Entre Neve e Cinzas, As Memórias Daquele Amor Doentio Permanecem - Capítulo 79
- Início
- Entre Neve e Cinzas, As Memórias Daquele Amor Doentio Permanecem
- Capítulo 79 - De novo! De novo! De novo! Por que isto está se repetindo de novo?! (2/2)
7º Dia
18h52
Novamente aqui estou eu neste trágico e imundo teatro…
Observo atentamente as chamas que se aproximam mais e mais, tomando assim parcialmente as escadarias do saguão.
Pressiono a ponta da metralhadora contra as costas de Miyu e volto a encarar os meus cinco adversários.
Mais uma vez consegui recriar o papel de vilão. Devido à experiência que tive da outra vez, diria que até foi um pouco mais fácil gerar este cenário. Como comecei a montar o palco desde o primeiro dia, tive mais tempo para direcionar este jogo ao meu suicídio.
Desta forma, consegui construir o relacionamento entre as duas e estabelecer confiança sem precisar gerar tantos danos. A minha nova estratégia nem mesmo requisitou de uma traição de Shou e Manabu contra o conselho estudantil. Acredito que consegui manter o mesmo ódio por parte delas e ao mesmo tempo evitar de sacrificar meus amigos, um resultado claramente superior ao seu antecessor.
Porém, ainda há bastantes coisas mal explicadas. Diferente da outra vez, estes malditos nem mesmo deram as caras após o anúncio do jogo para me explicar o que havia ocorrido, o porquê eu preciso fazer isto de novo. Não houve nenhuma informação adicional ou esclarecimento manifestando-se através dos meus sonhos.
A única coisa que pude concluir é que tomei alguma ação que não devia. Então desta vez decidi diminuir o número de assassinatos que precisava cometer para erguer-me neste papel, entretanto ainda necessitei recriar mortes bastante grotescas como o caso de Takashi.
— Desistas, Johann. Tu não tens para onde fugir, se ficares aí logo serás alcançado pelas próprias chamas que ocasionaste. Solta a refém que tu ao menos terás uma morte indolor — diz Mikoto.
Dificilmente você conseguirá convencer alguém dessa forma autoritária, Mikoto. Mas é justamente por isto que gosto tanto de vocês duas.
— Liberte a Miyu-chan, seu desgraçado! — exclama Shou.
— Fique quieto, traidor — respondo.
— Jocchi, só estamos fazendo isso pela segurança dela. Foi você que enlouqueceu ao tomá-la como refém — diz Manabu.
— Não há mais nada para eu tratar com vocês dois — volto-me para Ailiss e Mikoto — Já vocês duas estão bastante confiantes que não deixaram nada passar, não é mesmo? Agora me respondam uma coisa: o que farão sobre a bomba?
— Ele está blefando, não abaixe a arma por um instante sequer — Ailiss ordena ao atirador.
— Entendido! Estou com ele em mira — diz o rapaz.
Esta situação é bastante familiar. Miyu, Shou, Manabu, sinto muito pelo o que os fiz passar nessa última ocasião, no entanto, desta vez não planejo machucá-los.
— Francamente… tu realmente achaste que cairíamos numa mentira deste naipe? Isto só prova o quão desesperado tu estás. Entrega-te de uma vez, quanto mais demorares pior será para ti.
— Tudo bem. Eu desisto. Admito o meu próprio blefe, este realmente foi um xeque-mate da parte de vocês. Não pude prever que esvaziariam o bloco e a emboscada seria na minha saída, não há nada que eu possa fazer para reverter a situação… a verdade é que nunca possuí poderes de clarividência, fizeram bem em presumir que estive mentindo.
— Como eu imaginei. Pois bem, agora larga a refém — insiste Mikoto.
Não precisa ter tanta pressa. Já irei libertá-la…
Então com o rosto sorridente, puxo a arma que estava nas costas da refém e a levanto até a minha cabeça.
— Mas prefiro me matar a ser morto por um verme destes — falo e em seguida puxo o gatilho.
A última cena que posso vislumbrar é o rosto de espanto de Ailiss e Mikoto perante o meu suicídio.
1º Dia
10h27
De novo.
Estou mais uma vez fitando pela janela da sala de aula.
Fui jogado para outra realidade paralela novamente? O que diabos está acontecendo aqui?!
Que palhaçada é essa? Onde estão aquelas malditas entidades? Elas não me falaram nada a respeito disso… Estou quase explodindo de raiva.
Não consigo compreender o que eles pretendem ganhar com isso tudo.
Escoro-me e espero alguns segundos até minha ira abaixar para conseguir pensar racionalmente.
Ficar irritado com eles não mudará nada, são entidades intangíveis, não há como tentar me cobrar deles de qualquer forma.
Pelo visto o método que eu utilizei, o qual exigiu menos sacrifícios, não adiantou de nada. Eles haviam me dito que queriam apenas ver uma nova possibilidade de futuro, e eu os entreguei. Lembro-me claramente que comentaram que estavam satisfeitos com os rumos que eu tomei. Então o que mais esperam de mim? Pode ser literalmente qualquer coisa, não há como eu adivinhar.
Seria um novo desfecho? Se o que eles querem são novas possibilidades, pretendem ficar me jogando de uma linha temporal para outra para conseguir um novo entretenimento? Mas não é possível haver nada de novo, existe um final com a derrota de cada um de nós três. O que eles esperam de novo?
A tontura chega com um pouco de retardo e com isso apoio-me na janela à minha frente.
A enxurrada de informações que é descarregada no meu cérebro aparentemente sempre causa este efeito colateral terrível. Mas está um pouco mais fraco do que a última vez, aos poucos estou conseguindo lidar melhor com o déjà vu.
