na direção dos outros dois, e Selena saiu do caminho, deixando-os com el para finalizar.
O cajado começou a brilhar, e uma salamandra de fogo saiu, gerando uma marca verde no braço de Allister. Ela começou a rodear os dois restantes e os prendeu numa jaula de fogo. Linea chegou correndo, socando a jaula, e Selena continuou a golpear com os toques em seu anel.
Rapidamente, os três voltaram para a frente do salão, onde a contagem ainda estava na casa dos 30 segundos.
“Oh, eles já acabaram?”
“É um novo recorde?”
Os burburinhos só aumentavam; os professores olhavam perplexos com aquilo tudo.
— Fomos tão bem, será que vai ter um prêmio pra nós? — Disse Selena, não se importando muito com a situação.
— Minhas mãos continuam com o suor do Allister. — Retrucou Linea.
— Não te dou mais a mão, pode ser?
— Não, continue me dando a mão, mas sem suor. — Disse Linea, enxugando a luva nas vestes de Allister.
— Ah… tá, mas pare de reclamar. — Disse Allister afastando as luvas com um certo nojo.
— Sinto que vamos nos dar muito bem juntos. – Finalizou Selena.
— Como assim? vamos ficar juntos pra sempre?
— É a regra, não é?
— Han, como assim?
— Não estava sabendo da regra, senhor “essas duas não sabem lutar.”
Allister franziu a testa e retrucou:
— Mas como voc…. Selena tocou o anel, e a boca de Allister se fechou, fazendo ele morder a língua no processo. Linea correu e segurou a mão de Selena:
— Não pode brigar.
No meio deste caos todo, um grupo de soldados chegou no estádio. Eles foram na direção dos juízes e conversaram com alguns membros; logo depois, o mestre de cerimônia foi ao microfone falar:
— Selena, Allister e Linea, favor se apresentar ao comitê de juízes; os soldados irão te levar até lá.
“Fudeu, eles me descobriram.”
Selena sorriu e logo começou a andar na frente.
— Bem feito, na próxima me respeite, hmpf. — Disse num tom de desdém misturado com chateação.
Os três foram acompanhados dos soldados até a sala; chegando lá, havia muitos móveis e algumas pessoas, dentre elas uma com as vestes um pouco mais brilhantes e elegantes. Ele pediu que todos se retirassem e ficou a sós com o trio de novatos.
— Oh, vejo que chegaram cedo desta vez. — Disse o elegante homem com uma voz serena.
— Hmpf, é que eu sou maravilhosa, um gênio, né Linea? — Retrucou Selena.
E Allister só ficava mais e mais nervoso, suas mãos voltaram a suar, e de repente, ele ouviu uma voz em sua mente.
“Vai acabar tudo bem, você agora tem aliados poderosos para te auxiliar.”