Entre Neve e Cinzas, As Memórias Daquele Amor Doentio Permanecem - Capítulo 107
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- Capítulo 107 - Constantemente, Yukihara Mikoto está tramando algo. (2/3)
13h25
Com certeza estou com alguma fratura depois daquela prática de Kendo contra Ailiss. Ela é tão boa com espadas quanto com armas de fogo, e mesmo suprimindo a sua força, os golpes são suficientemente fortes para partir ossos.
Sério… nesta altura do campeonato, depois de tudo o que aconteceu, não faz nenhum sentido questionar. Ainda assim, pergunto-me como fui acabar nesta situação.
Decidimos então almoçar, e obviamente desta vez Mikoto é a responsável pela comida. Depois do desastre de ontem, acredito que todos tenhamos entrado em consenso de que a Ailiss deve ficar o mais distante possível da cozinha. Poupá-la desta tarefa é essencial para o bem comum.
Em seguida, vamos para o ginásio e elas ainda estão se decidindo qual será o esporte que iremos praticar. Tratando-se de uma quadra completa, há todos os recursos para qualquer esporte que envolva uma bola.
— Como nos atrasamos, não dá para praticarmos todas as atividades. E agora, qual escolhemos? — indaga Mikoto.
— Basquetebol talvez? — pergunta Ailiss enquanto fita a cesta.
— É uma boa ideia. Pensando bem, acho que este foi um dos poucos clubes pelos quais eu não passei durante o ensino fundamental.
Ora, que inusitado, finalmente alguma coisa que esta garota proativa não fez. Ao que parece, pela primeira vez estaremos em pé de igualdade em nossas competições. Acho que desta vez não ficarei em último lugar.
Mikoto vai até o armário do ginásio e retira uma bola de basquete e arremessa em minha direção.
Pego a bola e pergunto.
— E então? Como iremos jogar com três pessoas? Somente uma disputa de arremessos?
— Tsc. Entediante demais, isto não é jogar de verdade. Vamos formar times — a outra retruca.
Este foi o problema que eu acabei de ressaltar, três é um número primo, não há como formarmos equipes iguais com base nele. A não ser que ela esteja se propondo a jogar contra nós dois.
— Tenho uma ideia melhor: Garotos contra garotas e o time perdedor terá de acatar alguma ordem do vencedor. O que vós achais? — sugere Mikoto.
— De acordo — replica Ailiss.
— Ei, espere um pouco, assim serão dois contra um. Não percebe o quão injustas estão sendo comigo? — retruco.
O pior de tudo é a consequência que Mikoto está propondo. O que eu deveria esperar disso? Elas já me ordenam o tempo todo, o que implica numa ordem ainda mais perigosa.
— Do que tu estás a falar? Tu conseguiste sobreviver a nossa guerra de neve estando sozinho. Alguém iria precisar jogar só de qualquer forma, e no fim das contas tu és um garoto, deverias ter mais aptidão física do que nós — fala Mikoto.
O tanto que eu negligenciei esportes faz com que seja possível que eu perca contra ela sozinha. Quem dirá contra Ailiss, a qual provavelmente derrotaria com facilidade o time oficial do nosso colégio.
— Claramente eu não tenho. Eu não sou bom em esportes como você ou tenho atributos físicos sobre-humanos como os dela, se alguém deveria jogar sozinho seria uma de vocês duas.
— Pare de chorar. Faremos tuas cestas valerem dez vezes mais, assim está bom pra você? — propõe Ailiss.
— Aí as coisas parecem um pouco mais justas. Mas ainda assim…
Não consigo me ver ganhando de Ailiss de qualquer forma.
— Uma cesta e você vence a partida, que tal? — Ela continua.
Não marcar um mísero ponto seria humilhante demais até para mim. Acredito que isso torna as coisas mais razoáveis. Porém, meu pessimismo continua em estado de alerta.
Suspiro e assinto com a cabeça.
— E não te esqueças, se tu venceres poderá ordenar algo a mim e a Ailiss. Faremos q-u-a-l-q-u-e-r coisa — Mikoto se aproxima e cochicha no meu ouvido.
Qualquer coisa? Se isso servia para me motivar e consequentemente jogar melhor, teve o efeito oposto. Agora que eu não irei me concentrar pensando nisso.
Repentinamente, ela toma a bola das minhas mãos e arremessa fazendo três pontos do meio da quadra.
Ok, isto foi surpreendente.
— Achei que você não havia participado de um clube de basquete.
— E não participei. Apenas sou boa em tudo o que faço. Esqueceste-te disto? — sorri em deboche.
Isso não vai acabar bem… definitivamente não vai.
…
Caio de joelhos exausto na quadra.
Não tive chance alguma contra as enterradas de Ailiss e a mira balística de Mikoto. No fim o placar foi de 254 a 0.
16h14
No começo da manhã elas deixaram a piscina térmica do clube de natação enchendo, e agora no final da tarde a piscina finalmente atingiu o nível de água e temperatura adequada para o uso.
