Entre Neve e Cinzas, As Memórias Daquele Amor Doentio Permanecem - Capítulo 56
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- Capítulo 56 - E pelo visto, desta vez também não será diferente. (2/2)
10h14
Não consegui progredir muito a respeito das minhas lembranças, tudo continua demasiadamente nebuloso, mas pude traçar algumas hipóteses a respeito destas sensações que estou tendo.
Dentre todas as possíveis explicações, filtrei e elegi a que mais parece fazer sentido: Eu fui capaz de ver o futuro.
Acredito que estes flashes dos quais consigo me recordar vagamente são referentes a algum ponto futuro, quando a presidente, a intercambista e eu nos reuniremos na sala do conselho estudantil para tratar de algum assunto. Tudo indica que nós próximos dias irei me aproximar da presidente e também conhecerei aquela garota, talvez tenhamos que estabelecer uma parceria para conseguir sair desta dimensão.
Essa é a única explicação para que eu consiga visualizar uma pessoa que desconheço, pois a desconheço atualmente.
Como nos movemos para um espaço restrito, imagino que tenha ocorrido algum deslocamento numa dimensão além das três dimensões espaciais. Pela teoria, a quarta dimensão é nada mais, nada menos, que o tempo, e com isso passado, presente e futuro podem ter sofrido certa distorção. Este pode ter tido alguma influência sobre mim, a ponto de alguma informação ter ficado retida em meu cérebro como forma de premonição.
— Ah cara, estou tão cansado! Não me importaria nem um pouco de dormir até o horário de almoço, ainda mais neste frio. Caramba, por que diabos o Tanaka nos tirou do dormitório? Não temos nada para fazer — Shou espreguiça-se.
— Realmente, parece que quanto mais dormimos, mais cansados estamos no outro dia. Mal estou conseguindo absorver a história — Manabu fala bocejando enquanto solta o mangá que estava lendo.
— Qual é, garotos? Vejam que dia lindo, apesar do frio, não há nem uma nuvem no céu. O sol está radiante. Seria um desperdício ficar dormindo até tarde.
Isto também é algo que está incomodando-me um pouco. Eles estão conversando normalmente. Todos nós estamos correndo risco de vida aqui dentro, e mesmo assim eles parecem não se importar muito.
Se fossem apenas os três, eu até relevaria. No entanto, para onde olho, vejo grupos de estudantes conversando como se nada houvesse acontecido. O desaparecimento de um estudante, um professor e dos demais funcionários não estão mais os perturbando?
Está certo que apenas os jogadores puderam ver do que realmente se tratou, bem como estão relacionados mais diretamente ao jogo. Porém, o pânico que eles sentiram com o desaparecimento não pode ter sumido assim do nada. É quase como se tivessem se acostumado com a ideia. Estão achando que isto aqui é algum tipo de acampamento?
12h20
O horário de almoço chega e tudo continua ocorrendo “normalmente”. Tirando o fato de que foi o conselho estudantil que ficou responsável pelo almoço, nada se difere de um dia letivo normal como qualquer outro. O mesmo papo entre as tribos escolares, as mesmas risadas, tudo igual. Está tudo tão semelhante à rotina habitual que chega a ser perturbador.
Acho que infelizmente nem mesmo um jogo sobrenatural de vida ou morte é capaz de tirar-me deste inferno que é a interação social. Para variar acabei sendo inserido no pior dos dois mundos.
Termino de me servir após aquela fila infernal e me sento na mesma mesa afastada de sempre. De praxe, os três seguem-me, enquanto falam besteiras, para almoçarmos juntos.
Vendo que nenhuma informação vinha-me naturalmente à mente, pela manhã inteira tentei procurar pela tal garota intercambista que Shou mencionou ontem, porém não consegui avistá-la em lugar algum. Não posso descartar a possibilidade de ser um boato, visto que Shou não é lá uma das fontes mais confiáveis. Talvez eu deva ceder e perguntá-los diretamente sobre o assunto.
— Ei, Miyu. Você viu a garota intercambista que o Shou falou nos dormitórios femininos?
— Agora que você tocou no assunto, não tive nem sinal dela. Mas por que a pergunta? Nunca o vi interessado em algo deste gênero. Não vá me dizer que… — responde surpresa.
Eu possuía receio de perguntar exatamente por isso, já consigo premeditar uma má interpretação seguida de uma euforia irritante.
