Carnaval no Abismo - Capítulo 3
Como já era de se esperar, fui assombrada por um terrível pesadelo.
Nele, estou amarrada numa posição típica de bondage com todos os alunos do terceiro ano me cercando. Um passo à frente deles está Keyla, segurando um grande bastão de beisebol com a ponta coberta por arames farpados.
Os olhos dela sequer refletem a luz, tamanho são as trevas acumuladas dentro do seu pequeno corpo. A sua expressão gélida nega a existência de qualquer pingo de piedade.
— Senhora… Está na hora de pagar pelos seus pecados.
— Ei, ei, ei! Calma aí! Você não precisa fazer isso! Exijo o direito de ter um advogado!
Mas sem dar ouvidos, ela ergue o bastão bem alto e… finalmente, acordo gritando feito uma criancinha de berço. Só não molhei a cama onde estou deitada porque a bexiga não está cheia.
— Caramba, caramba, caramba! E agora?! Tem um cadáver na minha sala de aula! Como irei explicar o que aconteceu para as autoridades?! — Finalmente, caiu a ficha. — Ah, é. Todas as autoridades se foram. Então, não tenho que me preocupar com isso. Ufa… Por um segundo, pensei que ia parar na cadeia por negligência. — Caiu a ficha novamente. — Não, não, não! Isso não está nada bem! Tem uma psicopata sem coração na minha turma! Eu posso muito bem ser a próxima vítima dela!
— Senhora, senhora?! Está tudo bem com você?!
— Ué? Mas que curioso… Acabei de ouvir a voz de alguém que supostamente bateu as botas. Será que os parafusos do meu cérebro caíram de vez? — Não, espera um tiquinho aí! — Gyaaaaa!! Um zumbi!! Tem um maldito zumbi do meu lado!!
Dessa vez, não deu para segurar. Sinto que acabei de me molhar… Mas foi só um pouquinho, tá?
— Senhora?! O que aconteceu?! Está sentindo dor em algum lugar?!
— Augusto, você está… vivo?! — Fechei a cara e respirei fundo. Depois, cutuquei a bochecha dele com o meu dedo indicador três vezes só para ter certeza. — É sério isso?! Como?!
— Ah! Como posso amar tanto a Keyla?! — Ele abriu um sorriso tão brilhante que quase queimou as minhas retinas. — Para conseguir explicar isso, primeiro, precisamos voltar alguns anos no tempo. Mais precisamente, para o dia em que eu e ela nos conhecemos!
Prevendo que um longo e entediante discurso está por vir, usei as minhas mãos para tapar a boca dele.
— Estou perguntando o motivo para você estar aqui, inteirinho da silva, após ter sido trucidado.
— Bem, não sei como explicar direito. Alguns anos atrás, tive um encontro com uma « criatura » da qual não consigo lembrar o rosto… Desde então, eu meio que não morro, sabe?
— Está afirmando que essa « criatura » misteriosa te deu poderes?
— Mais ou menos isso. Agora, posso ser transformado em patê que depois de um certo tempo meu corpo se regenera.
— Simples assim.
— É.
Como devo reagir a essa revelação que é, no mínimo, impossível?
— Tá. — Okay, foi mais fácil de aceitar do que deveria. — Enfim, por que veio até aqui? Por acaso, estava planejando fazer algo indecente comigo enquanto eu dormia?
Afinal, a situação em que nos encontramos agora é um dos fetiches favoritos de qualquer garoto na puberdade. Não é todo dia que dá pra ficar sozinho com a professora novata e inconsciente numa sala fechada.
— Claro que não é nada disso! Eu nunca trairia o amor da minha vida com uma qualquer!
— Ei, olha o respeito! E não fique corado tão fácil! Você é uma donzela, por acaso?!
— Então… O fato de você ter passado mal foi parcialmente minha culpa… Por isso, vim até aqui para me desculpar e pedir um favor.
— Ah, não… Por que estou com a impressão de que esse “favor” vai me causar uma grande dor de cabeça?
— Não é nada demais. Só queria saber se você pode me ajudar a conquistar a Keyla.
— Como é?
