Cursed Reincarnation - Prólogo
Estou preso em uma sala desagradável. Já estive preso aqui várias vezes nos últimos anos, porém não estou sozinho. Um garoto detestável de 17 anos de idade, um ano mais novo que eu, também está aqui sentado do outro lado da sala. A aparência dele não é grande coisa, na verdade eu acredito ser muito mais bonito que ele. Sou mais alto e mais forte também.
No entanto, o garoto está com o olho direito roxo, e a razão disso sou eu. Essa sala desagradável é a sala da direção da escola. Uma escola maçante cheia de pessoas detestáveis que se encontra no centro de São Paulo.
Já passou da hora de ir embora, porém tenho que esperar a diretora mandona vir e me dar um sermão. É um ritual básico pelo qual já passei diversas vezes na minha vida.
Agora, por que eu bati nele? Pelo mesmo motivo de sempre.
“Por que alguém mais novo, mais feio e mais baixo que eu conseguiu uma namorada e eu não?”
O garoto começou a namorar a alguns dias atrás, e isso me fez sentir a pontada dolorosa da inveja no meu peito. Então, não aguentando mais assistir os dois pombinhos flertando durante a aula, comecei uma briga com o moleque na hora do intervalo. Sou muito forte, então era natural que eu ganhasse a briga com apenas um soco.
Vê-lo chorar de dor na frente da namorada acalmou meu coração. O sentimento de fazer quem está feliz ficar triste tem sido umas das poucas coisas que me fazem colocar um sorriso genuíno no rosto.
Apenas existe uma única coisa nesse mundo que eu desejo. Eu quero namorar uma garota. Quero fazer isso e aquilo com uma namorada, mas, por mais que eu tente, parece que isso é impossível para mim. Por consequência disso, não vou deixar que pessoas inferiores a mim possam ter esse prazer na minha frente.
Como eu disse antes, já estive nesta sala várias vezes. Quase sempre pelo mesmo motivo, pois não consigo aceitar o fato de pessoas inferiores a mim conseguirem namorar e eu não. Isso é, de fato, inaceitável pra mim.
Como sempre, vou levar um longo sermão da diretora por isso. Ela normalmente chama os pais dos alunos que fazem confusão para conversar. Mas, na primeira vez que ela chamou minha mãe, percebeu que não adiantaria nada.
A primeira vez que arrumei uma confusão como essa foi no primeiro ano. A diretora chamou minha mãe para conversar, porém aquela mulher não fez nada além de insultar a diretora e a mim. Foi uma grande cena, uma mulher totalmente desequilibrada gritando insultos para todos ouvirem. A diretora nunca mais se atreveu a chamá-la de novo.
Minha mãe… Não, aquela mulher que me deu à Luz nesse mundo repulsivo não gosta de mim. Para falar a verdade, ela me odeia profundamente.
Quando eu era menor, ficava extremamente depressivo por não entender o motivo de ser tão odiado por ela. Escutá-la me chamar de lixo sempre foi algo diário em minha vida.
Nunca conversei com aquela mulher, apenas escutei ela me insultando a vida inteira. No entanto, aos 12 anos de idade, descobri o motivo desse ódio. Foi quando ela me jogou uma “maldição”. Ela gritou na minha cara: — Você nunca vai conseguir uma mulher na sua vida!
Ouvi falar que maldição de mãe é forte, e infelizmente parece que isso é verdade. Afinal, nunca consegui conversar com uma garota por mais de 5 minutos até hoje.
Minha avó estava por perto quando ela me disse aquilo. Foi ela que me contou o motivo de eu ser tão odiado. Parece que sou muito parecido com o meu pai. Um pai que nunca conheci e por causa dele sou tratado como lixo todos os dias.
Quando eu era bebê esse “pai” abandonou minha “mãe” para ficar com outra mulher, fazendo minha “mãe” enlouquecer de raiva. Naquela situação ela pensou em me abandonar em um orfanato, mas minha avó não permitiu. Desde então, moro na casa da minha avó com aquela mulher. Apenas nós três e ninguém mais.
Para falar a verdade, acho que o motivo de eu não ter sido abandonado deve ser outro. Apesar de ser odiado, ainda não devo ser um total inútil aos olhos daquela mulher.
De uns anos para cá, minha avó ficou cada vez mais doente. Não demorará muito para que ela se torne uma inválida. Tenho quase certeza que aquela mulher planeja empurrar a responsabilidade de cuidar da velha para mim.
É claro que não vou fazer isso. Não tenho nenhum sentimento ruim em relação a vovó, porém não vou desperdiçar tempo da minha vida cuidando dela.
Ela que morra em um asilo qualquer. Vou me formar, arrumar um emprego e sumir do mapa.
