Espectro Do Dragão - Capítulo 1
Um longo estrondo se deu, o céu se tornou cintilante em um piscar de olhos, a terra tremeu. A respiração em vez de se trancar como o resto das portas das casas, isso trouxe aos pulmões um ar quente que também aquecia a alma.
O verde que se mantinha em constância foi trocado por uma cor negra, a montanha que ao sol reluzia tanto se quebrou em pedaços, tomando assim outra forma, um longo corpo com uma cauda enorme e asas que tocavam as nuvens, tudo se retorceu em um casulo.
A menina corria sem parar em direção contrária da maioria da multidão, seus olhos escarlates brilhavam de maneira intensa, seu sorriso demonstrava todo o sentimento que tomou de pose o corpo dela. Se esforçava elevando a barra do vestido, seus passos se tornaram saltos, ao redor de seus olhos surgiram escamas, a pequena logo avançou em direção a entrada.
Com o tanto de força que se jogou, a mesma caiu no chão, com o rosto emburrado e as bochechas vermelhas.
— Boa tentativa, mas acha mesmo que poderia passar de mim com um salto? Não pense que por ser filha da Clarice pode ir contra as regras do líder do vilarejo.
O homem olhava para a menina com uma expressão de raiva, estava preparado para sofrer um ataque nos países baixos. Sabia muito bem do temperamento da primogênita de Clarice.
— Vocês falam como se a minha mãe fosse alguém muito importante, mas eu sò vejo ela como uma dona de uma loja.
— Deixa pra lá. Por que você está? Não deveria estar ajudando no parto do seu irmão?
A menina se levantou do chão e limpou o vestido. Mesmo com o homem bem a sua frente toda a atenção dela estava na entrada daquela longa estrutura.
De uma montanha antiga, o símbolo do povo de seu vilarejo, se tornou uma grande forma semelhante a um lagarto que brilhava de maneira intensa.
A menina sentia que algo estava a chamando para entrar.
— Eu que não vou ficar perto da mamãe quando ela estiver em parto. Quando o Thomas nasceu a casa ficou uma semana sem luz, meu pai até aceitou um trabalho difícil para não ficar em casa.
— Incrível como você lembra bem das coisas, mas esqueci as importantes. Você sabe muito bem que os Gardini são os primeiros a averiguar um espectro do dragão, é algo muito perigoso.
O homem levantou a mão enquanto explicava, o sorriso vinha de um lado ao outro da boca, mas ao abrir os olhos sentiu algo.
A menina fez um longo salto usando de apoio a testa do homem. Seus olhos brilhavam intensamente, de longe percebeu uma criatura que saia de dentro da pequena abertura do espectro do dragão.
Um corpo escamoso em verde, longas asas cheias de penas e dentes muito afiados. O animal em um piscar de olhos chegou perto da menina, sua boca abriu por completo.
A menina não recuou, as escamas aumentaram em seu rosto, suas mãos ficaram imersas em chamas, a a barra do seu vestido rasgou com o salto, dando a ela mais liberdade, então a mesma se preparou para dar um chute.
O que permanece dos homens depois de sua partida são as marcas das solas de seus sapatos. Aquele que andou pela lama, suas marcas não ficam no local que logo se alaga, mas suas solas ficam sujas para sempre. Sobre a neve os passos se demonstram mais pesados, deixam profundas marcas, mas com o simples trocar de estação tudo se vai. Mas pra mim foi como eu tivesse entrando aos poucos no oceano, tornando meus sapatos pesados e desconfortáveis, Não foi da melhor maneira, mas pelo menos disso eu tive libertação.
Uma mulher de longas mechas grisalhas misturadas com amarelas andava de um lado para o outro, segurava firme a mão no vestido, a outra bem perto da boca, controlava sua ansiedade por meio de um assobio, seus olhos se focavam no longo corredor.
Atrás de si tinha uma porta fechada, a mesma rangia sem parar junto da lâmpada acima de sua cabeça piscando de maneira intensa. Se controlava para não correr dali.
Um suspiro de alívio se deu quando viu a sua frente um menino usando um casaco onde o capuz se assemelhava a orelhas de coelhos, deixando cair um pouco dos fios cinzas na testa.
— Então Thomas, sabe onde está a sua irmã Dorothy? Sua mãe quase destruiu o quarto no momento que sentiu se formar um espectro de dragão. Ela sabe muito bem da natureza arteira da Dorothy.
O menino coçou a cabeça e olhou fixo para o chão.
— Eu não encontrei, mas eu falei para o pessoal procurar ela, ou melhor a segurar em algum canto. A mamãe queria muito a presença da Dorothy nesse momento.
— Certo, vamos entrar no quarto. Arranjarei um jeito de acalmar a rainha dos relâmpagos Clarice Bastiat, eu acho que consigo com um jeitinho e ajuda de você, Thomas!
A mulher abriu a porta, colocou um sorriso no rosto, a sua frente existia um longo tapete, é por conta das habilidades elétricas de Clarice o pêlo do mesmo estava todo em pé, quase se assemelhando ao mato.
Em poucos passos dali se mantinha na cama uma mulher de longo cabelo negro, olhos furiosos em azul como tormenta maritima, com a pele alva.
Thomas estava um tanto ansioso para o nascimento de seu irmão. Sendo o mais jovem da família até o momento só lhe trouxe um tanto de problemas, o maior deles é ser acusado de ajudar sua irmã mais velha em suas artimanhas, isso lhe causou uma má fama.
Por isso olhava com um sorriso longo ao rosto o nascimento de seu irmão, seria um bom exemplo a ser seguido, diferente de sua irmã.
Por conta disso se pôs a arrumar o quarto, a primeira coisa que fez foi correr para fechar a janela do quarto.
— Eai irmão, já ajudou a Laurence com o parto da mamãe?
Thomas se assustou ao ver sua irmã se lançando para dentro do quarto. Seu vestido estava todo esfarrapado, um braço estava enfaixado, sobre o rosto de Dorothy machucados.
— A mamãe vai fazer você virar churrasco! Se esconde!
O menino não percebeu que gritou, ao momento que virou para o lado, viu sua mãe por algum motivo rindo alto.
— Sabem o que significa quando uma criança nasce no mesmo dia que surge um espectro do dragão?
Dorothy empurrou o irmão e se sentou no chão ao lado da cama onde sua mãe estava deitada.
— Sei sim! Que ele será forte e saudável. A pessoa que trazer para ele um presente retirado do espectro do dragão, será uma pessoa lembrada por todos! É eu quero ser isso!
Clarice suspirou de maneira profunda, pegou na mão de Dorothy e fechou os olhos.
— Isso mesmo. Bem vindo ao mundo Frederic.
Laurence levava nos braços um pequeno bebê que chorava alto.