Entre Neve e Cinzas, As Memórias Daquele Amor Doentio Permanecem - Capítulo 104
- Início
- Entre Neve e Cinzas, As Memórias Daquele Amor Doentio Permanecem
- Capítulo 104 - Definitivamente, Ailiss von Feuerstein deve ficar longe da cozinha. (1/2)
11h06
Que situação… Levei tanta bolada de neve daquelas duas, que entrou neve até por dentro das minhas roupas e, devido ao calor corporal, esta neve derreteu molhando o meu blazer por dentro.
Apesar de todas as inconveniências, foi a derrota mais divertida que tive na minha vida. Após este grande confronto, sentamos mais uma vez no banco do pátio para descansar.
— Ainda está muito cedo para começarmos o almoço, vós tendem outra ideia do que fazer até o meio-dia? — pergunta Mikoto fitando em nossa direção.
Não sou a pessoa mais gabaritada para decidir alguma coisa quando o assunto é diversão.
Olho para Ailiss na expectativa de que ela sugira algo.
— Tecnicamente a guerra de neve foi ideia minha, é a vez de vocês escolherem — replica e me encara.
Não diga isto com um tom de orgulho. Tudo bem que no fim das contas foi uma ideia legal, mas aquilo começou com uma agressão da sua parte.
— Como eu fiz o café da manhã, de certa forma também já contribui com o dia — complementa Mikoto.
— A sugestão dos bonecos de neve foi minha, não foi? — pergunto.
Ambas prosseguem em silêncio me encarando.
Acho que elas não estão ligando muito para argumentos, pois apenas ignoraram meu comentário.
Como de costume, resta-me aceitar a pressão exercida por elas.
— Certo, eu decido desta vez… — penso nas brincadeiras que via os garotos da minha cidade fazendo — Vejamos…
Esforço-me para sugerir algo interessante, mas nada me vem à mente. A única coisa que consigo pensar são brincadeiras muito infantis.
Claramente elas ririam destas propostas. Porém eram essas as brincadeiras que eu observava pela janela.
— Que tal pique-esconde? Talvez vocês reclamem que estamos muito velhos para isso, mas não consigo pensar em mais nada.
Provavelmente irão caçoar da minha cara por ter proposto isso. Onde eu estava com a cabeça em falar algo assim? Cancelar. Apagar. Finjam que eu não disse nada.
Abaixo o rosto em desgosto.
Ainda arrependido, volto meu olhar para elas, as quais já estão distantes do banco.
— Nada de espiar! — exclama Mikoto.
Elas se empolgaram com esta ideia? Aparentemente eu tenho uma percepção muito errada das coisas… de qualquer forma, pode ser outra experiência divertida como foi com a guerra de neve.
Caminho até a árvore mais próxima, em seguida escoro meu rosto para esconder a visão e começo a contagem.
Um, dois, três… noventa e oito, noventa e nove, cem!
Tudo bem, está na hora de procurá-las. Mas em uma escola tão grande como esta, onde aquelas duas se meteram?
Ainda não consigo acreditar que estou brincando de uma coisa dessas, pior ainda, que aquelas duas estejam brincando de uma coisa dessas. A probabilidade de algo assim ocorrer nas condições normais de temperatura e pressão são praticamente nulas, seria mais fácil ganhar cem vezes seguidas na loteria.
Caminho na direção que as vi antes de começar a contar e então sou surpreendido pelo som de algo caindo.
Viro-me repentinamente para trás para verificar o que é, e me deparo com Ailiss.
— Venci — diz encostando-se à árvore.
De onde ela saiu?
Fito a árvore e logo ligo os pontos. Realmente uma assassina profissional consegue se mover sem realizar o mínimo de ruído. Ela subiu na árvore em que eu estava escorado sem que eu a notasse e desta forma ela conseguiu encerrar a brincadeira do modo mais eficiente possível.
Tenho minhas dúvidas quanto a integridade deste método, será que não há nenhuma regra contra este tipo de abordagem?
— Que golpe baixo — comento.
— O erro foi seu, deveria ser mais cuidadoso ao seu redor.
Que seja… não adianta reclamar disso agora, ainda há alguém a ser encontrada e por conseguinte não perdi o jogo.
Volto minha atenção a procurar Mikoto.
Espero que ela tenha tomado uma tática mais honesta.
Observo em volta e percebo que na neve estão expostas as pegadas das duas. Fica claro que Ailiss foi quem deu meia volta e subiu nas árvores enquanto Mikoto continuou seguindo em frente.