De qualquer forma, a situação da sala desagradável está prestes a acabar. A diretora chegou e está me dando o mesmo sermão de sempre, “você tem que parar de fazer isso se quer ter um futuro”, “você tem que parar de fazer aquilo se quer se formar” esse tipo de sermão.
Ela então me fez pedir desculpas para o garoto detestável em que bati.
— Desculpa, não vou fazer isso de novo. — Falo isso com uma expressão de riso no rosto.
Uma mentira, claro. Com toda certeza não vou conseguir me segurar e vou bater em qualquer desgraçado que conseguir uma namorada antes de mim. Esse é o único jeito de acalmar meu ódio interior por não conseguir uma garota.
O garoto sai da sala e vai embora. Antes de eu poder sair também, a diretora me entrega um papel para minha mãe assinar. No papel está escrito que vou estar suspenso das aulas por uma semana.
É a segunda vez que ganho um desse, na última vez eu apenas rabisquei o papel e devolvi na semana seguinte para diretora, sem nem me dar o trabalho de falsificar a assinatura. Pensei que aquilo iria me trazer problemas, entretanto, por alguma razão, não aconteceu nada.
A diretora provavelmente nem chegou a conferir a assinatura para ver se era verdadeira. E mesmo se tivesse conferido e descobrisse que não era a assinatura da minha mãe, tenho certeza que ela apenas ignoraria para não ter que se envolver com aquela mulher de novo. No final eu apenas ganhei uma semana inteira de “férias”.
Agora provavelmente vai ser a mesma coisa, vou ganhar mais uma semana de férias.
“O que eu deveria fazer nesses 7 dias livres?”
Não há nada que eu realmente sinta vontade de fazer, provavelmente vou ficar assistindo alguns animes ou lendo mangas.
Então quando eu estava quase atravessando a porta da sala.
— Espere. — disse a diretora me interrompendo de sair daquele lugar.
— O que é agora? — Fiz uma expressão de raiva enquanto respondia para mostrar minha irritação por ter sido interrompido de ir embora.
— Essa foi a última vez! Na próxima você será expulso.
“Expulso?”
Droga. Tenho que tomar mais cuidado, não posso ser expulso. Se isso acontecer, vai ser difícil achar uma escola decente que aceite alguém que foi expulso. Provavelmente vou ter que ir para uma escola de periferia, e isso seria terrível.
— Ook! — Respondo revirando os olhos para mostrar que não ligo para isso enquanto saio da sala, porém eu estou realmente preocupado.
Finalmente vou embora, mas o pensamento de ser expulso realmente é problemático. Não gosto de ir à escola, no entanto até mesmo eu sei que para ter uma vida digna, pelo menos, tenho que terminar o ensino médio.
Eu já repeti o terceiro ano uma vez, portanto não posso ser expulso agora que estou finalmente acabando essa fase da minha vida.
“Tenho que saber controlar melhor meu ódio a partir de agora, ou pelo menos descontar em outra coisa.”
Estava pensando isso enquanto eu andava no caminho de volta a minha casa. É uma caminhada de 30 minutos, porém eu não tenho que me preocupar com o tempo, posso perambular pela cidade o quanto eu quiser. Afinal, não tenho pressa para chegar em um lugar em que não gosto de estar.
Enquanto caminhava vagarosamente, vi em um ponto de ônibus um casal de namorados flertando do outro lado da rua. Testemunhar esse tipo de coisa faz meu sangue borbulhar. Não suporto ver outras pessoas fazendo coisas que eu queria estar fazendo.
“Esses dois… Eu quero quebrar o pescoço deles. Quero tirar esse sorriso nojento do rosto deles. Quero vê-los tristes. Se eu não posso ficar feliz, então ninguém mais pode.”
Pensamentos amargos passam pela minha cabeça. Preciso fazer alguma coisa para aliviar essa dor que surgiu no meu peito. Preciso fazer esse casal sofrer para me sentir melhor
“Espera, preciso me segurar. Não estou na escola. Se eu bater em alguém na rua, posso acabar preso.”
Agora que tenho 18 anos, preciso prestar mais atenção aos meus atos. Na escola apenas recebo um sermão por fazer algumas maldades, porém não acho que na rua acabaria igual.
Ainda assim, preciso fazer alguma coisa para diminuir esse ódio dentro de mim. Tenho que arrumar outra maneira de aliviar esse sentimento. E apenas há uma única outra coisa no mundo que pode fazer isso.
Pornografia.
“Vou chegar em casa e assistir o máximo de PMV(Porn Music Video) que conseguir”
Assistir pornografia faz com que minha mente fique anestesiada e, consequentemente, esqueça todas as minhas preocupações e sentimentos ruins.
Mesmo após a masturbação, esses sentimentos ruins não voltam até eu encontrar outro casalzinho feliz se esfregando.
