Demônio da Escuridão - Capítulo 3
Capítulo 3: O Presente
Quatro anos depois…
BAM! BAM! BAM!
— Ei, ei! Bata com força mas mantenha o controle, assim você irá arruinar esse protótipo. — Paulo pegou o martelo da mão de Levi e fez uma demonstração impressionante, BAM! BAM! BAM! — É assim que se faz.
— Entendi. — Levi continuou o que estava fazendo.
— Depois que terminar de moldar, coloque na água fria e deixe que eu faço o acabamento, preciso falar com você depois. — Levi apenas acenou com a cabeça.
BAM! BAM! BAM!
Depois de terminado, Levi colocou a lâmina ardente na água fria, provocando um sibilar e liberando um vapor quente enquanto o metal se esfriava.
TSSSSSS!
Quatro anos se passaram desde que Levi tornou-se ajudante do Paulo. A princípio, mesmo ele sendo encarregado para fazer tarefas simples como varrer o chão, polir as armas, buscar ferramentas, foi difícil lidar com ele por ser tão jovem e imaturo. Mas à medida que o tempo avançou, Levi amadureceu, conquistando gradualmente a confiança do ferreiro experiente. Essa conexão se tornou tão profunda, que ele o adotou como seu discípulo.
Levi está feliz com a vida que está levando, não apenas Paulo, mas o Padre Ernesto veem o ajudando a se adaptar e conquistar suas coisas. Ele já conseguiu reunir uma boa quantidade de dinheiro, mas não o bastante para conseguir uma carona para Constantino.
Levi se sentou na mesa e serviu-se com um ensopado preparado por Paulo. O ferreiro juntou-se a ele, pronto para compartilhar não apenas a refeição, mas a conversa que estava por vir.
— Escuta. Vou partir amanhã, recebi uma proposta irrecusável para trabalhar no Reino de Saint Elmo. — Esse reino citado por Paulo é uma grande civilização, rivalizando até mesmo com Constantino.
— Tá bom. — Levi continuou comendo sua sopa como se essa informação não fosse influenciar na sua vida.
— O que você vai fazer da vida? Vai continuar aqui?
— Não se preocupe comigo, eu vou conseguir me virar bem. — Levi tenta transmitir confiança, mas a decepção transparece em seu tom de voz.
— Se você quiser, pode vir comigo para Saint Elmo, você tem um grande potencial como ferreiro.
— Fico feliz por você e pela consideração, mas não pretendo desviar do meu objetivo.
— Faça como quiser. De qualquer forma, aqui está o seu pagamento deste mês. — Paulo entrega um saquinho com moedas para Levi — E mais uma coisa…
Paulo foi até sua bancada e pegou um objeto grande enrolado em uma pedaço de pano.
— Toma. — Paulo joga o objeto na direção de Levi, que consegue pegar no ar.
— O que é isso? Uma espada? — Levi perguntou, examinando o objeto embrulhado.
— É um apenas um protótipo, creio que não seja ideal para vender, então pode pegar. É feito com matéria-prima de primeira qualidade. — Levi começou a desembrulhar, mas foi interrompido por Paulo. — Espera. Faça isso quando chegar em casa. Acabou a hora do almoço, vamos trabalhar!
Os dois continuaram trabalhando incansavelmente até o entardecer. Quando o sol já estava se pondo, tingindo o céu com tons laranjas, Levi organizava sua bancada antes de voltar para a casa, quando uma mancha lilás na mão chamou sua atenção. Não é de hoje que isso vem acontecendo, manter-se na transformação humana lhe custa energia, combinada com o seu trabalho cansativo, a exaustão começa a se manifestar de forma evidente.
— Eu acho que já vou indo, Mestre Paulo.
— Tudo bem, amanhã se você puder me ajudar a organizar as coisas, seria de grande ajuda.
— Pode contar comigo. — respondeu Levi, forçando um sorriso. Ele juntou suas coisas e foi para a casa.
Levi correu para a igreja, de longe ele consegue ver muitas pessoas reunidas para ouvir o sermão do padre. “Droga! Ainda não acabou?!” A mancha em sua mão começa a se expandir para seu braço, ele sente dificuldade de segurar sua transformação, é como se ele pudesse voltar a sua forma demoníaca a qualquer momento.
