Imperador da Glória Eterna - Capítulo 41
A esfera negra de Vítor saiu da terra, a visão não era de Vitória ou esperança. A cidade celestial jazia em ruínas, uma espeça neblina cobria a cidade, impedindo-o de enxergar qualquer coisa a um palmo de seu rosto.
Um forte vento empurrava Vítor pelas ruas desertas, havia um cheiro forte de carne queimada e de cadáveres em decomposição, “Quanto tempo ele fiquei desacordado?”, questionou-se, enquanto colocava o braço na frente dos olhos para se proteger da poeira e tentava andar contra a ventania.
Tropeçou em algo em seu caminho, era um corpo, na verdade, o que sobrou de um. Estava brutalmente mutilado, com as costelas abertas para fora, a carne já havia sido totalmente devorada, sobraram apenas ossos. Avançou, e a cada passo, mais e mais cadáveres apareciam, todos em um estado de decomposição avançado, sem os olhos e quaisquer outros órgãos internos.
Não se abateu com a visão, continuou em frente, seu destino era o cofre celestial, e ele iria chegar até lá. No entanto, um obstáculo inesperado surgiu em seu caminho: a ampla avenida principal da cidade terminava abruptamente em um penhasco. A ilha flutuante que sustentava a Cidade Celestial havia se partido, e a névoa espessa impedia-o de ver se havia uma passagem segura do outro lado, e era um desafio arriscado usar a névoa negra para tentar chegar ao outro lado sem saber a distância para tal voo. Vítor teria que encontrar outro caminho.
Ele ergueu o olhar e, através das camadas de névoa, viu uma rajada de luz quebrar a escuridão, seguida por gritos e vozes distantes. Aos poucos, uma silhueta tomou forma: um barco celeste emergia do nevoeiro, suas velas rasgadas e desgastadas. O casco da embarcação exibia rachaduras e marcas de colisões com os prédios da cidade. E, como abutres famintos, insetos gigantes de Judas Imortal voavam ao redor do navio, atacando os tripulantes.
— Minha carona chegou — murmurou Vítor com um sorriso confiante.
Sem perder tempo, Vítor conjurou uma ponte improvisada de névoa até uma das laterais do barco. Enquanto escalava, uma nova rajada de luz cortou o céu, obliterando os insetos que pairavam no ar com um feixe incandescente. “Uriel,” pensou imediatamente, reconhecendo a assinatura do ataque. Bem, não tinha muita escolha, ele teria que pedir ajuda aos Dragões do Sol, que pareciam ser os tripulantes do navio.
Ele saltou no meio do convés, sua primeira visão foi a de uma aranha avermelhada de doze patas, com quase dois metros de comprimento, investia contra uma garota de cabelos laranja, presa pela perna em uma das teias pegajosas da criatura. Sem hesitar, Vítor conjurou sua espada negra e desferiu um golpe, cortando várias das patas do invertebrado, que voltou sua atenção para ele, enfurecida.
— Venha para mim, sua coisinha insignificante! — provocou ele, fixando-se na aranha a tal ponto que não notou outro inimigo aproximando-se por trás.
Garras afiadas fincaram-se em seu ombro, levantando-o do chão. Vítor sequer se virou para ver o agressor. Em um movimento rápido, ergueu a espada e a girou por cima da cabeça. O inseto o soltou, soltando um grito estridente, enquanto fluidos verdes espirravam sobre seu uniforme.
— Droga! Nunca consigo manter o uniforme limpo! — resmungou, antes de desferir o golpe final na aranha vermelha.
— Obrigada — disse a garota, com uma voz tímida, ao se levantar e tentar desgrudar a teia de sua perna.
— Dragões do Sol? — questionou Vítor, aparando o ataque de outra aranha. A teia não tinha efeito contra a arma feita de névoa, e ele eliminou o inimigo com facilidade.
— Sim, e você? — respondeu a garota, um pouco mais confiante.
— Apenas um lobo solitário — murmurou, sem desviar os olhos. Sua atenção agora estava em um terceiro oponente, outra aranha ameaçadora. — Onde está Uriel?
A resposta veio com a repentina evaporação da criatura diante dele. Na popa, Uriel estava de pé em toda sua glória, com uma armadura branca reluzente e uma lança brilhante, a mesma que disparava rajadas de luz pelo céu.
— Me procura? — indagou o líder dos Dragões do Sol, com um leve sorriso.
— Sim, preciso de você. — Vítor lançou um olhar firme para ele, e, em um instante, a névoa negra tomou o convés, engolindo todos os insetos a bordo e formando uma redoma que protegia a tripulação dos inimigos do lado de fora.
uas longas tranças loiras pendiam até a cintura, balançando suavemente.
