Entre Neve e Cinzas, As Memórias Daquele Amor Doentio Permanecem - Capítulo 13
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- Capítulo 13 - Determinada, Yukihara Mikoto toma uma decisão. (2/3)
20h42
— Entendo, eu realmente estava estranhando ficar ausente de algumas reuniões. Entretanto imaginei que fosse para dar suporte a Natsuki-chan — diz Haruki.
— Sinceramente, nem sei bem como desculpar-me sobre isto, o mínimo que posso dizer é: Sinto muito. Pois tudo me levava a crer piamente que o assassino estava infiltrado dentro do conselho, não havia outra explicação para ele ter acesso aos nossos planos previamente. E infelizmente tu eras o único que se encaixava neste perfil.
Mikoto decidiu rearranjar os membros restantes do que um dia já fora o conselho estudantil. No que se resume em Haruki, Natsuki e outros membros de menor patente.
— Podem falar, nós vamos todos morrer né? — diz Natsuki encolhida enquanto enxuga suas lágrimas.
Contudo, a confusão mental de Natsuki continua preocupante. A cada novo incidente que ocorre, mais e mais instável torna-se o seu estado emocional.
— Não é verdade. Vamos dar um jeito de escapar, acredite em mim — Haruki tenta a confortar.
Sejamos francos, nem você acredita nisso. Estamos numa desvantagem total.
— Como você ainda pode estar confiante disso? — pergunto.
— Esperança. Pois se abandonarmos a esperança, o que nos resta? Não concorda comigo, Johann-san?
— Nem um pouco. É triste informá-lo, mas essa esperança já se demonstrou falha diversas vezes. Afinal, ideais não nos tornam a prova de balas.
— Como consegue falar tamanho absurdo? Não percebe que estamos tentando fazer algo? E você pretende fazer o quê?! — Haruki arregala os olhos e agita-se com a minha réplica batendo na mesa.
Esta irritação que ele manifestou apenas mostra que no fundo ele sabe que não basta acreditar. Além de estar armada, ainda misteriosamente consegue prever todas as nossas jogadas.
— Ambos mantende a postura. Vós não conseguis constatar que os dois possuís pontos nos quais estais certos? Johann tem razão quando diz que esperança por esperança não vai resolver nada. E foi isso que vimos nos últimos dias, por mais que acreditássemos que venceríamos, perdemos dia após dia. Apenas ter esperança não impediu o assassino de obter uma arma — discursa Mikoto interrompendo Haruki.
Após uma breve pausa, volta-se o seu olhar aguçado para mim.
— Todavia, isso não quer dizer que devamos desistir. Não é provável que não exista uma sequer solução para esta batalha. Lembre-se, tu aliaste-te a mim. Então não tens permissão para desistir agora.
Não tenho permissão? Que garota problemática que fui me envolver, bem, eu acho que mereço tudo isso por ter cedido aos encantos dela.
Apenas a fito nos olhos e assinto levemente dando a entender que continuarei a segui-la.
— Kaichou… já que você e o Johann-san levantaram o ponto da nossa desvantagem. Existe algum plano de contra-ataque que leve isso em consideração? — pergunta Haruki.
— Até possuo algumas ideias. No entanto, não quero me precipitar como das outras vezes, gostaria de tirar esta noite para pensar bem em como vamos agir e amadurecer estes planos.
— Tudo bem. Você tem razão, vamos tentar usar o tempo a nosso favor.
— Pois bem, pretendo discutir isto convosco o mais rápido possível. Então podemos nos encontrar aqui às dez horas da manhã?
— Sim, pode contar com a nossa presença, Kaichou. E qualquer coisa basta entrar em contato comigo. Então, se nos der licença… — Haruki encerra a conversa e se despede.
Haruki levanta-se, vira para Natsuki, a qual ainda permanecia um pouco atordoada, pega em sua mão e a chama.
— Vamos indo, Natsuki-chan?
— Ah, sim. Vamos — desperta do seu transe.
Ela também se levanta e em seguida ambos saem da sala do conselho.
Olho pela janela e vejo que a neve voltou a cair.
— Bem, está tarde. Acho que também vou indo nessa, prometi dar um parecer para o Manabu e Miyu — comento.
— Podes ir. Apenas pedir-te-ei para não te atrasar amanhã, pois precisamos definir logo como procederemos nossas ações a partir de hoje. Nosso tempo está bastante escasso e cada dia é valioso.
— Vai ficar por aqui? Não acho que seja uma boa ideia deixá-la sozinha. Com a desestruturação do conselho estudantil, esta sala está bem mais vulnerável.
— Fica tranquilo. Neste bloco estão hospedados estudantes que ainda me apoiam. Hasegawa-san e Nakamura-san também ficarão por aqui, apenas numa sala distinta — levanta-se e prossegue falando — Ademais, eu sei cuidar muito bem de mim mesma. Entretanto, fico contente que estejas preocupado com minha segurança.
Além do mais, como jogadora, ela ainda possui certa proteção. O assassino provavelmente não tentará nos matar ainda, o primeiro motivo está claro nas próprias regras do jogo. Contudo há algo nas entrelinhas de suas ações, prazer. Ele ainda não quer que o jogo seja encerrado.
— Bem, se você está dizendo que consegue se virar. Não serei eu que irei contradizê-la.
— Não me entenda mal. Posso cuidar de mim mesma, entretanto não conseguirei vencer sozinha este jogo. É por isso que eu preciso de ti como aliado, bem como do teu apoio, Johann — fala e em seguida para ao meu lado olhando para os flocos de neve que descem do céu.
No fundo, ela possui um lado fofo, estou cada vez mais preso em sua teia, sinto que vou acabar muito mal no fim desta história.
