Entre Neve e Cinzas, As Memórias Daquele Amor Doentio Permanecem - Capítulo 75
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- Capítulo 75 - Após o seu final ideal, só lhe resta arrependimentos. (1/2)
17h00
Certo, são cinco horas da tarde. Neste ponto com certeza já deu o horário para eles cumprirem os meus requisitos para que eu liberte a Miyu. Devo me apressar para colocar a parte final do meu espetáculo em prática.
— Vamos, levante-se logo. Agora que eles sabem a sua localização, não posso deixá-la trancada aqui como da outra vez — a puxo pela corda.
— Por favor, Johann-kun. Pare com isto… Quantas pessoas mais você precisa matar para se satisfazer? Quantas mais vidas você precisa tirar?
Paro por um instante e suspiro enquanto reflito sobre minhas nefastas ações.
No entanto, não devo parar. Não posso parar.
— Não tenho tempo para discutir. Fique quieta e apenas caminhe a minha frente, ou então irei matá-los também.
Pego a minha refém e os galões de combustível, desço as escadarias e dirijo-me até o bloco principal.
Pelo visto, agora não há literalmente ninguém pelo pátio. Aqueles que eu não eliminei provavelmente voltaram atrás e buscaram refúgio com o conselho estudantil. Acho que é a ação que eu tomaria em suas posições, mas nada disso irá desvinculá-los do seu inevitável fim.
Durante o caminho, conforme avançamos mais chocada fica Miyu ao vislumbrar a pilha de corpos aumentando.
Até chegar ao ponto de paralisar.
— Eu pude ouvir os sons de disparos e lamentações. Mas não poderia crer que você tenha feito tamanho horror — Miyu cai ao chão e segura um refluxo de vômito.
Parando para observar o cenário com cautela, realmente o estrago que fiz hoje cedo foi grande. Branco e vermelho são as duas cores que cobrem todo o chão do pátio. O silêncio é tamanho que sinto que quase posso ouvir o som dos flocos de neve caindo ao chão neste final de tarde levemente alaranjado, em qualquer outro contexto esta ambientação formaria um cenário majestoso.
Não temos tempo para ponderar sobre isto.
— Levante-se e ande, está me atrasando.
Caminhamos entre a pilha de corpos que deixei mais cedo e em seguida paramos próximos da entrada do bloco.
Analiso brevemente a situação e não percebo nenhuma movimentação lá dentro. Então, empurrando Miyu a minha frente, entro no saguão da escola.
Novamente, nenhuma movimentação presente.
Pelo visto, eles encaminharam as minhas exigências. Mas isto parece que deu certo até demais. Assim como antes o meu sensor pessimista começa a apitar. Honestamente não consigo crer que ambos tenham efetuado esta tarefa sem nenhuma complicação.
Subo as escadarias, e ao chegar aos andares nos quais constituíam os dormitórios, noto que as salas estão devidamente trancadas.
Ah, compreendo… Então esta foi a reação que os dois conseguiram causar. Diria que casa muito bem com os meus planos.
A ideia de trancar-se não é ruim em si, visto que a minha munição remanescente não é infinita para desperdiçá-la numa tentativa de arrombar as salas. Se eles estiverem se escondendo, seria uma boa forma de ganhar tempo.
Entretanto, eles não têm como escapar do fogo. Infelizmente não era do conhecimento deles que eu utilizaria tal abordagem.
Saio andando pelos corredores enquanto despejo os galões de gasolina por todos os andares. Espalho bem pela porta dos dormitórios inclusive.
Provavelmente Ailiss e Mikoto, assim como uma realeza, esconderam-se num local distinto destes e deixaram a plebe aterrorizada para trás. Talvez tenham usado como justificativa o seu possível contra-ataque, sendo isto uma verdade ou uma mentira, realmente não importa.
Como última ação, vou até a sala de som da escola e ligo uma lista de reprodução de música clássica. A música seguirá tocando até o fogo danificar o sistema de auto-falantes ou o computador na sala de som.
Então acendo um isqueiro que peguei na cozinha do refeitório, o jogo sobre o combustível que espalhei e noto o começo da reação.