— Então, Lilia não é a única que se lembra do último ciclo… — murmurou ele, conjurando sua espada e adotando uma postura de batalha.
Com exceção de Zoe, todos ao redor o imitaram, apontando suas armas para ele em prontidão.
— Vai mesmo me atacar? — Zoe riu, sem um traço de preocupação na voz.
— Depende do quanto você sabe… e do quanto eles sabem — respondeu Vítor, preparado para se defender a qualquer momento.
— Qual é a sua intenção aqui? O que quer conosco? — Uriel desceu da popa e avançou até ele, a expressão tensa enquanto observava o poder do recém-chegado.
— Preciso chegar ao outro lado do penhasco. E vocês vão me ajudar — declarou Vítor, erguendo sua lâmina em direção a Uriel.
— Calma, Vítor. Vamos te ajudar, não se preocupe — interveio Zoe, em um tom suave para acalmá-lo.
— Duvido… Então, o que você sabe do último ciclo? — Ele deu alguns passos para trás, aproximando-se da borda do navio, pronto para pular se necessário.
— Você me proibiu de falar sobre isso — respondeu Zoe.
— Eu? — A gargalhada de Vítor ecoou pelo convés, e então ele assumiu uma expressão séria. — Vou perguntar de novo: o que você sabe sobre o último ciclo?
— O suficiente para entender o que você quer no cofre celestial. Estou aqui para ajudar — Zoe se aproximou devagar, as mãos erguidas em sinal de paz.
— Se eu não estivesse desesperado, sua cabeça já estaria empalada na minha espada, e eu teria uma nova marionete. Teve sorte, Zoe — ele retrucou, embainhando a espada e observando os Dragões do Sol, muitos dos quais, ele mesmo havia matado no último ciclo.
— Parece que você já me conhece. De qualquer forma, prazer, sou Uriel — disse o líder da guilda, estendendo a mão para cumprimentá-lo.
— Nossos encontros não foram nada agradáveis. Agradeço pela cortesia, mas não seremos amigos — Vítor ignorou o gesto, dirigindo-se para a cabine de comando, pronto para guiar o navio ao cofre celestial.
Uriel rangeu os dentes, ofendido pela insolência, mas manteve a compostura. Zoe, ao lado, escondeu uma pequena risada por trás da mão.
— O que está acontecendo e para onde estamos indo? — insistiu Uriel, tomando o timão.
— Uma calamidade atacou a cidade celestial. Precisamos chegar ao cofre e adquirir um artefato para destruí-la — respondeu Vítor, ainda desconfiado das intenções de Zoe, e omitindo detalhes sobre a verdadeira natureza do inimigo.
— E você? De qual guilda vem? — Uriel perguntou, girando o timão sem enxergar nada por conta da névoa espessa ao redor.
— Ele é o Vítor de quem lhe falei — intrometeu-se Zoe.
— Sorte grande, hein? — Uriel piscou e deu uma leve cotovelada em Vítor.
— Que o diabo a carregue — resmungou Vítor, sem sequer olhar para eles.
O barco celeste cruzou a borda do penhasco, eles podiam escutar as criaturas do lado de fora, tentando atravessar a barreira de névoa, mas incapazes de quebrá-la.
— Essa sua habilidade é invejável, qual é a sua classe? — Uriel tentava quebrar o clima tenso criado por Vitor, e fazia perguntas de tempos em tempos para tentar adquirir informações úteis.
— Ele é um senhor da névoa — A garota de cabelos laranjas entrou na cabine. Ela sorria e segurava um cajado quase da altura dela. O cajado possuía uma esfera flutuante negra na ponta.
— Amélia! Deixe nosso convidado responder… — Uriel a olhou com raiva.
— Desculpa. — A jovem envergonhou-se e ficou quieta, sentada em um canto da cabine.
— Ela é mais esperta que você — rebateu Vítor em um tom debochado, e um aceno discreto para Amélia. — Coisas obvias que podem ser notadas por uma criança.
— Sabe, os Dragões do Sol poderiam usar um herói do seu calibre, talvez você pudesse ser meu vice-líder, o membro atual dessa função não está com um desempenho adequado.
— Nem morto, já tive a minha cota com vocês, porém não me arrependo das minhas decisões, era necessário naquele momento.
— Vítor, contra o que estamos lutando? Isso é obra do ‘Olho do Tigre’? — Zoe perguntou, e impediu Uriel, em seu limite, de falar algo indevido para Vítor.
