Cataclysm - Capítulo 5
Capítulo 5: À Beira do Abismo
Paralisado pelo choque, Johnny não conseguiu conter um grito abafado de surpresa. Seus olhos se arregalaram quando percebeu que a pessoa que o segurava era Satoru.
— Você quer me matar de susto ô, idiota! — Johnny exclamou, num misto de alívio e irritação.
— Pare de gritar. Se você continuar com esse escândalo, nós vamos ser descobertos. — Satoru repreendeu, com um suspiro pesado.
— Mas, na real, que alívio ver você, Satoru. Achei que você não viria.
— Se eu não viesse, você com certeza morreria. Além disso, eu quero muito saber qual o seu objetivo.
Os dois abriram a tampa da ventilação e desceram com cuidado na sala, seus sentidos aguçados atentos a qualquer sinal de perigo. Enquanto exploravam o ambiente, Johnny e Satoru examinavam meticulosamente cada detalhe.
— Johnny, preste atenção — Satoru murmurou, apontando para um uniforme cinza que pendia solitário em um cabide. — Vamos usar isso para nos disfarçarmos. Temos apenas um, então você terá que ser ágil e me seguir pela ventilação. Está pronto?
Mas Johnny mal ouvia. Seu olhar estava fixo em um objeto semi oculto sob uma pilha de papeis. Era um crachá, e não um qualquer. Com um gesto rápido, ele o segurou contra a luz fraca que invadia a sala.
— Ei, Satoru, dá uma olhada nisso — exclamou Johnny, segurando um crachá à luz fraca.
— Isso é! Melhor ainda. Ei, Johnny. Este é o crachá do chefe que fica nesse escritório. Deixe-me ler o que está escrito aqui.
Satoru pegou o crachá da mão de Johnny e examinou-o atentamente, lendo o nome impresso nele. Este crachá pertence ao chefe de tráfico de minérios, cujo nome é Takeshi.
— Então o seu plano é se passar por ele, não é, Satoru?
— Exatamente. Com esse uniforme e o crachá, eu serei Takeshi aos olhos de qualquer um. — Satoru concordou, já planejando o próximo passo.
— Eu acho que eles vão perceber a diferença, afinal, você é bem baixinho Satoru. — Johnny provocou, incapaz de conter uma risada.
— Eu tenho praticamente a mesma altura que você. — Satoru retrucou, um tanto irritado com a provocação.
— Mas por que tem que ser você, Satoru? Por que eu não posso me passar pelo Takeshi?
— Os seus olhos chamam muita atenção, Johnny. Eles iriam te reconhecer fácil. Meu cabelo prateado também chama, mas diferente de você, eu consigo escondê-lo com o chapéu.
— Tá, então vou pela ventilação. Tenta não morrer, viu, Satoru?
— Digo o mesmo, Johnny.
Satoru girou a maçaneta silenciosamente e adentrou o corredor sombrio. Seus passos ressoavam contra as paredes frias, uma sinfonia solitária interrompida apenas pela voz de um guarda.
— Ei, Senhor Takeshi, a operação foi um sucesso. A garota foi capturada sem deixar vestígios. Será que podemos… nos divertir um pouco com ela antes do interrogatório?
“O que!? Esses desgraçados… Calma, tenho que manter a calma. Que sorte eu ter vindo aqui em vez do Johnny. Se fosse ele, já teria dado um soco nesse cara faz tempo.”
— Permissão negada! Tragam ela direto para minha sala! — exclamou Satoru para o guarda, engrossando a voz.
— Sim, senhor! — O guarda assentiu, sem questionar.
Satoru ajustou o seu chapéu, disfarçando o nervosismo.
“Tenho que voltar para a sala de antes. Eles vão levar ela para lá. Preciso de um plano para alertar o Johnny sem ser notado.”
— Senhor, onde está indo? A sala de interrogatório é para a esquerda.
— Ah é, perdão. Acabei me enganando. Vamos então.
“Droga, essa foi por pouco.”
Ao adentrar na sala, Satoru deparou-se com a garotinha, encolhida em uma cadeira e chorando desesperadamente. Seu rosto expressava um profundo medo diante da situação. Embora uma onda de fúria tenha começado a crescer dentro dele, Satoru conscientemente lutava para manter a calma.
“Droga, o problema é que eu não sei se tem alguém nos ouvindo. Se não, eu consolava a garotinha agora mesmo.”
— Ei, garota. Meu nome é Takeshi. Você deve me chamar de senhor Takeshi.
A garotinha continuava chorando, claramente assustada com a postura intimidadora de Satoru, que, apesar de sentir a crescente tensão, sabia que precisava manter o disfarce e fingir ser duro para não levantar suspeitas.
— Senhor Takeshi, cadê o meu papai e minha mamãe?
“Tenho que achar um jeito de tirá-la daqui. Vou tentar levá-la para a sala onde tem a ventilação e fugir.”
“Afinal, o que esses caras querem com a garota?”
— Garota, me diga o seu nome completo, por favor.
— M-Meu nome é Emi Nakamura.
“Emi Nakamura! Agora entendi tudo.”
— Emi, por favor, me siga.
— T-Ta bom.
Quando Satoru abriu a porta, o mundo pareceu congelar. Armas estavam apontadas para ele, e para sua surpresa, o verdadeiro Takeshi estava lá, com um sorriso presunçoso.
