Imperador da Glória Eterna - Capítulo 33
Afastados de todo o caos que assolava a Cidade Celestial, em uma pequena e serena ilha flutuante, um grupo de heróis treinava suas habilidades. Era um grupo de quarenta, das mais diferentes classes.
A ilha era uma das muitas que orbitavam ao redor da ilha principal da Cidade Celestial, eram locais tranquilos e pacíficos, com não mais do que um hectare. Possuíam, normalmente, um píer, onde barcos celestes atracavam e levavam seus tripulantes de ilha em ilha.
Esta ilha em particular possuía uma colina suave, coroada por uma majestosa cerejeira em flor, cuja sombra acolhedora oferecia uma visão panorâmica de todo o entorno. Era sob essa árvore, envolto pelo perfume das flores e pela brisa suave que fazia as pétalas rosadas dançarem pelo ar, que Uriel, o líder do grupo, observava atentamente os treinamentos. Seus olhos, sempre atentos, analisavam cada herói, avaliando a postura, o manejo das armas e a aptidão para a batalha.
Ao seu lado, uma pequena garota descansava tranquilamente com a cabeça encostada em seu ombro, enquanto as pétalas caíam suavemente sobre seus cabelos. Todos usavam o uniforme branco da guilda dos Dragões do Sol, e as patentes de cada um eram destacadas pelas ombreiras ornamentadas com detalhes dourados que reluziam sob a luz.
— Gosta do que vê, Uriel? — Axel, se aproximou do líder. O herói vestia o mesmo uniforme de vice-líder de Vítor.
— Todos eles têm potencial de ajudarem nossa guilda a se tornar a maior de todas — respondeu Uriel, enquanto ajeitava uma mecha de cabelo da moça e inspirava profundamente o ar puro daquele local pacífico.
Axel, questionador, apontou para um grupo específico de quatro heróis que se mantinham afastados dos demais, conversando entre si.
— E aqueles quatro ali? Por que aceitar um treinamento conjunto com uma guilda rival?
Eram quatro heróis, três garotas e um garoto. O garoto, alto e de porte atlético, destacava-se por sua pele negra e cabeça raspada. Entre as garotas, uma chamava atenção com suas longas tranças loiras que chegavam à cintura. As outras duas eram gêmeas, de cabelo preto, mas com estilos diferentes: uma com cabelos longos até o peito e a outra com um corte mais curto e uma franja que caía sobre a testa.
— Eles parecem interessantes, especialmente aquela garota, Zoe. Ela agiu como se já me conhecesse muito bem quando nos encontramos — comentou Uriel, observando-os de longe com um olhar analítico.
— Tem planos de colocá-la no seu harém? — Axel perguntou de forma séria.
Uriel sorriu de canto, enigmático.
— O hoje é o hoje e o amanhã é o amanhã. Tudo ocorrerá em seu tempo.
Em questão de segundos, o que antes era um treinamento ordenado transformou-se em caos. Os recrutas, que lutavam organizados até então, começaram a lutar uns contra os outros com uma ferocidade animalesca, como se tivessem sido tomados por uma loucura incontrolável.
— O que é isso? Parem agora! — Uriel se levantou, sua voz forte e autoritária ecoando pela ilha, mas foi ignorado pelos combatentes.
— Eles estão insanos! — gritou Axel enquanto descia a colina, determinado a interromper a carnificina que se desenrolava diante dele.
De repente, Uriel sentiu um movimento rápido atrás de si. Ele girou o corpo instintivamente e segurou o braço da jovem que se aproximara sorrateiramente, uma pequena lâmina brilhando em sua mão. A arma parou a poucos centímetros de sua garganta.
— O que é isso? — Uriel esbofeteou o rosto da garota, sem esconder sua fúria. — Tramando contra o seu líder? A justiça será feita aqui e agora.
A jovem, com olhos ardendo de uma fúria inexplicável, tentou apunhalá-lo novamente. Mas Uriel não hesitou. Com um movimento rápido, ele apontou o dedo indicador para ela, emitindo um fino raio de luz que atravessou o crânio da garota em um único golpe preciso. Seu corpo caiu aos pés de Uriel, sem vida.
Ao olhar para baixo, Uriel se deparou com uma visão devastadora: o campo de treinamento, antes repleto de vida, agora era um verdadeiro banho de sangue. Os recrutas de nível mais baixo haviam se matado mutualmente em questão de minutos. Apenas alguns membros de elite permaneciam de pé, todos os que não foram apunhalados pela costa pelos membros de nível inferior.
— Quero explicações, agora! — gritou Uriel, sua voz carregada de autoridade e raiva.
Os sobreviventes abaixaram a cabeça, tentando entender o que havia acontecido. A resposta parecia estar no rugido que ecoara pelos céus momentos antes.
— O rugido, tudo começou depois do rugido — murmurou Zoe, quebrando o silêncio.