— Mesmo que sejamos amigos de infância e eu venha me declarando incontáveis vezes desde então, ela continua negando os meus sentimentos. Por isso, pensei em pedir conselhos para alguém com mais experiência.
Foi como se ele tivesse pegado uma estaca de madeira e enfiado bem fundo no meu coração.
— Amor?! Ah, claro! Tenho bastante experiência com essa… coisa! Sim, isso! Amor! Sou um grande depósito de amor! Quando ando pela rua, todo mundo que passa por mim fica apaixonado! Tudo o que toco explode de tanto amor!
Obviamente, não posso falar a verdade. Imagina só o que um garoto na idade dele pensaria de uma adulta que nunca teve um namorado sequer?! Se essa informação vazar, com certeza, serei alvo de chacotas! Ninguém me respeitará e o bully comerá solto pro meu lado!
— Foi isso o que pensei! Com todo esse estilo e personalidade peculiar, é óbvio que vários homens já beijaram o chão que seus pés pisaram!
Agora, além de empurrar ainda mais a estaca, Augusto fez questão de me jogar no Sol para fritar.
— Assim… Você nunca parou pra pensar que talvez, só talvez, o motivo da Keyla continuar te rejeitando seja… repúdio? Sinceramente, não consigo imaginar aquela garota cruel amando alguém. Muito menos, um menino insensível e extremamente pegajoso que fica forçando os seus sentimentos egoístas e unilaterais nela.
— Ahn?! Co-como é?! Eh-ela… não gosta de mim?!
— Bem, é meio óbvio.
— Huu… Uuu… Guu… Buu… Buaaaaaaaaaa!!
Pronto, era só o que me faltava. Não precisei nem de um dia inteiro para fazer um dos meus alunos se desmanchar em lágrimas.
Que educadora de merda eu sou, eim?
— Tá bom, tá bom. Já chega. Eu vou tentar te ajudar, então, pare com esse lenga-lenga.
— Promete?! Sério mesmo?! Mesmo, mesmo, mesmo?! Promessa de mindinho?!
Tenho a leve impressão de que esta criança se recuperou mais rápido do que deveria. Não me diga que acabei de ser idiotamente manipulada aqui?
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Sabe qual é o fator mais importante na hora de bolar uma boa estratégia de batalha? Informação. Conhecer os próximos passos do inimigo e entender sua maneira de pensar. Apenas assim, podemos surpreender e não ser surpreendido durante o derradeiro combate.
Por isso, pedi para Augusto continuar sua rotina normalmente. Assim, eu posso ver com os meus próprios olhos o que ele está fazendo de errado e, posteriormente, corrigiremos esses erros para aumentar a barra de afeição da Keyla.
— E lá vai ele… Hora do reconhecimento.
Essa busca desesperada por informações nos remete até o momento atual. Um céu nublado avermelhado, uma praça bonitinha e dois pombinhos num encontro casual.
Estou escondida atrás de uma parede, observando o galãzinho se aproximando da ruiva gélida que está sentada em um banco lendo um livro grosso.
Por conta da grande distância, não consigo ouvir o que Augusto está dizendo, mas apenas pelos gestos afobados, risadas exageradas e pulinhos nada fofos, tenho certeza absoluta de que ele está apenas enchendo o saco dela. Tanto que a garota sequer desvia a atenção das páginas.
— Que tenso. É como dialogar com uma rocha. Aquele moleque não tem chance alguma com ela.
De repente, do nada, um raio caiu e acertou o galho de uma árvore, iniciando assim uma sucessão nada natural de eventos.
Durante a queda, o galho cortou alguns fios do poste mais próximo. Esses fios deslizaram e repousaram suavemente dentro da água de uma fonte logo ao lado dos dois alunos. Um segundo depois, o pé dianteiro esquerdo do banco onde Keyla estava sentada quebrou bem na junta, fazendo-a cair de joelhos.
Augusto até que ofereceu ajuda, mas a ruiva recusou e levantou sozinha. Entretanto, não ficou de pé por muito tempo, pois pisou no cadarço desamarrado do próprio tênis esquerdo e tombou para o lado na direção da fonte energizada.
