Desejos de um Mercenário - Capítulo 2 - Dinheiro e senso
Estamos na estrada há dois dias, a viagem tinha sido tranquila com descansos e um pouco de treinamento para melhorar meu físico, mas agora.
—Lucy, eles não podem nos pegar!
Estávamos correndo de uma alcatéia de lobos cinzentos. Um lobo nos alcançou e ficou à nossa direita começou a se aproximar mostrando suas presas. Percebendo a intenção, puxei uma adaga do coldre de minha coxa, foi nessa hora o lobo pulou, não tendo muito tempo soltei as rédeas e joguei meu corpo para trás.
—Urg.— Bati com tudo em Lucy.
O lobo com o corpo todo esticado passou por mim, sem perder a oportunidade balancei meu braço a adaga perfurou as pernas do lobo não foi profundo, só suficiente para não correr como antes.
Deixando os grunhidos de dor para trás eu e Lucy continuamos a correr, talvez o lobo era o alfa ou o mais rápido a alcatéia perdeu sua presença ao decorrer da fuga.
—Continua mais um pouco, temos que nos afastar mais.
Três minutos de corrida tínhamos afastado então paramos para Lucy descansar. —Vou montar o acampamento.
Recebendo um bufo positivo juntei gravetos secos, peguei o kit de sobrevivência improvisado e acendi a fogueira.
—Fique perto do fogo, vou começar a cozinhar.— avisei.
A alcatéia apareceu quando tinha acabado de enrolar o saco de dormir, então nem café da manhã eu tinha comido. Sobre a fogueira montei uma pequena plataforma para a panela de ferro coloquei gelo, fui preparar a carne e outros ingredientes.
Sal, algo parecido com pimenta, um pouco de ervas junto da carne que não sabia de qual animal pertence, legumes reconhecíveis. Nunca cozinhei, não conhecia muitas receitas. Não querendo apimentar a comida deixei a pimenta para vender usei o resto dos ingredientes para fazer uma sopa.
Guardei a pimenta e cortei os ingredientes em pequenos cubos, os legumes e a carne estavam congelados pelo tempo.
Deixei os ingredientes de lado enquanto esperava o gelo derreter. Durante a vistoria para garantir que não esqueci nada, constatei que tudo estava em ordem. Assim que o gelo se transformou em água morna, adicionei todos os ingredientes, fechei e dei início ao processo de cozimento.
—Eu tenho que aprender a cozinhar, a sopa não vai ser algo desejável depois de um tempo.— Murmuro para mim mesmo.
Após preparar tudo, dirigi-me a um canto, retirei duas das quatro camadas de roupas e iniciei minha nova rotina de treinamento básico.
“A temperatura está realmente próxima de zero.” O frio tornava-se insuportável com menos de duas camadas de roupas quentes. Se não tivesse saqueado a casa de um nobre, certamente estaria sofrendo. Os ventos aumentaram desde ontem, indicando possivelmente a chegada de uma tempestade de neve. Tempestades tão frequentes não eram normais..
Iniciei com alongamentos antes de começar uma série de exercícios, já que melhorar meu físico é uma prioridade. Peguei duas adagas e pratiquei com as lâminas. Acostumado a usar uma espada, a adaga dupla era uma novidade para mim.
Ao longo do treinamento, percebi que não se alinhava ao meu estilo, faltava distância e força na aplicação. O estilo da espada longa, apesar de menos potente, contribui para um melhor controle na batalha.
“Pensando bem, vou começar a lutar em cima de Lucy a partir de agora. Ter uma arma compatível, aproveitando todo o potencial da aura e da montaria, seria bastante interessante,” refleti.
Terminando o treino e uma sopa quente, Lucy já tinha comido um pouco de grama escondida na neve, voltamos a nossa viagem em um ritmo acelerado. Tínhamos que chegar na cidade, os ventos uivavam com força ficando cada vez mais frio.
Nos aproximamos da cidade ao pôr do sol, cercada por pedras e com um portão de madeira reforçado. Os guardas, vestindo armaduras de couro com toques de metal. Ao nos aproximarmos do portão, um dos guardas avança com a espada em punho, ameaçando-me com autoridade.
—Identificação.— disse o guarda de armadura de couro.
—Sou Atalis, filho de pequenos comerciantes nômades.
—Está viajando sozinho?
—Sou o terceiro filho, meus irmãos não gostavam de mim, então peguei minhas coisas e fugi o mais rápido possível. — Resumindo, não tinha direito de sucessão e meus irmãos tentaram me matar. Pude notar pena no olhar do guarda, mas a desconfiança persistia.
—Vamos verificar seus pertences, depois poderá entrar na cidade.
Concordei com a cabeça. —Ah, passei por uma vila saqueada em ruínas, não entrei por medo, parecia que tinha sido recentemente.
