Carnaval no Abismo - Capítulo 24
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- Capítulo 24 - A Complexidade de uma Devoção Obsessiva (4)
Nem na pior de todas as minhas hipóteses, previ um final assim.
Duas das minhas alunas, pessoas que eu deveria proteger a todo custo, estão gravemente feridas nas camas de um hospital sem médicos.
Por sorte, muita sorte mesmo, o pior cenário possível não aconteceu. Foram “apenas” fraturas, hematomas, cortes, queimaduras e uma asa que nunca mais chegará ao céu.
— Aa…
Tento buscar no fato de que Keyla e Hillary continuam respirando alguma motivação para me levantar e sair deste quarto escuro, mas apenas afundo ainda mais em melancolia.
Puxo os meus cabelos e engulo um grito.
Escondo o meu rosto entre os joelhos e acabo cortando o interior da minha boca ao cerrar os dentes.
Engulo outro grito e mais outro. Recuso-me a deixar escapar qualquer som que demonstre fraqueza.
Então, após alguns segundos, respiro fundo e retomo o controle. Levanto e começo a minha lenta caminhada na direção do banheiro para cuspir na pia todo o sangue que se acumulou dentro da minha boca.
Depois de tudo isso, nenhum de nós será o mesmo, tenho certeza. Foram tantas lágrimas, tanto sofrimento… Tudo porque não fui forte o suficiente.
Ah, sim… Eu continuo sendo a mesma fracassada de sempre. Falhei comigo mesma no meu tão esperado recomeço.
Falhei com todos eles.
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Um conversível importado cortava a Rodovia Belém-Brasília em alta velocidade. Dentro dele, encontrava-se uma mulher de blazer preto, longos cabelos loiros e óculos escuros. Era a diretora do Colégio Isana Ágora, Melissa.
Ela já tinha passado vários dias na estrada, cortado diversos estados.
Primeiro, rumo ao Sul, depois, Sudeste. Agora, estava no Nordeste, mais precisamente, em algum ponto próximo de Imperatriz, no Maranhão.
— Oh!
Ao notar algo estranho no horizonte, ela freou bruscamente, tirando o máximo dos freios.
— Então, é aqui que tudo termina? Bem interessante, mas ao mesmo tempo, um pouco decepcionante.
Desceu do carro e caminhou cerca de dois metros até a beirada de um precipício infinito. À frente dele, não tinha nada além do mais puro azul.
Esse era o exato lugar onde o mundo acabava.
— Se aqueles terraplanistas vissem isto, ficariam ainda mais dodóis da cabeça do que já são.
Colocou as mãos na cintura e deu um sorriso contente.
No Sul, o mundo acabava poucos quilômetros antes de Porto Alegre. No Sudeste, sequer chegou à divisa de Minas Gerais com o Rio de Janeiro.
— Infelizmente, não será dessa vez que conseguirei comer uma verdadeira Moqueca Maranhense ou um Arrozinho de Cuxá…
De repente, um grande pedaço da beirada do precipício se soltou e desabou na direção do infinito. Um segundo depois, mais outro grande pedaço de terra encontrou o mesmo destino.
O relógio estava correndo. Rapidamente, o mundo deles se aproximava do fim.
— Quanto tempo ainda nos resta?