— Licença pessoal. — Levi pediu passagem para atravessar o mar de moradores.
— Não vai ouvir o sermão hoje, Levi? — perguntou um conhecido.
— Hoje não. Não estou me sentindo bem — respondeu ele rapidamente, subindo as escadas da igreja até seu quarto, que ficava no sótão.
— Faz tempo que ele está assim, será que ele está doente ou algo do tipo? — murmurou um dos moradores.
— Não sei dizer. Pode ser o despertar, já imaginou? — outro comentou.
Levi subiu até seu quarto, se trancou, atirou suas coisas na cama com sua transformação ainda contida. Pouco a pouco, uma fumaça começou a sair de seu corpo, sua forma demoníaca ganhou forma novamente.
GRRRRRR!
“Eu exagerei de novo. Não sei o que pode acontecer se eu continuar forçando essa transformação por tanto tempo.”, Levi deitou-se na cama, ao lado do objeto embrulhado que recebeu de Paulo.
Com cuidado, ele desembrulhou o artefato. Como suspeitava, era uma espada, mas não uma qualquer. Feita por um ferreiro habilidoso com os melhores materiais disponíveis, a lâmina reluzente é capaz de fazer um corte no dedo só de encostar levemente, o cabo possui um acabamento excelente. A dúvida que soou na mente de Levi é “Por que Paulo me daria uma arma tão valiosa?” Ele nem sequer sabe manusear.
Entediado, Levi começou a brincar com a espada balançando para um lado e para o outro lutando com oponentes imaginários. De repente, um formigamento percorreu por seu braço, uma carapaça negra começou a crescer pelo seu rosto e membros. Uma névoa sombria saiu de seu corpo, envolvendo a lâmina da espada em uma aura sinistra.
Levi ficou fascinado. É a primeira vez que ele vê isso acontecer, ele observa a espada com brilho nos olhos, como se tivesse achado um tesouro precioso até que…
TOC! TOC! TOC!
AAAH! — Levi levou um susto.
— Sou eu. O sermão terminou, você pode descer para me ajudar? Preciso que varra o chão para mim.
— Certo, já estou indo — Levi deixou a espada em um canto e desceu sem se transformar.
A igreja, agora vazia e envolta de silêncio, testemunhava a presença solitária de Levi que desceu para cumprir o pedido de Ernesto. O sol cedia o espaço para a noite, e a penumbra começava a envolver o santuário.
Enquanto varria o chão, o jovem demônio notou que alguém havia esquecido um livro sagrado em uma das cadeiras. Ele guardou consigo e retomou seus afazeres. Ao concluir sua tarefa, ele se permitiu ter um momento de descanso, acomodando-se em uma cadeira para contemplar o silêncio.
— Obrigado pela sua ajuda, eu fiz uma sopinha para te recompensar. — O Padre Ernesto ofereceu uma tigela com sopa para Levi.
— Obrigado. — Ele pegou a tigela e começou a se alimentar ali mesmo enquanto desfrutava da companhia do padre.
Do lado de fora, no calar do anoitecer, três homens conversavam enquanto caminhavam para a igreja.
— Finalmente é sexta-feira, companheiros! Vamos beber todas! Só vou pegar o livro sagrado que a minha esposa diz ter esquecido e… — O homem parou de andar na hora, ele se calou abruptamente, seus amigos ficaram olhando para seu rosto assustado, confusos com a mudança repentina de humor.
— O que foi Mathias? — perguntou um de seus amigos.
Mathias não disse nada, apenas apontou para a janela da igreja. Os olhares confusos de seus amigos seguiram o gesto, e o que viram os fez revirar o estômago. O padre Ernesto, figura respeitada e amada pelos moradores, estava ali, conversando e rindo com um demônio. Uma onda de choque percorreu seus corpos, o sangue lhes subiu à cabeça, o sentimento de ódio e traição encheu seus corações
— Eu… E-eu não acredito. Mas aquele… Não se parece com o Levi? — Um dos homens desabou de joelhos no chão, sua mente lutando para compreender a realidade à sua frente.
— Vamos matar esse dois —disse o outro, com os punhos cerrados marchando até a igreja. Porém, foi puxado pelo ombro por Mathias.
— Calma. Não podemos matar eles agora. Precisamos avisar os moradores.