Imperador da Glória Eterna - Capítulo 37
Vítor estava de olhos fechados, deitado em um vasto campo florido. Por um momento, ele voltou a ser uma criança em seu lar, envolto por um jardim deslumbrante de tulipas, girassóis e margaridas. O calor suave do sol o aquecia, mesmo naquela manhã de inverno. Vestia um casaco azul adornado com um símbolo de coroa, cercado por cinco estrelas, e as iniciais “NAV” bordadas cuidadosamente no bolso.
Ao abrir os olhos, sentiu-se ligeiramente desorientado, mas logo percebeu que não estava sozinho. Além dele, três jovens repousavam sobre a relva. O primeiro, um garoto idêntico a Vítor, possuía o mesmo cabelo negro e rosto, mas era visivelmente mais alto e um pouco mais velho. Seus olhos, porém, eram de um negro profundo, em contraste com os castanhos claros de Vítor. Ele vestia um casaco preto com as iniciais “NAA” bordadas no peito.
O segundo jovem, de pele escura e cabelos encaracolados, tinha olhos verde-esmeralda, brilhantes como joias lapidadas. Seu uniforme era igual ao de Vítor, azul como o céu, com as iniciais “NAS”. E, por último, havia uma menina. Pequena, de longos cabelos negros que lhe caíam até o peito, aparentava não ter mais de dez anos. Ela repousava tranquilamente sobre o peito do garoto mais velho, vestindo um vestido azul-marinho. Era a única sem iniciais bordadas.
O silêncio dominava o campo, quebrado apenas pelo sussurro do vento e o calor reconfortante do sol em seus corpos. Mas a paz foi subitamente interrompida por um grito distante. As crianças se levantaram de imediato, correndo em direção ao chamado. Os mais jovens lideraram, deixando Vítor e o garoto mais velho para trás.
— Um passado incerto nos guia a um futuro inevitável… — murmurou o jovem ao lado de Vítor, enquanto seu corpo começava a se desfazer em névoa. — Se nosso destino já está traçado, por que insistimos em fugir? Se evitar o inevitável é inútil, qual o propósito de nossa busca pela mortalidade? Diga-me, irmão, que futuro realmente desejamos?
A visão de Vítor começou a se dissolver. O campo, as flores e a casa à distância se desfizeram em uma névoa espessa. De repente, ele se viu envolto por uma escuridão sufocante. A névoa o cercava, apertando seu peito como um punho invisível, roubando-lhe o ar. Ele caiu de joelhos, gemendo de dor, até que, por fim, tudo apagou-se.
O som de uma gota de água caindo ecoou ao longe. O ar ao seu redor estava úmido, carregado com o odor pesado de musgo e mofo. Vítor reconheceu imediatamente o lugar: estava de volta à prisão da cidade celestial. O dia recomeçava. A porta da cela permanecia entreaberta, como um convite para sua fuga. Ele a abriu, apenas para encontrar uma figura inesperada.
— Surpreso em me ver? — falei, estava de frente para ele, sentado onde estava a valquíria da última vez. Não olhei para ele, estava imerso em um livro enquanto bebia uma boa xícara de café.
— Não muito, o que faz aqui? — questionou-me, desconfiado da minha presença.
— O de sempre, tive que avisar Herman e a equipe sobre a mudança de planos. Bem, ele chegará em breve, e seguirá a operação daqui. Antes de partir, tenho o dever de avisar sobre certos acontecimentos. — Fechei o livro e o encarei.
— Então, por favor, me ilumine — disse educado.
— Iremos lhe dar um ovo…
— Já sei dessa parte — interrompeu seco.
— Ótimo, precisa coletar as almas para completar o ritual de ascensão. Apenas com o ritual completo, conseguirei usar a ampulheta de cronos e lhe enviar de volta para o quadragésimo primeiro ciclo. Alguma pergunta adicional?
Me levantei e caminhei até uma janela no fim do corredor.
— Não, senhor — respondeu, ao formar um pequeno fio de névoa com os dedos.
— Perfeito. Boa sorte, Vítor. Erobern tem grandes expectativas para você. Ele acredita que você é o receptáculo ideal para trazê-lo de volta ao mundo mortal. Não nos decepcione.
Segurei o livro com firmeza e, num gesto súbito, o lancei ao ar. Meu corpo se desfez em uma tempestade de folhas de papel, que rapidamente se espalharam com o vento, levando-me ao próximo destino. Vítor observou a cena com um leve sorriso, impressionado com a demonstração do meu poder. E logo pensou nos próximos passos para sair da ala masculina de baixa segurança da prisão celestial.
O local, uma antiga fortaleza construída durante os primeiros ciclos, era ideal para conter heróis problemáticos, tanto os problemáticos por se meterem em brigas, quanto aqueles considerados desajustados para serem enviados para outro local. E ainda havia outros, tal como aconteceu com Vítor, sedados no dia em que chegaram.