— Achou mesmo que poderia se passar por mim, garoto? — Takeshi zombou.
— Droga! Você é mais feio pessoalmente do que no crachá, sabia.
— Atirem na perna dele! — Takeshi ordenou aos guardas.
Bang
O som do disparo reverberou pelo corredor, mas Satoru já havia se movido, puxando Emi para trás de uma coluna de concreto, apenas um segundo antes do tiro.
— Fique aqui, não importa o que aconteça — sussurrou ele para Emi, antes de se lançar de volta à ação.
O grito de dor de Satoru ecoou pela sala, indicando que a situação estava se deteriorando rapidamente. No entanto, Johnny, que estava observando tudo pela ventilação conforme planejado anteriormente, não conseguiu se conter. Ele saiu da ventilação e pulou em cima de Takeshi, fazendo-o de refém.
— Se vocês atirarem no Satoru ou na menina de novo, eu… eu vou quebrar o pescoço desse cara! — ameaçou Johnny.
Takeshi, agora refém, gritou com um desespero palpável:
— Baixem as armas! Imediatamente!
“Eu realmente não sei nada sobre quebrar pescoços. Nunca cheguei perto de uma aula de artes marciais, só preciso ganhar tempo suficiente para Satoru e a menina escaparem” — Johnny refletiu, aflito.
Enquanto isso, Satoru, apoiando-se em sua única perna boa, ergueu-se com uma determinação feroz. — Sou um aprendiz da antiga arte do Dragão Taijitsu Ryūjin — ele declarou.
Então Satoru, usando apenas uma perna para dar impulso, avançou em direção à sala por onde tinham entrado. Chegando lá, ele fechou a porta com um movimento rápido e preciso, apesar da adrenalina pulsando em suas veias. Os guardas, surpresos com a agilidade dele, não hesitaram e começaram a atirar.
— Eu ordenei que não atirassem! — a voz de Takeshi ecoou acima dos disparos.
“Droga, agora que eles estão atirando, como posso parar isso? Se continuar assim, logo vão me acertar!” — Johnny pensou, enquanto procurava freneticamente por uma saída.
Quando de repente, Johnny sentiu um frio cortante trespassar suas costas, uma dor aguda e súbita que o fez arquear em choque. O mundo girou em câmera lenta enquanto ele percebia a lâmina que o perfurava, um golpe traiçoeiro que não prometia a morte, mas a entregava em parcelas de agonia.
Ele caiu de joelhos, com suas mãos buscando inutilmente o ferimento, a vitalidade se esvaindo de seu corpo junto com o sangue que manchava o chão. A escuridão começou a se fechar sobre sua visão, cada batida do coração soando como um trovão distante, anunciando o fim.
Enquanto Johnny desabava, o som da batalha ao seu redor tornou-se um zumbido distante, e ele se viu afundando na escuridão.
— D-De novo nã…
Enquanto o caos se desenrolava ao seu redor, Satoru manteve seu foco na tarefa que lhe foi dada; a segurança da garota. Com uma determinação feroz, ele a agarrou firmemente pelos ombros, olhando em seus olhos assustados para transmitir uma sensação de urgência misturada com a promessa de que tudo ficaria bem.
— Ei, Emi, não se preocupe, tudo vai ficar bem. Siga reto e você verá a luz do sol. É a saída, quando chegar lá, saia com cuidado e procure por alguém que possa te ajudar. Ligue para as autoridades e diga o que aconteceu. Você é muito corajosa, Emi, eu tenho orgulho de você!
— M-Mas… como assim, senhor Takeshi? Você não vai me acompanhar? Você não vai me proteger?
— Eu sinto muito, Emi, mas eu tenho que ficar aqui. Eu tenho que ajudar o meu amigo. Ele está ferido e precisa de mim. E, por favor, não me chame de senhor Takeshi. Esse não é o meu nome verdadeiro. Eu me chamo Satoru. Você pode me chamar assim, ok?
— E-Eu estou com medo, senhor Satoru. — Emi chorou, sentindo o coração bater forte no peito.
— Apenas faça o que eu disse e você ficará bem. — Satoru disse com firmeza, abraçando-a com força. Ele sabia que eles não tinham muito tempo. — Siga em frente e não olhe para trás. Confie em mim. Eu vou te proteger!
Ela acenou, compreendendo a gravidade da situação, e com um último olhar de gratidão, desapareceu dentro da ventilação. Satoru se permitiu um breve momento de alívio antes de voltar sua atenção para os perigos que ainda o aguardavam.
— Agora eu preciso ir ajudar o Johnny!
Com o coração acelerado e a respiração entrecortada, Satoru saiu da sala após ver a garotinha partir. Seus passos eram pesados, carregados de tensão e apreensão pelo que poderia encontrar ao virar a esquina. Quando finalmente avistou Johnny, a visão o atingiu como um golpe. Johnny estava ali, ensanguentado e cercado por guardas, uma imagem que gelou seu sangue.
— Johnny! — Ele gritou, a voz carregada de desespero e angústia, ecoando pelo corredor.
Antes que pudesse se mover para ajudar, Satoru sentiu uma dor lancinante rasgar seu corpo enquanto uma bala o atingia. Tudo ao seu redor começou a girar, e ele desmaiou, caindo ao lado de Johnny em um mundo de escuridão.
Capítulo 5. Fim.