Carnaval no Abismo - Capítulo 32
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Retornando ao meu apartamento no Isana Ágora pela primeira vez em vários dias, tomei um longo banho, desliguei as luzes e capotei na cama sem ao menos jantar antes.
— Fuaa, que dia…
Foi realmente bem longo, mas também muito divertido. Todas as brincadeiras, a sauna, os escorregadores, nadar por horas nas várias piscinas do clube, ver o anoitecer chegando. Bem, a consequência disso tudo são meus membros extremamente doloridos e a minha pele bastante castigada pelos raios solares. Tenho certeza de que muito em breve, estarei descascando feito uma cobra…
Assim que fechei os olhos, meu celular começou a tocar. Suspiro, o pego e leio o nome na tela.
— Juliana, não sei se notou, mas já é quase meia-noite.
— Não consigo dormir! — Gritou, forçando-me a afastar o telefone do ouvido para não ficar surda.
— Notei. Agora, pare de gritar e incomodar os vizinhos.
— Okey-dokey. — Sussurrou.
— Então, o que houve?
— Depois da nossa conversa de mais cedo, não consigo parar de pensar no Leógenes. É como se tivessem borboletas voando dentro do meu estômago. — Há, há! Era só o que me faltava, ter que aturar as desilusões amorosas dos meus alunos. Farei a diretora aumentar o meu salário depois dessa. — Eu estava pensando. Em vez de continuar angustiada com todas essas especulações, vou ser direta e perguntar se ele sente algo por mim. Insistirei e não deixarei que escape sem dar uma resposta que me agrade!
— Vai telefonar?
— Não. Nesse exato momento, estou me arrumando pra dar uns bicudos na porta dele.
Não duvido nada que ela realmente faça isso.
— Coloque a sua melhor calcinha, tá? Garotos na idade dele podem não ser muito exigentes, mas você ainda precisa passar uma boa impressão.
— Pare com isso! Não vai acontecer nada do que você tá pensando!
— Certo, certo. Então, e se ele confessar que realmente está apaixonado por você?
Longo momento de silêncio. Aposto que ela ainda não decidiu o que vai fazer.
— Vou pensar em alguma coisa no caminho.
Sabia.
— E se ele disser que não te ama?
— Vou acordar você novamente pra vir até aqui me consolar, he, he. Enfim, só liguei porque queria compartilhar esse momento de coragem com alguém. Deseje-me sorte.
Só agora notei que estou com um sorrisinho idiota na cara.
— Boa sorte, filhinha.
— Bye, bye!
Desligou.
— Amor, eh…?
Diferente de quando os conheci, sinto como se eu estivesse bem perto de descobrir o verdadeiro significado desse sentimento.
49
É um sonho lúcido.
Estou convencida disso porque tudo nesse pequeno espaço onde estou é surreal demais.
Basicamente, é um quarto estreito sem móveis. O chão, as paredes e o teto são inteiramente pretos. A lâmpada incandescente no alto é a única cor diferente. Por mais que eu deseje fugir, não existe uma porta ou janela para usar.
Não sou a única trancafiada aqui. Dormindo nos meus braços, está um gato de uma raça que nunca tinha visto na vida.
— Tão lindo. — O acariciei, recebendo um leve ronronar em resposta. — Quem é o seu dono?
Ao mover a orelhinha dele, encontrei algo estranho se escondendo dentro. Uma larva nojenta suga o seu sangue.
Imediatamente, retirei o inseto e o arremessei para o outro lado do quarto. Entretanto, assim que voltei os meus olhos novamente na direção do animal, encontrei uma segunda larva, e mais outra, e outra.
Três respirações depois, o gato já está coberto de parasitas.
— Mas o quê?!
Apavorada, larguei o animal no chão e me afastei. Ele se espreguiçou e começou a lamber sua pata enquanto os insetos continuam se multiplicando numa velocidade surreal, sugando-o, mastigando sua carne, parasitando o seu corpo.
Segundos depois, o gato está inteiramente banhado em seu próprio sangue, mas curiosamente, não parece sentir dor. A podridão já alcança os meus pulmões, o cheiro da morte.
— Aa…
Quando restou apenas a carcaça, o animal desabou, morto. Então, as larvas que já não tinham mais alimento, começaram a se arrastar na minha direção em busca de mais. Milhares e milhares delas numa velocidade surreal.
Recuei o máximo que podia até ser barrada pela parede. Os insetos grandes e nojentos logo me alcançaram, subiram pelos meus pés e passaram por baixo do meu pijama.
— Aaaaaaaaah!!
Desesperada, tentei tirar o máximo de larvas que podia de cima de mim, mas de nada adiantou. Assim que elas alcançaram o meu estômago, grudaram na minha pele e começaram a corroê-la, invadindo o interior do meu corpo em busca dos meus órgãos.
É uma agonia imensurável, um desespero diferente de tudo que já experimentei na vida.
— Estou em um pesadelo, apenas um pesadelo! — Grito comigo mesma e mordo o meu lábio com força numa tentativa de acordar. — Um pesadelo, um pesadelo, um pesadelo…
Os insetos escalaram o meu pescoço e entraram na minha boca e nariz, escavando e escavando, subindo como se procurassem o meu cérebro.
Nesse momento, perco as minhas forças e desisto de lutar. Meu sangue é a nova cor vibrante que destoa um pouco do ambiente inteiramente preto.
As larvas invadiram a minha mente.
Eu me perco, assim como aquele belo gato se perdeu.
Infelizmente, não consegui acordar antes de morrer.