Guerra de Deuses - Capítulo 5
Arskan abriu os olhos com rapidez, levantou-se devagar e olhou para os arredores. Anteriormente, a floresta e o templo cobriam a sua visão, agora, porém, o lugar mudou.
Ele estava em uma espécie de clareira feita de uma pedra branca, mas essa não possuía runas. O espaço tinha apenas rochas e colunas quebradas; nada de estátuas.
No centro, uma única pedra redonda estava posicionada. Fora da Clareira Branca, havia uma floresta profunda. Era diferente da Amazônia, essa mata se assemelha mais as florestas negras da América do Norte.
Também começou a notar pessoas além dele. Todas de idade, etnias e classes sociais diferentes; todos jogados no mesmíssimo local.
— Mãe? Eu estava falando com ela agora? Onde estou? Cadê minha mãe! — gritou uma moça jovem detrás de Arskan.
— Hey! Vocês acham realmente que me enganam? Onde estão as câmeras? — dizia outro.
— Que merda tá acontecendo?! — Um delinquente reclamava, incessante.
Antes de qualquer coisa, Arskan certificou-se de que era tudo igual. O chão de mármore branco, uma área circular, pessoas que, buscando com força na memória, eram levemente familiares.
“Estou realmente no mesmo lugar”, pensou com calma.
Nada havia mudado. O lugar onde estava era a Clareira Branca. Uma espécie de Tutorial para os novatos. Isso evitava que caíssem diretamente no outro mundo sem nenhuma chance de sobrevivência.
Era um espaço entre dimensões, então era relativamente seguro e administrado pela própria vontade de Athenas que designava alguns guias.
Um deles logo aparecia para Arskan e todos os outros. As pessoas ainda estavam desesperadas, mas apenas entravam em negação.
Poderiam humanos aceitarem tal coisa? Alguns poderiam suspeitar que se tratava do mesmo evento de desaparecimento de anos antes. Outros apenas agiam sem racionalidade e imaginavam dúzias de fantasias.
O único que poderia realmente dizer o que estava ocorrendo era Arskan. Mas ele não perderia seu tempo com coisas sem sentido, como tentar explicar aos outros.
Sentou-se no chão e tentou lembrar dos detalhes do item que obteve com Rafael, o Arcanjo. Na vida anterior, matou um dos Arcanjos em um conflito sangrento que durou dias.
Como uma das recompensas, recebeu a Alma Pura, mas, na época, não lhe era útil. Perder metade da força naquele instante era um tiro no próprio pé.
Acabou guardando na memória, pois, para um iniciante, aquilo valia mais que qualquer outra coisa.
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[Visualizador de Status]
Nome: Alma Pura | Tipo: Poção
Grau: Mítico | Maestria: S
Durabilidade: Uso Único
Efeitos:
Aumenta a velocidade de crescimento de todas as estatísticas
Torna a alma do usuário extremamente pura
Efeitos de ter mais de uma classe são diluídos em proporção a força do usuário
Efeitos Negativos:
Usuário perderá metade das estatísticas baseadas no físico
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Qualquer pessoa que visse isso, pensaria que um item desses não valia o seu Grau Mítico. Mas apenas o fato de poder ter mais de uma classe sem problemas já era algo incrível.
Antes, Arskan possuía duas Berserker e Mago de Gelo. Graças a isso, o seu poder como mago era limitado a magias baseadas em combate e fortalecimento físico.
“Nunca consegui lançar nenhuma magia em área…”
Lembrou-se então que, na luta, perdeu um braço, claro que conseguiu se curar um tempo mais tarde, mas ainda era um braço, e quase teve um surto ao descobrir que a recompensa não serviria para nada.
“Fiquei enfurecido.”
Nesta vida, porém, aquilo era dos principais pilares para o seu crescimento exponencial.
Passaram-se mais alguns segundos. Arskan então levantou do chão, limpou suas roupas e olhou para o vazio.
Subitamente, as pessoas que discutiam pararam. Os gritos de desespero, choro e a velha baboseira do tal “medo do desconhecido” parou.