Agindo por impulso, o loirinho salvou a sua amada, empurrando-a para o lado. No entanto, acabou perdendo o equilíbrio e caiu de cara na água.
Resultado final: croquete de adolescente. Uma cena nada agradável para os olhos.
Após observar os dois por mais algum tempo, cheguei a uma importante conclusão: Keyla sofre de Azarismo Crónico.
Em poucas palavras, tudo o que ela faz ou deixa de fazer, cada passo dado, toda ação por menor que seja, resulta em uma completa tragédia.
Quando digo “azar”, não estou me referindo a escorregar numa casca de banana e cair de bunda. Muito menos de bater o mindinho na quina da parede. Falo de caminhar tranquilamente pela calçada e um vaso gigantesco “se jogar” do quarto andar procurando a sua cabeça. Estou mencionando o ato de saborear uma deliciosa feijoada e engasgar com uma fodendo azeitona. É o momento em que você está relaxando na sala de artes e uma prateleira gigantesca resolve desabar em cima de você!
Por sorte, um certo stalker estava sempre por perto para evitar o pior.
No primeiro caso, Augusto abraçou Keyla com força, usando o seu próprio corpo como escudo para protegê-la do vaso-míssil.
Resultado final: além da dor infernal nas costas, onde foi atingido pelo projétil, ainda perdeu alguns dentes quando recebeu um soco bem dado na boca.
No segundo caso, ele segurou a sua amiga de infância por trás e pressionou o estômago dela algumas vezes para desengasgá-la. Porém, acabou tocando nos seios sem querer.
Resultado final: teve a jugular perfurada por uma faca sem ponta, manchando tudo de vermelho.
No terceiro caso, o loirinho se jogou sobre a ruiva, tirando-a da trajetória mortal da prateleira.
Não tem aquelas cenas em que o protagonista encurrala a heroína contra a parede? Foi exatamente o que aconteceu aqui. Rolou um clima? Não, é claro.
Resultado final: ele recebeu uma bela joelhada no saco e foi abandonado em agonia. Pancada tão surreal que doeu até em mim que não tenho o membro.
Quer saber? Retiro o que eu disse. Nesta história, é Augusto que sofre de Azarismo Crónico.
Suspirei pesadamente e me aproximei do moleque que ainda agoniza no chão.
— Você é realmente devotado, eim?
— Uu… Obrigado… Aaai…
Ele coçou a nuca e deu uma risadinha.
— Isso não foi um elogio.
— Então, como eu me saí? Acha que estou conseguindo alcançar o coração dela?
— Quer a minha opinião sincera? Desista. — Respondi sem hesitar, jogando na cara dele a única resposta que não queria escutar.
— Por que… eu devo desistir…?
Augusto abaixou o rosto, escondendo sua expressão.
— Porque Keyla é fria demais. Diferente de você, ela não tem facilidade para se apegar, o que a torna incapaz de amar com vigor. — Dei de ombros. — É uma coisa diferente de timidez, sabe? Pelo que pude observar, a sua amiguinha não possui certos sentimentos, e quando você fica insistindo em forçar o desconhecido nela, apenas aumenta o desprezo e angústia que ela sente, deixando-a ainda mais frígida. Em vez de trazê-la para perto, você está a afastando ainda mais.
— Mas, isso…
O garoto cerrou os punhos, bastante abalado pela verdade dita. Vê-lo no fundo do poço serviu apenas para me fazer querer pressioná-lo e magoá-lo ainda mais.
— Pare de ser um estorvo na vida dela. Abandone-a e siga em frente sozinho. Apenas os seus sentimentos não são suficientes para sustentar uma relação à dois.
Finalmente, Augusto ergueu o seu olhar, despejando sobre mim toda a sua fúria. Por algum motivo, senti vontade de sorrir.
— Não desistirei dela, entendeu?! Dane-se o fato de que somos incompatíveis! Nada vai mudar o que sinto, e nada vai me impedir de tentar conquistá-la de novo, e de novo, e de novo! Farei isso quantas vezes for necessário! Então, continue me observando! Quando finalmente formos um casal feliz, irei esfregar na sua cara o quanto estava errada sobre nós!