Nunca pensei que isso combinaria tanto, realmente Nero tinha muito bom gosto. Agora o entendo perfeitamente.
— O quão longe você pretende seguir com esta loucura?! — pergunta Miyu amarrada.
Já nem sei mais, não estou mais pensando nas minhas ações. Estou apenas matando por matar, é como se isto tivesse se tornado uma atividade automática para mim. É como se eu já tivesse os matado assim bilhões e bilhões de vezes.
Será que eu consegui influenciar as minhas outras versões de mim fazerem o mesmo? E agora as infinitas linhas temporais tomaram o mesmo rumo? Neste caso, as minhas ações foram um grande sucesso, pois significa que minhas emoções pelas minhas amadas transcenderam este mundo.
Descemos para o saguão e paro para observar a beleza das chamas cintilando em companhia de uma bela orquestra de violinos. Neve, fogo, sangue e música erudita, nunca imaginei que encontraria tanta harmonia nesta esplêndida combinação.
18h32
Pois bem, já terminei de apreciar o meu espetáculo e agora estou ficando bem impaciente. Eles não conseguiram executar o restante do plano? Acho que estava esperando demais deles no final das contas. Conseguir fazer com que ambas recuassem já foi um grande avanço para mim, posso dar um jeito de encontrá-las por conta própria.
Escuto um estrondo logo após algo passar de raspão com meu uniforme escolar. Sem hesitar, puxo Miyu pela corda e a utilizo de escudo contra este ataque inesperado.
Observo a silhueta de cinco pessoas na entrada do saguão e logo em seguida posso constatar quem são eles.
Então, eles conseguiram… não devia subestimar tanto assim vocês dois, Manabu, Shou. Devo os parabenizar, foi um trabalho com o resultado além das minhas expectativas.
Estão lá, Mikoto, Ailiss, Shou, Manabu e mais um estudante portando o revólver de Ailiss.
Quase fui pego pelo disparo dele, uma arma com silenciador é realmente perigosa. Só pude ouvir o som do impacto da bala na parede do saguão.
Mas quem é ele? No fim, não importa. Provavelmente trata-se somente de um voluntário para me matar.
Bem, não há outra solução, elas precisam de alguém que se sacrifique para esta tarefa. Só estou surpreso de algum dos patetas desta escola ter conseguido se adequar nesse posto.
— Sinto muito, Kaichou. Errei por pouco. Na próxima irei acertá-lo — diz o rapaz comigo em mira.
Ademais, devo entrar no papel para dar prosseguimento a este teatro. Uma provocação é uma boa forma de começarmos.
— Quem diria, a rainha e a sua general abandonaram o restante da plebe e salvaram suas próprias vidas. Quanta apatia da sua parte, nunca ouviu falar que não existe um reino sem um povo? — falo com a metralhadora nas costas de Miyu.
— É aí que tu te enganas. Não abandonamos ninguém, isto seria um ultraje ao nosso discurso da última assembleia. Basicamente aproveitamos o tempo no qual tu discutias com Shimizu-kun e Matsumoto-kun para evacuar o bloco principal sem deixar suspeitas. E posteriormente bloqueamos as entradas dos dormitórios para simular a recuada que tu havias requisitado a eles — explica Mikoto.
O bloco está vazio?
— Compreendo. Mas como sabiam que eu iria apelar para um incêndio e não tentar arrombar a porta?
— Não sabíamos exatamente o que você pretendia fazer. Porém, pela minha experiência ficava evidente que a munição não seria o suficiente para dar conta de todos os estudantes. Assim, teria que recorrer a algum outro meio — fala Ailiss.
Pressenti que havia algo de errado no ambiente. Não posso dizer com certeza se eles me traíram, afinal pelo que Mikoto explanou, a movimentação já estava acontecendo enquanto eu os passava o plano. Em todo caso, o essencial era passar as minhas intenções, e principalmente manter o saguão livre para efetuar esta reunião.
— Vocês realmente pensaram em tudo… até encontraram um lacaio para disparar? Mas o quão habilidoso ele é para disparar sem atingir a refém? Não estão confiantes demais com isso? Um dia de treinamento é algo seguro para colocar a vida de Miyu em jogo? — encaro Shou e Manabu — Pretendem mesmo correr este risco?
