Entre Neve e Cinzas, As Memórias Daquele Amor Doentio Permanecem - Capítulo 109
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- Capítulo 109 - Afetuosamente, Ailiss von Feuerstein e Yukihara Mikoto declaram… (1/2)
21h37
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Confesso que provavelmente esta será a minha primeira boa noite de sono em muito tempo. O meu físico é de um sedentário e realizamos tantas atividades… isto definitivamente consumiu todas as minhas energias. Estou tão exausto que acredito que irei apagar assim que me deitar.
— Bem… boa noite para vocês — falo.
— O que tu estás dizendo, Johann? Ainda não completamos a nossa lista de afazeres do dia — Mikoto me encara com desgosto.
— Se me lembro bem, não foi você que determinou o horário de recolher próximo a este horário?
— Sim, todavia eram circunstâncias totalmente diferentes. Naquele tempo, eu como a presidente do conselho, necessitava manter a ordem do corpo estudantil com milhares de alunos. Bem, como se tratava de um ambiente nebuloso, era essencial mantê-los em segurança e monitorar qualquer movimento suspeito — explana.
Vencer uma discussão contra Mikoto exigiria um consumo energético para o meu cérebro do qual eu não possuo no momento. Vou só concordar e ir dormir.
— Tudo bem, você está correta. Ainda assim preciso descansar, terminem as atividades sem mim.
— Mistkerl, você vem com a gente — Ailiss se junta a ela.
Vejo que não vou me livrar disto tão facilmente… Mikoto conseguiu uma aliada que eu jamais esperaria para me importunar. Agora, somando as malícias dela com as ameaças físicas da outra, estou em um jogo perdido. É por isso que eu odeio jogos, odeio riscos.
Suspiro e balanço os ombros.
— E então, quais são os planos?
— Serei bondosa contigo. Como tu alegas estar cansado, eu acredito que uma brincadeira que não exija muito esforço seja uma boa ideia. Tenho até algo em mente, era algo que recorrentemente via minhas colegas de classe jogando no intervalo — fala Mikoto.
— Cartas? Achei que você também estivesse enjoada de tanto jogarmos cartas e jogos de tabuleiro — comenta Ailiss.
— Nada disso, é uma brincadeira diferente — abaixa o tom de voz — Esqueceste? Eu já te expliquei sobre isso.
Ei, eu ouvi o que você falou.
Pelo visto, seguirei sendo uma vítima da conspiração das duas.
Desta forma, vamos até uma das salas de aula, onde eu descubro qual será a brincadeira em questão…
Sentados em círculo e uma única garrafa, realmente não poderia ser pior. Por que ela escolheu justo esse jogo idiota? Esperava mais de você Mikoto. Apelar para essa brincadeira dos normies?
— Tudo bem, acredito que vós sabeis as regras. A ponta da garrafa estabelecerá quem pergunta e a base quem responde — Ela explica.
Em um jogo assim, o mais inteligente a se fazer é sempre escolher verdade, pois você ainda poderia mentir em último caso. Contudo, tendo Mikoto como adversária isso se torna bastante complicado, pois ela consegue ver nitidamente se eu estou mentindo.
Apesar de tudo, escolher sempre verdade continua sendo a melhor estratégia, pois eu posso negar até a morte as minhas mentiras afinal de contas.
— Mas para tornar as coisas menos entediantes, visto que vós certamente escolhereis apenas verdade, teremos uma regra extra: Não poderemos escolher verdade duas vezes consecutivas — completa.
Espere, ela está mudando as regras? Droga, isto será mais complicado do que eu imaginava. Onde eu estava com a cabeça quando aceitei participar dessa enrascada? O meu sensor de mau presságio já está alarmando em volume total.
— Algum problema, Johann? — vê o meu rosto assustado e indaga em deboche.
Será que ela realmente consegue ler meus pensamentos e previu o que eu estava tramando? Neste caso, ela nem precisa que eu responda as perguntas…
— Não, está tudo bem — suspiro.
Reclamar disso não irá adiantar de nada, eu já me conformei que sou o prisioneiro delas.
— Já estou impaciente, é mais fácil aprender jogando, então comece logo — resmunga Ailiss.
Está de mau humor como sempre, hein? Sinto em lhe informar, mas certamente você não está ciente onde está se enfiando ao aceitar a jogar uma brincadeira estúpida dessas. Irá se arrepender de cada palavra que proferiu agora.
Mikoto gira a garrafa. A ponta para em mim ao mesmo tempo em que a base para na direção da Ailiss.
