Devilish - Capítulo 7
A tão esperada manhã chegou.
Ouvi a porta da cela se abrir com um som metálico desagradável, como se fossem objetos afiados raspando em um quadro negro. Quando senti a luz do lado de fora tocar minhas pálpebras, gradualmente recuperei a consciência.
Dois soldados entraram na cela, cada um segurando uma reluzente Colt M4A1, vestindo algum tipo de armadura de batalha tática. Era difícil ver claramente.
Meus pulsos foram rapidamente liberados das algemas de aço. Em seguida, colocaram uma coleira elétrica em meu pescoço, substituindo as algemas. Essa coleira tinha um resfriamento metálico e estava pronta para detectar qualquer esforço do agressor, impedindo-o de assumir o controle do meu corpo por meio de um choque violento.
Ao percorrermos o corredor, percebi a atmosfera única de cada cômodo, com seu silêncio assustador. O local se assemelhava a um ambiente para pessoas com problemas mentais.
Havia uma calma tremenda no ar, que parecia ter sido suspensa pelas próprias paredes, conscientes do que estava a acontecer.
— Um menino possuído? Isso é inédito. — comentou o guarda à direita. — E tão jovem.
— Você acha que deveríamos soltá-lo? — o guarda à esquerda perguntou. — Ele pode ser inocente, talvez tenha sido apenas um surto. Coisas assim acontecem do nada.
Isso, por um lado, poderia ser uma ideia terrível.
O outro lado era incerto.
— Haha! Você só pode estar brincando, né? Não leve suas ideias a sério. Existem muitas crianças doentes lá fora que matariam até os próprios pais. Se o deixarmos sozinho, ele vai acabar matando todo mundo aqui.
— Ele é só um adolescente, como qualquer outro. Dá pra ver como o mundo está louco.
— Continue pensando assim e logo vai ter suas entranhas devoradas por um desses monstros.
Decidi manter-me em silêncio, temendo que qualquer palavra que saísse da minha boca pudesse ser usada contra mim.
Tanto minha morte quanto outro local de execução pareciam estar chegando.
Então, chegamos à Sala de Execução.
Havia uma multidão considerável reunida ali: vários guardas armados posicionados, prontos para minha punição.
Com suas paredes feitas de concreto e metal, sua intrincada rede de canos, fios transmitindo energia, fluidos por todo o lugar dava ao espaço uma vibração geral assustadora
No meio da sala vi uma cadeira elétrica que se assemelhava a uma relíquia de tortura, cercada por uma complexa rede de monitores e sensores destinados a rastrear de perto os sinais vitais e a atividade cerebral de qualquer entidade sobrenatural submetida a ela.
Um eletrodo ansiosamente colocado estava pronto para ser afixado em minha testa.
Além disso, um mecanismo inventivo escondido no interior da cadeira poderia produzir uma voltagem incrivelmente alta, um feixe cuja força poderia matar qualquer ser humano com eficiência fria e cruel.
O ar na sala era espesso com o odor a fumo e a queimado, fazendo o ambiente parecer pesado e deprimente.
Sentei-me na cadeira e um guarda prendeu meus pulsos com faixas de metal.
Ouvia os gemidos agonizantes dos animais nos meus ouvidos, apesar do silêncio que reinava na sala.
A pulsação tumultuosa e errática do meu próprio coração era evidente, ressoando nos meus ouvidos. Parecia que o ar estava a ficar mais fino e a evaporar-se de mim, transformando-se num recurso valioso, onde cada respiração que eu fazia era um esforço.
Tudo neste ambiente fez-me perceber que me estava a aproximar da minha morte, que era o último lugar onde quero estar.
Uma pessoa chegou depois.
— Outra vez precisamos recorrer à cadeira elétrica. — disse o recém-chegado.
— O caso é mais grave do que o normal. — advertiu um soldado.
— Não é como se tivéssemos escolhas.
Após uma minuciosa análise, constatei que o demandante era, de fato, uma mulher.
No início, a característica da voz parecia sugerir a presença de um homem, confundindo minha percepção, no entanto, a profundidade e a autoridade intrínsecas em sua entonação revelaram a verdade subjacente, desfazendo minha suposição equivocada.
Usava o uniforme padrão, roupas formais, e o seu longo cabelo escuro, que estava preso num rabo-de-cavalo para realçar o seu tom de pele escuro, com algumas madeixas grisalhas.
