Guerra de Deuses - Capítulo 14
Agnus era um investidor de alto risco. Um homem totalmente composto e disciplinado. Um dia foi do exército e seguia a sua doutrina, mas não continuou na carreira; buscava algo maior.
No seu início como investidor, cometeu diversos erros e perdeu muito. Acabou gasto e toda aquela ascensão de iniciante se foi.
Terminou por ingressar numa firma de tamanho até considerável.
Desde ponto em diante, tornou-se mais comportado. Investia em negócios de baixo risco e baixo rendimento e vivia como um entre muitos.
Seus delírios de ascensão, cessaram e ele entrou em profunda depressão.
— Agnus! Cuide desse novato — disse o seu gordo e de sorriso amarelo superior.
Ele olhou para o rosto do novato. Sua aparência era o mais comum possível. Jovem, animado, ingênuo e sem traumas ou pesos.
Uma confiança sem fim daqueles que ingressaram rápido no ramo. Era um desprazer para Agnus ver aquilo.
— Jovem, esse vai ser seu supervisor. — O gordo os apresentou e saiu.
O novato estendeu a mão para Agnus e esperou um cumprimento. Por sua vez, o veterano apenas encarou a mão e depois apertou por pura cortesia.
Aquele foi o começo do fim.
Como pensou, ele era audacioso. Investia em negócios de alto risco. Aqueles que ninguém queria.
Perdia cada vez mais e mais dinheiro da firma. No entanto continuava a ser o primeiro a chegar; continuava sendo o mais entusiasmado em reuniões.
Quando a firma estava prestes a mandá-lo embora, algo surpreendentemente aconteceu.
— Agnus! — um colega o chamou com um grito — o garoto tirou a sorte grande!
— Hm… — Agnus pegou a folha de dados e teve a mesma conclusão do companheiro. O rapaz acertou pela primeira vez.
“Sorte de principiante”, pensou ele, assim como outros muitos pensaram.
No entanto semana após semana, dia após dia, hora após hora, a taxa de acerto do rapaz crescia, assim como o seu entusiasmo e a fúria do seu superior.
Ele cresceu na vida, pagou suas dívidas, tornou-se acionista e abriu sua própria empresa rival.
Agnus agora estava de frente para o espelho dentro do seu apertado apartamento de solteiro.
Uma carta na mão lhe convidava para ser gerente de uma das firmas do seu anterior subordinado.
A gota d’água foi aquilo que viu espelho. Um fio branco entre os vários fios pretos da sua cabeça.
Caiu ao chão, rasgou a carta em pedaços e em posição fetal, perguntou-se onde havia errado.
Este foi o ponto mais baixo da sua vida. Era o que pensava, porém… o futuro era imprevisível.
❂❂❂
A maior parte dos inimigos havia sido derrotada. As mãos de Arskan estavam mais vermelhas que o fogo; pintadas sob os ferimentos dos caídos.
Porém o embate não havia terminado. Uma lâmina estava apontada para ele e do outro lado estava Agnus.
— Você vai ficar no meu caminho?
— O que você pensa que está fazendo? Eles tem família. Ainda há uma chance.
— Não perguntarei outra vez. Vai ficar no meu caminho? — A lâmina curva cortou para baixo e o sangue pintou o chão de cor alva para a cor carmesim.
Arskan estava de frente para os homens mutilados que agonizavam, suplicando pela morte.
— Espere um pouco, por favor. Ainda há uma chance — continuou Agnus.
O rosto de Arskan não demonstrava interesse. Ele queria acabar com o sofrimento dos homens e ir derrotar os inimigos restantes.
Sabia que para eles não havia mais chance alguma. E até se houvesse alguma chance, quem diria que os homens depois de tanto sofrimento ainda teriam uma mente estável?
“Ele finge que se importa. Um belo ator.”
— Esperarei, mas já sei a resposta. A cada segundo que deixá-los assim, vai ser pior.
Arskan desistiu de insistir. Decidiu esperar pra ver. Alguns segundos passaram e o grito de uma mulher surgiu.
— Eles estão aqui. Por favor, Natália, salve meu irmão!
A mulher desesperada, Kyler, uma menina que Arskan achava ser Natália e mais um grupo de pessoas chegaram ao local.
— Você consegue não é, Natália?
A menina se aproximou e todos tinham olhos esperançosos.
Arskan olhou-a bem. Deveria ter no máximo 16 anos, cabelos descoloridos quase brancos, olhos da mesma cor, um corpo pequeno e um rosto ingênuo.
Usava um casaco de pele felpudo e tinha os trejeitos de uma dama do norte.
— Eu não posso fazer nada… — Com suas palavras, o silêncio reinou por toda a Clareira Branca…
A mulher ainda tentou argumentar com Natália. Ela gritou, bateu contra o chão, culpou Deus e o mundo, mas nada pôde ser feito.
Depois de tudo, Agnus olhava para Arskan. Ambos os olhos se encontraram. O vazio do olhar fez com que Agnus tivesse que desviar os seus próprios.
Arskan levantou, pegou sua lâmina curva e foi em direção aos corpos, passando pelo antigo investidor.
— Segurem ela — falou Agnus de cabeça baixa prevendo que algo viria a acontecer.
Alguns homens seguraram a mulher caída no chão.
— Hum…? O que estão fazendo? Hey! Hey! O que você está fazendo? — Ela olhou para Arskan. — Hey! Saia de perto do meu irmão. Não! Pare! Saia de perto do meu irmão. Me soltem! Me soltem!
Continuou gritando incessantemente, mas não lhe deram ouvidos.
Abaixaram a cabeça, a maioria sentindo-se fraca demais; o único capaz era aquele jovem.
