O Hino da Criação — A Reencarnação da Deusa - Capítulo 8
— O que houve, Catherine? — Lycoris perguntou, enquanto acariciava os cabelos loiros da vampira.
Catherine afrouxou os seus braços, recuou o seu corpo, e por fim ela respondeu, encarando o rosto da primeira:
— Você simplesmente apagou após o fim da luta! — disse ela, de maneira intensa. — E quando eu percebi, você já estava deitada no chão, inconsciente.
Ela abaixou a sua cabeça, e logo em seguida, completou, com a sua voz indicando um claro sentimento de culpa:
— E como eu não sabia o que fazer, apesar de ser a responsável pela sua condição física, fiquei aqui, do seu lado, segurando a sua mão, enquanto esperava você despertar…
A Lycoris ergueu a sua mão e ajeitou os cabelos loiros da vampira, e, com um sorriso gentil, ela a abraçou.
— Apesar de você também ter aproveitado o momento para tirar um breve cochilo, minha adorável prima, rs! — disse ela, em um tom gentil.
Então, após sentir que estava sendo muito apertada pela outra, Lycoris exclamou:
— Catherine?! Espera! Calma! Calma! Você está me abraçando muito forte, rs!
— Me desculpe! Me desculpe, Princesa! — respondeu a segunda, de maneira atrapalhada. — Eu fiquei tão aliviada por ter ouvido a sua voz, que eu nem percebi que estava usando muita força!
Ela relaxou o seu corpo e apoiou a sua testa bem no peito da primeira.
— Estou tão aliviada… de verdade, Princesa!
Viola Bambietta Catherine Tepes, é uma vampira que possui um forte e inquebrável laço afetivo com a Lycoris.
Ela é filha de Laetícia Tepes Dracúlea Carmila, irmã mais nova de Lilith Mikaela Dracúlea Carmila Violet. E graças à sua ligação afetiva — apesar de não existir nenhuma ligação sanguínea entre as duas. — Catherine via a Lycoris como a sua prima genuína.
Catherine Tepes, ou no caso, Viola — como ela é comumente conhecida dentre os vampiros — é uma vampira de raça e sangue nobres, sendo classificada como a segunda na linha sucessória do título de Lorde Vampira, ficando atrás apenas da Lycoris, por ela ser a primeira e única filha de sua tia, a soberana Lilith.
E embora ela fosse, por muitos anos seguidos, considerada a principal candidata para assumir o posto de líder de todos os vampiros, tudo isso mudou quando a sua tia, Lilith, apresentou para o mundo inteiro a sua filha adotiva.
E apesar de no início, ela considerar aquela decisão completamente sem sentido, afinal, não tinha como um humano comandar um vampiro, foi apenas quando ela conheceu a sua prima, que todo o preconceito que ela sentia logo fora suprimido, e a sua visão de mundo prontamente se expandiu.
Por mais que as leis dos vampiros fossem extremamente rígidas, e nelas definissem que somente um vampiro de linhagem antiga, sangue nobre, e com uma força capaz de rivalizar com os outros Lordes — sendo o principal deles, o Imortal Drácula — era permitido se inscrever na linha sucessória, para Catherine, em seu íntimo, apenas a Lycoris era digna de governar.
E em nenhum momento após conhecê-la, ela deixou de ansiar por isso. E querendo transformar o seu desejo numa realidade irrefutável, ela se envolveu em diversas pesquisas, tanto nos campos mágicos quanto científicos, na esperança de encontrar uma maneira de transformar a sua prima em uma vampira genuína.
Catherine era uma mulher bastante vistosa e refinada, possuindo lábios carnudos, seios fartos e quadris bem delineados. Seus cabelos loiros com um toque vitoriano, pendendo para o dourado, exaltava os seus cachos longos e bem cuidados — que aliado às suas presas afiadas, olhos avermelhados e pele pálida, completavam a sua persona elegante e sofisticada.
E apesar dela aparentar possuir uma idade semelhante ao da Lycoris, por volta de seus vinte e dois anos, ela também era, tal como a Lilith, uma das criaturas vivas mais antigas.
Sentindo a respiração calma e pacífica de sua prima, Lycoris ergueu a sua mão direita e acariciou, uma outra vez, a cabeça da vampira. E, sentindo a sua cabeça flutuar, por um instante a sua mente se desconectou da realidade, e ela, mais uma vez, se viu experimentando um intenso pesadelo acordado.