Dois jovens estavam ao seu lado: um garoto de cabelos ruivos, com os braços cruzados, e uma jovem de cabelos castanhos-escuros, portando uma espada na bainha na cintura.
Os seus rostos mal chegavam ao cimo dos ombros.
— Foi determinado que a pena de morte de Krynt Hughes, um jovem de 17 anos que caiu sob a influência de Mephisto e se tornou cúmplice no Massacre de Boston, é justificável. Esses são os principais fundamentos pelos quais, acredito, não existe divergência neste assunto.
E agora senti as minhas entranhas a apertar, o meu medo aumentando consideravelmente.
Somente fechei os olhos e tentei manter a calma, ainda que meu coração estivesse batendo fortemente e respirando apressadamente, precisava ficar calmo.
— É com pesar que chegamos a esta conclusão — continuou, sabendo que essas palavras marcariam todos ali presentes para sempre. —, mas é nosso dever buscar a justiça, mesmo quando ela se mostra implacável. Que este momento nos lembre da responsabilidade que recai sobre nós, ao enfrentar as profundezas mais sombrias da humanidade.
Existia um contraste entre a sentença de morte e a prática de longa data de erradicação de espécies indesejadas, com uma concentração naquelas que desobedecem às regras naturais e àquelas que são confinadas em prisões.
Em contraponto, a remoção de comportamentos indesejáveis era vista como arbitrária, mas a sentença de morte era percebida como uma punição pelo crime que eu havia cometido.
— Ahem. Eu recorreria a tudo o que pudesse usar neste momento, seja provocação ou conversa fiada.
Ele finalmente apareceu, talvez por um milagre, o que poderia ser um alívio para mim.
— Hm? — A mulher pareceu confusa. — O que isso significa, Mikael?
— Vice-líder, a verdade é que eu sou contra a execução desse garoto.
Todos foram rapidamente surpreendidos com a resposta.
— Não há margem para debate, todos compreendem e aceitam. O que ele fez ultrapassou os limites do razoável. Esta decisão não foi tomada de ânimo leve. Nos encontramos diante de circunstâncias excepcionais, onde a natureza atroz do crime e a influência maligna que o envolveu nos deixaram com poucas alternativas.
— Portanto, essa execução é, evidentemente, um último recurso. — retrucou. — Krynt é apenas um adolescente inocente.
— Inocente? Você está tentando justificar as ações de um assassino? Ele agiu com extrema crueldade. Você ainda não compreende que não podemos poupar nenhum deles?
— Não é esse o ponto. Pense nisso por um momento. Você acredita que os jovens de hoje matariam deliberadamente muitas pessoas? Sua maior influência vem da criatura que habita sua mente. Ela puxou o gatilho.
A vice-líder torceu os lábios enquanto enquanto em há repugnância em seu rosto.
— Ele foi manipulado por uma força além de sua compreensão. — continuou. — Não deveríamos considerar a influência maligna que moldou suas ações?
— Manipulado ou não, ele se tornou um instrumento de morte. — rebateu ela. — O ser que habita sua mente o torna uma ameaça que não podemos ignorar. As ações dele são um alerta para o que está em jogo. Da mesma forma, de acordo com a lei natural, todos que o rompem são condenados à morte sob regras. A situação de Krynt não é exceção. Esse garoto apenas trará mais problemas se continuar vivo.
A preocupação que envolvia todos ao redor. Essa discussão era muito mais do que apenas agradável. Ela facilitava a dúvida sobre o desconhecido, a concentração no reconhecido e a distinção entre o incerto e o certo.
Começaram a surgir opiniões divergentes, com alguns apoiando veementemente Mikael e outros a vice-líder. Eles estavam sempre discutindo qual curso era o correto e qual era o errado. Até que se descobrisse uma solução viável, esse impasse continuaria a ditar como as coisas iriam se desenrolar.
— Devemos lembrar que nossa missão é proteger, mesmo que isso signifique enfrentar o inimaginável. Não podemos permitir que o terror prevaleça, não importa a idade daqueles que o perpetram.
O fio da moralidade se esticava até o limite, enquanto ambos enfrentavam o que estava ali.
— Querendo ou não, senhora vice-líder, a maioria das pessoas é a favor da pena de morte para os culpados. Então, por que a execução de inocentes ainda é permitida? Você, como uma funcionária exemplar do governo, sabe mais do que ninguém que isso é completamente injusto.