Arskan ficou de frente para os corpos quase mortos. Realizaria aquela ação, pois desejava que fizessem o mesmo por ele em tal situação.
“Isso não é viver.”
Um a um, cortou-os a cabeça, deixando por último o irmão da jovem. Sem braços, sem pernas, sem olhos e língua, embora parecesse sorrir.
Sabia que finalmente não sofreria mais.
— Por favor… Meu i-irmão…! — Um corte rápido foi feito no pescoço do rapaz.
Arrancou a cabeça dos demais, pois era mais fácil de enterrar, mas este teria um enterro justo realizado pela mulher.
— Não!!! — Apenas os lamentos da irmã puderam ser escutados.
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Arskan sentou-se afastado. Todos olhavam para ele, mas desta vez não estavam com inveja; tinham medo.
— Era preciso ser feito — murmurou.
Logo, Kyler chegou ao seu lado.
— Estão eliminando os últimos deles.
— Aham.
— Você não vai querer matar mais alguns?
— Não.
As respostas rápidas criaram um clima gelado na conversa. Finalmente o arqueiro tomou coragem e fez o que veio fazer.
— P-por que você…
— Ninguém faria além de mim. Eu não me importo.
— Arskan… — Um sentimento de pena brotou em Kyler.
O homem na sua frente não deveria ser muito mais velho que ele.
Possuía no máximo 20 anos, mas tinha uma mente tão envelhecida.
“O que ele passou para se tornar assim?”
Todos sabiam que o ódio da mulher se viraria contra Arskan. Pessoas eram irracionais ao lidarem com esse tipo de coisa.
Sentimentos eram coisas poderosas. A raiva e o amor andavam de mãos dadas e com armas carregadas.
— Já acabou. Esqueça disso, ou vai se tornar pior — falou Arskan enquanto limpava o sangue seco de goblin da lâmina.
— Como esquecer…?
A cena era um trauma para todos. Ficaria gravado na mente de todos, embora se sentisse um pouco aliviado. Agora sabia que, se um dia ficasse na mesma situação, teria alguém para lhe tirar do sofrimento.
“É hipocrisia, não?”, pensou.
Em seguida, a mensagem de Atenas tocou para que pudessem ver.
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2° Onda acabou!
Recompensas serão distribuídas com base na contribuição de cada um
Calculando…
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Alguns segundos e finalmente saíram os resultados. Como previsto, o primeiro lugar não era surpresa para ninguém.
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Anunciando Resultado da 2° Onda
1° Lugar: Arskan
78 Inimigos Mortos | Primeiro a atacar | Misericordioso
Recompensa: Comida para 5 dias | Item Incomum | Item Especial
2° Lugar: Agnus
22 Inimigos Mortos | Liderança
Recompensa: Comida para 3 dias | Recompensa Especial
3° Lugar: Kyler
23 Inimigos Mortos | Salvou 19 Pessoas
Recompensa: Comida para 2 dias | Item Incomum
…
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A lista continuou até o décimo.
— Droga. Eu cai para terceiro — reclamou o arqueiro inconformado.— Eu matei mais inimigos do que ele, por que fiquei em terceiro?
— Ele liderou várias pessoas. Ele tem contribuição na morte de cada goblin que aqueles que o obedeceram mataram.
— Hã? Sério isso?
— Sério.
— Aaargh! — Kyler continuava inconformado.
Arskan não deu muita atenção para ele. Após a batalha tinha que planejar algumas coisas.
“Vai demorar mais três dias para que minhas costas fiquem boas e eu possa voltar a sair. Por ora, vou descansar, me recuperar e treinar meu corpo, além de que…”
Os olhos de Arskan soltaram um brilho azul forte e focaram na menina que conheceu no campo de batalha.
— Natália, me mostre o que esconde.
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[Visualizador de Status]
Nome: Natália Rurik | Raça: Humana
Classe: Santa ?
Título: [Santa] [Amada pelo Mana]
Estatísticas:
Força: 4 | Velocidade: 4 |Vigor: 3
Destreza: 7 | Inteligência: 10 | Mana: 22
Habilidades:
Especial: [Poder Sagrado]
Ativa: [Regeneração Sagrada] [Magia de Luz]
Passiva: [Talento com Mana Aprimorado] | [Controle de Mana Aprimorado]
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Arskan piscou três vezes seguidas. Desativou e ativou os Olhos Mágicos outra vez. Segurou-se firmemente para não ficar boquiaberto.
Três fatores lhe fizeram entrar naquele estado de quase paralisia: a garota possuía cinco habilidades, ela tinha a classe de Santa pré-servidão e o seu sobrenome “Rurik”.
Normalmente, uma pessoa iria adquirir entre uma a duas habilidades, para os mais talentosos, e aqueles que encontravam suas classes perfeitas, receberiam três no máximo.
Ter cinco habilidades era algo inimaginável. Arskan poderia contar nos dedos de uma única mão as vezes em que presenciou alguém que tivesse tanto talento desde o início com uma classe.
O segundo ponto era a sua classe em si. Santas só poderiam ser mulheres que passaram por situações terríveis e ainda se mantinham puras em alma, mente e corpo.
Essa pureza lhes permitia dominar a artes da Magia Sagrada e apenas estar ao lado de uma já trazia benefícios, pois exalavam o mana.
De fato, eram até amadas por ele.
O último detalhe sobre a garota, o seu sobrenome, era o mais chocante para Arskan.
No outro mundo, não havia nenhum único ser humano que não viria a saber daquele sobrenome.
“Ela é filha de Alexander Rurik, o Rei do Campo de Batalha.”