Hino da Criação: A Reencarnação da Deusa - Capítulo 07
24 de dezembro de 21XX, 15:00h – Corredor Central do Prédio Olímpico de Artes Marciais.
— Lorde Vampira, Lorde Vampira! — exclamou uma repórter, no meio de tantos outros, que tentavam, a todo custo, atrair a atenção de uma mulher de olhos vermelhos. — Por gentileza, Lorde Vampira! Você poderia me conceder uma entrevista, falando um pouco mais a respeito de sua filha?
Rodeada por inúmeros olhares curiosos e banhada por uma ampla gama de flashes luminosos — todos gerados por uma vasta quantidade de câmeras fotográficas modernas — Lilith sorriu diante daquela pergunta.
— Se é para falar do meu tesouro, será um prazer imenso! — disse ela, em um tom límpido.
Lilith Mikaela Dracúlea Carmila Violet, era uma mulher bastante esbelta e sensual, detentora de uma pele pálida, olhos avermelhados, bochechas rosadas e um cabelo loiro-platinado, que pendia até a altura de seus ombros.
Ela exibia uma postura elegante e espectral, que aliado às suas expressões, e maneirismos minimalistas — todos típicos da sua aristocracia vampírica — exaltavam, de maneira singular, a sua persona misteriosa e distinta.
E apesar de sua feição parecer bastante jovial — por volta da casa de seus vinte e cinco anos — ela era, de certa forma, uma das criaturas vivas mais antigas.
Ao lado dela — incomodadas com aquela agitação — outras duas vampiras a acompanhavam. Sendo uma delas: a sua criada mais leal, que esbanjava, de maneira orgulhosa, o seu cabelo loiro bem cuidado; ao passo que a segunda, posicionada um pouco mais atrás, era muito parecida com a filha da vampira.
Sendo a maior diferença visível entre as duas garotas: suas presas afiadas, olhos avermelhados, e cabelo preto e branco.
— Minha senhora — disse a Serva de Lilith, baixinho. — Podemos ficar por no máximo dez minutos aqui! Precisamos chegar o quanto antes no Hospital Central, para assinar uma série de documentos e conseguir a liberação da Princesa!
— Será o suficiente, Dáhlia! — respondeu Lilith, de maneira gentil.
Ela deu um passo para frente e cumprimentou a sua entrevistadora.
— Boa tarde, Lorde Vampira! Eu sou a Rinoa do Jornal Diário, e estou cobrindo os bastidores das Olimpíadas de Inverno! É realmente uma honra, para mim, entrevistar a senhora!
— Boa tarde, Rinoa! A honra é toda minha! — disse Lilith, com um sorriso hipnótico.
Encantada com a beleza da vampira, a repórter ficou momentaneamente sem ar, e percebendo que estava agindo de maneira estranha, um sentimento de nervosismo tomou posse dos seus sentidos.
— Lorde Vampira! — exclamou ela, desajeitada. — Você poderia contar pra gente, como é a sua relação de mãe e filha?
Lilith riu com aquela reação engraçada, e confirmou, balançando a sua cabeça em sinal de afirmação.
— Eu sempre desejei, que a Lycoris fosse menos altruísta e mais egoísta. Menos humilde e mais orgulhosa. Menos amável e mais arrogante! — disse a vampira, gesticulando com as mãos.
— Por quê? — indagou a segunda, erguendo a sobrancelha.
— Para que ela pudesse se adaptar com mais facilidade, à sociedade vampírica no qual fora abruptamente inserida. Para que ela não viesse a sofrer, pelas muitas tramas e maquinações dos sangue-nobres da espécie dos Vampiros.
Ela parou por um segundo, ajeitou o seu cabelo, e continuou, com a sua voz adotando um tom bastante requintado:
— No entanto, para a minha própria surpresa — disse, esboçando um sorriso gentil. — Ela fora muito bem aceita pela maioria de meus súditos! E graças ao nosso Lorde, que a propósito, gostou muito da ambição dela; a minha filha logo foi reconhecida como uma súdita vampira.