O olhar do guarda se aprofundou, indicando que não era um caso fácil. —Obrigado pelo aviso.
Durante a inspeção, perguntei por uma estalagem. Graças à vigilância de Lucy, confirmei que não houve furto.
O lugar parecia quase desértico, com poucos movimentos dos habitantes. A atmosfera era fria e pesada. Apertei as rédeas, com a sensação de estar sendo observado e analisado. Cada vez que olhava na direção com olhos desafiadores, as pessoas viravam o rosto como se nada tivesse acontecido.
“Parece que não vou poder abaixar a guarda. Vamos descansar, reabastecer e sair amanhã. Esses olhares famintos me dão nojo.”
A estalagem não era nada demais, uma casa de dois andares, sendo o primeiro um restaurante e um local para deixar os cavalos. No interior, estava quase vazio, com uma mulher que parecia ser a dona e algumas pessoas que aparentavam ser comerciantes. Ao me avistar, a mulher expressou surpresa e lançou um olhar de raiva.
—Garoto, este não é um lugar para brincadeiras — disse ela, com uma clara ameaça em sua voz.
Não dei importância, simplesmente abaixei o capuz e tirei algumas moedas do bolso.
— Estou procurando um quarto para esta noite.
A bolsa não continha todo o dinheiro saqueado, eram apenas algumas moedas que tinham o menor valor, as maiores deixei para trás. Lucy vai afastar qualquer um que se aproxime das minhas coisas.
A mulher franziu o rosto, revelando uma clara ganância ao fixar o olhar em minha bolsa. Seus olhos já não me viam como um pirralho, mas sim como um cliente agora..
—Uma noite são cinco moedas de cobre pequenas, a comida é uma moeda de cobre e meia
As moedas eram dez cobres pequenos para uma de cobre e dez de cobre para uma de prata pequena. A hospedagem era barata a comida já era cara, supondo pelas memórias herdadas um pedaço de carne valia duas moedas de cobre, um saco de verduras uma moeda de cobre e meia, então uma moeda de cobre e meia era um pouco caro.
—O que vem na comida?— perguntei colocando o dinheiro da hospedagem em cima do balcão.
—Temos sopa, pão e queijo..
—Vou querer, para cavalos? — Coloquei um cobre na mesa.
—Você tem um cavalo?— Perguntou surpresa —Para cavalos, será mais um cobre.
—Certo.
Ela me deu a chave do quarto, deixei a Lucy no galpão, sentei em uma das mesas, esperei alguns minutos até uma garota que parecia estar nos vinte.
—Aqui está jovem.
—Obrigado — Agradeci com um sorriso.
Ela abaixou a cabeça e voltou para a cozinha. A comida tinha uma aparência monótona sem detalhes para decorar, depois de comer fui para o quarto e me joguei na cama que parecia uma nuvem.
“Dormir do lado de fora realmente acabou comigo.” Essa noite eu tive ótimos sonhos.
Acordei com o corpo leve, peguei minha mochila e desci para o restaurante onde tinha cinco pessoas. Pedi a comida, me sentei em uma das mesas e inspecionei as pessoas. Três pareciam ser dessas cidades, os outros dois vestiam como comerciantes com roupas melhores e acessórios, um era um avô e outro era um homem de cerca de quarenta anos.
—Qual de vocês dois vai para a próxima cidade?— Eles olharam para mim me avaliando.
—Garoto se quer fugir de casa encontra outro, nós dois não levamos crianças.— Disse o senhor de idade bebendo em sua caneca com álcool.
—Sou Atalis, pago dois cobres se me deixar acompanhar, não se preocupe com carona, eu tenho um cavalo.
O homem de quarenta virou seu rosto estava carrancudo, ele se levantou soltando malícia tentando me ameaçar.
—Garoto não temos saco para piadas então é melhor parar. — Sua malícia era fraca, mas para esse corpo destreinado era o suficiente para tremer.
“Acalma, ele não pode fazer nada comigo.” Mantive a compostura, encarei seus olhos em desafio.
—Senhor, sou um nômade e sendo sincero vocês me levarem ou não tanto faz, só queria ter uma guia para me ajudar a ter mais noção do mundo.
O homem só me encarou, seus olhos examinaram minhas roupas, corpo, equipamentos e quando se sentiu satisfeito assentiu estendendo a mão. Entendendo o significado coloquei as moedas só então o rosto um ficou um pouco mais relaxado.
—Partiremos ao meio-dia sem reembolso, então prepare garoto.
—Ficarei preparado.
Assim voltamos a comer, terminando me levantei para vender o saque e comprar suprimentos de verdade.
—Garoto, qual é seu nome?— O homem perguntou sem virar a cabeça.
— Atalis.
—Atalis, avisarei os outros de sua presença na nossa viagem, vá para o portão leste.
