Centro de Desenvolvimento Paranormal - Capítulo 2
Cheguei na escola onde passo boa parte do meu dia porque meus pais chegaram a conclusão que estudar de manhã e ficar a tarde inteira “sem fazer nada” não era produtivo por isso me matricularam no integral.
Para os meus pais, todo tempo é importante e não podemos desperdiçá-lo fazendo bobagens como assistir televisão, jogar, ou ser feliz. O que eu mais escuto nessa casa é “Archie pare de brincar e vai estudar! Você carrega o nome Malone.”
Eles conseguiram doutrinar bem minha irmã mais velha, a Isabella. Ela se tornou paranoica que nem eles e conseguia ser tão ou mais chata que eles, mas desde que ela se casou e saiu do país minha vida melhorou um pouco. Se não fosse pela mesada que eles me dão, meus únicos passatempos seriam livros e mais livros, não que eu não goste de ler, mas tudo demais consegue se tornar ruim.
Na porta da escola tinha um homem que olhava atentamente para todos os alunos que passavam enquanto também analisava a escola. Minha curiosidade bateu e decidi parar um pouco antes da porta. Longe o suficiente para ele não me ver e perto o suficiente para ouvir o que as pessoas estavam falando.
Acabei ouvindo dois professores indagarem a presença dele e também muitos alunos dizendo estar com medo dele. Quando Mary, uma garota da minha sala, passou por ele fez uma cara feia para ele e sussurrou algo que eu não consegui ouvir e depois continuou o caminho como se nada tivesse acontecido.
Eu esperei mais um tempo até que uma viatura apareceu com dois policiais. Eles desceram da viatura e foram até o homem. Um deles perguntou o que ele estava fazendo. Ele começou a dar umas desculpas nem um pouco convincentes. Ele acabou sendo algemado e levado preso.
O diretor apareceu logo depois e mandou todo mundo entrar.
Para a minha infelicidade, hoje minha primeira aula foi de educação física e foi aula prática, o que não é nada bom para mim porque sou a representação viva da palavra sedentarismo.
Já nos aquecimentos, enquanto todos estavam fazendo sem demonstrar nenhum tipo de dificuldade, eu já estava morrendo e pedindo para desistir, mas o professor só me deixou parar quando todos terminaram.
Quando a aula realmente começou eu já estava extremamente cansado e não consegui completar nem o primeiro exercício, Caí no chão cansado para logo depois ouvir reclamação do professor como sempre acontece.
Eu sou totalmente saudável. Meu problema é a má alimentação e o sedentarismo. Não importa a dificuldade nas outras matérias, educação física com certeza é a matéria mais difícil que tenho.
Depois de um tempo deitado no meio da quadra eu me levantei para continuar os exercícios, mas a pior parte é quando o professor nos coloca para ficar dando voltas na quadra porque que eu corro de maneira muito desengonçada e viro o centro das atenções.
Quando a correria começa, todos ficam fazendo piadas e rindo. Eu não nasci para praticar esportes. Nem correr eu sei.
Depois que a aula finalmente acabou, sobrou um tempo e o professor liberou a turma. Nesse resto de aula fiquei sentado fazendo meu dever de física que é a única matéria que entendo alguma coisa e ela eu entendo muito bem.
Quando chegou Mary Adams, a garota da minha sala, ela viu que eu estava fazendo dever e veio pedir ajuda para fazer o dela. A Mary é a garota mais bonita da sala, é popular e também é extremamente educada. Ela é o tipo de pessoa que só fala comigo mesmo por causa do dever.
Eu aceitei que a minha convivência com meus colegas se resumisse quase sempre a isso. É um tipo de ajuda mútua. Eles me ajudam com as outras matérias e eu ajudo eles com física. Mesmo eu me considerando um péssimo professor, mas é isso, ou ficar isolado, já que eu nunca falo com ninguém e para não surtar nessa escola é sempre bom socializar com as pessoas, não importa como.
O sinal tocou e eu fui ao vestiário para me trocar. Quando entrei procurei minha mochila, mas não estava lá. Saí para procurar e encontrei com dois idiotas da minha sala, David e Calebe. São dois valentões que gostam de implicar com todo mundo. Eles já reprovaram duas vezes e só não foram expulsos ainda porque eles pagam as mensalidades em dia e para escola é isso que importa.
Eles estavam brincando com as coisas na minha mochila, bagunçando tudo. Pensei em finalmente enfrentar eles para pegar minha mochila de volta, mas isso provavelmente resultaria em uma briga onde eu apanharia mais que bateria e no final eu ainda receberia uma advertência. Eu posso não ser um aluno muito bom, mas eu me orgulho de nunca ter levado uma advertência. Eu poderia também falar com o professor, mas isso também resultaria em uma briga. Então é melhor esperar eles largarem para eu poder pegar de volta.
Quando finalmente eles largaram minha mochila, peguei ela de volta e eles tinham mexido em tudo e estava bem bagunçada.
Fui ao vestiário para poder me trocar e chegando lá, devido ao tempo que levei esperando aqueles dois idiotas, só faltava eu para me trocar e todo mundo já tinha saído.
Entrei na cabine, tirei meu short, vesti minha calça, tirei minha camiseta e quando virei para pegar a camiseta que eu ia vestir, ouvi um barulho estranho de coisas sendo derrubadas vindo do lado de fora da cabine. Vesti a camiseta, saí para ver o que era e os rolos de papel higiênicos estavam derrubados. O professor entrou.