Que coisa inédita, a sorte pender para o meu lado no começo do jogo. De qualquer forma estou somente adiando meus problemas, uma hora ou outra terei que aceitar o desafio de uma das duas.
— Verdade ou desafio? — pergunto.
— Verdade — replica desinteressada.
Uma resposta lógica, todos aqui escolherão verdade sempre que puderem.
Mas o que perguntá-la? Acho que deveria ter pensado nisso previamente.
O que gostaria de saber a respeito dela? Acho que já conversamos sobre quase tudo que me interessava. Ademais, o que mais me preocupa é a sua segurança.
— Eu sei que neste ponto é bastante improvável, mas caso consigamos escapar deste looping… pretende continuar sua vingança trabalhando como assassina profissional?
Para ser sincero, não acredito nem um pouco que esse dia chegue, mas é uma situação hipotética que me traz curiosidade e preocupação.
— Não. Inclusive durante as repetições prometi a Mikoto infinitas vezes que desistiria desta carreira.
É algo que me traz certo alívio ao saber. Que ela já desistiu da vingança em relação a Mikoto, já estava ciente, mas ainda assim poderia ir atrás dos demais usuários de magia negra. Assim colocando-se novamente em risco.
Talvez seja estupidez da minha parte, ela é a pessoa mais forte que eu conheço, mas ainda assim não consigo deixar de me preocupar…
Rodamos mais uma vez a garrafa, e nesta rodada Ailiss perguntará a Mikoto.
Consegui escapar outra vez.
— Verdade ou desafio?
— Verdade.
— Ainda guarda algum rancor a meu respeito?
Elas ainda sentem este tipo de insegurança? Achei que estavam totalmente resolvidas entre si.
— Claro que não. Por que ainda está em dúvida? Eu já disse que nossos desentendimentos ficaram no passado. Só nutro sentimentos de afeto a teu respeito, então fique tranquila… — suspira — Mas francamente, a intenção disto era para descontrairmos… então vós parais com perguntas dramáticas, por obséquio.
A garrafa girou novamente e a pior combinação saiu agora. Que droga… Mikoto pergunta para mim.
— Verdade ou desafio?
Não preciso nem pensar… ela claramente terá uma péssima ideia para desafio. Preciso dar um jeito de sempre ter a oportunidade de esquivar-me do desafio dela, e esconder ao máximo as minhas mentiras.
— Escolho verdade.
— Vejamos… o que tu achas mais atraente na Ailiss e em mim? — sorri e pergunta em deboche.
Já imaginava que ela tentaria me colocar numa situação embaraçosa. Infelizmente, Mikoto, tu escolheste uma pergunta na qual sou imune, pois eu sou um ponto fora da curva nesta questão.
— Seus longos cabelos — cruzo os braços, fecho os olhos e respondo enquanto assinto com a cabeça.
Ela me encara por alguns segundos tentando compreender a minha resposta.
— Tu estás falando sério? — pergunta surpresa.
Ela provavelmente tentou ler minhas expressões faciais para verificar se não estava mentindo. Mas esta é a mais pura verdade. Pode ser ingenuidade da minha parte, mas o que acho mais belo nas garotas são os seus belos cabelos bem cuidados.
— Mais sério impossível. Então nunca, jamais, mesmo em condições apocalípticas, os cortem.
As duas se entreolham, Mikoto suspira e conclui.
— Eh? Que sem graça…
Definitivamente comecei em vantagem, mas não há motivos para comemorar antes da hora. Ela não irá querer parar de jogar até conseguir me colocar numa situação humilhante, este é o propósito deste jogo afinal.
Como premeditado, nesta rodada a ponta caiu novamente para o meu lado. Felizmente é a Ailiss que pergunta para mim.
— Como escolhi verdade antes, sou obrigado a escolher desafio.
De certa forma estou um pouco aliviado que seja ela, pois não vejo intenções tão maquiavélicas em seus olhos quanto eu vejo nos olhos do ser ao seu lado. Então imagino que ela não tenha sido convencida a propor algo estranho.
— Faça flexões até não aguentar mais — sorri e descansa o rosto em seu punho — E eu saberei se está fazendo corpo mole.
— Quê?! Que droga de desafio é este?
— Apenas faça — franze as sobrancelhas.
Será que fui parar no exército e não percebi?! Acho que tentar guardar as respostas de verdade para Mikoto não será tão viável. Os desafios da Ailiss são bastante rígidos.
— Ei, Ailiss. Não foi isso que nós combinamos, tu estás tangenciando o propósito da brincadeira — reclama Mikoto.
