Cataclysm - Capítulo 4
Capítulo 4: Rumo ao Desconhecido.
Após a conversa com o Senhor Tanaka, Johnny se recolheu para dormir, embora a inquietação sobre Satoru o mantivesse alerta.
“Será que o Senhor Tanaka esconde algo sobre a escuridão daquela vez? Quando mencionei, ele desviou o olhar, como se quisesse evitar o assunto.”
— Melhor eu parar de procrastinar e ir dormir. Boa noite, Sung!
— Ah, é verdade… Sung já não está aqui. Agora é seguir em frente, sozinho…
Na manhã seguinte, os primeiros raios de sol esgueiravam-se pela janela, banhando o quarto em uma luz dourada que anunciava o início de um novo dia. Johnny abriu os olhos lentamente, sentindo o peso da noite mal dormida. Com um bocejo, ele se espreguiçou e deixou a cama, decidido a enfrentar o que quer que o dia lhe reservasse.
— Um novo dia. Já é uma vitória estar vivo. Sorte a minha que o Satoru não me fez nada. Pra ser honesto, mal preguei os olhos essa noite — murmurou Johnny, forçando um sorriso enquanto esfregava os olhos cansados.
Ao descer as escadas, o aroma do café recém-coado o guiou até a cozinha. Lá, ele encontrou Satoru, que o observava com um olhar intimidador, quase como se fosse um predador avaliando sua presa.
— Sei que sou atraente, mas sem exageros no olhar, hein? Sou hétero, então não vai rolar, tá? — brincou Johnny, tentando aliviar a tensão no ar com um sorriso descontraído.
— Fica quieto, esquisitinho — respondeu Satoru, com um tom de voz que não deixava espaço para réplicas.
— Prefiro isso a ser um psicopata!
Então o Senhor Tanaka saiu de seu quarto, fechando a porta atrás de si com um clique suave. Ele desceu as escadas, cada passo ecoava discretamente pelo espaço tranquilo da casa. Ao chegar ao térreo, ele lançou um olhar breve para Johnny e Satoru, que já estavam à mesa, e com um gesto simples, puxou uma cadeira e sentou-se entre eles, pronto para começar a conversa.
— Johnny, como anfitrião, preciso te orientar sobre a rotina da casa. Você decide se quer aderir ou não.
Johnny acenou com a cabeça, pronto para ouvir, mas antes que pudesse responder, Satoru interveio com uma suavidade que parecia estranha vindo de alguém conhecido por sua aspereza.
— Deixa que eu cuido disso, vovô — disse ele, com um sorriso que parecia mais apropriado em um anjo do que no rosto do usualmente áspero Satoru.
Houve uma pausa, e até o Senhor Tanaka pareceu surpreso. Johnny, com um olhar confuso, virou-se para Satoru, esperando alguma piada sarcástica ou comentário mordaz. Mas nada veio.
— Uau, Satoru sendo gentil? Alguém marcou no calendário? — Johnny brincou, olhando ao redor como se procurasse câmeras escondidas. — É algum tipo de pegadinha? Porque se for, você está fazendo isso incrivelmente bem!
Satoru apenas revirou os olhos, mas o canto de sua boca traía um sorriso relutante. Parecia que, por um breve momento, o clima tenso havia acabado, e até mesmo o Senhor Tanaka permitiu-se um sorriso discreto, testemunhando a rara ocasião.
Após a refeição, Johnny e Satoru caminharam até a tenda de negócios dos Tanaka. Johnny estava visivelmente nervoso; a lembrança da agressão de Satoru na noite anterior ainda era fresca em sua mente.
— Johnny, eu não te chamei até aqui somente para te explicar sobre a nossa rotina. Na real, não confio em você, mas disso você já sabe.
— Você não confia em mim? Foi você que tentou me matar, seu psicopata. E você não vai pra escola não?
— Abandonei a escola para ajudar meu avô no trabalho. Trabalhamos em uma barraca que vende lenha, e como meu avô já está bem velho, sou eu quem cuida da coleta. E agora você vai ter que ajudar com isso também.
— Tá, eu ajudo, mas o que você queria falar mesmo?
— Peço que você não diga a ninguém que está morando na nossa casa. Não posso proteger meu avô contra “eles”.
— E quem são “eles”? — indagou Johnny.
— Esse vilarejo até pode parecer calmo, mas por debaixo dos panos tem muita coisa ruim acontecendo. Não encare nenhuma pessoa que possa parecer suspeita. Além disso, seria melhor você tirar esse seu anel dourado, ele chama bastante atenção.
— Não posso retirá-lo, foi um presente. — Johnny respondeu, apertando o anel contra a palma da mão.
— Tanto faz então. Aqui em Wine, parece haver uma organização criminosa. Só ouvi alguns boatos, mas não quero me envolver nisso. Vim avisar você para não se envolver também, não importa o que veja, senão colocará meu avô em risco.
— Você realmente se importa com seu vovôzinho, afinal, é o xodó do vovô, né?
— Sim, ele significa tudo para mim. — Satoru respondeu, quebrando o clima descontraído.
— Você nunca entra na brincadeira. — Johnny retrucou, com um semblante abatido.