Que conveniente, não? Este tipo de brincadeira é muito mais fácil para quem está procurando quando jogado na neve. Desta forma, só preciso seguir os seus rastros para em seguida encurralá-la.
Confiante, sigo as pegadas até chegar numa bifurcação.
O que está acontecendo aqui? Espere… acho que já entendi o que ela fez. Está usando da minha suposta vantagem para tentar reverter o jogo.
Ela foi para um dos lados e então retornou pisando nas suas próprias pegadas de modo a me induzir a seguir o caminho errado. Uma ideia que não é tão ruim, mas de certa forma arriscada.
Neste ponto, não tenho outra escolha senão arriscar seguir uma das trilhas. Quanto mais tempo eu demorar em segui-la, mais fácil será para ela contornar o caminho até a árvore.
Continuo por uma das trilhas até chegar num ponto em que as pegadas desaparecem.
Realmente não tenho sorte. Acredito que não conseguirei alcançá-la a tempo, por isso desisto de seguir a outra trilha e volto diretamente à árvore. Como imaginado, ambas já estão lá.
— Não esperava uma jogada assim de uma pessoa perfeccionista como você. O que faria se eu tivesse escolhido o caminho correto? — aproximo-me e comento.
— Para uma primeira tentativa, decidi apostar em cinquenta por cento de chance de vitória, até para não desanimá-lo logo de cara. Mas eu poderia muito bem aumentar o número de bifurcações sequencialmente e com isso diminuir a probabilidade de tu me encontrares — diz Mikoto.
De fato, é uma estratégia interessante. Contudo ainda limitada pelo tempo de contagem.
— Obrigado pela bondade, ou pelo rebaixamento. Entretanto, por regra, sou eu de novo — falo.
— Assim ficará muito monótono, tu vais perder sempre. Podemos revezar periodicamente quem procura e então realizar uma pontuação no final da brincadeira.
Vou perder sempre? Talvez seja verdade, ainda assim não é algo legal de se dizer explicitamente.
— Por mim, tudo bem. Deixe comigo nesta rodada — diz Ailiss preparando-se para a contagem.
…
Quando é a vez de Ailiss nos procurar nem mesmo há esforço por parte dela, e nos acha logo de cara. Simplesmente não dá pra competir com alguém como ela.
— Fácil demais — se gaba diante da árvore.
— Infelizmente devo admitir que o primeiro lugar na competição será dela, isto é inevitável. Resta-nos disputar o segundo lugar, Johann. E não irei pegar leve contigo — caçoa Mikoto enquanto dirige-se a árvore.
Exatamente, a minha única chance de vitória é agora que ela está na contagem.
Certo, preciso buscar um lugar estratégico para conseguir avistá-la se aproximando e em seguida contorná-la. Dada a vantagem desta escola ser enorme, uma vez que eu consiga fazê-la se distanciar da árvore de contagem, a vitória certamente será minha.
Vejo a trilha de nossas pegadas da última rodada e logo tenho uma ideia de onde posso me esconder.
Vou até o atual armazém da escola, local onde Ailiss e eu seguimos Takashi, e então me escondo atrás da mesma caixa daquela vez.
Como caminhei por cima das pegadas que deixamos antes, Mikoto jamais irá pensar em me procurar aqui.
Além do mais, este é o esconderijo perfeito justamente por ter duas saídas. Caso eu a escute subindo por uma das escadarias, basta que eu desça pelas escadas do lado oposto do corredor e corra até a árvore de contagem.
Parando para pensar, o que foi mesmo que aconteceu comigo e Ailiss nesta parede? Psicologicamente falando, faz bastante tempo que aquelas repetições “cessaram”. Acho que ela me prensou, mas não me recordo bem do restante…
Conforme minhas memórias gradualmente voltam, fico envergonhado e, por consequência, distraído.
— Ei — algo me cutuca.
— Ah! — grito ao levar um susto.
Viro-me para o lado e vejo Ailiss agachada.
— Ah, Johann tu estás no segundo andar! Irei marcar-te lá na árvore! — escuto a voz de Mikoto no andar abaixo.
— Você me entregou! Isso é trapaça, Ailiss! Por que fez isso?! — reclamo.
— Não o entreguei, ela o descobriu porque você gritou — replica seriamente.
Do que você está falando? Não se faça de densa, você é esperta e sabe muito bem o que fez.
— Não retire a sua culpa, eu só gritei porque você me assustou, isto não é justo!
— Você não especificou regra alguma contra sustos — gaba-se.
Isto deveria estar implícito por bom senso!