Ela não está mais nem preocupada em esconder isso de mim? Está querendo me humilhar de forma totalmente descarada…
Ademais, claramente não conseguirei fazer muitas flexões, ainda mais por estar exausto por causa deste dia.
…
Caio no chão sem sentir mais os braços.
— Fracote. Só consegue isso? — indaga Ailiss com desprezo.
— Você esperava o quê?!
Dadas as minhas condições, o resultado era óbvio…
— Esperava que você ao menos provasse alguma masculinidade.
O único lado bom nisto é que me exercitando, passou um pouco do meu sono.
Mikoto gira a garrafa e então ironicamente nesta rodada devo propor um desafio para Ailiss.
O que eu mais queria era me cobrar deste último desafio de alguma forma, mas devo pensar racionalmente. Tentar me vingar apenas a fará ficar com raiva e assim acabará muito mal para mim. Guerra é sempre algo destrutivo, devo seguir pela diplomacia. Assim sendo, preciso tirar algum proveito disso tudo.
— Você não irá me espancar pela próxima iteração do looping.
— Uh? Apenas isso? Tudo bem.
Ao menos ganhei um passe livre de espancamentos por um período de tempo, de certa forma saí no lucro com esta brincadeira. Quem diria que poderia me beneficiar desta ideia? Definitivamente eu sou um grande visionário.
Na rodada seguinte, Mikoto pergunta a Ailiss e esta escolhe verdade.
— Vejamos… — pensativa toca seus lábios — Em uma escala de zero a dez, o quão interessada romanticamente tu estás no Johann?
— Dez — responde séria.
Não que seja uma resposta tão inesperada por mim, após tudo o que nós três passamos juntos, mas ainda é algo embaraçoso de se ouvir.
Acho que ela não liga muito pra essas coisas no final das contas…
— Ora, ora. No fim quem ficou corado, foste tu Johann — Mikoto ri.
Entendo, esta era a sua intenção. Eu fiquei confiante devido a minha última jogada, mas ela é um gênio. Ela não precisa esperar para me atingir ao me questionar, pois pode atacar indiretamente.
Em seguida, Ailiss pergunta para mim.
A princípio escolheria consequência para me proteger da possibilidade da Mikoto ser a próxima a me questionar, mas não quero pagar mais flexões ou qualquer coisa que ela invente… Estou acabado, esgotado, obliterado.
Logo, escolho verdade.
— Você me acha masculina demais?
Hã? Ela também começará com estes tipos de indagações? É algo que não condiz muito com seu comportamento.
Mas deixando esta questão de lado, a verdade é que não tenho para onde correr… Se eu simplesmente concordar, ela provavelmente se ofenderá. Se eu negar, Mikoto pode me pegar na mentira e expô-la, o que seria pior ainda.
— Em aparência claramente não. Por outro lado, em personalidade… de fato você é. Mas não há nada de errado com isso, eu gosto de você deste jeito e honestamente prefiro que você não mude.
Se bem que eu agradeceria se você parar de me agredir sempre que eu lhe desagradar.
Pelo visto, eu consigo dizer algumas coisas fofas quando me empenho. Deveria aprimorar mais esta habilidade.
Ailiss sorri levemente.
Devo então propor um desafio para Mikoto.
— Já estava ficando entediada… vamos Johann, proponha algo divertido — encara-me e esboça um sorriso maroto.
É claro que tenho algo em mente para esta situação, pois não é todo dia que tenho uma oportunidade assim. Todavia, mais uma vez, não é algo que você está esperando, Mikoto.
— Abrace a Ailiss do modo mais fofo possível.
Vejo que ambas se entreolham e estranham meu desafio.
— É sério? Este é o teu desafio? Pois bem, não sei quais são as tuas intenções, mas irei cumpri-lo — fita-me com desconfiança.
Como já ponderei, eu sou um ponto fora da curva nesta questão. Uma cena destas me enche os olhos mais do que qualquer malícia que esteja em seus planos. Duas garotas lindas como elas se abraçando de modo fofo… o que há mais belo do que isso?
Mikoto vai até ela e me encara com certo deboche, de modo que consigo premeditar as ações que passam por sua mente. Convivemos por muito tempo, conheço este olhar. Parece que não é só você que é capaz de prever minhas ações…
— Eu disse fofo e não sensual — reforço.
— Francamente, tu és um chato e sem graça mesmo — responde incomodada, mas acata o pedido.
Sozinhas elas já são de uma beleza sobrenatural, mas juntas desta forma não há palavras para descrever. Elas estão tão meigas que nem parecem ter essas personalidades tóxicas.