O tempo havia parado e só ele se movia.
“Ele chegou.”
A temperatura caiu alguns graus. Ao respirar, fumaça branca surgia da sua boca e um o frio percorreu todo o seu corpo.
Mesmo com frio, uma pressão lhe fez suar. O chão começou a congelar e neve começou a cair. Sentiu-se à beira da morte, como se, outra vez, tivesse voltado à Jotunheim.
— Hey! — Uma voz soou detrás dele. Era uma voz amigável, nem muito grave e não muito aguda, solene e calma. — Eai? Tudo bom?
Virando-se, Arskan visualizou a aparência do jovem.
Era um homem alto, apenas um pouco mais baixo que Arskan, possuía um corpo esquio e usava uma espécie de uniforme militar para o frio azul com detalhes azuis nos ombros.
Parecia ter cerca de 20 anos, tinha cabelo branco como a neve que refletia em suas pupilas de mesma cor. A sua esclera, porém, tinha uma cor azul clarinha.
Ele tinha uma pequena cicatriz que cortava uma das sobrancelhas e usava uma cruz branca por cima do uniforme.
O que mais chamara a atenção de Arskan era o rosto bobão dele e a espada que emanava energia gélida que levava na cintura, um Florete.
O frio era tanto que talvez até um Gigante de Gelo congelasse sobre um ataque dela.
Ele tentava não parecer ameaçador, mas não conseguia esconder a pressão, a confiança que dava em cada passo, sem temer, e, é claro, o ar gélido.
— Você está com frio? Desculpa! Logo vai acabar. Hã? Deixe me ver o que preciso falar mesmo… Ah! Que droga, ainda preciso contar isso para mais 3 bilhões de pessoas.
Arskan notou que o homem perderia ainda mais tempo tentando explicar, então se adiantou.
— Onde estou? — Ele continuou calmo e, mesmo sabendo de tudo, decidiu escutar.
— Ah! É isso mesmo. Bem. Você veio parar em Athenas. Meus parabéns! Mas o que é Athenas? Para resumir, é um Mundo Divino muito acima da sua pequena compreensão.
Arskan lembrou-se porque não gostava daquele cara.
“A personalidade dele é podre”
— Resumindo ainda mais todas as merdas que o seu povo fez ao seu planeta, digamos que, caso vocês continuassem vivendo lá, teriam destruído o mundo e todas as outras raças. Tão próximos da extinção, Athenas os trouxe para cá. Desejava salvar vocês? Não!
— Você poderia resumir ainda mais — disse Arskan friamente.
Uma expressão de surpresa surgiu no rosto do desconhecido e um olhar sério, mas logo voltou ao normal.
— Vocês humanos fizeram merda e iam morrer. Athenas então decidiu pegar a espécie e trazer para viverem aqui. Por quê? Não sei. Feliz?
— Muito — respondeu com sarcasmo.
— Muitas outras raças também foram trazidas para viver nesse mundo e algumas já viviam aqui antes. Para sobreviver aqui, você precisa lutar e ficar forte. Acho que não preciso explicar os motivos para você, não é?
— Não.
— Concluíndo. Neste mundo, podemos ficar infinitamente mais fortes e ele é bem similar a aqueles jogos de RPG do seu mundo. Raças mágicas, estatísticas, habilidades, títulos; em Athenas, é tudo real.
O homem explicou mais uma dúzia de coisas. Ele contou que invocaram humanos anos antes para preparar terreno, entre outras coisas.
Sempre dava ênfase ao esforço recompensar. Quanto mais de esforçar e ir mais longe por um objetivo, mais poder receberia, caso ficasse vivo.
— Terminou? — Ele queria chegar logo na última parte; o mais importante.
— Tá! Tá! Você é muito sem graça. Como disse; tudo aqui funciona como um jogo, portanto existe uma categorização de Itens, habilidades, títulos e etc… Chamados de Grau e Maestria.