“O que é isso? Que sensação maravilhosa é essa no meu peito?”, pensou a vampira, agitada.
— E apesar de nunca ter vivido como Nobre — continuou a primeira, com a sua voz ganhando ainda mais intensidade. — Ela era a mais nobre dentre os Nobres!
E com uma expressão radiante, Lilith declarou:
— Para os vampiros, ela é o nosso Sol! Para mim, ela é o meu maior amor!
Uma onda de flashes tomou conta daquele local, e apesar de ser um corredor bastante amplo — que levava para a saída frontal do estádio olímpico — faltava espaço para acomodar tantas pessoas.
E conforme os repórteres se trombavam — e empurravam uns aos outros — tentando, de alguma forma, se aproximar de Lilith; a equipe de segurança técnica do evento interveio. E após alguns minutos de espera, toda a euforia logo foi contida.
Com o fim daquela comoção, os repórteres tentaram — mais uma vez — fazer as suas próprias perguntas a Lilith. Tais como: os gostos pessoais de sua filha, sua ambição e seus passatempos.
Porém, querendo honrar o compromisso que ela tinha com a primeira repórter, Lilith se desculpou respeitosamente com os demais, e voltou a sua atenção exclusivamente para Rinoa.
E ela, querendo se aproveitar ao máximo do pouco tempo que ainda lhe restava, continuou:
— Sua analogia é bastante curiosa, Lorde Vampira! — disse ela, pensativa. — De acordo com os contos populares, é dito que os vampiros não possuem muita resistência física, contra os raios ultravioletas do sol. Então, por qual motivo, a sua filha seria comparada com tal estrela, ao invés da Lua?
Com um sorriso de ponta a ponta, Lilith respondeu:
— Porque ser comparada com a lua, não faria jus à sua própria natureza. E além disso, o título de “Luna” já foi dado a outra de nossa raça. — disse ela, olhando com gentileza para a vampira menor que a acompanhava.
— O que você quer dizer com isso, Lorde Vampira? — perguntou a outra, ainda intrigada com aquela resposta vaga.
— A Lycoris é alguém tão intensa quanto o sol! Seu modo de pensar, seu jeito de agir, e também, o seu espírito livre; radiante e incandescente, que ilumina e aquece os nossos corações, não pode ser comparado com algo tão frio, e sem vida, como a lua.
Ela parou por um segundo, ajeitou a sua postura e continuou:
— Além disso, somente uma pessoa tão intensa, seria capaz de pedir ao nosso Lorde: “O Imortal Drácula”, por uma luta! — disse a vampira, dando uma risada. — No entanto, não vou negar… tal como o sol, ela também me gera uma infinidade de problemas!
— Problemas? De que tipo?
— Por exemplo… — continuou Lilith, levando o seu dedo indicador até o contorno de seus lábios. — Como ela cresceu no meio das “Entidades Cósmicas” que governam o nosso universo, a Lycoris simplesmente acabou pegando, o mau hábito dos Grandes Deuses!
Ela deu uma gargalhada breve — balançando a sua cabeça em sinal de desaprovação — e logo em seguida, completou a sua explicação:
— Ela não sabe o que é ter discrição, ou atuar conforme o roteiro pede. Para ela, se alguma coisa a desagrada, ela critica. E se alguma coisa a agrada, ela elogia! Simples assim! A minha filha é muito direta! Nem mesmo eu, consigo acompanhar o ritmo dela…
Várias risadas ecoaram pelo corredor, e mais uma vez, ele se encheu de luzes e cliques.
— Apesar das dificuldades, você parece estar se divertindo muito, Lorde Vampira! — acrescentou Rinoa, sorrindo.
Com uma expressão sublime, Lilith respondeu:
— Bem… sim, rs!
E após levar as suas mãos até o peito, ela completou:
— Afinal, “ela é o meu tudo!” E nada neste universo tem mais valor do que ela, para mim!
— Obrigada! Muito obrigada, Lorde Vampira! Agradeço imensamente pelo seu tempo! Aqui é a Rinoa do Jornal Diário e nós ficamos por aqui! — completou a repórter, animada.