Há quanto tempo eu não entro numa piscina? Acho que deve fazer pelo menos uns dez anos desde que meus pais desistiram de me entreter com estas atividades convencionais.
Termino de me trocar no vestiário e entro na piscina. A temperatura é longe de uma fonte termal, mas está em condições agradáveis para permanecer na água em pleno inverno. As dimensões da piscina são relativamente grandes, pois o clube de natação a usa para treinar para as competições, mas normalmente não a aquecem e por isso só é usada no verão.
Devemos estar gastando uma boa quantidade de gás para aquecê-la, porém como nossos recursos sempre voltam a cada iteração, isto não é um problema. Devemos ter o suficiente para mantê-la em bom funcionamento.
— Eu tenho um maiô reserva, Ailiss. Nossas medidas são semelhantes, então tu podes usar isso — fala Mikoto no vestiário.
É… eu havia me esquecido por um instante, qual é o real problema nesta situação toda. Como vou fazer para lidar com estas duas neste ambiente, claramente será a atividade mais constrangedora de todas.
Gradativamente vou me afundando na água numa vã tentativa de fugir dos meus problemas futuros.
Ter de lidar com garotas numa situação dessas pode ser um desafio na mente de garotos na idade em que seus hormônios estão no pico. Contudo, os meus receios são totalmente adversos às preocupações da juventude. Estou mais temeroso em relação às humilhações que estas garotas tóxicas estão tramando.
Logo em seguida as duas surgem em trajes de banho escolar que apesar de bem discretos, ainda mostram boa parte de suas peles e realçam suas curvas.
Sem demorar muito para se esquivarem do frio, ambas vão até a escada e entram na piscina.
Noto que cometi um ledo engano.
Estou bastante acostumado com as duas, mas mesmo assim não posso deixar de me envergonhar um pouco com isso, por enquanto devo evitar contato visual e procurar algo para distrair a minha atenção.
Fito em volta e não encontro nada.
Não há nenhum tipo de entretenimento que possamos ter por aqui, como um trampolim ou algo do gênero. Então creio que resumiremos nossas atividades em alguma competição referente a mergulho e natação.
Ademais, resta-me ocultar a minha presença e torcer para que se esqueçam de que eu estou por aqui.
— E então, qual atividade você estava planejando? — Ailiss comenta com Mikoto.
— Na verdade, acho que já cumprimos bastantes tarefas da nossa lista de afazeres, que tal tirarmos este tempo para descontrairmos livremente? Sinta-te à vontade para usar a piscina como bem entender.
Oh, uma excelente notícia. Posso então descansar com sossego em uma das bordas da piscina enquanto conto o número de azulejos para me distrair.
— Neste caso, acho que vou me exercitar um pouco — alonga-se.
Em seguida, ela mergulha até o fundo da piscina e começa a nadar longitudinalmente de uma extremidade a outra.
Isto foi rápido, Ailiss chega à borda oposta da piscina em um tempo que com certeza a tornaria apta de disputar as olimpíadas.
Continuo surpreso com o condicionamento físico dela. Como é possível aguentar tanto tempo embaixo d’água? E pelo que posso constatar pelo seu maiô, a estrutura muscular dela não se diferencia tanto de uma garota colegial, sua força sobre-humana continuará sendo enigma para mim.
Sinto um beliscão em minha bochecha que quebra a minha distração com os mergulhos dela.
Olho para o lado e fito Mikoto me encarando com seu olhar gélido.
Vejo que demorou menos do que eu esperava para ela vir me incomodar.
— Ei, por que fez isso? — esfrego minha bochecha.
— Porque tu és um idiota insensível. Nunca te comportas da maneira adequada — responde friamente e cruza os braços.
— Espera um pouco, o que eu fiz?
— Realmente, tu não fizeste nada. A primeira coisa que tu deverias ter feito era elogiar nossa aparência em roupas de banho.
Quê? Mulheres são mais problemáticas do que eu pensava. Mas Mikoto estar reclamando de algo tão banal e superficial assim? Por esta eu realmente não esperava.
— Você não está falando sério que está incomodada com isso, está? — pergunto surpreso.
— Claro que não. Estou brincando contigo para pegar a tua reação, e a propósito, tu ficares corado já diz mais do que mil palavras — ri.
Ah, é lógico que ela está caçoando de mim novamente. Por que eu ainda me surpreendo? A verdade é que não possuo nenhuma habilidade para distinguir essas ironias.
Quem poderia imaginar que a presidente do conselho estudantil, a rainha gelada, iria gostar tanto de brincar com minhas emoções dessa forma?
— Você não cansa de tentar me atingir? Isso nunca vai perder a graça?
— Provavelmente não, já te disse diversas vezes que tuas reações embaraçosas são impagáveis. Todavia, desta vez estou fazendo isso apenas para me cobrar de ti.
— Cobrar do quê? Não me lembro de ter feito nada.
— Exatamente por isso… Achei que ao menos tu conseguirias fazer uma cesta, para então Ailiss e eu sermos obrigadas a obedecê-lo uma única vez. E que lugar melhor do que a piscina para isto? — pega minha mão e leva até sua barriga — Mas tua incompetência superou em muito as minhas expectativas, francamente que desperdício… — a solta.