E conforme ela sonhava, experimentando na pele os horrores do seu pesadelo vivido, os seus olhos brilharam, a sua respiração se tornou pesada e o seu pulso descontrolado.
Era como se ela estivesse prestes a se lembrar de alguma coisa, compreender alguma coisa, descobrir alguma coisa. E conforme as suas pupilas abriam, incrédula com o que estava vendo, um silêncio ensurdecedor tomou conta dos seus ouvidos.
E ela, perdida em pensamentos, sem saber se estava sonhando ou acordada, arregalou os olhos e a sua respiração se tornou conturbada.
— Princesa? — disse a vampira nos braços dela. — Princesa!
E percebendo que a primeira não exibia nenhum tipo de reação, ela pegou em seus ombros e a chacoalhou.
— Princesa! — exclamou ela, em um tom bastante alarmado, enquanto os seus olhos percorriam cada canto daquele quarto.
De repente, um toque gelado trouxe a Lycoris de volta para a realidade, e um exagerado sentimento de agonia tomou conta dos seus sentidos. E enquanto a sua mente tentava definir a linha que separava o mundo desperto da terra dos sonhos, ela exclamou em seu tom lírico:
— Catherine, rs?!
— O que houve, Princesa? — perguntou a segunda, enquanto via lágrimas rolarem do rosto de sua prima.
Então, com a sua voz soando tensa, Lycoris respondeu:
— Eu acho que tive um pesadelo…
— Um… pesadelo?! — questionou a segunda, com a sua voz soando um tanto trêmula.
— Sim! Ele parecia tão real… e vívido! Que acabou afetando todos os meus sentidos, rs! — Lycoris respondeu, sentindo um calafrio.
— Você poderia me contar sobre ele? — perguntou Catherine, enquanto enxugava as lágrimas da primeira.
E, com um sinal de afirmação, Lycoris concordou.
— Não me recordo muito bem dele. — disse ela, enquanto a sua mente tentava recuperar os fragmentos de imagem que ela havia vivenciado. — Apenas que eu estava em uma sala mal iluminada, trancada e sozinha…
Os seus olhos brilharam com o relato dela, e uma infinidade de imagens incompreensíveis espalharam pela mente dela.
— Não… eu não estava sozinha. — se corrigiu ela, enquanto as suas memórias fluíam. — Quero dizer, haviam algumas pessoas nessa sala, comigo…
E conforme ela falava, os seus olhos brilhavam com ainda mais intensidade, e uma mistura de ódio e agonia tomava conta dos seus sentidos.
— Vampiros! — exclamou ela, cerrando os dentes. — Haviam vários vampiros! Dezenas deles! E todos eles empunhavam adagas, enquanto eu… eu…
A sua cabeça começou a latejar, e a sua mente, a girar. Um barulho ensurdecedor tomou conta dos seus ouvidos, e imagens de uma grande chama iluminou as suas pupilas.
— Eu estava amarrada, presa à um altar, sendo observada por eles, quando eu…
A temperatura no quarto caiu mais uma vez, e as luzes que até então estavam acesas, tremeluziam.
Sons estranhos ecoaram pelo quarto, e ao fundo, presente desde sempre, a sensação de estar sendo vigiada por incontáveis olhos invisíveis fez o coração acelerar.
— Eu… — continuou ela, com a sua voz se tornando ainda mais intensa. — Eu senti um medo tão profundo e excessivo, que era difícil até de respirar! E no instante seguinte, após ouvir uma intensa gritaria, senti que apenas o meu peito doía. A minha visão escureceu, o meu corpo estremeceu, e por fim eu… eu…
Lágrimas rolaram de seu rosto, e uma sensação de desespero invadiu o seu peito, e no instante em que um turbilhão de emoções estava para explodir de uma vez no coração dela, Catherine a abraçou.
— Foi só um sonho, Princesa. Só um sonho! — disse ela, bem próxima do seu ouvido. — Nada disso é real!
Ela apertou a sua prima com ainda mais intensidade, e logo em seguida, completou, com o seu rosto escondido, incapaz de segurar as suas lágrimas:
— Você está segura, Princesa! Ouviu?! Segura! Eu vou te manter segura!
A vampira ergueu o seu rosto e logo encarou, com os seus olhos cheios de raiva, a entidade sorridente e sem forma física que as observava.
“Eu não vou deixar você fazer o que bem quiser com ela, Presença do Medo!”
Proclamou ela, decidida.