Cataclysm - Capítulo 2
Capítulo 2: À Sombra da Desilusão
— Olha, garoto, nós vamos ter que fugir daqui, não temos outra escolha.
— Mas eu não fiz nada, por que tenho que fugir por algo que nem fiz?
— Não temos tempo, agora é situação de vida ou morte.
O homem então sumiu de vista, levando Johnny consigo. Os guardas ficaram perplexos com a situação. Como pode um homem cercado por guardas sumir de vista em um único instante? Logo, eles chamaram o chefe da guarda local; Sung.
— Qual a situação? — indagou Sung.
— Senhor! Um homem junto a um garoto foram pegos traficando substâncias ilícitas. Eles estavam cercados por toda nossa equipe, porém mesmo assim eles sumiram em um piscar de olhos.
— Conseguiram identificar ao menos um dos criminosos?
— Sim, senhor! O homem em questão era Joseph, um dos criminosos da família Night.
— E o garoto?
— O garoto em questão s-senhor…
— Fale logo! Isso é um incidente sério, não há tempo para gaguejar.
— Era o seu filho, senhor, Johnny Sky.
Sung ficou pálido, uma sombra de preocupação cruzou seu rosto. Johnny, seu único filho, era tudo para ele. Apesar de reconhecer que o garoto às vezes parecia desleixado, Sung sabia em seu coração que seu filho jamais cometeria tal ato.
— M-Mas o quê? Não, o Johnny nunca faria isso, deve ser algum engano.
— Não é engano, senhor, todos os presentes viram com seus próprios olhos!
Sung, perplexo, começou a pensar no que poderia ter acontecido. Mesmo pressionado, ele tentava manter a calma. Logo, uma pergunta surgiu em sua mente.
— Como vocês descobriram o crime? — Ele questionou, aflito.
O guarda ajustou o uniforme e cruzou os braços. — Por meio de uma denúncia, senhor. O informante se apresentou como Barlow.
— Barlow? — Sung franziu a testa — Nome incomum. Como era a aparência dele?
— Trajava um sobretudo surrado, cabelos grisalhos e um olhar que parecia ter visto mais tragédias do que qualquer um de nós — O guarda hesitou — Mas havia algo nos seus olhos, uma sombra de culpa ou medo. Ele sabia mais do que estava disposto a revelar.
— Quero um relatório completo sobre esse sujeito em minha mesa imediatamente!
— Lamento, senhor, mas ele não está em nossos registros. Era um estrangeiro, veio apenas para uma breve visita ao vilarejo.
— Isso é irrelevante. Se ele pôs os pés aqui, deve ter deixado rastros. Vasculhem as câmeras de segurança e obtenham imagens dele. Quero que todos os departamentos estejam envolvidos nisso agora!
— Entendido, senhor. Vou acionar a equipe de vigilância e iniciar uma busca detalhada em todas as fontes de dados disponíveis. Não descansaremos até encontrá-lo!
Sung caminhou até a central dos guardas, onde buscou informações no banco de dados. No entanto, os únicos registros disponíveis eram de um homem que faleceu em 1967, aos 28 anos de idade, indicando que ele estaria morto há mais de uma década.
Um guarda ao lado, folheando os registros, ergueu a voz em confusão — Senhor! — Ele chamou a atenção de Sung — Há algo errado aqui. Nosso sistema mostra que Barlow faleceu em 1967, mas ele estava conversando conosco algumas horas atrás!
Sung permaneceu em silêncio por um momento, seu rosto exibia uma expressão de profunda perplexidade.
— E-Ei senhor Sung, por que você está com esse olhar pálido? O senhor está se sentindo bem?
— Não há erro nenhum no banco de dados. — Sung declarou, calmamente.
— Guardas, preparem uma equipe para investigar isso imediatamente. E tragam qualquer informação adicional que encontrarem. Esta pode ser uma situação muito mais complicada do que imaginamos!
— Com todo respeito, senhor, então você está dizendo que conversamos com um homem morto? Isso não é possível.
Enquanto isso, Johnny estava sendo arrastado pela sombra que o homem misterioso projetava. Seu coração disparava em seu peito enquanto lutava para manter o passo com a figura enigmática à frente.
Um manto de escuridão parecia envolvê-lo, como se o próprio ar ao redor dele se tornasse mais pesado e denso, obscurecendo sua visão. Seus passos ecoavam em um corredor sombrio, onde cada sombra parecia ganhar vida própria, sussurrando segredos indistintos.
— Quem é você? O que está acontecendo? — Johnny perguntou, sua voz tremia de medo e confusão.
— Não há tempo para explicações agora, garoto. Precisamos nos manter em movimento e fora de vista. Confie em mim, tudo será explicado em breve.
Mas as palavras do homem não ofereceram nenhum conforto para Johnny, que se sentia cada vez mais perdido e desorientado. Ele nunca imaginou que sua vida pacata no vilarejo pudesse se transformar em um pesadelo tão terrível em questão de minutos.