— Foi você quem fez isso? — perguntou o professor.
— Não fui eu. Eu estava me trocando e do nada eu ouvi esse barulho.
— Só tem você aqui. Arruma tudo e vem logo! — disse o professor com raiva.
Enquanto eu terminava de pegar os rolos, alguns fótons de luz apareceram na minha frente e dessa luz um homem apareceu.
Rapidamente olhei para o lado. Eu estava bem perto da porta. Qualquer coisa eu podia sair correndo.
— Oi Archie, tudo bem? — disse o homem.
Como assim “Oi Archie tudo bem?” Quem é esse homem? Como ele sabe meu nome?
— Não precisa ter medo. Confie em mim! Desculpa aparecer do nada assim. Foi um pequeno problema com o meu relógio. Acabei configurando errado e parei em cima do armário dos papéis higiênicos. Saí rapidamente, mas deu um erro e acabei voltando para cá de novo, Por isso que cheguei assim do nada — ele falou euforicamente.
— Se afasta um pouco e fala mais devagar — eu intimei.
— Tudo bem, não precisa ter medo. Vou me afastar para você ver que eu não vou fazer nada — disse o homem se afastando bem devagar.
— Quem é você? Como você sabe meu nome? O que você quer comigo? — eu perguntei.
— Uma pergunta de cada vez, mas não se preocupe vou responder tudo que você quiser saber.
— Tudo bem vamos começar com “Quem é você?”
— Pode ser, meu nome é John Smith, e faço parte de uma grande organização secreta.
— Que organização?
— Uma organização de desenvolvimento paranormal.
— Nunca ouvi falar dela como posso saber que é verdade.
— Que bom então que você nunca ouviu falar, esse é o objetivo dela ser secreta.
— Tudo bem, mas como você sabe meu nome?
— Eu não só sei seu nome, como sei quase tudo sobre sua vida. Seu nome é Archie Malone, você tem uma irmã mais velha que não mora com você, você mora com seus pais e tem um cachorro chamado Fluffy.
Ele sabe até do Fluffy. Eu não falo dele para ninguém. Esse nome é horrível e vergonhoso.
— Como você sabe tudo isso sobre mim?
— Isso não importa. O que importa é que a organização na qual faço parte sabe de muita coisa.
— Tudo bem, mas o que vocês querem comigo?
— Como você deve ter reparado eu não entrei aqui de maneira muito normal, isso porque tenho poderes.
— Como assim? — eu então lembrei de algo. — Agora que lembrei você não é o homem que foi levado pela polícia no início da aula?
— Sou eu mesmo. Tive um contratempo naquela hora, por isso tive que vir falar contigo agora, mas aconteceu um pequeno erro e acabou dando nisso.
Essa história de poderes pode até fazer sentido se considerar que ele apareceu do nada.
— Você disse ter poderes, mas o que isso tem a ver comigo?
— Você também tem poderes. Por isso estou aqui.
E as coisas conseguiram ficar ainda mais estranhas.
O homem olhou para o relógio no pulso dele.
— Daqui a 5 segundos a Mary vai entrar — disse o John.
— Como assim a Mary vai entrar aqui?
Então a porta se abriu e a Mary apareceu.
— Oi Archie, tudo bem? Sei que você deve estar confuso, pois tem um homem na sua frente falando coisas sem sentido e deve estar mais confuso ainda porque estou falando isso, mas acredite em mim, é tudo verdade — ela falou rapidamente.
Isso está ficando mais estranho. Não basta o homem falando loucuras, a Mary apareceu para confirmar tudo.
— Ok, você está querendo me dizer que esse homem realmente tem poderes e que tudo que ele falou até agora é verdade?
— Sim! — os dois responderam.
Eu sempre gostei de imaginar que o mundo não podia ser só o que ele é. Eu sabia que tinha que ter algo especial e depois de tudo o que aconteceu só me resta acreditar.
O homem olhou para o relógio no pulso dele novamente.
— Daqui a 30 segundos seu professor vai aparecer e vai perguntar porque você está demorando. Te encontro no final da aula. Mary se eu fosse você eu me escondia, seu professor não ficaria feliz em te ver aqui.
— Pode deixar. Já vou me esconder — respondeu a Mary.
O Homem mexeu no relógio dele, ele começou a brilhar e então desapareceu deixando apenas alguns fótons de luz. Enquanto Mary mexeu no relógio no pulso dela e falou.
— Tchau! Archie no final da aula explicaremos tudo direito.
Então ela desapareceu. Eu peguei os rolos que sobraram e meu professor abriu a porta com raiva.
— Rápido Archie, você está demorando muito. Só falta você para podermos voltar para sala.
— Eu já terminei com os rolos. Já podemos ir — respondi.
Eu peguei minhas coisas e saí do vestiário. O David e o Calebe ficaram me aborrecendo porque demorei, sendo que parte da culpa é deles.
O professor perguntou onde estava a Mary e ela apareceu de trás de um pilar. Não sei como ela foi parar lá, mas se o que o homem falou for verdade, a Mary provavelmente também deve ter poderes.
Voltamos para sala e esperamos o sinal do intervalo tocar.