Chegando perto da barraca, eles passaram perto de um beco escuro. Johnny notou uma menina pequena, com um olhar de quem estava perdida, hesitando na entrada do beco.
— Por que uma garotinha entraria aí? Quando eu era da idade dela, costumava ter muito medo do escuro.
Johnny parou, observando a menina com preocupação. Satoru, por outro lado, não deu atenção e continuou seu caminho.
— Talvez ela esteja procurando por alguém — sugeriu Satoru. — Ou talvez esteja apenas brincando de esconde-esconde. De qualquer forma, não é da nossa conta.
— Calma aí, isso não parece certo — Johnny interrompeu, com sua intuição aguçada. — Vou ver o que está acontecendo.
A garotinha então adentrou o beco. Alguém a chamava, passando-se por seus pais, dizendo coisas como — Venha cá, o papai e a mamãe estão aqui! — Johnny observa a cena e logo entende: a garotinha estava prestes a ser vítima de um sequestro.
— Ei, Johnny! Aonde você está indo?
— Cadê ela, cadê a garota? Ela entrou no beco agora pouco. Pensa, pensa, pensa. O que tem ao meu redor? Nenhuma porta, também não tem escadas, não tem nada na lata de lixo. Por onde eles podem ter saído? Será que me perceberam?
A garota havia desaparecido em um piscar de olhos. Johnny procurou freneticamente, mas não encontrou sinal dela.
— Já sei! O duto de ventilação. Não sei pra onde ele leva, mas tenho que segui-los. Não posso de jeito nenhum deixar eles levarem ela!
— Ei, Johnny, por que está entrando nesse duto? Ficou maluco? Não que já não fosse.
— Satoru, me ajuda, eles estão levando uma garota. Estão sequestrando uma garota!
— Johnny, já te disse para não mexer com eles!
— Você tá enlouquecendo, Satoru? Estão levando uma garota inocente para fazer sabe-se lá o que, e você fica aí com medinho desses escrotos?
— Qual o seu objetivo, Johnny? — Satoru o questionou, com um olhar penetrante.
— Meu objetivo? O que isso tem a ver agora!
— Caso você diga qual o seu objetivo, irei te ajudar. Basta você dizer.
— Todo esse papinho de ser gentil é furada. Você só é um covarde que fica fugindo com o rabinho entre as pernas. Avise ao Senhor Tanaka que posso demorar um pouco para voltar.
— Se você voltar. — Satoru retrucou, com uma frieza cortante em sua voz.
— Não viaja, Satoru.
Johnny adentrou no estreito duto de ventilação, sentindo a umidade gélida das paredes de metal ao seu redor. Satoru hesitou em segui-lo, ciente dos perigos que poderiam estar à espreita nas entranhas escuras daquela passagem. No entanto, ele não fez nenhum movimento para impedir Johnny, sabendo que ele estava determinado a ajudar a garotinha.
À medida que avançava pelo duto, Johnny percebeu que este se ramificava em várias direções, como os galhos de uma árvore emaranhada. A escuridão e o eco dos seus passos aumentavam a sensação de confusão e indecisão. Ele se viu diante de uma encruzilhada silenciosa, sem saber para qual lado seguir.
“Eu acho que a melhor opção que tenho é seguir reto, se for o caminho errado vou poder voltar.”
Continuando em frente, Johnny finalmente alcançou a saída do duto de ventilação. Emergindo na escuridão, viu-se dentro de uma espécie de instalação subterrânea. Olhando pelas frestas do duto, percebeu imediatamente a presença de vários homens armados movimentando-se pela área.
Seu coração acelerou ao perceber a gravidade da situação. Com olhos arregalados de surpresa e preocupação, ele vasculhou freneticamente o ambiente em busca da garotinha. No entanto, tudo que conseguiu avistar foi um pequeno coque de cabelo, um vislumbre fugaz da garotinha que estava nas mãos daqueles homens.
Uma onda de fúria e determinação tomou conta de Johnny. A impotência diante da situação o enfureceu, mas também o motivou a agir. Com os punhos cerrados de indignação, ele jurou a si mesmo que faria o que fosse preciso para resgatar a garotinha das garras daqueles criminosos impiedosos.
“Não posso sair do duto por essa passagem, vou tentar voltar e seguir o caminho da direita, tomara que ele dê em alguma sala fechada ou algo do tipo.”
Johnny deu meia volta e seguiu pelo caminho da direita. Ao chegar, novamente espiou pelas frestas do duto, observando atentamente o ambiente além. Para sua surpresa, deparou-se com uma sala de escritório luxuosa e bem equipada.
Seus olhos percorreram o espaço, absorvendo cada detalhe: móveis elegantes, estantes repletas de documentos e uma atmosfera de opulência que contrastava fortemente com a escuridão e a sujeira do duto de ventilação. Embora a sala transmitisse uma aura de tranquilidade, Johnny sabia que provavelmente era a sala de um dos chefes da organização.
Ele se preparou para sair da passagem do duto, mas antes que pudesse se mover, sentiu uma mão sutilmente agarrar sua perna. Um arrepio gelado percorreu sua espinha enquanto o susto tomava conta dele. Seu coração disparou, e ele sentiu uma onda de pânico se espalhar por seu corpo.
Capítulo 4. Fim.