5º Dia
08h38
E assim como imaginei, a perda de controle do conselho se concretizou. Na mesma noite a maioria dos alunos resolveu montar dormitórios por conta própria. Com isso, toda a escola está fragmentada em pequenos grupos.
Como a própria Mikoto me informou, uma minoria que ainda acreditava no conselho decidiu permanecer no bloco principal sobre a antiga “legislação”. Neste momento Mikoto, Haruki e Natsuki estão interagindo com seus poucos apoiadores, os quais serão fator essencial se quisermos avançar nesta batalha, pois necessitaremos de combatentes e o mínimo que eles possam persuadir para o nosso lado já faz diferença.
Acabei passando a noite neste bloco juntamente dos outros membros do conselho e disto pude concluir que realmente estamos em menor número. Manabu, Miyu e Shou foram alguns dentre os poucos que permaneceram por aqui.
Quem sabe algum detalhe que deixamos passar possa mudar o rumo que o jogo está tomando, algo que possa evitar este conflito. Alguma incongruência… sinto que há algo deslocado nisso tudo, a harmonia das coisas não bate muito bem. É como se eu tivesse em um confuso sonho, no qual sei que nada faz o menor sentido, mas quando acordo já não consigo mais perceber qual era a estranheza em questão.
Possivelmente apenas estou inseguro em relação à Ailiss, de modo que tento enganar a mim mesmo. Não a respeito de ter dúvidas sobre ela ser a assassina, isso sempre esteve escancarado em minha mente. Apenas não queria ter que me opor a ela, depois de Mikoto ela é a adversária que menos gostaria de ter.
— Eu entendo, sei o que está sentindo. Ontem, quando fiquei sabendo sobre o assassino estar portando uma arma de fogo, também perdi o chão, mas assim como Hasegawa-kun nos disse, podemos inverter este jogo. Basta estarmos unidos que conseguiremos — diz Miyu ao me ver abatido.
— Nem sabemos se o assassino está ligado ao jogo em si, se é um jogador ou até mesmo o responsável por estarmos aqui.
Se os dois outros jogadores forem realmente aquelas duas, acho que não terei muita escolha. Não tenho como vencer nenhuma delas e muito menos vontade.
Algo está me incomodando, olho para o lado e vejo Shou que extraordinariamente está sem dizer uma palavra. Porém, ele permanece tremendo ansiosamente as pernas de um modo muito irritante.
— E você? O que você tem? Comeu alguma coisa estragada? — pergunto a ele.
— Não, não é nada disso, caro Johann. Estou muito bem, para falar a verdade, nunca estive tão esclarecido em toda minha vida — responde com o olhar distante.
O cérebro dele sofreu alguma descarga elétrica muito forte? Iria sugerir que o levasse para a enfermaria, mas não há ninguém para atendê-lo de qualquer forma, pois todos os funcionários da escola desapareceram no primeiro dia.
— Sendo assim, por que está agindo desta forma estranha? Calado e sem dizer nenhuma besteira a cada vinte segundos… Definitivamente não está normal.
— Então você foi capaz de perceber? A verdade é que eu estava pensando aqui, Johann. Não precisa ser muito inteligente para conseguir concluir que eu fui deixado de lado. Totalmente escanteado — continua falando dramaticamente.
Eu particularmente não percebi nada. Está tudo fluindo como sempre.
— Deixado de lado? Como assim? Do que você está falando Shimizu-kun? — pergunta Miyu.
— Não finja que não sabe. Isto torna tudo muito mais doloroso para mim, Miyu-chan. Admita que para você isso é totalmente aceitável e que meus sentimentos não importam nem um pouco.
— Eu nunca pensaria desta forma, não sei aonde você quer chegar com isso tudo que está dizendo. Se você não falar qual foi o problema, não podemos fazer nada a respeito.
— Você quer que eu diga o que já está óbvio para todos? Tudo bem, eu posso fazer o favor de reafirmar este ultraje: Você só está andando com o Manabu e me abandonou! — responde de forma chorosa e patética.
Por que eu fui pensar que era algo importante? Afinal, é apenas o Shou. Ele agir de um modo imbecilizado é praticamente uma lei da física ou quiçá da lógica.
— Hã?! Você enlouqueceu de vez?— Manabu responde surpreso.
— Não estou nem um pouco louco e posso provar! Quando vocês testemunharam o disparo, onde eu estava?! Diga-me, Manabu?! — continua discutindo de forma escandalosa.
— Quê?! Como eu vou saber onde você estava? Agora, deixe-me terminar de ler, estou num ponto muito importante desta light novel.
Notoriamente, Manabu está mais interessado em seus hobbies do que na conversa central.
Shou esperneia e prossegue tentando chamar a atenção de Manabu que está o empurrando para prosseguir com a leitura.
— Este não é o ponto. Vamos, me responda.
— Já disse para me deixar terminar de ler a minha light novel.
Miyu fica calada com expressão impassível ao mesmo tempo em que os observa. E aparentemente ela não é a única, como de praxe, estudantes que estavam nas proximidades vieram ver o que está acontecendo.
É divertido apreciar momentos assim nos quais eles acabam provando do próprio veneno. Porém, esta gritaria do Shou está atraindo o olhar de muita gente.
— Os patetas poderiam parar com isso? Estão chamando muita atenção — falo.
Shou para de atormentar o Manabu, vira-se e aponta o dedo para mim enquanto me encara.
— Você não entenderia! Agora que há a Kaichou para lhe dar atenção, você jamais entenderia pelo drama que estou passando — exclama inconformado.
A Mikoto me dando atenção? Você não sabe nem um pouco do que está falando, aparentemente não se tocou da forma que ela trata os seus subordinados. É o tipo de atenção que qualquer pessoa em sã consciência deixaria passar.