Entre Neve e Cinzas, As Memórias Daquele Amor Doentio Permanecem - Capítulo 14
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- Capítulo 14 - Determinada, Yukihara Mikoto toma uma decisão. (3/3)
09h55
E então meu pensamento de pouco tempo atrás acabou dando-me com a língua nos dentes.
— Johann, nossa reunião começará daqui a pouco. Apenas vim me certificar de que tu não esqueceste disso.
A presidente Mikoto, fez questão de vir pessoalmente me alertar sobre isto. Como eu poderia prever esta situação? Na verdade, pela minha maré de azar isso não poderia ser diferente. Já consigo sentir o vulcão se preparando para entrar em erupção ao meu lado.
— Ah, sim. Fique tranquila, eu não me esqueci da reunião. Encontro-me com vocês na sala do conselho daqui alguns minutos — respondo.
Olho para o lado e vejo Shou extremamente irritado com seus punhos cerrados.
— Eu não disse?! Até o Johann conseguiu e eu fracassei miseravelmente! Viu só, irei ficar sozinho para o resto da vida — resmunga de braços cruzados.
A histeria de Shou conseguiu levantar a curiosidade da própria Mikoto, a qual mal pode conceber o comportamento birrento que Shou adotou.
— Do que ele está a falar? — pergunta Mikoto com certo receio ao ver uma cena tão avilta.
Miyu agarra Shou pelos cabelos e o puxa para baixo impedindo que ele prossiga queimando mais ainda o filme dela com a presidente do conselho.
— Nada não, Kaichou. O Shimizu-kun não fala coisa com coisa, por favor, não leve a sério qualquer coisa que saia da boca dele. Ele vê pelo em casca de ovo. Por favor, apenas o ignore — replica Miyu rindo forçadamente.
Mikoto passa a sorrir levemente enquanto olha para mim. Imagino que ela já tenha ligado os pontos. Estou tendo arrepios de apenas vislumbrar a cena, pois quando ela fica contente assim, coisa boa não vem.
— Hmmm. Entendo… Ele pensou que estaria eu, interagindo com Johann com intenções além de profissionais. Por assim dizer, correto? — Mikoto fala com superioridade enquanto ajeita uma mecha de cabelo.
Isto está ficando perigoso. Não é difícil conjecturar a existência de um plano diabólico em sua mente.
— É. Ele é um idiota, repito, o ignore. Acredita que ele pensou o mesmo de mim e do Manabu-kun? — prossegue rindo forçosamente.
Mikoto toca os dedos em seus lábios de forma pensativa, em seguida me encara com um olhar ardiloso e diz.
— Johann, pelo que nós conversamos nos últimos dias, eu pensei que tu quiseste manter sigilo no começo. Se tu mudaste de ideia e decidiste contar sobre o nosso relacionamento para o teu amigo, por mim tudo bem, até porque não vejo nenhum problema nisso. Todavia a única coisa da qual esperava de tua parte era que tu me alertasses sobre tal mudança de planos. Devido a esta displicência, agora estamos nesta situação constrangedora — prossegue com seu leve sorriso enquanto discursa.
Foi pior do que eu imaginei. O modo dissimulado de ela contar esta calúnia fantasiosa conseguiria fazer com que qualquer fábula aparentasse ser verídica.
Ai que merda. Como vou explicar isso? Preferia que ele tentasse me humilhar diretamente a isso.
Olho para o lado e vejo Miyu corada e de olhos arregalados com a mão sobre sua boca.
— Hã? Então, v-você e a Ka-kaichou realmente e-estão? — gagueja enquanto tenta confirmar o que acabou de ouvir.
Tento pensar em alguma maneira para explicá-los que a Mikoto estava apenas brincando. Porém, não acho que ela vá deixar eu me livrar desta tão facilmente, continuará mentindo como ontem no almoço. Para cada mentira dela que eu consiga justificar, terá tempo de implantar mais três, é uma disputa matematicamente impossível de eu vencer.
— Bem, já está na hora de irmos — Mikoto cochicha em meu ouvido.