Ah, sim… Eu realmente gostei da sua determinação, moleque.
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Machado de Assis escreveu alguma coisa sobre o amor ser o egoísmo duplicado.
Augusto é egoísta por investir cegamente em um amor que nunca renderá frutos, enquanto Keyla é egoísta por continuar negando os sentimentos do seu amigo sem lhe dar uma rejeição apropriada.
Nesse caso, qual dos dois está errado?
Não saber a resposta desse enigma me impede de relaxar. Por isso, com a intenção de ouvir o outro lado da história, estou neste exato momento, procurando a menina ruiva.
— Mas se eu soubesse que ia ser tão trabalhoso, teria deixado essa ideia de lado! Tô cansada…
Graças a toda essa correria, ainda não tive tempo de comentar sobre o quão gigantesco o Colégio Isana Ágora é.
São três prédios no total. Dois deles repletos de salas de aula, laboratórios e ateliês. Já o terceiro, é um dormitório para abrigar os alunos, coordenadores e professores. Em torno deles, tem uma área de esportes com duas piscinas olímpicas, campos de futebol, quadras de tênis e vôlei. Ah! E ainda existem três setores destinados apenas para a alimentação dos seus estudantes e funcionários.
Resumindo, não foi nada fácil encontrar uma garota tão pequena num gigantesco labirinto deserto.
— Até que enfim. — Avistei Keyla na sombra de uma árvore no jardim central. — Com a cara dentro de um livro, pra variar.
Assim que ela terminou de ler a última página, suspirou e deu um sorriso tranquilo, fazendo o meu queixo cair. É sério, em nenhum momento passou pela minha cabeça que ela era capaz de fazer esse tipo de expressão.
— É realmente um bom livro, mas o volume seguinte não passa de um amontoado de cocô. E a adaptação pra cinema consegue ser pior ainda! Por isso, aconselho a parar por aí. — O frio retornou para o rosto dela assim que me aproximei. — Podemos conversar um pouquinho?
— É sobre o modo como trato Augusto?
— Ué? — Acabei recuando instintivamente, pega de surpresa. — Como sabia?
— Geralmente, eu costumo ter apenas um perseguidor, mas hoje haviam dois. Deixe-me adivinhar. Ele foi atrás de você em busca de conselhos?
Ora, ora… Mas que guria astuta.
— Se é assim, acho não precisamos de rodeios. — Coloquei as mãos na cintura e fiz uma pose. — A verdade é que não estive te seguindo porque Augusto me pediu, mas sim porque não entendo nada de relacionamentos. Pensei que se observasse vocês dois por algum tempo, eventualmente, entenderia o significado. Porém, nada mudou. Na verdade, estou entendendo essa coisa de “amor” menos ainda.
— Então nós duas somos parecidas. — Ela repousou o livro no gramado e se encolheu para apoiar o queixo nos joelhos. — Ei, após tudo o que viu hoje, acha que sou merecedora do amor dele?
Hesitei por um momento, pensando seriamente se devo contar uma mentira. No entanto, optei pela sinceridade.
— Não mesmo. Ao meu ver, você é uma pessoa horrível. Sempre o machucando e cuspindo nos sentimentos dele.
Surpreendentemente, a minha resposta parece ter sido recebida sem gerar mágoas.
— Como eu imaginava. — Desviou o olhar para o chão. — Sou vazia, fria, ignorante e muito longe de ser atraente. Por mais que tenhamos compartilhado tantos anos juntos, não consigo sentir nem um terço do apresso que ele sente por mim.
O modo como Keyla está consciente de tudo isso me faz questionar se realmente existe ódio na relação dos dois como eu pensava inicialmente.
Quando se deseja a distância de alguém, geralmente, não julgamos a nós mesmos, e sim expomos os defeitos do outro. Neste caso em especial, ela não está fazendo nada mais do que repudiar a si mesma.
— Não te incomoda fazê-lo sofrer tanto?
— Fala do modo como maltrato Augusto ou de todas as vezes que ele se machucou enquanto tentava me proteger?
— Eh?!
Mais uma vez, fui pega de surpresa, perdendo até a fala.
