Dark Moon - Capítulo 03
Os raios do Sol iluminavam a copa das árvores durante esta tarde, porém os caçadores retornavam para a vila.
Yuna e Brendon voltaram para Crimis carregando cinco lebres e várias ervas que coletaram no caminho.
— Queria ficar um pouco mais.
— Isabelle não vai deixar você sair mais se a gente chegar muito tarde.
— Hmm…
— Você também tem um dever com as lebres que abateu, filha. Cinco já é muito pra nós, mais que isso e a gente não conseguiria trazer de volta.
A dupla caminhava pelas ruas da aldeia enquanto cumprimentavam os vizinhos e observavam as conhecidas casas de madeira.
Quando eles chegaram em casa, o cansaço e a exaustão tomaram conta dos seus corpos.
— Chegamos!
Ela saiu da cozinha e viu os dois que estavam entrando pela porta.
— Cinco lebres? — Isabelle olhava para os dois com um leve sorriso de aprovação. — Minha menininha está crescendo.
O rosto da garota se iluminou com as palavras da mãe.
— Sim, nossa filha é incrível mesmo. — Brendon aproveitou o momento e acariciou a cabeça dela.
— Hmm! Não pegue no meu cabelo com essas luvas sujas. — Yuna retirou a mão dele.
— Vamos logo esfolar essas lebres, quero tomar banho e ficar livre. — Brendon e sua filha andaram em direção ao quintal, mas foram impedidos por Isabelle.
— Os dois bonitinhos aqui vão usar o quintal e, quando terminarem, deixar tudo limpo e arrumado, certo?
Pasmos, a dupla acenou afirmativamente.
— Se eu encontrar facas largadas, flechas espalhadas pelo quintal ou uma única gota de sague; os dois vão fazer suas próprias refeições, Yuna não vai mais na floresta e Brendon vai dormir na sala. — Ela se virou e andou até a porta.
Após a saída dela, eles se entreolharam e um arrepio percorreu pelos seus corpos confirmando o sentimento mútuo.
— É melhor a gente terminar antes que ela volte.
— Sim.
A garota e o pai esfolavam os animais, separando a pele, a carne, os ossos e órgãos, tomando cuidado para não sujar o quintal mais do que deveria.
Terminado, o par guardou todas as partes nos locais reservados. Yuna aproveitou para limpar seu equipamento e roupas, desejando evitar os olhos furiosos da mãe.
Durante as atividades, o Sol se despediu discretamente e o crepúsculo anunciou o início da noite.
— Pai, e a sua roupa?
— Estou cansado, vou deixar pra amanhã. Meu bem não vai querer que seu marido pegue um resfriado!
Depois de ambos se banharem, eles acenderam as lamparinas, prepararam o jantar e organizaram a mesa.
O ranger das dobradiças indicou a chegada de Isabelle.
— Cheguei! Fui em Seu Conor levar uma parte da carne de cervo, aproveitei e trouxe uns pãezinhos.
— Chegou na hora certa, já tá tudo na mesa.
A família se sentou à mesa para a refeição e uma conversa sobre o dia.
— Então, Yuna, me conte sobre como foi sua caçada hoje. Aconteceu algo incomum?
— Mãe, hoje foi incrível! A floresta continua a mesma, mas sempre é legal caçar com meu pai. — As palavras da menina exalavam entusiasmo enquanto relatava para a mãe.
Ela contou como abateu suas primeiras lebres com um movimento preciso, subiu em árvores e usou seu arco para acertar outras lebres.
— Teve um momento que eu e meu pai encontramos os rastros de uma fera…
— Encontramos as pegadas de um grande felino e árvores com marcas de garras, acredito que foi o Rei Da Floresta — Brendon interrompeu o relato dela, sentindo a necessidade de explicar essa parte.
O Rei Da Floresta é a maior criatura nos arredores de Crimis, todos os caçadores o respeitavam devido ao tamanho e força. O grande felino, conhecido pela pelagem laranja com listras pretas, longas garras e caninos poderosos, vagava no interior do vale.
— Também tinha marcas de ursos das cavernas nas árvores. Só pode ser uma competição por território.
— Isso é estranho. Elas não deveriam estar aqui, não nessa época perto do inverno…
— Vou falar com Daley, esse ano tem sido muito turbulento e deixa todo mundo preocupado com o próximo.
— Quem não ficaria? Acho melhor Yuna não fazer a iniciação esse ano, não podemos arriscar com as coisas assim.
— Sempre é perigoso, Isabelle, vamos esperar e conversar com Daley, depois tomamos uma decisão.
O casal conhecia os perigos e desafios da cerimônia de caça.
Um jovem é qualificado quando completava quatorze anos; concluída, ele é reconhecido como um adulto e parte da comunidade, ganhando um manto com o símbolo de Catandros e um facão ornamentado.