Irei gravar esta imagem em meu cérebro com todo cuidado. Por mais falso que seja vê-las desta forma, é uma excelente recordação.
O próximo desafio parte de Mikoto para Ailiss.
Se com Ailiss escolhendo verdade ela já foi capaz de nos colocar numa atmosfera embaraçosa, não quero nem pensar no desafio. Provavelmente pedirá algo indecente a ela.
— O que seria interessante de tu cumprires? — pausa de braços cruzados — Oh, já sei! Faça uma pose sedutora na frente do Johann.
Como imaginei… ela está empenhada em criar situações vergonhosas. É curioso pensar que esse lado da rainha gelada nunca chegou ao conhecimento público durante a sua estadia como presidente do conselho estudantil. Oh, teria uma repercussão terrível.
— Ei, você não me falou nada disso quando propôs este jogo — Ailiss franze as sobrancelhas e a encara com desgosto.
Essa declaração dela entrega totalmente a conspiração que eu já havia notado. Mikoto está solicitando que Ailiss coopere com seus planos malignos. Infelizmente, agora ela se viu como vítima das ações da própria.
Entendeu agora?! Você deveria estar do meu lado!
— É apenas uma brincadeira, se tu achas que não tens capacidade para cumprir um desafio deste naipe, podes muito bem desistir — responde Mikoto em um tom de desdém.
Você está mexendo com fogo… Ainda bem que eu pedi como desafio a Ailiss uma licença contra surras.
— Eu faço — desvia o olhar e se levanta.
Não creio que ela se incomodou em se sentir rebaixada por rejeitar o desafio e por causa disso decidiu cumpri-lo. Devo parabenizá-la, Mikoto, você realmente conseguiu domar um leão e usá-lo ao seu favor.
Ela se senta quase ajoelhada, com uma das mãos de apoio entre suas coxas e com o outro braço por baixo de seus seios. Seu olhar continua igual ao de um predador, mas como este é meu ponto fraco, não se diferencia muito de um olhar sedutor.
Estar sendo encarado por ela deste modo faz com que o clima entre nós fique mais tenso do que quando ela me encarava com intenções hostis. Parando para pensar, é provável que ela esteja bastante hostil por dentro por estar se condicionando a um desafio destes.
— E então Johann, para a conclusão do desafio. Ela foi aprovada? — caçoa Mikoto.
Você está se divertindo bastante com tudo isso, não é?
— S-sim — desvio o olhar.
Ailiss suspira e volta ao seu lugar.
Honestamente, esta brincadeira está nos fazendo subir a escala de constrangimento de forma desproporcional. Ainda assim, tenho a impressão de que os planos dela estão só começando.
Giramos a garrafa e desta vez eu pergunto a Mikoto. A qual pode escolher verdade e assim o faz.
É uma oportunidade de saciar estas minhas dúvidas. Não tenho muito mais o que perguntá-la e acredito que ela conseguiria contornar uma pergunta vingativa de qualquer maneira, ou seja mais uma vez escolho a diplomacia a guerra.
— Quais são suas reais intenções com essas provocações que anda fazendo?
— Ora, isto não está claro para ti? Já te falei inúmeras vezes de que são para ver as tuas fofas reações embaraçosas, todavia há mais um motivo — pausa — quero verificar a reciprocidade dos meus sentimentos — cerra os olhos.
Com isso posso concluir que toda vez que ela participa acabarei sendo atingido de alguma forma. Da próxima vez farei uma pergunta de equações diferenciais para ver se me livro disso.
— Saciei a tua dúvida?
— É… quero dizer, sim.
Em seguida, a garrafa seleciona novamente Mikoto. Mas agora ela necessita cumprir uma ordem de Ailiss.
Ailiss a encara com um olhar rancoroso e lança o seu desafio.
— Repito o desafio que você me fez.
— Ora, ora. Agora estamos falando a mesma língua.
Mikoto se senta de lado, ergue levemente sua saia com uma das mãos enquanto me encara com a ponta de seus dedos na boca.
Ailiss, você pediu exatamente o que ela queria. Isto nem de longe é um desafio para ela. Bem, não pretendo dá-la esta liberdade por muito tempo. Sendo o mesmo desafio, eu posso encerrá-lo imediatamente.
— Pode parar, foi aprovada — respondo de cabeça baixa e esfrego a minha testa.
— Mas já? Já te disseram alguma vez que tu és um grande estraga prazeres? — resmunga.
Olha quem fala, senhorita presidente do conselho que mais promove o cumprimento das normas da escola.
Será que agora eu posso respirar um pouco?