Deixei a estalagem, peguei Lucy e fomos para o centro. Vendi todas as minhas mercadorias e comprei outros suplementos, rendendo cinco moedas de prata pequenas juntando com as que eu saquei, se a lógica da prata é a mesma do cobre fiquei com valor total de duas moedas de pratas.
Perguntando por aí, soube de um ferreiro da cidade que, se fosse o mesmo dos guardas, provavelmente era especializado em espadas e escudos.
Entrando na ferraria indicada um homem olhou para cima com o som do sino, ele não tinha um olhar questionador só levantou a sobrancelha com curiosidade. Mesmo sentado atrás do balcão era alto, seus braços eram fortes, mãos apresentava queimaduras, barba aparada e olhos afiados.
—Escudeiro?— Perguntou.
—Nômade— Respondi com um sorriso inocente.
—Um aventureiro dessa vez?
—Estou para um mercenário na minha opinião.
—Você é muito jovem para um mercenário.
—Mercenários precisam de idade?
—Tsk. — A conversa investigativa acabou com estalar de língua do ferreiro, agora estava na hora dos negócios, não queria perder muito tempo aqui.
—Espada longa.— O ferreiro olhou para mim como se eu tivesse dito algo absurdo.
—Moleque se você usar uma espada longa agora não passará de um porrete pesado… espere aí.
Dizendo isso ele foi até um cômodo, aproveitei para olhar em volta. O lugar tinha ferramentas, utensílios e algumas flechas. Passou alguns minutos o ferreiro voltou com uma espada do tamanho médio, era uma espada bem simples sem nenhuma decoração.
—Use essa espada, servirá para seu tamanho e força.— Disse ele jogando a espada nas minhas mãos.
Peguei e tirei a lâmina, pude ver sinais de estar guardada pela poeira acumulada, mas não perdeu seu fio.
—Preço? — Satisfeito com o produto agora só faltava pechinchar.
—Cinco pratas pequenas.
—Duas.
—Quer que eu morra de fome? Quatro e meia pratas pequenas.
—Três e meia.
—Quatro pratas pequenas e 2 de cobre.
— Uma de cobre.
—Haaa— Com o suspiro o ferreiro olhou para mim como um delinquente — Fechado.
Entreguei o dinheiro e prendi a espada na minha cintura quase arrastado pelo chão.
“Isso é vergonhoso, vamos colocar mais carne na refeição” Pensei envergonhado.
—Você também tem alabarda?
—Essas coisas não são usadas aqui, e não venderia para um moleque de dez invernos.
“Tenho quinze inverno bastardo” Xinguei o ferreiro mentalmente.
—Você sabe onde vive o alquimista?— Com a questão da alabarda de fora agora precisava de remédios.
Na minha antiga vida os cientistas conseguiram sintetizar algumas plantas, transformando-as em coisas úteis como pomadas e bebidas medicinais, então se esse mundo já estava em contato muito antes deve ter algo mágico.
— A uma loja seguindo essa rua, ele sabe fazer algumas opções básicas. — Disse o ferreiro apontando para saída.
—Obrigado.
Passando pela loja de poções, comprei duas poções calmia, um veneno de Urie, se eu não fui enganado calmia melhora minha regeneração natural e a Urie pode paralisar o oponente, preço total de uma prata pequena com pechincha. Com dinheiro restante comprei coisas mais caras como lanterna, mochila, saco de dormir e livro vazio me restando oito moedas de cobre.
—Vamos para o leste, não podemos atrasar. — murmurei para Lucy.
As compras demoradas pareciam ter chamado atenção das pessoas ao redor fazendo as prestarem mais atenção em nós do que necessário. O sol já estava em cima de nossa cabeça, chegando no ponto duas carruagens prestes a partir, um dos vigias me viu começou a se aproximar.
—Sou Atalis!— Gritei avisando, o vigia parou e olhou para seu colega dando um simples aceno.
—Fique perto das carruagens, não atrapalhe.
Guiei Lucy até o lado da carruagem guia, o motorista era o mesmo velho do restaurante quando me viu ficou surpreso.
—Você realmente tem um cavalo… um bem treinado. — Disse enquanto examinava Lucy.
—Lucy é uma potra esperta. — Querendo se mostrar, Lucy ficou mais ereta e bufou em confirmação.
—Haha— o velho riu em diversão —Cavalos são parceiros leais e precisos, darão sua vida pelo seu parceiro, cuide bem dessa égua ela será uma das maiores forças.
—Eu vou. — Digo antes mesmo do velho terminar.
Conversei mais um pouco sobre cavalos com o velho, ele me ensinou algumas coisas e teria ensinado mais se não fosse pelo grito de partida. Agora fora da cidade, parti com o comboio em direção a capital.