— Vou ficar bem, conheço a floresta como se fosse minha casa. — Yuna tentou apaziguar a preocupação dos pais.
— Também não estará sozinha. Vai ser necessário alguém para te ensinar sobre a força vital, avaliar e… — o caçador complementou o raciocínio da filha, relembrando à esposa sobre todas as medidas tomadas, mas foi interrompido no final por alguém muito entusiasmado.
— Um caçador nunca está sozinho!
A conversa seguiu para outro tópico após a conclusão da discursão sobre a cerimônia de caça.
— Vão à feira amanhã para vender essas peles e todas essas carnes, não vamos conseguir comer tudo. Traz azar não aproveitar tudo dos animais abatidos — Isabelle comentou. — A gente vai poder comprar outras coisas com o dinheiro também.
— E você, meu bem, não vai sair de casa para se esticar um pouco? Talvez seja bom ir com Yuna e sentir o Sol na pele.
— Pode ir com Yuna, vou procurar alguém para ir comigo na floresta amanhã. Por isso, vou acordar cedo.
— Aproveite e chame Emly, ela está fazendo uma pausa das caças noturnas. Hoje a gente viu ela e Samuel indo caçar — sugeriu seu marido.
— Então eu vou procurar por ela amanhã, vai ser bom pra manter a conversa em dia.
O jantar terminou e eles seguiram para concluir os deveres habituais e finalizar o dia.
— Yuna, não se esqueça de fechar as janelas — mãe ordenou à filha, relembrando as tarefas dela.
Eles se moveram para suas atribuições rotineiras antes de encerrarem a noite. Brendon limpou e guardou as louças, a esposa organizou o quarto antes de adormecerem.
Yuna, como sempre, ficou responsável por fechar as janelas e trancar as portas.
Previamente, ela observou o show das estrelas mais a Lua.
O lindo brilho exibido nunca exauriu os olhos dela.
A garota deixou de admirar os céus e retornou ao lado dos pais no quarto.
Amanhã um novo dia os aguardava.
O alvorecer não conseguiu despertar Yuna, pois a fadiga acumulada de ontem cobrou o corpo da menina.
Demorou um tempo para ela juntar todas as forças.
Hmm… Não quero levantar.
Infelizmente, a fome a tentou e uma decisão foi tomada.
Caminhando até a sala, ela esperava encontrar seu pai, ou sua mãe, ou algo para comer.
Sons de enxague vindos do quintal foram ouvidos.
Ela caminhou até a fonte e encontrou Brendon estendendo as roupas no varal com uma expressão azeda no rosto.
— Bem que ela disse que não ia lavar minhas roupas — sussurrou.
Um odor horrível tocou seu nariz.
A garota se virou e viu uma bacia com água preta mais manchas de sangue no canto.
— Pai, o que você vai fazer com essa água suja? Se deixar ali, minha mãe vai ficar brava.
— Eu sei, minha filha, já vou cuidar disso depois de colocar as roupas pra secar. Aproveite e vá comer alguma coisa, vamos para a feira daqui a pouco.
Sem esperar mais tempo, Yuna fechou as janelas e a porta do quintal para o odor não entrar na casa. Assim, ela preparou sua primeira refeição do dia, seguido de alguns bocejos.
— Filha, depois se arrume. Nós dois vamos para a feira nesse instante — ele avisou.
Depois de terminar a refeição, a jovem voltou ao quarto e trocou as roupas para uma aparência mais casual.
Então, estava pronta para ir.
— Estou pronta, pai.
— Muito bem, vamos!
Fechando a porta de casa, a dupla seguiu em direção à feira da vila.
Seus passos lentos e ritmados permitiram alguma conversa entre eles.
— Será que a gente vai conseguir um preço bom?
— Vai ser o de sempre. Só se algum comerciante chegar, isso sempre movimenta a feira.
— Se tivesse outro lugar pra vender…
— Só se quisermos vender em Catandros. Já fui lá e é bem mais movimentado, mas é uma longa caminhada.
Yuna assentiu com a cabeça.
— Temos, também, que falar com Daley sobre as feras e avisar os vizinhos. E sua cerimônia tá envolvida nessa conversa.
Os dois continuaram caminhando até o destino.
Quando chegaram, um pequeno alvoroço se formou.
As pessoas no local prestaram atenção aos anúncios vindos de um homem em roupas chiques e seu companheiro de aparência misteriosa.
Eles estavam próximos a duas carroças que eram puxadas por dois cavalos e cheias de produtos para vender.
— Venham! Venham! Rey retornou de Arkânticos e deseja negociar com quem quiser! — declarou um dos aventureiros enquanto protegia as mercadorias.
— Rey está aqui?! É só pensar em negócios que ele aparece — o caçador concluiu com um sorriso.
Ambos olharam para a outra figura e um vazio se formou no estômago de Brendon.
Muitas conversas os aguardavam hoje e algumas perguntas precisavam ser respondidas.