Superei há muito tempo a tal da depressão pós masturbação. Não tenho mente fraca igual os outros caras da minha idade. Sou superior a eles. Sou superior a todos.
Pensava isso enquanto não prestava atenção ao meu redor, então escutei uma voz.
— Ei, você. — disse uma voz alta atrás de mim.
Me virei e vi quatro homens, três deles eram bem musculosos. Com certeza são do tipo que vão para academia a semana inteira. E, para o meu azar, estão me encarando com olhares aterrorizantes, parecendo quererem me matar.
O quarto homem não é um homem, e sim um garoto. Um garoto com um de seus olhos roxo, é o maldito garoto desagradável em que bati hoje no intervalo.
— Seu lixo, foi você que bateu no meu irmão, não é? — disse com uma cara ameaçadora o homem mais à frente do grupo.
“Merda, esse moleque não é apenas desagradável, ele é vingativo também.”
Não acredito que esse desgraçado chamou o irmão para me bater. Uma vez briguei com duas pessoas ao mesmo tempo, mas contra quatro eu não tenho a menor chance. Além disso, não parece que eles querem apenas me dar um susto. Eles querem realmente me espancar.
— Fala alguma coisa! Você não é o fortão na escola? Quero ver agora. — disse o maldito moleque desagradável do olho roxo.
— O que foi, seu otário? Acha que eu tenho medo de uns bombados? Eu sozinho acabo com os quatro. — Falo isso levantando a mão direita e mostrando
o dedo do meio.
Mentira, não consigo bater nos quatro nem se eles vierem um de cada vez. Talvez dois, mas não quatro. Eu os provoquei para ver qual vai ser a reação deles. Estão a 5 metros de distância de mim, se começarem a vir na minha direção, vou correr com todas as minhas forças.
— Seu lixo! A gente vai te ensinar uma coisa, espera aí. — disse o homem mais a frente enquanto começava a correr em minha direção.
Fui chamado de lixo. Sou diariamente chamado de lixo por aquela mulher. E agora fui chamado assim por um bombado que quer me bater. Talvez eu realmente seja um lixo. Bom, tanto faz agora. Preciso fugir daqui ou vou apanhar.
— Tenta me pegar então, otário. — Falo enquanto me viro e começo a correr com todas as minhas forças.
Comecei a correr em uma direção que não conheço, então tento entrar em várias ruas diferentes para despistá-los. Porém, quando olho para trás, vejo que eles não vão desistir até me pegar.
— Eu vou te pegar!
“Droga, eles estão perto de mim.”
Não vou conseguir despistá-los, eles são muito rápidos. Preciso ir para um lugar com multidão. Se houver bastante gente por perto, não vou apanhar. Eles não bateriam em mim na frente de muitas pessoas. Isso com certeza traria problemas para eles.
— Você não vai fugir. — disse um dos homens que quase estava me alcançando.
Muito perto, já está praticamente a três passos de mim. Estou começando a entrar em desespero. Vou apanhar, vou me machucar e vou sentir muita dor. Não quero isso, preciso correr mais.
Continuo correndo e correndo. Apenas foco todos os meus pensamentos em correr. Até que em um momento.
— Ei, ei… Pare seu maluco. — Escutei atrás de mim.
Quando ouvi isso, eu estava com meus pés no asfalto atravessando a avenida. Fiquei tão focado em correr que nem prestei atenção se tinha algum carro passando. Apenas continuei correndo.
Até que então, algo muito grande apareceu na minha visão periférica. Eu estava olhando para frente enquanto corria, mas dava para saber o que era.
Um caminhão.
Não percebi a tempo de desviar e acabei sendo atropelado por uma montanha de ferro.
Acho que apaguei na hora. Não sei dizer exatamente, mas… De alguma forma, depois do impacto tudo ficou escuro e minha mente continuou ativa.
Ainda consigo pensar.
“Será que não morri?”
Não pode ser o caso, a batida foi muito forte. Até mesmo um cavalo teria morrido.
Então por que continuo escutando meus pensamentos nesse mundo escuro? Esse é o inferno? Se for, eu acho que estou aqui justamente. Nunca fiz nada digno de recompensa, sendo assim o inferno é algo adequado para mim.
Aqui ficarei para sempre cultivando meu ódio e inveja por nunca ter conseguido nem mesmo conversar com uma garota. Esse é o lugar perfeito para isso sem dúvidas.
Mas se eu tivesse uma segunda chance… Se eu pudesse nascer de novo em outro lugar. Eu com certeza conseguiria uma garota. Não, eu com certeza conseguiria até mesmo mostrar a todos o quão superior eu sou.
Porém, está tudo acabado… Só me resta encarar essa escuridão sem fim e suportar meu ódio por toda a eternidade.