Entre Neve e Cinzas, As Memórias Daquele Amor Doentio Permanecem - Capítulo 64
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- Capítulo 64 - Por isso, Yukihara Mikoto e Ailiss von Feuerstein… (2/2)
23h48
Depois deste fracasso, tudo ficou muito claro. Como fazer com que inimigos tomem o mesmo lado numa batalha? A resposta é óbvia. Não é a primeira e nem será a última vez que algo assim ocorre.
Durante todo o percurso da história, como por exemplo na Grécia antiga, um inimigo em comum é um motivo para unir forças com um rival. Assim foi com Esparta e Atenas, e assim será com essas duas.
Coloco a mão no bolso e pego o molho de chaves que roubei hoje cedo. Então percebo um recurso muito em conta que posso utilizar para concretizar o meu plano.
Eu serei o bode expiatório para isto, preciso tornar-me o vilão desta história. Mas não posso ser qualquer inimigo, necessito ser o mais cruel de todos para que assim gelo e fogo sejam forçados a entrar em harmonia para me derrotar. Estou disposto a me tornar não apenas um monstro, mas um demônio se for preciso.
Os fragmentos de memórias de mundos passados alimentam-me com uma ideia. Instintivamente caminho até a sala dos funcionários e com a chave abro um dos armários.
Pego um frasco e o observo atentamente.
Uma surpresa? Deixe-me adivinhar… vocês manipularam a composição disso para torná-lo mais letal? Não sei se posso considerar os demônios de Laplace como aliados, mas isso é uma bela ajuda.
Foi com isto, sim me lembro disso. Em outros mundos este veneno foi usado como ferramenta para criar caos na escola e desequilibrar o seu adversário. Como ambas tiveram esta ideia em outra ocasião, não seria estranho que tenham novamente, portanto devo levar todos os frascos para outro local. Acho que o mesmo local que escondi a metralhadora de Ailiss seja um lugar apropriado.
E então agora basta entrar em ação…
Antes de esconder os frascos, vou sorrateiramente até o bebedouro da escola, abaixo o galão, me certifico de que ninguém está por perto e em seguida despejo o veneno dentro.
Como sei que Mikoto é muito cautelosa, bem como possui um bebedouro próprio, não há risco de ela ser atingida. E Ailiss, a qual provavelmente nem virá ao bloco principal, muito menos.
Volto para o dormitório, abro a porta e encontro-me com Shou e Manabu.
— Porra, Johann. Aonde você tava? Olha pra isto! — Shou aponta para o seu olho roxo — Aquela garota é um monstro! Quer um conselho? Fique longe dela! — fala apavorado.
A presença deles deve ter sido tão insignificante para ela que nem se deu o trabalho de comentar comigo sobre essa surra.
— Desculpe-me. Estava lamentando-me por ter levado dois foras no mesmo dia.
— Eh?! — reagem assustados.
— A propósito, agora que você falou, já está bem tarde. O vice-presidente não irá aparecer? — pergunta Manabu também com o rosto inchado.
Mikoto até o momento do nosso encontro não havia se dado conta do sumiço dele também.
— Pois é, cadê ele? De qualquer forma vamos aproveitar para jogar cartas enquanto ele não vem.
5º Dia
06h22
Todos dormem tranquilamente. No entanto, esta falsa sensação de segurança é quebrada de forma abrupta.
— Ei, pessoal! Ajudem-me aqui! — berra um rapaz.
Com o grito do nosso colega de classe, todos se acordam confusos ainda tentando compreender o que está acontecendo.
— O que foi? E que horas são? Ainda está escuro… — resmunga Shou olhando para a janela.
— Rápido, pessoal! Ele está gelado e não está respirando! — o rapaz prossegue clamando apavorado.
— Hã?! — Shou reage assustado.
Conforme captam o que acabou de ser informado, correm em direção do estudante que pediu ajuda. Porém, é uma tentativa vã de salvá-lo, se o seu corpo está gelado significa que os seus órgãos já pararam de funcionar há algumas horas.
Levanto-me e também caminho até lá, para então observar o fruto da minha armadilha.
Esta era exatamente a reação que eu planejava gerar. Acredito que através deste impacto eles comecem a agir de forma mais congruente com a posição que estão dentro deste jogo e a anomalia perca suas forças.
— Morto — pausa com a voz trêmula — Ele está morto — um garoto comenta suando frio.
Provavelmente deve ser a primeira vez que eles vislumbram um defunto, pelo menos neste mundo. Meras mortes por envenenamento nem são tão impactantes assim. Pergunto-me qual seria a reação deles diante do corpo de Takashi.
— Não. Não apenas isso… ele foi assassinado — uma voz surge atrás de nós.
Viramo-nos e nos deparamos com Haruki portando uma garrafa d’água.
Nada mal. Era de se esperar que o conselho estudantil conseguisse ligar os pontos rapidamente. Até porque os alvos de meu ataque não residiam apenas neste dormitório. Com isso posso concluir que o meu ataque funcionou nos outros dormitórios também, tendo então uma excelente eficácia.
— Por que está afirmando isso, Harucchi? Está dizendo que o conteúdo dessa garrafa seria…? — pergunta Manabu encarando o objeto em suas mãos.
— Exatamente. Ele foi envenenado. Não ocorreu apenas com ele, tivemos outras vítimas em outros dormitórios. Logo constatamos o que havia em comum entre as vítimas, foram todos os que decidiram encher as garrafas durante a madrugada. Assim sendo, a Kaichou concluiu que alguém despejou veneno no bebedouro do corredor — Haruki ainda desconfortável explica.
O pavor é visível no rosto de todos eles, pois até agora, este jogo de mortal não havia nada. Se não fossem jogadores, não havia nada para ameaçar as suas vidas. Porém, a partir de agora, eles terão que se acostumar com isto, pois assassinatos serão muito recorrentes se depender de mim.
— Isto é loucura… Mas quem faria um absurdo destes? — pergunta Shou.
— Não é óbvio? Existia alguém assim desde o princípio. Acredito que estava apenas esperando a hora certa para atacar. Possivelmente o culpado foi quem nos colocou dentro desta realidade e tais mortes estejam relacionadas ao tal jogo que nos foi imposto — respondo.
— Temos que encontrar este desgraçado e fazê-lo pagar!
— Concordo, Shoucchi. Mas há algo mais importante: a Miyucchi. Será que ela está bem?! — comenta Manabu.
— Bem lembrado. Vamos até lá para verificar se está tudo ok com ela.
O começo do plano foi bem executado. Agora é apenas uma questão de tempo… E então, Mikoto, o que fará a respeito disto?