Como você poderia saber se a ordem que eu decidiria dá-las estaria de acordo com o que você está imaginando? Pois saiba que não seria nada assim.
— Sinto decepcioná-la. Mas você estava ciente desde o começo que aquela partida de basquete seria uma batalha perdida para mim — desvio o rosto.
— Agora tu ficaste mais corado ainda, que fofo — deita-se para trás e flutua na água — Ademais, foi um dia exaustivo, então irei aproveitar para descansar um pouco. Tire este tempo como bem preferires, pois terei oportunidades de brincar contigo em outra instância.
Observo o corpo dela se afastando enquanto boia tranquilamente sobre a água.
Essa garota está fazendo de tudo para me provocar e quem mais cansou nesta história definitivamente fui eu… felizmente agora terei um pouco de sossego. Apesar de que sua frase final me deixou um pouco assustado.
Todavia… falando em sossego, aonde foi parar a outra causadora do meu estresse?
Por mais que ela não aparente ter planos de me provocar ativamente como Mikoto faz, preciso estar atento àquele demônio também.
Olho em volta e percebo que a Ailiss não está mais no fundo da piscina.
Ela saiu sem eu perceber?
Então uma sombra passa por cima de mim e cai logo adiante.
O salto de Ailiss é próximo o bastante para saltar água na minha cara. E por reflexo, tento me cobrar jogando água de volta em sua direção.
— Ei, tome mais cuidado onde você pula.
— Um ataque imprudente destes? Vejo que quer retomar a nossa guerra — manifesta sua voz sombria e joga com as mãos água no meu rosto.
Droga, eu acabei fazendo merda e entrando em outra enrascada.
— O que você está fazendo?! Pare! Foi você quem pulou muito próximo a mim, eu estava somente me defendendo.
Ela continua jogando e não tenho outra escolha senão tentar me defender atacando-a de volta.
— Para ser sincera, eu teria um pouco de piedade e pararia. Mas você realmente está querendo comprar briga comigo — joga mais água em minha direção.
Claramente uma mentira. Você sempre manteve suas punições independentemente da minha resistência. Portanto, ao menos irei dificultar o seu trabalho.
— Não tente colocar-me como culpado, eu sou a vítima aqui, só agi em legítima defesa — continuo revidando.
Pelo menos, assim como na nossa guerra de bola de neve, não estou ficando com nenhum hematoma por tê-la irritado. Talvez eu acabe me afogando um pouco de tanta água que ela está jogando no meu rosto, mas sem dúvidas é uma forma de punição bem mais saudável do que seus pesados punhos de aço.
E sem falar que está sendo um pouco… engraçado?
Continuamos jogando água em direção ao outro enquanto escondemos nossos rostos.
Em meio a nossa guerra acabo atingindo sem querer Mikoto, a qual estava boiando tranquilamente, e por consequência a despertando de seu cochilo.
Droga, parece que cometi um pequeno acidente.
— Francamente, Johann… — limpa os olhos e fica de pé — Não quero ouvir-te reclamar de injustiças, eu estava neutra até agora. Tu irás pagar bem caro por isso — joga água em minha direção.
Quando as coisas não conspiram para me ferrar, eu acabo fazendo isso por pura idiotice. Acho que no fim das contas eu mereço todo o sofrimento que venho recebendo destas duas criaturas maquiavélicas.
— Desculpe-me, não foi de propósito. Estava querendo acertar a Ailiss — respondo.
— Não me interessa tuas intenções, tu atingiste-me e agora tu conseguiste mais uma adversária.
Por que eu ainda me surpreendo?
Com isso, a nossa guerra que havia começado na neve é enfim retomada hoje na piscina. Elas jogam água de duas direções distintas de modo que fica complicado proteger meu rosto e de ter uma brecha para contra atacar.
Isto está deixando de ser uma guerra e se tornando um massacre. Meu reino está sendo atingido por tsunamis consecutivas e sem tempo de se restabelecer.
Mergulho e tento me afastar das duas, no entanto, Ailiss agarra o meu pé. Tento me debater para que ela me solte, todavia não consigo escapar. Então forçado pela falta de ar, submerjo e sou surpreendido por mais ataques de Mikoto.
Com uma me atacando por cada lado, não há para onde fugir e nem como fugir.
— Parem, por favor! Eu me rendo! Eu me rendo! — digo enquanto sou afogado por tanta água sendo jogada na minha cara.
Então elas finalmente param e assim terminamos com uma segunda derrota para o meu lado.
— Já desististe? Somente com isso? — Mikoto pergunta franzindo as sobrancelhas em ironia.
— Esperava o quê desse frouxo? — completa Ailiss.
Por fim, nós três caímos em risadas mais uma vez.
Estes dias realmente estão sendo muito divertidos, o tempo em que passo ao lado delas é tão agradável… Estas doces memórias irei guardar com todo o cuidado como o meu maior tesouro.