— ISSO AÍ JOHANN! Bem vindo ao clube, sabia que você iria entrar comigo nesta luta pelo coração feminino — diz Shou em meio a risadas — Mas realmente, onde será que ela está? Minhas fontes jamais se enganam — para pensativo.
Não, não estou contigo em nada.
— Não tentem presumir minhas intenções. Vocês não entenderam nada. E por favor, não grite algo assim, não quero ter a minha imagem manchada mais do que já está por ocupar o mesmo espaço que você.
— Jocchi — Manabu chama minha atenção em meio a lágrimas — você não pode ter abandonado a jornada pelas garotas 2D. Por favor, diga-me que é mentira.
Quando eu acho que um já possui uma reação exagerada, o outro aparece para surpreender-me ainda mais. Onde eu fui me meter… até parece que estou num manicômio.
— Eu nunca estive em jornada nenhuma! Agora pare de chorar antes que comecem a olhar torto para gente.
— Engula essa! O Johann está no meu time agora! — Shou aponta e continua gargalhada.
Por favor, Shou, apenas cale a sua boca. Não estou no time de nenhum de vocês.
Observo ao redor e noto que já é tarde demais. Mesmo sentados distantes da massa, a histeria deles foi o suficiente para chamar a atenção das mesas mais próximas.
— Vão deixar eu me explicar ou não? — indago irritado.
Eles se entreolham e finalmente dão espaço de fala a mim.
— Pois bem, a questão da qual eu quero tratar com essa garota não é nada referente ao que vocês postularam. Esta série de eventos coincidiu com a chegada dela, então acredito que no mínimo ela possa saber de algum detalhe.
Os três novamente param por um instante para digerir a informação e então Manabu esboça uma expressão de compreensão.
— Realmente, é um ponto bastante suspeito. Você acredita que ela tenha algum envolvimento com a execução deste “jogo”? — pergunta e muda a entonação de voz.
Acho que finalmente consegui colocar a conversa nos trilhos, aparentemente irão levar a conversa mais a sério a partir de agora.
— Não sei, ainda acho muito cedo para afirmar qualquer coisa. Mas como você mesmo pontuou, é no mínimo suspeito. Então repito a pergunta, alguém tem noção do paradeiro dela? — respondo.
Os três se entreolham e balançam a cabeça em negação.
Então não há jeito, terei que procurar pelo paradeiro dela eu mesmo, mas não sei nem ao menos por onde começar.
Se ela não esteve nos dormitórios femininos, aparentemente ela deve estar se escondendo em algum lugar da escola. O terraço talvez? Normalmente é lá que o pessoal fica para matar alguns períodos de aula após o intervalo. Acho que é uma boa tentativa.
De repente outra sensação que não poderia ser premeditada toma-me a mente. Uma alfinetada na cabeça faz com que eu remoa-me em dor e perca completamente o equilíbrio do meu corpo.
Inclino-me para frente e me apoio sobre a mesa.
— Johann-kun, você está bem? O que está sentindo? — Miyu tenta ajudar-me.
— Sim, não é nada demais. Apenas uma dor de cabeça — rejeito a sua ajuda e tento recompor-me.
Junto a esta dor, mais alguns flashes futuros sistematicamente tomam a minha mente. Como o passar das cenas parece estar fora de ordem, não consigo compreender muita coisa. Porém, constato diversas imagens relacionadas a essa garota misteriosa com que sonhei.
Dentre tais cenas, estão presentes fragmentos de conversas. Todavia, é praticamente impossível reter qualquer informação, está tudo desconexo, exceto por uma determinada sequência de palavras.
“Ailiss von Feuerstein”
Vislumbro a cena dela falando esse nome. Sinto um forte peso em cima desta pronúncia, é como se estivesse acostumado com ela. Traz-me uma sensação de que estou sendo impulsionado a realizar algo. Algo que apenas eu e mais ninguém poderia concretizar.
Ailiss? Não é um nome muito comum nem mesmo no ocidente.
Seria o nome dela? Sim. Uma emoção muito forte acompanhada de um aperto no peito me diz que sim.
Quem é essa garota? E por que estou tão fora de mim? Sinceramente não sei interpretar que tipo de relação eu terei com ela com base nessas premonições abstratas.
No entanto, apenas o nome dela basta por hora. Agora já possuo um norte, sei para onde devo caminhar. E com esta informação adquirida, a minha sessão de previsões finalmente cessa. Contudo, diferente da outra vez, agora tenho uma missão muito mais concreta em mente.
Ailiss, eu preciso encontrá-la logo.