Não havia uma valquíria para guiá-lo, Vítor estava livre naquele lugar. Ele se esgueirou sorrateiro, até encontrar um almoxarifado, com roupas adequadas para se camuflar na multidão.
— Não vai precisar dessas roupas — disse um homem apoiado no batente da porta, com um leve sorriso. Vestido com o casaco negro do exército de libertação, com o fino bigode negro, e o coldre de couro na cintura, não foi difícil para Vítor identificá-lo.
— Herman, o que tem para mim? — Vítor o respondeu com um leve sorriso de satisfação.
— Vista, é um de nós agora. — Ele jogou um uniforme completo para Vítor, com casaco e tudo mais.
— É um belo uniforme, apesar de que gosto de cores mais vivas — respondeu ao vestir o uniforme, sempre com um sarcasmo na voz.
— Cale a boca e me siga, garoto. — Herman virou as costas e foi para o corredor.
Assim que saiu da sala, Vítor se deparou com duas figuras. A primeira, uma jovem de cabelos cor-de-rosa e vestido florido. A segunda era imponente, com a presença marcante de uma valquíria veterana. Suas seis asas brancas brilhavam em contraste com a fina armadura negra que vestia, destacando sua autoridade. Era a mais alta do grupo, e seus olhos esmeralda encontraram os castanhos de Vítor com um desdém palpável. Em resposta, ele apenas esboçou um sorriso sarcástico ao ver a reação da moça.
— Esta é Lótus, sua parceira para ativar o ritual de ascensão. — Herman virou o olhar para a garota de cabelo rosa e entregou a Vítor o ovo negro. — Criem a distração, enquanto o resto de nós invade o cofre celestial.
— Somos quantos? — Vítor perguntou, examinando o pequeno artefato em suas mãos.
— Nossa equipe é formada no total por sete membros, você é o oitavo — respondeu a guerreira, e Vítor a olhou uma segunda vez, com mais atenção.
Seu cabelo prateado estava trançado, quase escondido pelo capacete negro que usava. Seu corpo forte e robusto refletia a postura de uma guerreira experiente. Cada palavra e olhar que lançava transbordava desprezo, como se todos ao seu redor fossem inferiores. Para ela, apenas um homem era digno de respeito: seu pai.
— E você é? — indagou Vítor, apesar de já saber a resposta.
— Vossa alteza, Princesa Maria, também conhecida como Dragonslayer.
— Se exige formalidades de realeza, saiba que também tenho esse direito — retrucou ao fazer uma reverência torta.
— Não tens o porte de um nobre. E se fores, a espada de Herman estará em tua garganta no momento em que revelares teu sangue azul — retrucou ela, com um sorriso de escárnio.
— Ela é divertida — zombou Vítor ao lançar um olhar provocador para Herman. — Problemas com o pai?
— Não tenho tempo para idiotas — disse Maria com desprezo, lançando um último olhar de repulsa antes de se retirar para o pátio.
Herman olhou para Vítor com seriedade, como se questionasse silenciosamente a veracidade das alegações de nobreza. No entanto, Vítor não percebeu, pois já se voltava para sua nova parceira. Com um gesto elegante, ele tomou a mão de Lótus e a beijou levemente.
— Prazer em conhecê-la. Vítor, também conhecido como o Marionetista, embora meus poderes estejam um tanto enfraquecidos no momento.
— Lótus, ninfa dos bosques floridos do reino élfico do sul — apresentou-se, um pouco sem jeito pelo gesto de Vítor.
— O Escriba já lhe deu todas as informações sobre o “Olho do Tigre”? — interrompeu Herman, ele queria concluir a missão o mais rápido possível, e sem falhas.
— Já sei tudo o que preciso sobre ele, não se preocupe. Só tenho que achar uma pessoa antes.
Herman encarou ele surpreso.
— E quem seria?
— Não se preocupe, será rápido — Vítor criou uma fina corrente de névoa, sentindo seus poderes recuperados gradualmente.
— De toda forma, Lótus irá o acompanhar o tempo todo.
— Positivo, Herman — respondeu a garota com um aceno.
— Lhes desejo boa sorte, de qualquer maneira. — Herman caminhou pelo corredor, até chegar ao pátio, acompanhado logo atrás pelos seus colegas. — O cofre está muito bem guardado pelas valquírias e a guarda celestial, precisaremos de vocês para o sucesso completo da missão.
Herman foi embora, deixando Lótus e Vítor sozinhos na entrada do pátio interior da fortaleza.
— E então… Quem você quer encontrar? — perguntou ela.
— Uma antiga amiga minha, preciso fazer algumas perguntas, para entender o que aconteceu no nosso último encontro…
Maria | |||
Afiliação | Exército de Libertação | Raça | Anjo |
Alcunha | Dragonslayer | Técnica Especial | “Correntes da Miséria” |
Alexandria | |||
Capacidade Ofensiva | A | Capacidade Defensiva | C |
Alcance | A | Resistência | S |
Versatilidade | C | Velocidade | S |