— Amélia, todos os que caíram… estavam sem círculos de proteção mágica, certo? — questionou Axel, ao ajoelhar e analisar os corpos sem vida.
— É o que parece, eu conjurei círculos de proteção mágica em todos que estão aqui. — Uma garota de cabelos alaranjados tomou a palavra, ela portava uma pequeno cajado com uma esfera negra no topo. — Tenho certeza disso, parece que nos protegeu dessa loucura aqui.
— Quem mais tem essa magia de proteção? — indagou um dos membros da elite, um garoto negro de olhos verdes.
— Boa pergunta, Jaime. Isso pode estar acontecendo por toda a Cidade Celestial, o que torna tudo isso dez vezes pior — comentou Uriel, chutando um dos corpos caídos para se certificar de que estava morto.
— Somos quinze, um grupo razoável. Devemos pegar o barco e ir ao pavilhão dos heróis imediatamente para investigar — sugeriu Axel, levantando-se e encarando o líder.
— Concordo, mas precisamos agir rápido. — Uriel assentiu com a cabeça e seguiu em direção ao barco celeste.
— E os corpos? Vamos deixá-los aqui? — Amélia apontou com seu cajado para a cena de carnificina.
— Temos prioridades agora. Depois daremos a eles um enterro digno — respondeu Axel, em tom frio.
Amélia olhou para o grupo, perplexa.
— O que aconteceu com vocês? Seus corações viraram pedra? Nossos amigos, nossos colegas acabaram de morrer diante de nós, e ninguém derramou uma única lágrima! Ninguém está assustado! Se eu presenciasse isso na terra, estaria tremendo até agora…
— Não estamos mais na terra. Seja honesta, Amélia, você está tomando as pílulas? — Jaime a encarou, os olhos firmes, buscando qualquer traço de mentira.
— Claro que não! — Amélia respondeu com raiva. — Aquelas pílulas são antidepressivos tarja preta, e eu não vou tomar isso nem morta.
— Você precisa entender, Amélia, são elas que mantêm nossas mentes no lugar em meio a esse caos.
— Na verdade, elas nos transformam em máquinas sem coração, prontos para matar. Agora entendo vocês… Ótimo, continuem assim… — Amélia soltou um longo suspiro, desanimada, e se dirigiu ao barco.
Os barcos celestes têm o formato de um veleiro comercial de médio porte e utilizam o vento para se mover pelo céu. São revestidos com madeira da ‘Grande Árvore Mãe de Todas as Coisas’, o que lhes permite planar e manter a altitude correspondente ao galho de onde foram cortados. Mesmo que o barco seja completamente destruído, a madeira flutuará sempre na mesma altura, incapaz de subir ou descer. Se, por algum motivo, desviar dessa altitude, a madeira retornará à sua posição original.
Eles tomaram distância da ilha, e Zoe observou a aproximação da Cidade Celestial, e olhando para o céu, murmurou baixo:
— Vítor, eu sinto seu dedo em toda essa confusão, o que você fez dessa vez?
— Quem? — Uriel interferiu, ao escutar aquele nome.
— Você o conhece? — Zoe se virou, colocando suas costas contra o guarda corpo.
— Não lembro de nenhum herói com esse nome. Quem é?
— Meu ex-namorado — respondeu ela sem rodeios.
— O que aconteceu?
— Longa história, resumirei para você; ele me trocou por outra. — A voz dela não carregava nenhuma mágoa ou ódio, era uma voz serena e calma, apenas uma resposta casual.
— E quem trocaria uma garota bonita como você?
— Cale a boca, você é quase pior do que ele nesse quesito, ou acha que eu não vi você matar sua namorada agora pouco. — Zoe soltou uma longa gargalhada.
— Ela me atacou, apenas me defendi. — Uriel deu de ombros, sem se importar com aquele fato. — E eu sempre posso arranjar alguém melhor.
Uriel olhou para as velas balançando ao vento, e a reduzida velocidade do barco. Irritado com aquela demora toda, ele olhou para o vice-líder, que comandava a cabine.
— Axel, pode acelerar um pouco?
— Estamos contra o vento, Uriel, estou fazendo o meu máximo.
— Zoe, quer ver algo legal? Uma pequena amostra do meu poder?
— É impossível me impressionar. — Ela cruzou os braços e soltou um sorriso malicioso.
— Tenho certeza que está errada. Conheça minha habilidade especial, “A Luz”! — Uriel estendeu seu braço, e uma rajada branca saiu dele, com tamanha intensidade, que moveu o barco para frente.
Agora, a toda velocidade, a guilda dos Dragões do Sol estava pronta para enfrentar qualquer ameaça que aparecesse em seu caminho.
Uriel | |||
Guilda | Dragões do Sol | Classe | Paladino |
Alcunha | Nenhuma | Técnica Especial | “A Luz” |
A Luz | |||
Capacidade Ofensiva | B | Capacidade Defensiva | C |
Alcance | S+ | Resistência | C |
Versatilidade | D | Velocidade | S+ |