— Não tenho experiência com armas de fogo, mas sou o capitão de Kyudo. Logo, acredito ter competência para isso.
Se eu desviar a metralhadora por um segundo de Miyu, provavelmente o rapaz ali irá disparar sem hesitar. Deste modo ficamos em um impasse, todavia o tempo continua correndo contra mim.
— Você está ciente de que ao me matar, por consequência também irá morrer, correto? Imagino que deve ter sido obrigado a isso, mas no fundo queira sobreviver. Se largar essa arma, eu deixo você vivo. Que tal?
— Uma das suas vítimas por envenenamento era minha prima, sem falar nos meus colegas que você matou hoje à tarde, não pretendo deixá-lo impune por isso, seu maldito!
Não esperava que isso fosse surtir efeito mesmo, pelo menos pude verificar a motivação dele em disparar e, pelo que tudo indica, ele não deve dar para trás.
Acho que realmente consegui ser odiado por todos, inclusive por elas.
— Desista. Uma disputa de paciência não é vantajosa para ti, pois as chamas o alcançarão mais rápido do que a nós e do que o tempo limite do jogo. Se facilitares as coisas, poderemos aliviar a tua pena — diz Mikoto.
Mesmo que não estivesse na circunstância de um incêndio, como ela bem disse, o tempo para o final do jogo continua correndo e as condições para que eu finalize isto da forma que desejo ainda não estão todas prontas.
— Aliviar a minha pena? Na posição em que estamos não haveria como qualquer um de nós escapar da pena de morte de qualquer maneira.
— Estás correto, porém acredito que tu prefiras uma morte indolor em vez de morrer queimado abaixo de um desmoronamento.
Se as minhas intenções não fossem morrer ou estivesse despreparado, eu realmente estaria sem saída numa situação destas. No entanto, este não é o caso.
Tentar me mover pode criar alguma brecha para que ele dispare. Então imagino que seja o momento para seguir com a segunda fase do espetáculo.
— Estou bastante chateado com vocês dois, Manabu, Shou. Creio que a Miyu também esteja. Posso considerar que vocês já não se importam mais com a segurança dela, visto que decidiram me trair e montar uma emboscada contra mim. Então posso matá-la, certo?
— Jocchi, por favor, entenda o nosso lado e a liberte. Não havia como seguirmos as suas ordens, muitos colegas nossos iriam morrer. Este local está muito perigoso, você não tem nada a ganhar persistindo nesta loucura, morrerá da mesma forma! — pede Manabu.
— Johann, seu desgraçado, se ainda tem um pingo de consideração por seus amigos, as obedeça e se entregue logo! — berra Shou dando alguns passos a frente.
Miyu vira o rosto entristecido para mim, porém não consegue dizer nada.
Não me diga que está se arrependendo só agora? Você devia parar de pensar tanto nos outros e pensar mais em si mesma. Ou melhor dizendo, parar de pensar na impressão alheia sobre as suas condutas.
Ela sabe o que irá ocorrer daqui pra frente e isto está a remoendo por dentro. Os três sabem bem o peso de suas ações, mas para terem uma chance de sobreviver devem suportar esta culpa e seguir minhas instruções.
Muito bem, os dois já deram suas deixas. Não há mais porque enrolar.
— Deixando os traíras de lado… Ailiss, Mikoto, devo as parabenizar por chegar tão longe, não poderia esperar menos de vocês, entretanto falharam num ponto crucial. Vocês apenas se preocuparam com aquilo que se vê, e esqueceram-se do que não se vê. Numa batalha não se pode limitar-se apenas ao provável, por isso o pessimismo é tão importante — digo.
— Do que você está falando? Não está dizendo nada com nada, estaria apenas tentando ganhar tempo? Imbecil… ainda não entendeu que o tempo está contra você? — Ailiss resmunga.
— Não se precipite a entender do que estou falando. Agora, deixe-me fazer apenas uma pergunta: O que farão a respeito da bomba?