— O que foi? Não sou idiota. — A pequena ruiva levantou uma das suas mangas, revelando diversas cicatrizes de ferimentos nada superficiais por todo o braço. Não duvido nada que outras marcas parecidas estejam espalhadas pelo restante do corpo dela. — Durante a minha infância, uma… « criatura » sem rosto me amaldiçoou.
— « Criatura »…?
— Disse que estava me dando um belo presente, mas ganhei apenas um futuro cheio de ferimentos. Bem, pode ser que não exista uma maldição também. Talvez, alguém lá em cima apenas não gosta muito de mim.
A ruiva suspirou pesadamente e encarou o céu, perdida em pensamentos.
— Por um acaso, você está tentando fazê-lo deixar de te amar?
Dessa vez, foi a minha vez de surpreendê-la.
— Talvez, seja isso… Estou sendo cruel agora para privá-lo de um futuro ainda pior. Se eu continuar fugindo dos sentimentos de Augusto, chegará o momento em que ele desistirá de sofrer e se ferir. Encontrará alguém melhor, uma pessoa que realmente o fará feliz como nunca conseguirei fazer.
Ah, entendi…
Keyla está sendo gentil da maneira dela. Uma ação que bate de frente com a decisão de Augusto.
Isso é interessante. No final, qual das duas determinações vencerá?
Bem, neste momento, apenas uma coisa é certa: apesar de ela ter dito que somos parecidas, não consigo concordar.
Esta garota já ama o seu amigo de infância. Apenas não se deu conta disso ainda.
— Sabe, eu sempre tive minhas dúvidas sobre essas pessoas que dizem ter conseguido mudar a sua própria natureza. Não é estranho? Um ladrão que vira um benfeitor da noite pro dia? Um assassino que vai para o céu após ter os seus pecados perdoados por outro pecador? É mesmo possível que algo assim aconteça? Não estamos apenas mentindo para nós mesmos, tentando forçar uma mudança incompatível com o nosso verdadeiro ser? — Dei um sorriso tranquilo para a ruiva. — Sendo sincera, pelo menos agora, gostaria que o impossível acontecesse. Adoraria vê-la sendo capaz de retribuir o amor dele. Mesmo sendo uma completa mentira, mesmo tendo que enganar a si mesma.
Minha aluna me encara fixamente, tentando absorver tudo o que falei como se tivesse sido um ensinamento importante. Porém, antes que surgisse a oportunidade de questionar algo, o hiperativo galãzinho loiro de brinco deu as caras.
— Keeeeeeylaaa! Ainda bem que te encontrei! Nunca mais suma desse jeito, tááá?! Fiquei tããããoo preocupadooo! E se você fosse pisoteada por elefantes?! E se um satélite caísse na sua cabeça?!
— Você é idiota, por acaso? O satélite até entendo, mas elefantes? Meio difícil… Eu acho… Talvez…?
Após ter tomado gelo o dia todo, ouvir uma resposta decente da sua amiga de infância fez com que ele sorrisse feito um bebê que acabou de ganhar um pirulito.
— Keyla, te amo, vamos nos casar?
— Não.
— Então, posso pelo menos beijá-la na bochecha?
— Vai pro Inferno.
— Que tal segurarmos as mãos enquanto passeamos pela escola?
— Uaa, ninguém merece.
A ruiva pegou o seu livro e, tornando a ignorá-lo, levantou e começou a caminhar no rumo dos dormitórios. Parece estar usando todas as suas forças para não arrancar fora a língua do loirinho.
— Podemos jantar no seu quarto hoje? Sei fazer o melhor miojo de Brasília!
— Dá pra calar a boca, maldito!
Já eu, sentei no gramado e fiquei observando os dois se distanciarem. Apenas agora, notei que estou carregando um sorrisinho no rosto.
— Que curioso. Não lembro de já ter sentido tanto apresso por outras pessoas antes. Será um milagre?
Bem, acho que não custa nada ficar neste colégio por mais um tempinho. Tenho a impressão de que posso começar a entender o significado de “amor” se continuar observando o desenvolvimento do relacionamento desses dois.
Sim, quem sabe, um dia…