Logo explicou o funcionamento dos dois. Ele não contou tudo, apenas o básico. Grau era a qualidade bruta e maestria o domínio, no caso de habilidades e a fabricação, no caso de itens.
Caso a maestria fosse alta, até uma espada de madeira poderia vencer uma arma de ferro. Mas o material usado ainda influenciava na qualidade geral.
Era uma explicação muito simples para algo tão complexo, mas nem Arskan entendia direito depois de tantos anos.
Os graus e maestria eram divididos da seguintes forma:
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Comum; Incomum; Raro
Épico; Lendário; Mítico
Ancestral; Transcendente; Semidivino; e
Divino!
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F; E; D
C; B; A e
S!
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— Agora terminou? — repetiu com ainda mais ênfase.
Uma veia surgiu na testa do estranho homem, mas continuou:
— Terminando. — Ele ergueu o braço acima da cabeça, executou um cântico incompreensível e uma esfera azul surgiu. — Vamos às Classes!
Com uma seriedade que quebrou a bobeira anteriorz explicou para que serviam as classes. Elas eram basicamente um caminho a seguir.
Elas ajudavam com o crescimento de estatística específicas, melhoravam o desenvolvimento de habilidades e disponibilizavam o uso de certos itens.
Tudo era movido com base nelas. Eram, de longe, a coisa mais importante para Arskan. Ele também deu um detalhe importante que pareceu um simples comentário.
— Você pode ter mais de uma, mas tem efeitos colaterais. Ah! Quando sair do Tutorial vai poder trocar, então não precisa de preocupar muito. Ok?
—Posso ter mais de uma, não é?
— Há?! — exclamou surpreso. — Você pode, mas tem certos efeitos. Quanto mais tiver, piores serão.
— Eu entendi.
— Quantas você quer…?
Neste momento, Arskan olhou-o olho no olho. Sem mais expressar nenhuma emoção, disse:
— Eu quero cinco.
— C-cinco…!?!? — Pela primeira vez durante toda a conversa, o estranho perdeu a compostura. — Os efeitos colaterais serão extremos! Tem certeza disso? Você pode trocar, mas não pode diminuir a quantia que já tem.
— Certeza absoluta. — Ele ousou a redundância.
— Está bem… — disse dando de ombros. — A vida é sua, humano.
De repente, uma tela com centenas de nomes surgiu. Arskan nem pensou muito e escolheu logo as cinco que desejava.
Planejou com cuidado e calma durante anos. Sabia exatamente quais desejava. Chegou há muito nessa conclusão.
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Guerreiro
Mago
Assassino
Invocador
Curandeiro
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Estava feito. Da esfera brotaram cinco outras pequenas bolas brancas de energia que penetraram profundamente no corpo dele. Em seguida, vieram cinco azuis.
Ele não sentiu nenhum efeito adverso, nenhuma grande mudança ou dor. Apenas que antes havia algo faltando e agora estava preenchido.
“É coisa da minha cabeça.”
— Espero que você não se arrependa depois. Ficarei de olho, pois gostei de você. Boa sorte! — Ele deu um sinal de adeus. — Ah! Eh! Vocês receberão um outro guia em breve. Boa sorte com ela e tome cuidado; é uma mulher, digamos, perigosa.
Depois de brincar um pouco, desapareceu da mesma forma que surgiu, do nada.
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O Príncipe Glacial lhe observa
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Arskan ficou satisfeito com os resultados. Estava surpreso, porém, com o poder demonstrado pelo príncipe.
— Ainda mais forte do que. Eu conseguiria tocá-lo? — Duvidava muito disso.
A diferença era abissal. Parar o tempo e conversar com bilhões por minutos. Ele demorou quanto tempo para terminar? Semanas? Meses? Todo esse tempo mantendo um feitiço de parar o tempo.
Quanta mana era necessária? Nem Arskan conseguiria isso sem o poder de um…
— Deus. Ele é um deles. Agora tenho certeza.
Sem mais o que pensar disso, apenas lembrou da personalidade dele.
— Que personalidade horrível…