Gradualmente, Johnny sentiu sua consciência escorregar, como se as sombras do homem misterioso tivessem um poder hipnótico sobre ele. Cada batida do coração parecia um eco distante enquanto ele se entregava à escuridão que se insinuava. E então, num último suspiro de resistência, ele se entregou ao sono profundo que o acolheu.
O tempo parecia dilatado e distorcido na escuridão absoluta. Não havia sensação de passagem das horas, apenas um vazio silencioso e impenetrável. Em algum lugar entre a consciência e o desconhecido, Johnny vagueou em um estado de sono sem sonhos, perdido em um abismo de escuridão.
Quando Johnny finalmente recobrou a consciência, encontrou-se em meio à escuridão total. Sua mente ainda estava confusa após o incidente, e ele lutava para se orientar. Ao tocar o solo duro e irregular, ele percebeu a aspereza do terreno sob seus dedos.
Uma gota de água pingou em sua cabeça, e a sensação gélida o fez concluir que estava em algum tipo de caverna. No silêncio quebrado apenas pelo som suave das gotas ecoando, Johnny começou a reconstruir lentamente sua compreensão do ambiente ao seu redor.
— O que aconteceu aqui? — indagou ele consigo mesmo.
— Finalmente acordou? — exclamou o homem com uma voz calma, quebrando o silêncio cavernoso.
— Como eu vim parar aqui? Melhor ainda, quem é você? Foi você que me trouxe para este lugar?
O homem então acendeu uma tocha em meio à escuridão e se aproximou lentamente de Johnny.
— Johnny, entendo que você deve estar cheio de perguntas, e estou aqui para respondê-las com a devida atenção. Prazer, meu nome é Joseph, Joseph Night. Aquele homem que pediu para você entregar a maleta chama-se Bartolomeo; ele é meu irmão mais velho. Na verdade, você foi a vítima de toda essa situação.
— Neste momento, minha família está passando por um conflito interno. O motivo desse conflito é a sucessão do cargo de líder da família, já que meu pai está envelhecendo e logo se aposentará.
— M-Mas o que eu tenho a ver com isso?
— Meu irmão tentou me sabotar para garantir a liderança de maneira mais fácil. Contudo, confrontar-me diretamente poderia não ser bem recebido pelos outros membros da família. Então, você se tornou a ferramenta que ele escolheu para contornar essa situação. Parece que há um guarda formidável lá chamado Sung, e Bartolomeo planejava me derrotar indiretamente por ele.
A revelação fez Johnny sentir-se como um peão em um tabuleiro de xadrez, movido por mãos invisíveis em um jogo cujas regras ele mal compreendia.
— Mas calma, como você sabe o meu nome? Eu não citei ele em momento algum.
— Os guardas costumam falar mais do que deveriam — assegurou Joseph.
— Por que me trouxe para cá? Se eu explicar tudo para o Sung, ele vai entender. Eu não precisava fugir.
— Johnny, eu acho que você ainda não entendeu a situação muito bem. O Bartolomeo tem vários contatos no mundo todo, agora você está sendo considerado um criminoso de nível D, não é muito alto, mas os caçadores de recompensa já ficam de olho.
— M-Mas e se o Sung me ajudar?
— Nem o Sung iria conseguir te ajudar, você não está sendo caçado pela polícia, e sim pela associação de caçadores de criminosos. Se você continuasse lá e o Sung te defendesse, ele também seria considerado um criminoso.
— É irônico um criminoso ter controle sobre a associação de caçadores de criminosos. O quão grande é essa família Night? — indagou Johnny.
Joseph olhou fixamente para Johnny, a intensidade de seu olhar quase palpável. Ele retirou algo do bolso, um anel de ouro que cintilava com uma luz própria, quase como se estivesse vivo. Com um gesto sutil, ele colocou o anel na palma de sua mão.
— Além disso, Johnny, peço humildemente que você fique com este anel e não o remova sob nenhuma circunstância, está claro?
— Tudo bem, mas para que serve esse anel?
— Apenas confie em mim e tudo dará certo. — As palavras de Joseph eram firmes, mas seu meio sorriso trazia um ar de mistério. — Tenho algo importante para te dizer, então não se distraia.
— Beba isso — disse Joseph, entregando-lhe uma pequena garrafa de líquido âmbar.
Johnny tomou um gole do líquido, sentindo um calor reconfortante se espalhar por seu corpo. Suas preocupações pareciam diminuir, substituídas por uma determinação renovada.
— Não posso ficar aqui por muito tempo. Então escute com atenção. Você está atualmente em uma caverna próxima a um vilarejo chamado Wine. Se você seguir cerca de 2 km para o norte, chegará lá. Vou deixar um mapa com você por precaução. Ao chegar ao vilarejo, abrigue-se na casa de um senhor chamado Hiroshi Tanaka.
— Parece que não tenho escolha. Se tentasse falar com Sung, colocaria ele em risco. Terei que seguir sozinho a partir de agora. De qualquer forma, obrigado, Sr. Joseph.
— Não há de quê, Johnny. Estou partindo. Evite sair por aí expondo seu rosto. Até logo!
Capítulo 2. Fim.