Além do mais, você escolheu um horário bem conveniente para eu não conseguir me explicar para eles, né? Certamente você já estava com todo esse plano diabólico em mente.
10h12
Após aquela conversa turbulenta com Shou e Miyu, Mikoto e eu nos dirigimos para a sala do conselho estudantil, na qual nos encontramos com Haruki e Natsuki para discutir sobre a nossa ofensiva contra Ailiss.
Assim como o imaginado, não temos muitas saídas. Para compensar o poder de fogo que Ailiss possui, precisaríamos contar com uma enorme vantagem numérica, e então vencer qualidade com base na quantidade, todavia até isso foi exaurido por ela. A nossa única arma que era a soberania do conselho perante o corpo estudantil foi destruída, desta forma somos como um animal tentando lutar sem garras ou presas.
— Mesmo com a desestruturação que sofremos, ainda possuímos gente o suficiente para enfrentá-la. Por menor que seja a nossa chance, ainda devemos investir nela — alega Haruki determinado.
No momento Haruki e Mikoto estão em uma discussão sobre a possibilidade de uma ofensiva direta. A nossa falta de tempo é um argumento válido para apostar nesta ideia de Haruki, afinal não temos alternativa ao combate. Entretanto, ainda acho que as probabilidades de vitória são tão baixas que não compensam atacá-la desta forma. Seria meramente consumir totalmente o nosso poder de fogo num ataque inefetivo.
— E no que exatamente isso nos ajuda? Veja as circunstâncias, ela é uma jogadora. Quem em sã consciência iria querer nos ajudar com uma investida direta? Pois ao matá-la estaria cometendo suicídio seguindo a mecânica do jogo. Mesmo que concordasse, no momento de atacá-la, instintivamente iria hesitar. E capturá-la viva torna tudo ainda muito mais difícil. Não se trata de negativismo da minha parte, infelizmente com este tipo de abordagem nossas chances de sucesso são nulas — explana Mikoto.
Pensei que essa propriedade de jogador seria muito útil para evitar que eu entrasse em conflitos, mas no fim está apenas servindo aos propósitos da jogadora que ativamente está iniciando agressão. Ao mesmo tempo em que restringe um confronto direto entre os jogadores, incita ataque a terceiros. Tudo está conspirando contra nós.
— Certo, Kaichou. Eu entendo o seu ponto perfeitamente. Contudo, se não pudermos matá-la diretamente, como iremos investir então? Não consigo conceber outra saída, ou lutamos contra o improvável ou aceitamos a certeza da derrota.
— Eu pensei bastante sobre isso, e infelizmente não cheguei a uma solução definitiva. Todavia, há formas de abordagem que possam ser mais adequadas para combatê-la — cruza as pernas e prossegue com uma expressão pensativa — Primeiramente precisamos aumentar ao menos um pouco a nossa quantidade de militantes, e em seguida usaremos alguém que assim como ela não pode ser morto. Deste modo a batalha ao menos ficará minimamente equilibrada, a ponto de existir probabilidade significativa de vitória.
Alguém que não pode ser morto. Em outras palavras, um jogador. Ela estaria insinuando que vai me colocar como escudo? No fim acabarei sendo usado como um mero peão.
Acho que eu deveria estar um pouco mais zangado, entretanto não foi algo muito difícil de aceitar. De certa forma até que não possuo muitas queixas sobre o caso, se esta for a decisão dela, conformo-me com isto.
— Como assim? Alguém que assim como ela não pode morrer? Por acaso, você está insinuando que temos um jogador ao nosso lado? — pergunta Haruki.
Mikoto dirige seu olhar para mim antes de respondê-lo. Provavelmente está se certificando de que cumprirei este papel, e caso eu morra todos estarão livres. Deste modo, torna-se um plano a prova de falhas, afinal todos eles sairão ganhando com isso.
Ela continua me olhando fixamente. Será que ela está esperando que eu me manifeste? E desta forma fique parecendo que eu esteja me voluntariando e que não esteja sendo ordenado para a morte?
O olhar afiado dela volta-se para Haruki e então conclui.
— Sim. Eu sou uma jogadora e cumprirei este papel.