— Johann-kun, está tudo bem com você? — Miyu faz a mesma pergunta das outras vezes.
— Não muito, mas não se preocupe. Eventualmente sofro de tonturas e dor de cabeça, logo isso deve passar — tento tranquilizá-la.
— Se você está dizendo… mas tem certeza de que não quer que eu o leve para a enfermaria? Talvez um medicamento possa ajudá-lo.
— Isso não é necessário, eu só preciso descansar um pouco. Caso eu necessite ir a enfermaria, pode deixar que vou por conta própria. Para falar a verdade, já estou melhorando… agora se me der licença — cruzo por ela.
— Ok… mas não se esforce muito.
Ao sair da sala de aula deparo-me com Manabu e Shou. Não estou com muito ânimo para lidar com esses dois, apesar de não tê-los matá-lo nessa última vez, ainda é complicado conversar com eles. Prefiro evitá-los por hora, ou minha cabeça vai ficar ainda mais atordoada.
— Opa, Johann! Onde está indo? — pergunta Shou animado.
Continuo apenas andando cabisbaixo e cruzo pelos dois sem trocar uma palavra. Preciso poupar energias para não desmaiar como da outra vez.
— Eh? Que bicho mordeu ele? — comenta Shou.
— Sair logo antes da aula começar… isto é bem estranho — responde Manabu.
— Cara, que coisa… Será que levou um fora ou algo assim? Devemos tentar falar com ele pra ver o que aconteceu?
— Deixem-no, ele não está muito bem. Então está indo até a enfermaria — Miyu impede que Shou e Manabu me sigam.
Caminho então pelos corredores da escola sem nenhuma ideia do que fazer e nem para onde ir.
Estou totalmente perdido, não sei mais o que pensar disso tudo. O único meio para entender o que está acontecendo seria conversar com aqueles estranhos demônios de Laplace em forma de crianças, mas como posso entrar em contato com eles?
Através dos meus sonhos? Eles não se manifestaram em nenhum sonho meu na última tentativa. Se eles estivessem interessados em conversar comigo já teriam entrado em contato.
O sinal para a próxima aula toca e então me sento numa das escadarias para recuperar o fôlego.
Sinto como se eu pudesse desmaiar a qualquer momento, mas preciso me manter acordado e tentar entender o que está acontecendo antes que o jogo seja anunciado. Quando isso acontecer tanto Ailiss quanto Mikoto começarão a agir e então necessitarei correr mais rápido do que elas, para assim mais uma vez encerrar o jogo com meu suicídio.
De qualquer forma, nada adianta eu arquitetar um final perfeito sem descobrir o que está afetando este jogo, seria mais um desperdício de energias e mais assassinatos à toa. Mas descobrir exatamente o quê? O que eu poderia fazer para evitar saltar novamente para outra linha temporal?
Será que eu estou sendo punido ou algo assim? Não sei… a única coisa que tenho certeza é de que preciso salvar Mikoto e Ailiss novamente. Preciso salvá-las quantas vezes forem necessárias. Não importa quantas vezes eles me joguem neste jogo, não permitirei que chegue num final onde uma das duas acabe morrendo.
Pois bem, desta vez não será diferente. Enquanto eu não encontrar nenhuma pista do que está ocorrendo, ou enquanto os demônios de Laplace não fizerem contato comigo, irei colocar variações do meu plano em prática, assim tratarei de fazer a mesma coisa que da última vez…
— Ei, você. Não pode estar nos corredores durante o horário de aula — sou repreendido por um membro do conselho estudantil de menor patente.
— Desculpe-me, já estou voltando para a sala de aula.
…
Chegou o horário, consegui escapar da aula à tarde para tentar encontrá-los. Os alto-falantes já estão chiando daquele jeito estranho, quem sabe eu posso aproveitar esta ocasião para entrar em contato com as entidades.
— Olá a todos! A partir de agora vamos jogar um jogo!
Arrombo a porta da sala de som, contudo ao abri-la percebo que está vazia.
Droga, onde esses malditos estão? O som está sendo transmitido para os alto-falantes de algum outro lugar? Não… não há outra forma de ter acesso às caixas de som sem ser por meio desta sala, logo a ligação deles com este mundo não é por meio físico.
Já que não consegui os encontrar, o melhor a se fazer é tentar impedir o comunicado, talvez esta seja a ação necessária que preciso tomar para encerrar o jogo de vez.
Tento cortar a transmissão pelo computador, mas o comunicado continua em execução. Provavelmente mesmo que eu derrube a energia elétrica da escola inteira esta aberração persistirá.
Vejo que não há outro jeito.
…
Então aqui me encontro novamente.
O cheiro da morte está mais uma vez impregnado em minhas mãos.
Observo a minha volta a pilha de corpos e a neve avermelhada que reveste totalmente o pátio da escola.
Reduzir o número de vítimas não funcionou da outra vez, então não me parece ser uma solução. No fim das contas, seguir este tipo de abordagem é mais a prova de falhas, fazendo com que Mikoto e Ailiss passem a me odiar com maior facilidade. Devo continuar com este procedimento até ter outra ideia.
…
Eu espero do fundo do meu coração que desta vez eu tenha conseguido encerrar esta bizarrice.
— Parabéns a vocês duas. Não pensei que conseguiriam me derrotar desta maneira, acho que não tenho mais escolhas senão…
Diante de seus olhos arregalados, levanto minha mão até a cabeça e puxo o gatilho do revólver.
1º Dia
10h27
De novo, de novo e de novo!
Quantas vezes eu já tentei encerrar esta droga de jogo?!
Duzentas vezes?! Trezentas vezes? Já perdi as contas ao entrar na casa das centenas de repetições…