— Injusto?
Os olhares se cruzavam, revelando uma miríade de sentimentos conflitantes.
Algumas vozes defendiam a compreensão e a misericórdia, enquanto outras exigiam a justiça implacável, cada uma representando um dilema moral que atormentava suas almas.
— As vidas que eles tiram sem consequência são injustas. Qualquer pessoa desprezível, não apenas Mephistos, deve receber uma sentença de morte ou prisão perpétua em qualquer parte do mundo. — Seu dedo indicador direcionou-se para mim. — Eles tiram a vida porque estão conscientes de que não serão responsabilizados e porque acreditam que ela durará para sempre. Não devemos confiar no Mephisto ou em qualquer outra pessoa por causa disso.
Seus olhos estreitaram antes de perguntar-lhe:
— O que você tem a dizer a respeito dos assassinatos que ele levou a cabo?
Isso não é um blefe, mas sim um fato.
O homem tomou um momento para reunir meus pensamentos antes de responder.
— Não estou defendendo as ações de Mephisto ou de qualquer pessoa que tenha cometido crimes hediondos. — disse em tom firme. — O que estou tentando lhe fazer entender é a complexidade do que leva alguém a cometer tais atos. Não é apenas a pessoa que é responsável, mas também o ambiente, as influências e os fatores que a levaram a esse ponto.
Os olhares ao seu redor permaneceram inquisitivos, esperando por mais.
— Da mesma forma que não estou sugerindo que não haja consequências — continuou. —, mas acredito que devemos buscar não apenas punição, mas também compreensão. Se não entendermos o que impulsiona essas ações, como podemos esperar preveni-las no futuro?
Os sons ao fundo continuavam repleta de uma cacofonia de vozes divergentes, cada uma expressando sua própria interpretação do impasse moral diante deles.
— Talvez ela esteja certa. Devemos investir na identificação rápida e no tratamento dos fatores de risco para evitar que os crimes ocorram em primeiro lugar.
Por outro lado, houve uma discordância veemente.
— A reabilitação pode desempenhar um papel importante na reintegração dos infratores à sociedade e na prevenção da reincidência.
A intrincada questão da justiça e das consequências dos atos cometidos estava no cerne da empreitada.
— Compreensão? — replicou, com descrença. — Não podemos simplesmente tentar entender as motivações por trás de atrocidades como essas. É um luxo que não podemos nos dar. A prioridade deve ser a proteção da sociedade.
O comentário anterior de um soldado se fez ouvir.
— A pena de morte ou a prisão perpétua podem ser eficazes na prevenção de futuros crimes, mas também devemos avaliar a possibilidade de reintegração do condenado à sociedade, o que é, honestamente, impossível.
À medida que isso prosseguia, as vozes na sala tornavam-se cada vez mais impassíveis e firmes em suas convicções.
— Você tem razão. A pena de morte é uma medida que é considerada em situações como esta. É nossa responsabilidade impor uma punição que corresponda ao crime cometido. No entanto, senhora vice-líder, o que realmente está acontecendo é que você está escolhendo executar uma pessoa inocente por um crime que ela não cometeu. Então, sim, isso é injusto.
Ela caiu em um silêncio pensativo, com os olhos fixos no chão enquanto ponderava profundamente a questão.
— Além disso, se começarmos a matar pessoas com base em suposições e sem a devida investigação, onde isso nos levará? — Seus olhos ocasionalmente se estreitaram. — Estaremos jogando fora os princípios fundamentais de justiça e imparcialidade que nossa empresa preza.
Após cerca de cinco segundos, ela finalmente respondeu.
— Se essa for sua decisão final e a opção que preferir, então eu oficializo que Krynt Hughes é considerado inocente e, portanto, será isento temporariamente da pena de morte.
Quando ouvi isso senti-me abençoado.
— Mas, vice-líder, que…
Um guarda que estava tentando dar sua opinião foi interrompido.
— Fique quieto!
Toda a sua voz ecoou na sala. Seu tom austero — ordens absolutas para fazê-los obedecer e isso realmente aconteceu.
— No entanto, atribuo a custódia de Krynt Hughes à Mikael. Se ele repetir os atos que cometeu antes, a pena de morte será aplicada a ambos. — acrescentou, deixando claro que havia condições estritas para a decisão.