— Judas Imortal, não tenho a mínima ideia do que é essa calamidade, apenas que é a responsável pelos nossos inimigos. O ‘Olho do tigre’ também está a solta em algum lugar da cidade celestial, mas não é a nossa prioridade no momento.
“Como ela sabe sobre essa calamidade? Mesmo que ela mantivesse as memórias do último ciclo, o ‘Olho do Tigre’ nunca apareceu antes… Isso significa que alguém contou para ela. Talvez eu mesmo tenha contado e pedido que guardasse segredo.” Vítor se perdeu em seus pensamentos, tentando decifrar o comportamento e nas falas de Zoe. Algo havia acontecido no último ciclo, depois da sua morte nos esgotos de Etterbachen… ou talvez antes.
Ele tentou vasculhar a mente em busca de alguma pista, mas tudo o que surgia era a imagem do rosto dela, irado, enquanto era aprisionada na dimensão das sombras. Nada do que lembrava fazia sentido. Ainda preso em sua mente, notou o silêncio absoluto ao redor; ninguém mais parecia disposto a comentar.
— E então? Chegou a alguma conclusão? — perguntou uma voz às suas costas.
Lá estava eu, sentado na cadeira do capitão, uma presença espectral, meu corpo uma silhueta disforme feita de montes de papel rabiscado.
— O que você quer, Escriba? — Vítor suspirou, exausto.
— A equipe de Herman encontrou alguns obstáculos. Você terá que pegar a ampulheta de Cronos e ativá-la sozinho. Para isso, será necessário sangue divino. Não será uma tarefa fácil.
— Onde está a Deusa? —
— Está descendo para a Cidade Celestial. Logo ela chegará. Lembre-se de que, desde que Godslayer exterminou o antigo panteão, a Deusa alcançou um poder próximo à onipotência. Felizmente, só precisamos de uma gota de sangue.
— Não se preocupe. Ela sangrará.
— Erobern tem fé em você. Não o desaponte. Estarei por perto, caso precise de mim…
— Você sempre está.
— Esse é o meu dever — respondi, com um tom leve. — Como a manifestação da vontade ativa de Erobern, estou em todos os lugares, vejo o que acontece agora, o que aconteceu e o que ainda virá. Agora, se me dá licença, tenho de começar a projetar o reinício do último ciclo.
— Antes que vá, tenho uma questão para lhe fazer. Como Zoe e Lilia mantiveram as memórias do último ciclo? E por que raios eu tinha dois ovos de calamidade, sendo que Herman me entregou apenas um?
— É uma boa questão, sobre as duas garotas, mantive as memórias delas para conseguir criar o cenário ideal para o plano de invasão do cofre.
— Foi você?
— E quem mais seria? Eu sou um dos poucos, com exceção dos moderadores, que tem acesso ao código-fonte, se necessário posso mudar uma das condições de transferência de ciclo e manter a memória de certos indivíduos. Posso dizer que o plano foi executado com perfeição por um certo tempo, mas a sua mania de estragar as coisas sempre se supera. Às vezes penso se você não é um inimigo oculto que Erobern insiste em não ver.
— E quanto a Judas Imortal?
— Estou investigando isso no momento, até o momento, a invocação da calamidade de nível B, parece estar intimamente conectada ao poder de Lilia, porém com a morte dela e a destruição do cadáver, não consegui as respostas que procuro. — Comecei a desfazer minha silhueta de papel.
— Uma habilidade ativada após a morte? É isso que está me dizendo?
— É isto que estou supondo, é o melhor que posso fazer. — Com esta última frase, meu corpo se desintegrou sobre os olhos questionadores de Vítor.
A visão dele ficou turva, uma forte dor de cabeça o acometeu. Fechou e abriu os olhos, e quando se virou, estava de volta a realidade, com Uriel e Zoe ao lado dele.
— Você está bem? Está um pouco vermelho — disse Zoe preocupada.
— Apenas um pouco exausto, conjurar uma barreira por tanto tempo é uma tarefa árdua. — Ele desconversou e voltou o foco para seu objetivo.
A missão deveria ser concluída, e ela seria, de um jeito ou de outro.
Zoe | |||
Afiliação | ‘Imortais’ | Raça | Humana |
Alcunha | Nenhuma | Técnica Especial | ‘Se eu tivesse um coração’ |
Se eu tivesse um coração |
|||
Capacidade Ofensiva | A | Capacidade Defensiva | C |
Alcance | C | Resistência | C |
Versatilidade | C | Velocidade | C |